A Amazônia é um lugar que a maior parte dos brasileiros só conhece no mapa: aquela imensidão monocromática, em geral verde, cortada por muitos traços azuis, que ocupa todo o Norte do paÃs. Para muitos, há muito tempo, ela é associada ao vazio demográfico, à natureza selvagem. Inferno ou paraÃso verdes: o sinal das classificações oscila entre o extremamente positivo ou negativo, mas a imagem de natureza selvagem, sem gente, pouco muda.
O nome Amazônia é conhecido no mundo inteiro, virou marca de uso comercial e polÃtico. Mas a realidade da região, de fato, ainda é bastante ignorada pela dita sociedade globalizada e globalizante, que cada vez mais se preocupa (ou diz se preocupar) com o meio ambiente.
Quem conhece bem a Amazônia é, paradoxalmente, pouco conhecido. São povos e comunidades tradicionais que lutam contra um processo de invisibilidade social ao qual, historicamente, foram condenados. Por meio deles, com o apoio do projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, o verdadeiro mapa da maior floresta tropical do planeta está sendo desenhado.
Mulheres quebradeiras de coco babaçu do PiauÃ, Quilombolas da ilha do Marajó, Ribeirinhos da região do Zé Açu, no Amazonas, e Homossexuais na cidade de Belém. Estes são exemplos dos tÃtulos dos 50 fascÃculos que o projeto já lançou, nos últimos dois anos e meio, desde que seu coordenador, o antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida, mudou-se para Manaus, como professor visitante do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura da Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). No inÃcio, em 2005, o projeto tinha o nome de Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil e realizava trabalhos em todo território nacional. Na renovação do contrato de financiamento com a Fundação Ford, ele restringiu seu foco de atuação e foi rebatizado.
Os fascÃculos são resultado de oficinas de mapeamento participativo, nas quais as fronteiras entre os sujeitos e os objetos de pesquisa se dissolvem. Professores e alunos de graduação e de pós-graduação apóiam o processo no qual membros de um determinado grupo registram quem são, onde e como vivem.“As identidades são produtos de classificações. É preciso se perguntar sempre quem classificaâ€, era o conselho que ouvia do professor Alfredo, quando fui sua aluna, em 2006. Não por acaso, portanto, os textos dessas publicações são construÃdos quase que exclusivamente com os depoimentos das pessoas que participam da oficina.
“Os fascÃculos têm sido usados como instrumento de luta. Eles alcançam grande circulação e fortalecem essas comunidades no encaminhamento de reivindicaçõesâ€, contou o pesquisador Emmanuel de Almeida Jr. O coordenador da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, funcionário do Ministério do Desenvolvimento Social, Aderval Costa, parece concordar. “Com o trabalho do Nova Cartografia ganha força, dentro do Estado brasileiro, o reconhecimento de que um quarto do território nacional é legitimamente ocupado por cinco milhões de famÃlias representantes de povos e comunidades tradicionais. Esse número tem gerado protesto dos ruralistas, que já se articularam para pedir a revisão dos decretos de regularização fundiária de quilombos e de territórios indÃgenasâ€, alertou Aderval na 5ª reunião ordinária da Comissão, durante o II Encontro Nacional dos Povos das Florestas, em BrasÃlia, em setembro do ano passado.
O tuxaua da aldeia Beija Flor, Fausto de Andrade Costa, espera com ansiedade que o fascÃculo produzido com a comunidade fique pronto. Ele e mais 231 indÃgenas de novo povos (Tukano, Sateré Maué, Tuyuca, Marubo, Maioruna, Dessana, Arara, Apurinã e Baniwa) vivem em um terreno de 42 hectares, na área urbana de Rio Preto da Eva, pequeno municÃpio vizinho a Manaus (AM). Lá, a oficina de mapeamento participativo aconteceu em outubro de 2007, durante três dias, com cerca de 30 indÃgenas e cinco pesquisadores externos. “A gente não consegue aprovar projetos nem trazer uma escola indÃgena para cá, porque nossa área não está demarcadaâ€, lamentou o tuxaua. “Com o Nova Cartografia, a gente não vai mais só pedir de boca, vai ter documentos para levar ao Ministério Público Federal, à Funaiâ€, comemorou o lÃder indÃgena.
A aldeia Beija Flor nasceu em 1991, quando o norte-americano Richard Melnik, suposto dono da área, convidou alguns artesãos indÃgenas a mudarem para lá. Ele revendia aos turistas, em Manaus, os artesanatos produzidos em Rio Preto da Eva. Dez anos depois, quando o “benfeitor†morreu sem deixar herdeiros, seu procurador legal, Tadeu Drummnond Geraldo, que mora em Minas Gerais, passou a reivindicar a propriedade do terreno. Desde então, os indÃgenas têm sofrido ameaças de expulsão, visÃveis nas marcas de bala deixadas por pistoleiros nas placas na entrada e ao redor da aldeia.
A violência que deveria silenciar esses povos tradicionais da Amazônia, entretanto, tem servido como estÃmulo à mobilização. O nome do futuro fascÃculo produzindo na aldeia Beija Flor foi escolhido pelos participantes da oficina e reflete esse espÃrito de auto-afirmação da identidade étnica: IndÃgenas em Rio Preto da Eva. No meio da publicação, seguindo o modelo dos outros fascÃculos, haverá um mapa da comunidade, com coordenadas geográficas marcadas pelos próprios indÃgenas (durante a oficina, eles aprenderam a manusear o GPS). À exatidão da latitude e longitude medidas com cuidado, soma-se a poesia das legendas: cada marcação cartográfica (a localização de uma casa, de um roçado ou de um malocão, por exemplo) é representada por desenhos das crianças da aldeia. A expressão “tão pequeno que nem aparece no mapaâ€, na Amazônia, aos poucos, vai deixando de existir.
Como adquirir os fascÃculos
O site do projeto Nova Cartografia Social da Amazônia ainda está em construção. Enquanto os fascÃculos não são disponibilizados eletronicamente, a distribuição (gratuita) é feita diretamente pelos grupos “mapeados†ou pelo escritório central do projeto:
Endereço:
Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia
Rua José Paranaguá, 200 – Centro, Manaus/AM
CEP: 69005-130
Correio eletrônico:
pncsa.ufam@yahoo.com.br
Telefone:
(92) 3232-8423
Thais que bom saber sobre essa cartografia, mudanças que vão ajudar esse povo tão sofrido. Conheci alguns da tribo Dessana e sei das dificuldades enfrentadas por eles.
Bela contribuição, parabéns
votado
sinvaline
ThaÃs
Parabéns por mais um texto interessante sobre a Amazônia. Tenho gostado muito de acompanhar teus escritos. Realmente a gente saber muito pouco do que acontece por aÃ.
Um abraço, Luciana
gurias mas eu tava falando de um trem assim outro dia mesmo com meu irmão!!
superparabéns.
Meninas, muito obrigada! Este projeto é bacana demais, mesmo! bjão!
ThaÃs Brianezi · Manaus, AM 22/2/2008 11:51Parabéns.A Amazonia precisa sempre ser lembrada e discutida!Qualquer forma de abordagem é sempre uma porta aberta para que as pessoas lembrem de sua importância.Ignorada importância!Que pena,né?Bjos
Mell Glitter · São Paulo, SP 22/2/2008 19:15
Thais,
Excelente texto e excelente idéia o Projeto "Nova Cartografia Social da Amazônia". Aguardo mais noticias da Amazônia.
Beijos,
PARABENS PELA INICIATIVA QUE NAO E NOVA, MAS ACREDITO QUE AS PESSOAS SO VEEM O QUE QUEREM...
TENHO MUITO INTERESSE NO SEU TRABALHO ESTAREI VIAJANDO PARA SUA CIDADE EM BREVE, QUEM SABE N'AO PODEREMOS COMPARTILHAR ALGUNS MOMENTOS DE DISCURSSAO.
ThaÃs,
Aprende-se tanto aqui no teu postado que pareceu estar lá junto do povo no mundão verde nosso amado e querido, tão cobiçado. Bonito!
Beijin.
ThaÃs, excelente iniciativa; a tua, pelo postado e, a da Nova Cartografia da Amazônia. Tomara que todo este trabalho possa dar um resultado positivo para os habitantes da imensa Amazônia, não é mesmo?
Um abraço.
Olá ThaÃs, tudo bem? Parabéns pela matéria! Trabalho no Museu da Pessoa e gostaria muito de pensar possibilidades de trabalhos conjuntos com o projeto Cartografia Social da Amazônia. Para contato com o Prof. Alfredo, devo escrever para o e-mail citado acima?
Um abraço!
Olá ThaÃs!
Nos dis 24 e 25 agora, aqui no ES, tivemos um bate papo maravilhoso sobre este projeto inteligente das cartografias, que veio falar conosco foi o Franklin que é responsável pela regiao nordeste +ES. Foi ótimo porque falar de indios, Pomeranos e quilombolas é gostoso demais. É interessante como brancos, Ãndios e negros podem discutir e relatar a mesma dor com feridas diferentes, tenho um orgulho danado de ser brasileira de fazer parte deste paÃs tão miscigenado, mas principalmente por ter esta diversidade no campo e na cidade que vai desde o sem terra, fundo de pasto, até os homosexuais. As cartografias é sem dúvida um dos projetos mais inteligente que vi.
Um beijo á todos (as), no Alfredo e que o ES estará presente neste encontro no Pará no mês que vem, para a continuidade deste projeto.
Parabéns!!!
Selma/ES
A equipe do Nova Cartografia Social da Amazônia me pediu que fizesse uma correção: no artigo eu informo que os os fascÃculos do projeto são gratuitos (porque eram mesmo), mas a partir deste ano (2009) eles passaram a ser vendidos, ao custo de R$5,00 cada um.
ThaÃs Brianezi · Manaus, AM 30/4/2009 20:03
Ah! Aproveito para divulgar que o site do projeto já está no ar:
www.novacartografiasocial.com
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