Entrei em uma discussão no Orkut em que criticavam ferozmente a Rede Globo.
Chamam-na Rede BOBO. Colocam que o jornalismo da Rede é antiético, manipula notícias e aliena o povo. Isso de fato já ouvi pelos quatro cantos e de bocas instruídas.
Eu não vejo a Globo como um monstro como grande parte dos “cults” politizados e antenados prega. Ela tem seus defeitos, mas está longe de merecer as críticas que ouço quase diariamente.
Pra mim a televisão é um termômetro do intelecto do brasileiro. A Globo é a síntese do nosso desejo de ver televisão. Nela há o que o brasileiro quer ver.
No dia em que a RedeTV!, SBT ou a Record (sob a batuta de um facção religiosa, isso me soa perigoso) assumir o primeiro lugar, eu gostaria de estar bem longe. Estaríamos afogados em uma cultura que nem sei que nome dar. Do mesmo modo que no dia em que a Rede Cultura da Fundação Padre Anchieta for primeiro lugar eu poderei morrer em paz de orgulho da nação. Esta ultima passa aqui em Belém mas o sinal é retransmitido por uma emissora estatal e pega tão mal que corta o tesão, infelizmente nem Bombril na antena resolve... Perceba o tamanho interesse na população em assisti-la.
Ainda que com falhas na programação ou que quase ignore que o Brasil vai além do Rio de Janeiro e São Paulo (passa uma mini-série sobre assuntos fora do eixo de dois em dois anos), acho-a benéfica ao país. Não considero seu jornalismo tão desprezível assim nem tendencioso como o da revista Veja, por exemplo. Acho-o ponderado, levemente direitista, mas não os vejo escalpelando a esquerda como a Veja. O que a vejo fazendo é alertando para os riscos de se colocar no poder radicais, fazendo do país uma terra de Chavistas loucos. Os radicais é claro sempre a apedrejarão julgando-a parcial.
A Globo alerta a massa brasileira diariamente sobre a corrupção que rola em Brasília, o caos na segurança pública do Oiapoque ao Chuí, da falta de educação nas escolas. Mas a população não quer saber disso. A população fica é revoltada com a emissora quando assiste reportagem em cima de reportagem sobre a violência. E quando o assunto é falcatrua em Brasília, só faz resmungar uns palavrões mas fica tudo na mesma.
Citem-me exemplos que consideram desprezíveis no jornalismo da Globo. Gostaria de conhecê-los.
Só não me venham falar que ela estimula a violência no Rio, porque essa é a maior tolice que eu já ouvi.
A rede sempre apoiou causas filantrópicas como o AÇÃO CONTRA FOME do honorável e venerável Herbert de Souza (lembram do Betinho?).
Recentemente recebi um e-mail com textos atribuídos ao jornalista José Neumane Pinto em quem ele estima, abismado, o lucro de quatro milhões de reais por paredão no Big Brother Brasil. Torço que ela lucre oito milhões de reais a cada paredão. A Caixa Econômica não faz isso semanalmente revertendo milhões em reais para uma ou duas pessoas? Na Globo esse dinheiro vai para pagar folha de pessoal, royalties etc. Não questiono a qualidade do entretenimento que é o BBB (pra mim é vazio), mas eu não sou contra o lucro da empresa. Nem sou contra um pobre pagar alguns centavos para se divertir assistindo tramas ocas nas suas limitações intelectuais. Não vamos ao cinema pagando 15 reais para assistir “Ta todo mundo em Pânico 4”? Aliás, cá entre nós, um besteirol aqui e outro ali faz bem, ou não?
A Globo é uma empresa, e como toda, deve ser lucrativa para pagar mais de 14 mil pessoas: Jornalistas, engenheiros, varredores, dramaturgos, eletricistas, costureiras, artistas, etc.
Ela é também mãe de canais como o Futura, voltado para educação, artes e cultura. Mas quem é que se interessa em retransmitir o Futura? Quem é que vai assistir? Competir com a Rede Cultura não é negócio para ambas. A Globo procurou alavancar a campanha Amigos da Escola, que aparentemente não deu muito certo... Vai ver viram que a palavra “brasileiro” e “voluntário” não dá muito certo, salvo exceções, claro. O Criança Esperança que já ajudou populações sem tamanho... (não caiam nessa teoria de conspiração de que a Globo embolsa o dinheiro). Ela não enganaria centenas de artistas ano após ano... nem o UNICEF... A menos que você já não acredite em ninguém.
O problema do Brasil não é da Globo, é da população cada vez mais BOBA.
Tampouco é culpa da Globo a população estar BOBA. É culpa nossa, culpa da falta de educação de primeiro mundo nas escolas das pobres tias Raimundinhas, que soltam fogos a cada punhado de alunos que conseguem passar de ano se arrastando. A culpa é do pensamento medíocre de que ta tudo melhorando e a quantidade de alunos que passou direto na 4ª série esse ano é 0,8% a mais que no ano passado, faz-me rir!!! É culpa da família brasileira na educação tipo: “Não leve desaforo pra casa” ou “homem pode namorar com 12 anos, menina não” ou “mãe que ensina o filho criança a urinar em árvores”.
Eu tinha uns professores de história, sociologia e similares, desses “super-amargurados-com-o-sistema” que adoravam chamar a Rede Globo de Rede BOBO... Na época eu ia na corda deles, repetia o que eles falavam, mas depois de um tempo passei a pensar por conta própria e vi que não era bem assim. Formulei minhas convicções. Coloco isso porque já vi muita gente repetindo frases como “Rede Bobo” só pra parecer politizada.
Vocês realmente acreditam que a Globo é uma máquina alienadora?! Creio que se este fosse seu interesse estaria dando de mão beijada audiência para o SBT, Rede TV, etc... Acho que eles realmente não são bobos.
Não é função de emissora nenhuma educar uma nação, a função disso é da escola e da família, só que ambas no caso do Brasil precisam de reformulação urgente.
Televisão não é mãe nem professora. Televisão é o termômetro da cultura de um povo.
Respondam-me:
Estou sendo ingênuo?
Qual a opinião de vocês?
Há algum detalhe sórdido que eu não sei (que não sejam essas teorias conspiratórias sem fundamento)?
Olá, Hermógenes.
Confesso que não li seu texto na íntegra. Vi nele, logo de cara, uma tendência: a defesa da emissora. Fui desmotivado a partir deste parágrafo: "Pra mim a televisão é um termômetro do intelecto do brasileiro. A Globo é a síntese do nosso desejo de ver televisão. Nela há o que o brasileiro quer ver."
Na sequência do texto, você passa a estabelecer comparativo com a programação de outras emissoras. Foi nesse ponto que pulei para o desfecho: "Não é função de emissora nenhuma educar uma nação, a função disso é da escola e da família, só que ambas no caso do Brasil precisam de reformulação urgente.".
Discordo de você nas duas afirmações, naquilo que se refere à Globo. Com exceção de alguns programas interessantes, a emissora tem, sim, uma programação pernóstica, que aliena e ofende quem pensa neste país.
Um veículo de comunicação precisa, sim, ter responsabilidade social e demonstrar isso através de uma programação de real utilidade pública, com finalidade educativa e informativa. Isso é o que penso, claro. Opinião é opinião.
Se a Rede Bobo (também chamo-a assim) é tendenciosa e manipula a "grande manada"?! Ah, Hermógenes, gastaria uma página inteira apontando exemplos muito claros. São tantas as obviedades nesse sentido que julgo até desnecessário citar um deles.
Entendo que sua publicação pode gerar um bom debate. Por isso é que proponho que nela você inclua links que levem à discussão no Orkut, motivo de seu artigo. Assim, quem se interessar pelo tema, pode adotar posicionamento melhor, a partir das razões que motivaram seu texto.
Convém pesquisar a história da emissora, sobretudo investigando suas relações indecentes com as esferas de poder. Este "monstro" pode muito, Hermógenes, principalmente se rever conceitos do que é o papel dos meios de comunicação num mundo cada vez mais capitalista, injusto, desigual, materialista e decadente.
É o que tenho a dizer, camarada. Pelo menos por enquanto. Como disse antes, acho que o assunto pode render um bom debate, sobretudo se caminhar para a essência de debater a televisão brasilieira e não uma única emissora.
Grande abraço!
Hermógenes, me desculpe, mas responderei sua pergunta bem diretamente: você está sendo ingênuo. E o motivo é simples: você coloca a culpa apenas para um lado.
Há muito tempo alguns membros pensantes da Escola de Frankfurt observaram a comunicação de massa e criaram o conceito de Indústria Cultural.
Sinceramente, pouco me lembro da teoria toda, mas uma frase ficou gravada na minha cabeça e nunca, nunca se cala: "quanto menor o repertório, maior a audiência", ou seja, quanto menos conteúdo for apresentado, maior será seu público. (Disso não me esqueço e os números do BBB reforçam a lembrança a cada dia.) Isso é fato e, sendo a Rede Globo a número um em audiência, já acho uma prova bem clara da fraqueza de seu conteúdo. Mas ela só vai para a frente quando assistida... Vê como a culpa é dos dois lados dessa história?
Se há algum detalhe sórdido que você não sabe? Poxa, é claro! Sem querer soar conspiratória, duvido que haja UMA grande instituição no mundo que não esconde algum detalhe sórdido. Mas, especificamente da Globo, basta se lembrar da clássica manipulação "global" do debate Collor x Lula em 1989. Tem algo mais sórdido que aquilo? Muito. No fim do ano passado, um jornalista recém-demitido fez uma denúncia seríssima. Só para citar dois exemplos...
Hermógenes, em resposta a sua pergunta sou obrigado a dizer que você está sendo ingênuo sim. De fato o papel de uma empresa é ganhar dinheiro, mas a quantidade de empregados dela não é termômetro para sua santidade. E em se tratando de uma empresa de comunicação, existe uma responsabilidade muito maior do que o lucro. Nada há de errado com entretenimento vazio, desde que se tenha consciência disso, algo que o povo brasileiro não têm e a Globo não ajuda a desenvolver. Não se pode usar como argumento de "defesa" da globo o sustento de seus empregados em detrimento da qualidade de informação de milhões de telespectadores.
Como já foi dito antes, não exatamente nessas palavras (e não me lembro se foi Umberto Eco ou a Escola de Frankfurt): A cultura de massa não é cultura nem é feita pela massa. É uma decisão que vem de cima para baixo.
Falar que o conteúdo da Globo é reflexo da nossa ignorância é ingênuo, ela mantém a nossa ignorância, mesmo que ela não a tenha criado.
Além dos exemplos da Mi, aqui vai mais um:
- William Bonner se referindo ao telespectador como equivalente intelectual de Homer Simpson.
Fui breve, mas esse assunto dá muito pano pra manga.
Fico feliz que tenhamos esse diálogo. Obrigado pela atenção de todos e pelas respostas gentis e educadas.
Coloquemos as coisas em termos práticos.
Rezende,
Suponhamos que a Globo passasse a exibir o Roda-viva no lugar da novela das 8, exibisse o Vitrine, Metropolis, Altas horas, fizesse adaptações ainda mais chatas nas novelas, onde as mesmas virassem aulas de civismo ainda mais maçantes do que já são, se a globo colocasse o Repórter Eco, mais jornais, Observatório da Imprensa, Provocações, Cidades e Soluções, documentários educativos do Futura, SESC TV, etc.
Após todas essas mudanças, eu não precisei pensar muito, mas tenho quase certeza que a audiência iria pro buraco. Emissoras assim já existem, só que poucos vêem.
Teremos mais uma colega para a Rede Cultura, Futura e SESCC Tv. Teríamos a Globo dos sonhos de todos os sociólogos, jornalistas, educadores etc. e em primeiríssimo lugar na audiência a Record/IURD.
Caríssimos, defendo sim, que é com educação que se muda perfil do telespectador. Não é a televisão que tem esse papel em nenhuma sociedade. A Escola de Frankfurt teria dificuldade de me convencer do contrário. Temos outra realidade, outra sociedade (país), outro tempo. Se a Globo virar uma emissora um pouquinho diferente do que é ela terá perdas consideráveis na audiência.
Concordo com William Bonner, Fernando, acho que é preciso ser realista e deixar de defender o brasileiro. A grande massa é como Homers sim! Claro! Não sei em que região vocês vivem, mas aqui na minha as pessoas antenadas em política e são só as bem instruídas pela escola ou família, a grande massa de trabalhadores é como ou pior que o Homer Simpson. Não entendo o porque de tanto aborrecimento desses professores citados na matéria, Fernando. Somos Homers sim! Assumamos!
Nossa gente não recebe bem críticas. Nos ofendemos por pouco. Quando elas vêm de um senhor todo poderoso como Bonner soa ainda mais vexatória. Síndrome do povo oprimido. Experimente repreender um Homer que acabou de jogar uma lata de refrigerante na calçada e ensina-lo que aquilo é errado, teremos no mínimo uma resposta grosseira ou então um discurso do tipo “sou-oprimido”.
O brasileiro é que é alienado e não a emissora que é alienadora. Ela alerta o país há anos pro problema da violência, da educação, mas o brasileiro Homer não alcança o teor de preocupação e provocação das frases de Bonner.
Eu acho então que já não sei mais o que é alienação. Assisto aos jornais e às pessoas que os assistem. Brasileiros criticam os parlamentares sentados no sofá, quando se levantam já estão com o pensamento em outra coisa, e o Bonner está lá ainda a falar sobre os escândalos políticos. O que mais os jornalistas deveriam dizer? “Brasileiros! Levantem-se! Marchem em praça pública! Vamos reinvindicar nossos direitos! Vamos cobrar educação!”
Somos uma sociedade engessada. O pais observa o caos das favelas e não se move. Eu sinceramente não vejo culpa da Globo nisso. Repito! O que mais a emissora deveria fazer? Incentivar a população a se revoltar? Ela já joga a realidade na nossa cara. Mas ao invés de nos inflamar dizemos que aquilo tudo é exagero. Que a Globo destrói a imagem Rio de Janeiro.
Jornalísticos da emissora alertam o país incansavelmente há anos para o problema da violência, mas as coisas só pioram. O que mais vocês querem que ela faça? Como é que o jornalismo da rede poderia ser menos alienador?
Na política idem, assisti tanto a Heloisa Helena quanto ao Alckmin em mesma proporção na tela da Globo. O que deveria ser diferente? Como é que se faz um bom jornalismo? Perdoem-me, esclareçam-me, não sou jornalista, sou arquiteto.
O que quero dizer com tudo isso:
O Brasileiro não é alienado pela Globo, é alienado pela falta de boa formação. A emissora que assumir a tutela da educação brasileira estará fadada à audiência inexpressiva, por mais nobre que seja sua causa.
Espero que pelo menos em um ponto estejamos de pleno acordo. A Educação brasileira é uma piada.
A Globo de fato não criou a cultura de massa. Como colocado na Escola de Frankfurt, cultura de massa é fruto de um tempo, da comunicação de nossa era, se a Globo dança de acordo com a música é porque se ela não o fizer, outros farão. Na minha opinião é preferível que a Globo elabore essa cultura de massa do que outras com instintos ainda mais puramente capitais.
O que seria para vocês uma cultura de massa adequada?
Se puderem descrevê-la, adoraria.
Uma não-cultura de massa? Utópico. Seria mais fácil tornar cientistas todos os brasileiros.
O debate de 1989.
Assisti a uma palestra com os Jornalistas José Neumane Pinto e Ronald Carvalho, este ultimo admitiu que foi peça chave na decisão Collor x Lula em 89. Ele contou para o auditório, que na ocasião era editor do jornal nacional e fizera a edição do ultimo debate entre Lula e Collor, nas considerações finais Lula, ainda uma pessoa pouco instruída soltou uma frase tão boba e matuta que o editor a colocou no ar, segundo ele aquela frase teria sido decisiva na escolha de Collor. Essa é a manipulação? Não me recordo agora a frase, mas o auditório riu. O jornalista colocara que foi decisão dele, enquanto jornalista a decisão do que ia pro ar ou não. Não me recordo dele dizendo que ouviu vozes do além sugestionando o que deveria ser veiculado. Hoje ele não trabalha mais na Globo, poderia ter aberto o verbo sobre o assunto. Demonstrou respeito à emissora que trabalhara no passado.
Hermógenes, você continua colocando a culpa só de um lado da moeda...
Sobre o debate de 1989:
A manipulação foi exatamente a edição. Assim como em uma discussão de bar qualquer, se pegarmos apenas uma frase do começo e outra do fim, teremos uma idéia errada e superficial do todo. Não é à toa que os debates são transmitidos ao vivo hoje. Mesmo não tendo se referido a "vozes do além", o palestrante que você assistiu assumiu que a edição que fez foi parcial, né?
Sobre a cultura de massa, deve ser melhorada em conjunto com a educação. Mas, como você ressalta, educação no Brasil é uma piada. Desde o momento de alfabetização até o 3º ano do Ensino Médio, somos treinados para passar no vestibular. É na universidade que começamos a ser educados (quando somos). Na minha visão, tudo deve ser refeito.
Cultura de massa ideal, na minha concepção, é o que fazemos aqui no Overmundo, por isso fico feliz com o crescimento do site. Eu sou realmente otimista quando penso que os novos meios de utilizar a internet vão gerar um novo comportamento que, espero, se alastre em toda a população: a consciência do coletivo, o contato com outras realidades, a vontade de fazer as coisas pelo todo e de contribuir ativamente na construção de algo.
Veja bem, Hermógenes. A "grande emissora" faz tudo isso que você aponta, no sentido de denunciar a realidade (de acordo com o interesse e a tendência de seus donos) para que o telespectador faça sua leitura e julgamento críticos e tal. Por outro lado, convenhamos, permeia esses momentos "bons" com a inserção escancarada de uma asquerosa, pesada e estratégica dose de anestésicos.
Percebe-se que toda a grade da programação está recheada de ganchos para o que é o grande filão da REDE BOBO: mexericos, novelas, “big bostas”, estrelices e outras tantas baboseiras que me enojam. Tudo para manter o telespectador alienado. Você já percebeu como, depois de um Jornal Nacional da vida, num estalo, o foco ganha o rumo da encenação barata, alheia à nossa dura realidade?
Como disse anteriormente, sua publicação pode render bom debate, desde que fuja desse veio escancaradamente “fulanizado”. Botemos de uma vez a TV brasileira (digo todas as emissoras) no mesmo balaio.
Em relação ao fato de que a educação brasileira é uma piada, estou de acordo com você.
Vou encerrar, com todo respeito ao arquiteto, que daria um bom advogado.
Hermógenes,
Li o texto inteiro e alguns trechos dos comentários. Assim como quem já comentou aqui, tenho discordâncias.
Um ponto falho da tua argumentação é acreditar que as instituições família e escola têm a chave para a realização plena do ser humano. É ao contrário, na minha opinião. Escola e família são representantes do Estado, veículos que nos fazem introjetar o autoritarismo que detona nossas relações humanas reais, nossa afetividade e capacidade de viver a liberdade. Tive que desaprender o que me ensinaram na escola e em casa pra ter um coração de volta e uma curiosidade etimológica genuína. Hoje em dia, quando dou aulas (como voluntário em um pré-vestibular popular), sempre fico pensando que renderia mais se a coisa toda não fosse tão rígida e -voltamos ao tema do texto- as pessoas não tivessem convicções difusas e impessoais pautadas pela tevê.
Alguma, entre as teorias da comunicação, tem um conceito que acho interessante, que é o de autonomia do receptor. Sem dúvida, nenhum meio de comunicação tem o poder de inculcar goela-abaixo o que bem entede. Mas quanto menor o senso crítico e a liberdade de pensamento individual, maior a possibilidade de manipulação do espectador.
Sobre não ser tarefa da televisão ter um caráter educativo, discordo também. É sabido que as empresas que transmitem sinal de tv fazem isso autorizadas por concessões públicas (o nome já diz a quem deveriam servir as emissoras). A audiência não cairia necessariamente se os programas chamados educativos fossem feitos com criatividade e usando os recursos financeiros que as novelas recebem.
Até acho que a defesa da televisão possa ser feita, mas em outros termos. Tem uma entrevista do José Ângelo Gaiarsa muito interessante sobre esse assunto todo, mas de uma perspectiva mais original... o titulo é Quem orientou esses ignorantes?.
Gostei muito de todos os comentários anteriores, concordo com vários argumentos e muitas idéias da Mi, do Rezende e do Fernando.
Por último: Hermógenes reavalia a defesa do "menos pior" contra o "ruim".
Abraços,
Felipe
Abraço.
P.S.: Esqueci de dizer que há mais de 7 anos não tenho aparelho televisor em casa. Já assisti suficiente na infância. A música e as leituras me preenchem a vida mais de sentido e significacão.
Hermógenes, todo meio de comunicação tem a responsabilidade de educar ou ao menos tentar forçar uma elevação do nivel intelectual. O William Bonner infelizmente está certo, mas é um escroto, pois não se esforça para mudar a situação.
A Globo pode não ter causado a imbecilidade de seus telespectadores, mas como falei, ela ajuda a mantê-la. Pode até ser que ela "informe" devidamente as pessoas a respeito dos escândalos e mazelas da vida, mas cuspir um monte de informações disconexas não é informação. É preciso saber interpretar e usar informações, algo que a Globo não ensina.
Sobre a sua pergunta de exemplos de boa cultura de massa vou citar uma outra emissora televisiva: BBC. Emissora e produtora estatal britânica. Além dos canais originais ingleses, possui uma versão internacional especial (que é paga), é dona parcial de outros canais e produtoras (como a People & Arts) produz excelentes documentários e seriados além de ter uma equipe jornalística que é parâmetro de excelência. A Globo inclusive usa material original da BBC sem dar o devido crédito, em especial no risível Globo Repórter.
E emendando nesse papo da BBC: A Mi já mencionou o documentário produzido por ela sobre as falcatruas globais, documentário esse que não foi distribuido no Brasil graças aos poderes de uma certa organização....
Pego esse trecho do Mafra pra chutar de vez o pau da barraca:
"A Globo pode não ter causado a imbecilidade de seus telespectadores, mas como falei, ela ajuda a mantê-la"
A Globo causou, sim, a imbecilidade de uma legião de telespectadores, sobretudo no interior do Brasil, impondo moda e fazendo a cabeça de multidões.
Foi a emissora que mais se expandiu, com as benesses da canalhada, em tudo que é grotão desse país. Sempre na camaradagem conivente com os donos do poder.
Aqui cito ao menos dois exemplos em que a grande rede teve e tem relação estreita com oligarquias abonináveis: Bahia e Maranhão.
Eu, que nasci em 1964 no interior de Goiás (hoje Tocantins), lembro-me bem da grande novidade, que chegava para anestesiar comunidades inteiras. Uma coisa espetacular, mas cheia de laços.
Hoje, décadas depois, vejo como a Globo continua tomando tempo das pessoas com uma programação que me dá nojo. A BOBO continua invadindo lares e mantendo cabeças ocupadas. Digo isso porque tenho filhos, Hermógenes. E vejo como eles, apesar de toda instrução e acompanhamento, se sentem tentados pelo visgo escroto da telinha global. Uma escrotidão.
Salve, Felipe! Tenho TV, mas assim como você prefiro outra cachaça. "A música e as leituras me preenchem a vida mais de sentido e significacão."
Só um pequeno adendo pessoal: Eu tenho televisão e gosto muito de assistir. Só não assisto à Globo. De vez em quando pego uns trechos de nonvela e um jornal nacional pra dar uma chance de mudança de opinião. Chance que a Globo nunca aproveita.
Pra mim televisão é um excelente meio de comunicação, mas que está muito mal aproveitado, em especial no Brasil. Novelas inclusive são um fantástico formato para se contar histórias, mas todas as histórias que são contadas são uma porcaria e completamente descartáveis.
Acho que o Rezende deu um bom pitaco ali em cima.
Reafirmo e concordo com vocês quando colocam que na tela da globo, especialmente em novelas há muita coisa boba, vazia.. mas isso vejo como fruto dos anseios brasileiros, da grande massa.
Critico o apedrejamento da rede, quando ela não é culpada pelo brasileiro ser como é. Se tivessemos uma igualzinha a BBC aqui, ela seria um quinto lugar de audiência... A BBC é boa, mas é feita para um público diferente.
Quero colocar aqui que não é mudando a Globo que se mudará o país, as pessoas assistiriam outra fonte de baboseiras num clique do controle remoto.
Por que será que as pessoas não assistem a Rede Cultura, SESC tv e similares? Entendem o que quero dizer?
Resende!! eu sempre tive uma dúvida na minha vida! e espero que possas me responder. Quem nasceu no estado de Goiás onde hoje é Tocantins, é Goiano ou Tocantinense?
Hermógenes · Belém, PA 10/2/2007 18:50
Democracia é tudo, melhor ainda quando tivermos igualdade de oportunidades.
Será que com a tv digital melhora, minha grande esperança.
Veja bem, Hermógenes. A questão levantada por você em relação a "goianos e tocantinenses" sempre me despertou curiosidade.
Se o Tocantins foi criado em 1988, com a divisão de Goiás, quem nasceu antes disso no território hoje tocantinense é o que mesmo, afinal? Sinceramente, não sei te responder.
Eu tenho uma maneira própria de interpretar a coisa. Nasci goiano, em 1964, na cidade de Araguaína - GO, e hoje sou tocantinense, pois minha terra natal agora fica no Tocantins.
Sei que não tarda e você mesmo terá que se preocupar com isso, caso seja um paraense do Sul e não das bandas de Belém. Pelo que sei, há um movimento separatista querendo apartar o Parazão continental e desigual, criando o Carajás (é isso mesmo?). Até porque tudo que é riqueza paraense tem que encher primeiro os cofres da capital, alimentar meio mundo de manganos fanfarrões e inescrupulosos, para só depois ser mal repartido, assim como acontecia por estas bandas daqui. Entende?
É o caso do Maranhão também. Querem criar o Maranhão do Sul como forma de fazer com que as riquezas geradas na região sejam aplicadas em benefício do povo dali, já que o "cofo" dos mandões do litoral parece ser de boca larga e sem fundo, assim como era o dos goianienses.
Aliás, aqui caberia um aparte enoooorme a respeito da concentração de recursos públicos por parte do poder "público" (?) tão mal representado. Veja que bandalheira promove a canalhada em Brasília.
Mas isso já é mesmo outro papo.
E pra arrematar com um gancho para o assunto televisão brasileira, bem que as emissoras de TV deveriam abrir espaços para a gente pôr o dedo nessa ferida de forma transparente, ética, responsável e definitiva. Afinal elas ainda são os grandes veículos de comunicação de massa e detem concessões públicas.
Por esse motivinho final, Hermógenes, é que acho que a BOBO e suas concorrentes nos devem, sim, uma programação de mais qualidade, sobretudo no sentido moral e educativo. O gosto do público sempre foi uma imposição da mídia, camarada, geralmente com fins comerciais.
Volto para duas correções...
Na verdade, emissoras DETÊM e riqueza é mal REPARTIDA.
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