[http://www.ims.com.br]
Não sou acionista (quanta pretensão :-)) nem tenho conta no Unibanco, empresa que mantém o Instituto Moreira Salles (IMS), responsável pelo acervo. Meu parco dinheirinho só demanda uma conta no Banco do Brasil. Poucas vezes, porém, encontrei um sÃtio pela internet que fosse tão útil à s minhas pesquisas.
Considero a parte de música brasileira do acervo on-line do IMS, um verdadeiro oásis para o pesquisador de MPB. Oferece acesso gratuito a milhares de gravações de discos antigos, que cobrem o perÃodo do surgimento da indústria fonográfica no paÃs, em 1902, até 1964. Este acervo provem, principalmente, das coleções particulares de discos de 78 RPM de dois conhecidos pesquisadores brasileiros: José Ramos Tinhorão e Humberto Franceschi. Juntos eles detinham cerca de 70% de tudo que foi gravado no Brasil no perÃodo (pelo menos é o que dizem por aÃ). Há algum tempo que estes fonogramas estão sendo digitalizados e colocados à disposição do público através do sÃtio.
Pra se ter uma idéia do acervo: hoje, 14 de novembro de 2008, há 1875 fonogramas de Francisco Alves, por exemplo. Bahiano, Eduardo das Neves e Mário Pinheiro, três dos principais nomes dos primórdios da Casa Edison e das gravações, somam juntos 1384 fonogramas disponÃveis para audição no sÃtio do IMS. No caso destes últimos, é um número significativo, pois falamos de discos fabricados há um século. Orlando Silva (601 fonogramas), Carmen Miranda (507), Araci de Almeida (474), Nelson Gonçalves (423) e Dircinha Batista (309) são alguns outros exemplos.
A qualidade do trabalho de digitalização, do ponto de vista musicológico, é bastante satisfatória. Preocupou-se em manter o máximo possÃvel do que resta do áudio das gravações muito antigas, levando-se em consideração aspectos como variantes de rotação e procurando-se não interferir com modificações que a tecnologia atual permite, no que foi originalmente registrado. Claro que não se deve esperar como resultado sonoro, a qualidade à qual estamos acostumados em nossos dias. Chiados e ruÃdos à s vezes são muito comuns, principalmente nos fonogramas mais antigos. Porém a música está lá, tão original quanto possÃvel. E, a bem da verdade, os chiados são um charme a mais para aqueles que, como eu, ouvem essas gravações como um tesouro escondido, que agora começa a ser revelado e que é suporte inestimável e obrigatório para quem for fazer estudos na MPB deste perÃodo.
Lá encontrei o que são pra mim verdadeiras preciosidades: quatro versões do Isto é Bom (Xisto Bahia), incluindo a famosa feita por Bahiano (provavelmente uma prensagem posterior da matriz do que foi tida como primeira gravação feita Brasil). Mário Pinheiro cantando a modinha Quiz Debalde (também de Xisto Bahia, com texto de PlÃnio de Lima). Seis das 10 gravações feitas pela Banda da PolÃcia Militar da Bahia[1], na época regida pelo maestro João Antônio Wanderley, em excursão feita ao Rio de Janeiro, por volta de 1916.
Pude também fazer a alegria de minha mãe e de amigos, achando gravações que pra eles têm grande valor sentimental e que teriam possibilidade quase nula de serem relançadas comercialmente. Ajudei uma amiga garimpando gravações originais do cancioneiro nacional que teriam sido posteriormente registradas por João Gilberto. E muito mais.
Pode-se fazer buscas, entre outros, por “TÃtuloâ€, “Intérpreteâ€,
“Compositorâ€, “Dataâ€, “Gravadora†e “Gêneroâ€. Ah, é importante fazer a ressalva que se pode ouvir os fonogramas mas não baixá-los. O IMS, porém, disponibiliza a possibilidade de se obter cópias mediante algumas condições. Através da mesma base de dados também estão disponÃveis dados dos acervos bibliográfico e fotográfico do Instituto, também relacionados à música brasileira.
Enfim, o sÃtio é imperdÃvel!
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[1] O sÃtio da Banda da PolÃcia Militar da Bahia está com um aviso de fora ar, alegando manutenção. A previsão de volta é 18 de novembro de 2008. Por enquanto pode-se acessar a versão do cache do Google.
Gostei do seu artigo e votei!
Leia o meu também!
Que maravilha, mestre Carôso! Uma beleza de indicação!
Dando uma navegada no site, acabei encontrando várias gravações de composições do Humberto Teixeira (primo de minha avó materna). São interpretações, que vão desde o samba/marcha até o baião, nas vozes de 'Ciro Monteiro', 'Orlando Silva', 'Quarteto Ases e Um Coringa' (incluindo a gravação de 'Baião,' primeira parceria Teixeira/Gonzaga) e do próprio 'Gonzagão'.
Espetacular colaboração, meu caro! Você é uma mina de ouro!
Abração
Carlos ETC
http://interludios.blogspot.com
Muito bacana, Luciano! É muita pepita junta, né? Muito bom quando conseguem fazer a internet poder oferecer todo seu potencial para tornar acessÃvel um acervo como este. O desafio é a manutenção. O IMS ganhou recentemente uma coordenadora da parte musical nova, a Bia Paes Leme. Acho que em breve teremos mais (e boas) novidades de lá! Abraço
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 17/11/2008 15:24
O Instituto Moreira Salles é muito importante para o nosso PaÃs, e sua mat´ria nos dá com muito valor o que ele é e faz...
odeon, esse selo que eu me lembro bem na minha infância, me lembro também que alguns 78 era jogados no lixo por serem jámusicas de sucesso...
ETC, é verdade mermo que tu é parente do homi? Isso começa a explicar o seu talento e as melodias embutidas nos seus versos! :-)
Pois é Helena, eu também acho o mesmo: um tesouro espetacular. Inexplicavelmente parece-me sub-utilizado. Vira e mexe eu falo nos congressos e foruns de musicologia que participo sobre o site e quase ninguém conhece. E o pior é que um acervo como esse pode mudar certos paradigmas. Interfere no que os estudiosos concluem sobre repertórios, práticas e contextos musicais. Deixa-se de ter como referência só a tradição oral (que foi muito utilizada nos estudos da música popular urbana brasileira que este acervo representa) e passa-se a ter o registro fonográfico e em grande quantidade. Só que a maioria da musicologia nessa área que conheço, continua não considerando o acervo do IMS. Isso pra mim é um erro crasso nos dias atuais.
Caro Jorge, obrigado pela visita.
Pois é, mestre...
Tenho parte de minhas raÃzes na sertaneja Iguatu, no Ceará. Lá, meu bisavô Lafaiete Teixeira ensinou algumas coisas de música para o Humberto.
Foi muito legal poder ouvir as gravações das obras-parcerias do Humberto com Lauro Maia, Gonzagão, Carlos Barroso, entre outros. São obras que eu tinha conhecimento, porque li em documentos, mas nunca tinha ouvido esses registros.
Poder ouvir, por exemplo, o primeiro baião da dupla Gonzagão/Teixeira ("Baião", 1946) na primeira versão gravada (por Quarteto Ases e Um Coringa) em um estilo bem diferente daquele que se tem hoje foi bastante surpreendente.
Quanto à s explicações, não sei... pode estar no sangue, no DNA, mas pode ter entrado na cabeça por osmose mesmo! (risos) Mas uma coisa é certa, meu caro: ainda tô muitÃssimo longe da maestria dele! Por enquanto acho que só tenho o mesmo gosto e o mesmo sobrenome!
Obrigado mais uma vez pela preciosa dica!
Abração
Carlos ETC
http://interludios.blogspot.com
LUCIANO,
Estou encantada,
com seu texto!
Acho de uma importância
sem limites...
Vou com mais tempo,
verificar todos esses itens!
Abraços,
BOA SEMANA.
PORTO ALEGRE-RS.
Pôxa, uma beleza de indicação, abs.
Marcos Sosa · Porto Alegre, RS 20/11/2008 22:29
VOTOS,
Sucesso nos seus projetos!
Abraços,
BOM FINAL DE SEMANA.
Sorte nas suas empreitadas. Você é um apaixonado, isso basta!
Beijo garnde!
Grande...enorme...
Já que voltei, não custa corrigir.
Onde anda você?
beijo!
Luciano,
Fantástico! A se considerar, enfatizando fortemente o que você diz lá em cima, o que representa para a música popular do Brasil o pradigmático momento registrado neste inÃcio do registro fonomecânico, a transição do oral, precariamente grafado em álbuns de partituras para o fonograma, o impacto formidável desta nova mÃdia sobre as maneiras de se fazer música popular no paÃs.
A importancia deste tipo de acervo de registros de nossa memória cultural, inquestionável e insubstituÃvel sobre todos os aspectos, devis ter sua manutenção tartada como questão de segurança nacional.
TIve a sorte e a honra de visitar o Tinhorão pra uma entrevista num pequeno e modestÃssimo apartamento que ele ocupava em São Paulo (acho que ele morava lá) e me lembro de ficar por minutos extasiado com as paredes da sala inteiramente tomadas por discos de vinil, muitas cntenas, milhares diria. Me lembro que a única coisa nova por ali, naquelas estantes apinhadas de memória musical do Brasil, era um toca discos de última geração (era a década de 1980) e um reluzente gravador de rolo.
O alÃvio que dá saber que este material está à salvo da uma felicidade sem tamanho a quem sabe a importância têm as memórias emocionais de um povo. NotÃcia jóia!
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