Quando as luzes do cinema se apagam e a tela dá lugar ao universo mágico da sétima arte, o caminho percorrido pelo filme para chegar ali muitas vezes é abstraÃdo. No entanto, é preciso conhecer determinadas etapas desta produção para assim, entender melhor o produto que será consumido. Tanto nas salas no sistema UCI, que reinam soberanas no Recife, por exemplo, como em salas de grande parte dos festivais nacionais, os filmes são exibidos através de projetores de pelÃcula. Isso significa que a distribuidora teve que transportar rolos de filmes, de forma carÃssima para que ele chegue até você. Sem contar que a vida útil de um filme em pelÃcula tem data de validade. Com cerca de 160 exibições o filme vai para a lata do lixo, literalmente. Mas com o advento do cinema digital esta realidade está mudando. Há cerca de três anos foi inaugurado no Brasil um projetor digital que vem para baratear os custos e, como comemoram alguns cineastas, “democratizar o cinemaâ€.
O paÃs já têm cerca de 270 salas com o projetores digitais e o aparelho custa aproximadamente R$ 150.000,00, uma bagatela se comparado ao preço do projetor analógico. A exibição digital é realizada através do sistema Kinocast, um sinal emitido via satélite. Ou seja, para realizar uma exibição basta uma conexão de internet de banda larga e o aparelho. Isso pressupõe que as distribuidoras não precisam mais gastar dinheiro de rolos e rolos de filme. Outra vantagem é quanto à qualidade; não importa a quantidade de vezes que o filme será exibido a qualidade permanecerá intacta, diferente com o que acontece com os rolos de pelÃcula, que se deterioram com o tempo.
O gerente de atendimento da empresa que tem espalhado esta tecnologia pelo paÃs, a Rain Network, Cacá de Carvalho, endossa que o cinema vive, de fato, uma nova fase. Para ele, antes, existia certo receio em relação à distribuição de filmes. Agora, com o barateamento, este medo é bem menor. Segundo Cacá, o mercado também vive uma mudança tanto em relação à divulgação (esta não precisa mais se concentrar em meios de comunicação de massa), quanto à escolha dos nichos de exibição. “Os cineastas agora têm uma maior liberdade em relação ao foco da distribuição, que poderá acontecer de maneira descentralizada e ir de encontro ao público-alvoâ€; distribuir não significa mais dar um tiro no escuro. Para Cacá: “A exibição em pelÃcula tende a se extinguir, temos tido uma receptividade muito boa em todo Brasil do sistema digital e a expectativa é conquistar espaços cada vez maioresâ€.
No Recife, a primeira sala a adquirir o aparelho foi o cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). O coordenador do cinema da Fundaj, Luiz Joaquim explica que eles resolveram comprar o projetor prioritariamente porque baratearia o processo de exibição, mas não aposentamos o projetor de pelÃcula. “Hoje em dia a exibição é dividida: metade dos filmes são exibidos em digital e a outra metade em pelÃcula; pois muitas distribuidoras ainda trabalham com a mÃdia analógicaâ€, afirma o coordenador do cinema da Fudaj. Outro fator que influenciou a compra do aparelho foi o fato de várias produtoras de filmes independentes realizarem cópias apenas para distribuição digital. Luiz Joaquim afirma que filmes como O Sabor da Melancia de Tsai Ming Liang, só chegou no Recife através da sala da Fundação pois era a única com a tecnologia.
Luiz Joaquim também acredita que a pelÃcula terá vida curta. Para ele é uma questão de cinco ou dez anos para que seja extinta. “Se a pelÃcula permanecer será apenas como sÃmbolo de nostalgiaâ€. Segundo Luiz, a recepção do público é positiva. “Até então não escutei nenhuma crÃtica vindo do público, algumas pessoas até elogiam o digital, acreditam que a luminosidade forte seja uma qualidadeâ€.
O cineasta Tiaraju Aranovich que lançará o filme Sem Fio apenas em digital através do sistema Kinocast afirma “as tecnologias digitais estão avançando de forma vertiginosa, e o cinema deve tirar proveito total disso, o que somente será possÃvel através da exibição digital. Em poucos anos, veremos projetores digitais com qualidade de imagem jamais vista, tudo isso com a vantagem dos custos reduzidÃssimosâ€.
Tiaraju se considera um militante do cinema digital e defende esta nova fase do cinema com unhas e dentes. Para ele, a produção fÃlmica brasileira tem sido prejudicada pela polÃtica de alguns festivais. Tiaraju acusa: “A exigência da pelÃcula por parte de festivais é um obstáculo tremendo para muitos cineastas. É financeiramente impraticável para um cineasta independente custear o processo de transferir um filme feito digitalmente para pelÃcula 35mmâ€. Para um cineasta que está começando é, de fato, um entrave esta exigência destes festivais. O processo de transfer de um filme de digital para pelÃcula não custa menos que R$ 1.000,00 mil reais por minuto.
O diretor faz uma crÃtica férrea a estes festivais que exigem que os cineastas entreguem uma cópia em pelÃcula: “São festivais extremamente conservadores e elitistas que insistem em não acompanhar a evolução artÃstica e tecnológica mundial. São retrógrados. Acredito que o critério para se entrar ou não num festival deveria ser a qualidade do filme, e não se ele foi rodado em pelÃcula, vÃdeo ou seja lá o que for. Uma boa música não deixa de ser boa se estiver gravada em CDâ€.
Já em relação à substituição dos projetores de pelÃcula pelos digitais, ele também acredita que seja uma questão de tempo. “Os fabricantes de pelÃcula já estão oficialmente anunciando o término da produção dos rolos. Além disso, o próprio mercado consumidor vai passar a exigir a tecnologia digital, e quando isso acontecer em larga escala, a transformação será acelerada.â€
Apesar do barateamento tanto na produção quanto na distribuição o coordenador do cinema da Fundaj, Luiz Joaquim, acredita que isto não será necessariamente refletido no custo dos ingressos. Ele defende que o preço não é determinado pelo exibidor, e sim, pelo distribuidor. “Os ingressos do cinema Multiplex são caros, pois existe um acordo entre a rede UCI e algumas distribuidoras para tal. Portanto, se estes exibidores mudarem a exibição é provável que o preço não abaixeâ€. Luiz ainda afirma que a Fundação recebe crÃticas constante dos distribuidores acerca do preço do ingresso, que relacionados aos preços cobrados nos demais cinemas da cidade é pequeno.
No entanto, com o barateamento da produção, a quantidade de produtoras e distribuidoras tende a se multiplicar e o monopólio que hoje existe acerca da produção e distribuição de filmes pode ser dissipado com o tempo. Uma vez inseridos na indústria cinematográfica, as produtoras independentes poderão ditar as rédeas do mercado, inclusive o preço dos ingressos. Para Tiara “ideologicamente falando eu sou um defensor e militante do cinema digital. Acredito que a arte deva estar ao alcance de todos. Não gosto de arte elitista, que é feita por poucos e para poucos. A arte deve chegar a todos os lugares, deve ser praticada, realizada, vivida e vista nos quatro cantos do mundo, e a digitalização cinematográfica vem diretamente ao encontro dessa ideologia, é a democratização máxima da arte. O advento do cinema digital é o maior acontecimento na história do cinema desde o advento do somâ€.
Manu, faz depois uma matéria sobre a produção do Sem Fio. Convida o diretor para entrar no Overmundo também. O site fez um lançamento ousado junto com o diretor do Cafundó. Ele poderia pensar algo do gênero também.
Abração
Acho que vc podia fazer uma matéria explicando essa transição e processos, principalmente pq quando fala, por exemplo, dos custos para tranferir para pelÃcula algo que foi editado digitalmente, fica bem no ar, pra quem nao conhece, como é feito esse processo. O que vale mais a pena hoje em dia: gravar em digital ou em pelÃcula? E a questão da qualidade? Nooossa, rende uma série de reportagens somente sobre o tema, o que acha?
deborahguarana · Recife, PE 19/12/2007 15:39
Oi, Manu, a divulgação do Cafuné, perdão errei o nome do filme, pode ser conhecida nesse link
http://www.overmundo.com.br/overblog/cafune-na-rede
E o filme pode ser baixado no
http://www.overmundo.com.br/banco/cafune-versao-73min
Por fim, essa matéria eu acabo de colocar sobre o lançamento do 3 Efes do Gerbase.
http://www.overmundo.com.br/overblog/na-internet-no-cinema-na-tv-na-locadora
Manu, fui aluno de Tiaraju no curso de cinema digital que ele deu pra uma galera do Cinema de Guerrilha, um dos grupos de formação independente que assinou a Carta da Maré. E ele tem essa verve "da hora" em defesa do digital que passou pra gente e continua trasmitindo em vários cursos que ele leciona pelo Brasil afora. É isso: Bora Tiara!
Rinaldo Santos Teixeira · Campo Belo, MG 19/12/2007 18:15Achei uns links para assistir aos trailers antigos do Sem Fio no perfil de Tiara, que ele tirou do Yout Tube. Lá ele postou os mais novos. Assistam
deborahguarana · Recife, PE 20/12/2007 14:02
Gostei muito da sua matéria, Manu. Acho que, além de tudo que você disse, a projeção digital vai, com certeza, ajudar a democratizar a realização de filmes, revolucionando muitos outros aspectos da técnica cinematográfica no mundo inteiro.
Abs
Tudo bem querida... sou da cidade, trabalho com música e também adoro a produção do áudio visual da cidade, apesar de não ser um exÃmio conhecedor da sétima arte.
Gostaria de uma força tua, para conhecer melhor esse espaço do overmundo, quero me situar para poder divulgar minha música, também escrevo poemas, crônicas, coisas que percebo no dia dia.
Estou divulgando a banda em que toco, a BLACK JOHN BAND, tocamos Rock, Funk, Jazz, Soul Music, composições nossas, coloquei quatro músicas na rede.
http://www.overmundo.com.br/banco/a-emparedada-da-rua-nova, neste endereço você pode baixar a Emparedada da Rua Nova, essa música foi inspirada num romance do escritor pernambucano Carneiro Villela, nele conta a ´´historia`` de uma jovem burguesa que foi emparedada viva pelo seu pai após engravidar do seu namorado, isso no começo do século xx.
Muito obrigado pela atenção, espero que goste da música, é feita com bastante carinho e dedicação.
Um Abraço Jorge Romão
Outros endereços:
www.myspace.com/blackjohnband
www.bandasdegaragem.com.br/blackjohnband
orkut, Black John Band
jromaojunior@yahoo.com.br
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