Almir Sater encerrou as atrações do 4° Festival América do Sul, que aconteceu de 15 a 19 de agosto, em Corumbá/MS. A platéia corumbaense vibrou emocionada durante o show ao ouvir canções que estão guardadas no imaginário do povo sul-mato-grossense como Chalana, Trem do Pantanal e Comitiva Esperança. Sem dúvida alguma, Almir é um dos intérpretes e compositores que melhor representam o Mato Grosso do Sul.
“Venho a Corumbá desde pequeno. A viagem feita pelo trem do pantanal era inspiradora. Na época eu ainda nem pensava em ser músico, mas esta cidade já me encantava”, disse na entrevista coletiva, feita no fim da tarde antes do show, às margens do Rio Paraguai. Rememorou também a primeira vez em que ouviu um chamamé. Foi em Corumbá. “Eu tinha vindo fazer uma peça de teatro na Marinha e ela foi cancelada na última hora. Eu e meus amigos viemos então dormir na praça Generoso Ponce e ao amanhecer ouvimos aquela música cantada em guarani”.
Para esquentar o encontro com jornalistas, com uma tranqüilidade inabalável e enrolando seu cigarro de palha, contou sobre sua vinda para o 4° Festival América do Sul. “Como o Pantanal está bonito. No caminho encontrei muitas piúvas (ipês cor-de-rosa) e carandazais, repletos de flores”, observou. E complementou ainda: “Este festival é muito importante porque a música de Mato Grosso do Sul já tem uma latinidade e este evento veio oficializar isso. A população de Corumbá, que é muito acolhedora, foi brindada com esta festa cultural e ainda dá opções de entretenimento ao turista, que não vai apenas desfrutar do turismo de pesca. No início da minha carreira eu me inspirei no Paulo Simões, no Geraldo Espíndola, na Tetê Espíndola e no Geraldo Roca, que eram artistas em destaque naquela época. É preciso mostrar para as crianças os artistas sul-mato-grossenses para elas poderem se inspirar. O Festival América do Sul é ideal para isso”.
Em cerca de 1 hora de coletiva, Sater estava alegre e contou particularidades de sua vida artística e opiniões sobre diversos assuntos. “Faço shows a base de convites espontâneos. Não sobrevivo de discos e sim de shows, mas não consigo bancar uma produção de shows porque é caro. Minha estrutura é pequena. Além disso, as gravadoras roubarem os artistas é o mal menor. O maior problema é a pirataria. O artista tem conta para pagar, e hoje em dia, quando grava disco, não pensa em vender. No meu caso, em contrapartida, um ano que faço de novela me garante dez anos de apresentações musicais. Divulgo minhas músicas por meio das novelas. E faço sempre o mesmo show sim, mudo muito pouco o repertório, porque é ele que garante minha vida artística e para mim, atualmente com 51 anos, levar a emoção para alguém é o que importa”, explicou. Almir disse também que prefere trabalhar sempre com os mesmos músicos. “Assim podemos errar juntos. Quando erramos juntos, acertamos”, brincou.
Almir Sater, na ocasião, analisou também os artistas sul-mato-grossenses. “A postura dos artistas de Mato Grosso do Sul é diferente dos artistas da Bahia, por exemplo. Somos caipiras mesmo e está bom assim. Rendemos menos em termos de badalações, mas não perdemos em nada para nenhum artista de outros Estados. Hoje em dia, é muito difícil encontrar compositores com potencial poético. E nós temos compositores de qualidade como Paulo Simões, Geraldo Roca e Guilherme Rondon. A educação no Brasil piorou muito e isso tem refletido nas criações. Ou o governo começa a investir em educação e cultura nesta geração ou tudo vai piorar”, lembrou.
Neste festival, a atenção foi a marca registrada de Almir Sater. Característica essa que dispensa também à comunidade que vive na sua fazenda no município de Aquidauana. Lá, disponibilizou uma pequena estrutura para a implantação de uma escola rural aos moradores da região. “Este projeto aconteceu a pedido da comunidade. Os peões vieram a mim, e como observaram que eu recebia muitas autoridades, pediram para que eu intercedesse por eles nesta questão. Foi aí que disponibilizei uma área da fazenda para um posto avançado da escola rural de Aquidauana. É muito difícil manter uma escola na fazenda. As crianças moram nela de segunda a sexta-feira. Então, a escola funciona como se fosse a própria casa dos alunos. E eles gostam muito de estar lá. Participei da formatura dos primeiros formando e foi muito gratificante”, contou. Segundo ele, a comunidade da sua fazenda é uma das mais unidas da região, tanto que conseguiram como doação três computadores e todos estão interligados na internet 24h. “As crianças estão se sentindo privilegiadas”, comemorou.
Sater falou também sobre a terra que adora. Morou durante 6 anos no Pantanal, antes de ir morar na Serra da Cantareira em São Paulo. “Meus filhos se alfabetizaram na fazenda. Mesmo morando na cidade grande, nós adoramos passar um tempo no Pantanal. É sempre prazeroso vir para cá. Só que é muito caro viver no Pantanal. A pobreza tem levado o Pantanal a uma situação difícil. Andei meio deprimido nos últimos tempos, já cheguei até a pensar em arrendar meu sítio. Como não é possível viver da lucratividade da terra, quando o proprietário consegue pelo menos empatar o investimento que fez já é bom. É preciso agregar valor aos produtos pantaneiros, senão a coisa vai ficar feia. Se nada mudar, a terra pantaneira vai durar no máximo uns 40 anos”, lamentou.
Com sua simplicidade característica que agrada aos fãs de carteirinha, Almir Sater finalizou a coletiva ao cair da noite. “Estou sem projetos futuros. Só quero mesmo é tocar minha viola”.
Mais informações sobre o Almir Sater aqui.
Belo texto, Gisele. Gosto muito do pouco que conheço do Sater, mas já bastante para dizer que o respeito que a voz dele agrega valor sentimental. O mais interessante é que um artista 'que deu certo' num estado, voltar a esse estado nos dar um panorama do que acontece por lá. Acho muito bom que ele diga que as crianças precisam ser inspiradas, mas lamento como qualquer vivente o fato de o Pantanal ter empobrecido e poder durar somente 'uns 40 anos'.
Labes, Marcelo · Blumenau, SC 26/8/2007 12:36Labes, fico feliz que tenha gostado da matéria. Realmente ele é um cara que faz questão de lembrar suas raízes. Se um dia vco tiver a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente vai compreender que o sucesso dele é relamente merecido. Almir é uma pessoa maravilhosa e sua energia muito da paz. Abcs Gi
Gisele Colombo · Campo Grande, MS 27/8/2007 21:36Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Voc conhece a Revista Overmundo? Baixe j no seu iPad ou em formato PDF -- grtis!
+conhea agora
No Overmixter voc encontra samples, vocais e remixes em licenas livres. Confira os mais votados, ou envie seu prprio remix!