Não conheço quase ninguém que vá a reunião de condomínio. O aviso fica no elevador semanas antes, avisando da reunião que vai acontecer em uma quarta-feira à noite.
– Aonde que eu vou pra essa reunião? Bem na hora do jogo do Baêa – disse um amigo meu, ao subirmos o elevador do seu prédio. – Por isso que ninguém vai – completou ele.
Realmente, reunião de condomínio deve ser extenuante. O cara já chega acabado do trabalho, saiu de casa cedo, enfrentou o transito, a violência, os jingles dos prefeitos... Tudo que ele menos quer é uma reunião de condomínio.
“Os outros que resolvam”.
Se Tim Maia fosse o síndico do meu prédio, eu iria pra todas as reuniões.
Em todo aviso de reunião, tem no final da folha algo como “quem não vier, vai ter que aceitar o que decidiu a maioria dos que vieram”. É a democracia. Depois é um pau da porra. A gordinha do 802 ficou pirada com o aumento da taxa, pois resolveram reformar o prédio. Foi reclamar com o síndico.
– Me desculpe, minha senhora, mas, na última reunião, os que queriam a reforma ganharam por 2 x 1 dos que não queriam a reforma. Se a senhora tivesse ido para a reunião, teria sido, pelo menos, empate.
E assim começam as brigas. Soube de um caso de comemoração por parte de um recém-eleito a síndico. Contratou banda, churrasco na piscina, cerveja, colocou uma faixa com “Seu Fernando do 504 é nosso síndico”, chamou os amigos, os eleitores...
Alguns vizinhos, provavelmente os que nem sabiam de eleição alguma, foram reclamar com o síndico pela zoada.
– O síndico agora é ele – gritou o que perdeu, pela fresta permitida do “pega-ladrão” de sua porta.
A coisa terminou em pancadaria na piscina e polícia na porta.
E Léo Kret se elegeu pra vereador(a). Mais que isso, foi o quarto vereador(a) mais votado. Cada povo tem o Clodovil que merece. O número de candidatos-pastores também cresceu muito. Na próxima eleição, a câmera de vereadores vai ter Compadre Washington, Beto Jamaica, Xandy e Padre Pinto. Carla Perez vai ser a presidente da casa. De qualquer forma, é melhor um Léo Kret do que um Valdenor Cardoso (atual presidente da casa que não conseguiu se reeleger).
Imagino como foi a festa de comemoração de Léo Kret. Pelo menos tento imaginar. Todo mundo requebrando e gritando “AAAaaahhhh”. Um amigo que trabalhou na campanha do DEM disse que, na edição do vídeo de Léo Kret, toda a equipe achou melhor tirar o gritinho do final, isso no início da campanha, mas que o próprio presidente da Propeg, o publicitário Fernando Barros, mandou colocar o gritinho. O cara é bom, elegeu Léo Kret. Duda Mendonça é melhor ainda, que, com sua agência, já elegeu Maluf, Collor, Mário Kertész
(ou Mário Kret, se preferir, pela fase velho-tarado-babão), Lula e tantos outros. Desconfio que Duda Mendonça é o culpado de tudo. Segundo o próprio, em seu site, em um texto falando sobre ele mesmo, ele diz que “não existe povo eleitor e povo consumidor, o que existe é povo”, ou seja, cerveja. Políticos são produtos como cerveja e sabão em pó, com a diferença de que, se você não gostar, você só pode devolver quatro anos depois.
O jornalista Mario Sergio Conti, em seu livro Notícias do Planalto, descreve na página 92:
Collor foi a Itparica, na Bahia, desembarcou na praia de Mar Grande e perguntou a um senhor de cabeça toda branca:
– Governador, onde fica a casa de Duda Mendonça, por favor?
Antonio Carlos Magalhães indicou-lhe o caminho e depois comentou: “Esse filho do Arnon sabe das coisas: veio atrás do melhor homem da propaganda política na Bahia”.
Mas Duda Mendonça não conseguiu vender Antonio Imbassahy. Alguns amigos meus que votariam nele mudaram de lado no último dia por ele aparecer em quarto lugar nas pesquisas, sem chances de vitória.
Pesquisa é outro problema das eleições. Elas tiram o direito do eleitor de votar em quem ele acredita ser o melhor. Quando eu for prefeito de Salvador, vou proibir as pesquisas. Pesquisa é o mal número um da democracia eleitoral.
Nunca na história deste estado, ACM VÔ teve de escolher um candidato para apoiar no segundo turno que não fosse o do seu partido, pelo simples fato de nunca ter havido na Bahia um segundo turno sem o PFL-DEM. É a primeira vez, e ACM, dessa vez o NETO, vai ter de responder sobre quem vai apoiar na segunda etapa da eleição: João Henrique (PMDB) ou Pinheiro (PT).
A baixaria nas campanhas vai ser digna da briga dos vizinhos acima. Quem comanda a campanha de João Henrique é o publicitário Maurício Carvalho, ex-Propeg e ex-ACM VÔ, hoje com Geddel, que por sua vez, já foi anti-Lula e pró-ACM VÔ, sendo hoje o contrário, e apoiando João Henrique, que é pró e contra qualquer coisa que ele mandar.
O ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) aparenta ter todas as semelhanças e características de ACM VÔ na busca pela concentração de poder. Está em um ministério e quer eleger o seu prefeito (na eleição passada, João Henrique era do PDT). O vejo como candidato a senador em 2010, ao mesmo tempo que tentará eleger o governador ou apoiará a reeleição de Wagner (PT). Tudo pelo investimento a longo prazo. E aí começa mais um ciclo baiano.
Meu avô Pacífico Ribeiro tem um epigrama que ele fez no final dos anos 60, época em que a Bahia era dos “Luíses”. No governo tinha Luís Viana Filho (governador), Luís Prisco Viana (secretário de comunicação), Luís Navarro de Brito (educação), Luís de Carvalho (procurador)... Eram no total seis Luís.
No governo do Luís, só de Luís já tem seis: se a moda vem de Paris, vai ter Luis XVI.
Outro dele que acho que tem a ver com o atual clima, é um que fala sobre o golpe militar e a criação da ARENA – Aliança Renovadora Nacional –, partido criado em 1966, no qual estava Antônio Carlos Magalhães. O partido foi feito para servir de base aos interesses da ditadura.
Com os generais de pijama², Ademar, Pinto e Lacerda, saímos do mar de lama e entramos no mar de merda.
“Mar de lama” foi o termo criado por Carlos Lacerda ao falar do governo de Getúlio Vargas. Como “merda” não podia ser dito, meu avô mudou o epigrama, sem mudar o conteúdo, deixando:
Com os generais de pijama, Ademar, Pinto e Lacerda, saímos do mar de lama e entramos no mar de ARENA.
Ontem teve festa no condomínio. Enquanto a conquista do poder for motivo de comemoração, continuaremos sem motivos pra comemorar. Houve muita música, muita cerveja, muitos eleitores e muitos mendigos no bairro do Rio Vermelho festejando a ida de Pinheiro ao segundo turno, assim como na AV. Vasco da Gama, onde os PMDBistas celebraram a ida de João Henrique.
Foi barulho a noite toda. Eu não soube pra quem reclamar.
_________
(1) W/Brasil, de Jorge Benjor.
(2) Ademar de Barros, Magalhães Pinto e Carlos Lacerda.
Amei !!!
E a gente só sabe reclamar deles lá no congresso. Ok, a maioria vai lá fazer sei lá o que ...mas e nós fazemos o que ? Nem aonde moramos fazemos a nossa parte...
Abçs.
É preciso uma consciencia crítica a respeito do papel como cidadão para praticar a cidadania. Muitos ainda não a possui.
Paulo Esdras · Brumado, BA 9/10/2008 10:49
"Políticos são produtos como cerveja e sabão em pó, com a diferença de que, se você não gostar, você só pode devolver quatro anos depois." E o que fazer quando o produto já provou que não presta e o povo não devolve??? Cury, o significado do seu texto (com seriedade e bom-humor juntos) reflete muita coisa que ando pensando ultimamente. Penso que a real democracia não existe e nunca existiu. Somos todos parte de todo esse "jogo", jogamos também, e seu eu for escrever aqui sobre todas as minhas indignações sobre política e politicagem, isso vai virar outro texto... Melhor deixar aqui apenas o meu voto para seu texto e te parabenizar por escrever da forma que escreve. Abraços.
Jacarezinho, aviao, cuidado com o disco voador. tira essa escada dai, eu vou chamar o sindico!!! Tim Maia! Tim Maia! rsrsrsrs demais a lembranca, tudo legal, votadissimo,
victorvapf · Belo Horizonte, MG 10/10/2008 22:10
kkkkkkkk
Essa foi muito boa !!!
Já morei em um condominio super...sempre haviam boas festas...Todos eram convidados...só não participava quem não queria...rsss
Vou passar a estória pra uma amiga síndica !
Abraços !!!
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