FEIRA KRAHÔ DE SEMENTES TRADICIONAIS
A Feira Krahô de Sementes Tradicionais acontece dentro da terra indígena Krahô, próxima à Itacajá, cidade localizada a 295 quilômetros de Palmas, no Estado do Tocantins. Essa reserva indígena congrega cerca de 2.200 habitantes em um território de 320.000 hectares de cerrado.
Esse trabalho é uma realização da Associação União das Aldeias Krahô - Kapey, com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, EMBRAPA, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com apoio do Governo do Estado do Tocantins. O objetivo da feira é o intercâmbio de sementes técnicas tradicionais de plantio com exposições, assim disseminando e conservando a variedade de grãos.
É um evento que começou em 1997, e a segunda versão em 1998 foi premiada pela Fundação Getulio Vargas, Fundação Ford com o apoio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) pela participação do programa de gestão pública e cidadania com o projeto “Recuperação da Agricultura”.
A última feira em outubro de 2007 ofereceu uma premiação Agrobiodivesidade Krahô para a aldeia que apresentasse maior variedade genética de milho, fava, arroz, batata-doce e inhame. O objetivo dessa premiação, segundo a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Terezinha Dias, é “incentivar os povos indígenas a cultivarem espécies tradicionais, garantindo assim a variabilidade genética dessas espécies”.
O que me chamou atenção nessa premiação, foi o fato da aldeia premiada ter a maioria das espécies apresentadas cultivadas por uma senhora viúva e doente, que mesmo após a falta do marido, com a ajuda dos filhos e filhas continua cultivando a roça todos os anos.
Essa feira contou com a iniciativa do indigenista Fernando Schiavini que trabalha com os krahôs há vinte anos e também do desejo da tribo em resgatar e manter sua cultura.
Schiavini ao saber que a Embrapa guardava sementes coletadas nos territórios indígenas, procurou a empresa juntamente com um representante krahô e receberam grãos de milho Pohnybpey, uma espécie que havia desaparecido da cultura dos índios há muito tempo.
Esses grãos foram o começo do plantio das sementes tradicionais nas aldeias krahôs. E desde então, num acordo com a Associação Kapey, a Embrapa se responsabilizou em fortalecer a agricultura tradicional e introduzir novos cultivos.
Nessa empreitada, a população krahô conta também com a atuação de uma escola agroambiental denominada Catxêkwyj. Essa escola promove cursos no sentido de efetivar o resgate da agricultura tradicional dos índios e também incentivar a educação ambiental, discutindo temas referentes à reserva krahô. Os cursos são ministrados por profissionais qualificados da Embrapa, Universidade Federal de Goiás e de algumas organizações não governamentais.
O nome da escola tem origem na lenda krahô que acredita ter uma deusa em forma de estrela que traz a sabedoria para a terra. Segundo essa lenda, no começo do mundo as tribos se alimentavam da caça, de frutos e de plantas coletadas na natureza. Um dia, a estrela se apaixonou por um jovem índio e transformou-se em mulher, a Catwêkwyj, que desceu a terra e ensinou as formas de cultivo, tendo inicio a agricultura.
Durante a Feira de Sementes acontecem oficinas de farinha de batata-doce, artesanato em capim dourado, pintura em tecido, beneficiamento do lixo industrial, arquitetura indígena, entre outras.
Nesse evento se misturam pesquisadores, curiosos, antropólogos, universitários e políticos. O costume de se enfeitar para a festa se estende aos visitantes, a maiorias tem o corpo pintado pelas índias.
Nessa 7ª. Feira houve o batizado em ritual tradicional indígena, do deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), ele que é um dos defensores da proposta de emenda constitucional (PEC) elevando o Cerrado à condição de Patrimônio Nacional. O parlamentar foi preparado para o ritual decorando o corpo com penas e tinta de urucum. Foi carregado pelos índios recebeu o nome indígena de “Krowajô” que quer dizer tocos e palmito de buritis.
Essa evento também é uma amostra da cultura indígena de forma geral, destacando o rico artesanato e as apresentações culturais.
No artesanato há variedade de colares, brincos, sandálias, instrumentos musicais, enfim, de tudo pode se encontrar um pouco nessa movimentada feira.
Os espetáculos culturais são alternados com a dança, canto, esporte e rituais. A tradicional corrida de toras é realizada todos os dias da feira. Pintados com tintas naturais como jenipapo e urucum, mulheres e homens correm em grupos separados carregando toras de até 60 quilos.
Os corredores se dividem em dois grupos. De acordo com o ritual variam os times que disputam a corrida, são grupos chamados de metades e são assim distribuídos:
A. Wakme(n)ye x Katamye
B. Khöikateye x Harãkateye
C. Khöirumpekëtxë x Harãrumpekëtxë
D. Papa-méis x Abelhas
E. Papa-méis x Muriçocas
F Papa-méis x Gaviões
G. Marrecos x Gaviões
H. Lontras x Peixes
As apresentações dos representantes das tribos visitantes com demonstrações típicas de cada etnia, complementam o espetáculo. Já chegaram a participar até doze etnias indígenas de várias partes do Brasil como os Wapixana (RO), Krikati (MA), Apinajé (TO), Xerente (TO), Carajá (TO), Desano (AM), Kariri-Xocó (AL), Guató (MS), Macuxi (RO), Kaxinawá (AC) e Guarani-Kaiowá (MS).
Assim, essa iniciativa além de resolver o problema da fome nas aldeias, resgata as tradições e promove um momento de confraternização entre os indígenas e comunidades. Com o sucesso da experiência Krahô, outras tribos também aderiram ao projeto e participam todos os anos da feira, buscando apoio para desenvolver esse trabalho em suas reservas.
Maravilhosa notícia. Mais um parabéns amiga Sinva.
Higor Assis · São Paulo, SP 3/12/2007 15:56
Obrigada amigo, como sempre, vc é o primeiro a aparecer...
Beijos
Sinva
Procuro sempre pelos teus textos, pois eles sim vale apena por aqui. Abraços...
Higor Assis · São Paulo, SP 3/12/2007 16:49
Mesmo? Fiquei toda cheia, obrigada!
Veja no site
www.goiaseducacao.com/novo2/index.php
entre no link e vá em DICAS DE LEITURA, foi uma boa surpresa...
beijos
sinva
Maravilha! Vindo de voce Sinva, não podia ser diferente. Sua vida parece girar em torno de descobertas, em torno da diversidade que envolve a cultura do País.Cada matéria que voce publica, é pra nós leitores um grande achado.
Continue, cara amiga ..., de grão em grão, vamos construindo uma nova Nação!
Nossa Sinva que lindo o seu trabalho. Já lhe admirava, agora então lhe admiro mais ainda. Receba meus sinceros parabéns de coração mesmo.
Obs: Se você tiver um blog me passe. Agora caso não ter trate de cria-lo moça, pois tuas histórias são realmente deliciosas e ainda fico imaginando o tanto de causos que pode nos contar em rimas e prosas.
Beijos do Higor
Sinvalice, menina bonita de Uruaçu,
Obrigado pelo convite. Estou arquivando para reler e guardar algumas coisas.
Aproveitando a deixa, bem proximo, estou na
ÁFRICA, o berço da vida
está no banco em edição.
como não sei ainda botar o tal do link, o jeito é sair mais cedo.
um abraço, andre.
Eu adoro estas reportagens que você faz com os índios minha amiga Sinvaline. Essa gente precisa e merecem toda essa atenção que você dispensa com todo carinho e muita dedicação. Parabéns, meus sinceros aplausos e beijos.
Carlos Magno.
Sinvaline, todas as suas colaborações são riquíssimas e importantes.
Esta verdadeira aula é completa. E, como as outras, desperta um desejo imenso de ir ver, de participar, de saber como é na prática que você mostra sempre tão bem.
Eu sempre fui admiradora da Embrapa. Saber que trabalham na preservação de espécies ligadas à cultura (e à agricultura) indígena confirma o respeito que tenho por esta instituição.
Obrigada.
beijos admirados
Olha o voto aí minha amiga.
Beijos.
Carlos Magno.
Sinvaline
Você tem material em mil caixas. Surpresas riquissimas. Farto e bem redigido, leitura gostosa, informações. este vai pra promeira página, rs. Seria tão bom que chegase a todos. A Embrapa é uma empresa maravilhosa, muitas parceria com instituições, empresas de pesquisa, grande suporte . Parabens.Volto.
Silvaline,
Puro ouro isto aí. Que a índia que vive em você nos traga mais coisas dos Krôs, dos Wapitxanas, dos Tembés...
Sinvaline, ótima matéria. Deu vontade de ir conhecer de perto tudo isto. Bjs.
Joana Eleutério · Brasília, DF 5/12/2007 15:34
Achei muito interessante conhecer este evento através da sua matéria.
Parabéns!
Mais uma colaboração fantástica Sinvaline!!!
Material que merece o maior destaque pela importância. Ótima oportunidade para aprender sobre os valores nativos e sobre a importância da preservação das sementes.
Ocorre porém que sempre tenho um pé atrás com a EMBRAPA (e reconheço que pode ser um preconceito tolo). Mas o fato é que uma instituição em cujo leque de interesses se encontra a manipulação genética (as más linguas dizem que há um loby forte da Mão Santo pressionando a EMBRAPA), a gente fica mesmo com o pé atrás pensando se não há outros interesses ligados a obtenção de sementes de raça pura.
Se observarmos o que a Mão Santo faz ao contaminar as plantações de quem não usa transgênico dá para ficar com medo mesmo.
Será querida Sinvaline que não tem coelho nessa toca? Será que ingenuamente não estaremos sendo conduzidos a um efeito inverso ao esperado?
Olá Marcos um amigo meu da Embrapa leu seu comentário e como nao conseguiu se cadastrar, mandou que publicasse essa nota abaixo:
Prezado Marcos Carlito e sociedade, em geral,
Asseguro que a Monsanto (por ti referida como Mão Santo) não exerce pressão
sobre a Embrapa. Quem exerce
é a maldita globalização e os nossos produtores, que em grande número,
querem usar soja transgênica. A Embrapa fez o que se tinha que fazer. A
Monsanto patenteou a soja transgênica Round Up Ready, uma variedade pouco
adaptada às nossas condições climáticas. A Embrapa, para se livrar
parcialmente do monopólio, comprou o gene e fez a transformação em
variedades brasileiras, disponibizando variedades mais adaptadas. Mas,
particularmente concordo que não precisaríamos de trabalhar com
transgênicos. Infelizmente, existe uma pressão muito grande dos produtores,
pelo menor custo (sempre o lucro cego acima de tudo) e pela facilidade no
plantio.
Há outros exemplos de transgênicos na Embrapa, como feijão adicionado com
metionina (mais completo em termos de aminoácidos essenciais) e mamão e
batata resistentes a vírus. No mundo, já são usados tb o milho e o algodão
resistentes a lagartas. Por outro lado, esses produtos levam à diminuição no
uso de inseticidas no campo. É importante tb citar que não é bem assim esse
negócio do milho contaminar o milho não transgênico ou de se criar ervas
super resistentes - há muito misticismo e desinformação nisso.
Desculpe-me a franqueza, mas parece haver muita desinformação no teu
comentário sobre a Embrapa. Na verdade, vc tira conclusões generalistas em
cima de um ou de poucos comentários. A Embrapa, enquanto empresa brasileira
do setor agropecuário com mais de 2200 pesquisadores das mais variadas
especialidades, atua em pesquisa em praticamente todas as áreas do
conhecimento agropecuário. Assim, há um grupo que trabalha com manipulação
genética sim, mas no sentido de não ficar para trás na corrida tecnológica
mundial, seguindo todo um protocolo de segurança, e com grande
responsabilidade. Outros grupos trabalham com: agricultura orgânica,
recuperação de áreas degradadas, preservação de ecossistemas, sistemas
preservacionistas de produção (meu caso), preservação e divulgação de
materiais tradicionais (meu caso tb), entre outras tantas linhas de
pesquisa.
É importante saber que a Embrapa tem sim o maior banco de germoplasma do
Brasil, com centenas de milhares de acesso, o que na verdade é um tesouro
genético, questão de segurança nacional, extremamente estratégica para o
país. Esse fato citado na reportagem da colega Sinvaline foi clássico.
Imagina um krahô identificar no banco da germoplasma da Embrapa uma
variedade de milho já extinta nas suas aldeias, um milho que era usado em
rituais. Imagina... Isso não tem preço!
Bom, Marcos, fica o meu comentário, no sentido de tentar mostrar que a
Embrapa, felizmente, não é uma só. Como eu disse, somos mais de 2 mil
pesquisadores, além de técnicos e pessoal de apoio, e cada um tem seus
projetos de pesquisa, suas idéias, suas ideologias, é verdade! Mas há espaço
para todas as linhas de pesquisa. Acabo de aprovar um projeto sobre
a cultura da vinagreira, para incentivar seu cultivo e uso. Trabalho com a
mandioquinha-salsa (batata-baroa), com hortaliças não-convencionais
(tradicionais) e com cultivo de hortaliças sem revolvimento de solo - o
plantio direto em hortaliças, visando reduzir os processos erosivos e
maximizar o uso da água. Fui produtor rural, depois passei pela extensão
(Emater-MG) e tenho em mente sempre o atendimento das demandas claras dos
nossos produtores, dentro de uma visão muito prática, e da sociedade como um
todo. Convido a ti e a todos para conhecer nosso trabalho na Embrapa
Hortaliças.
Finalizo dizendo que é triste ouvir comentários deste tipo, mas que têm de
ser exteriorizados. Agradeço a ti por isso. Não sou ingênuo, sei dos
interesses econômicos das megacorporações como a Monsanto, mas somos uma
empresa onde tudo passa por um grupo de pesquisadores da mais extrema
competência técnica (nunca sai de poucas cabeças uma orientação da empresa)
e, asseguro, muitos desses pesquisadores são compromissados com o verdadeiro
desenvolvimento do país. Há tendências que estão aí e que não podem ser
negadas, como a utilização da biotecnologia como ferramenta diferencial no
progresso das nações no longo prazo. Pergunto, ainda, exatamente que coelho
na toca? Que efeito inverso ao esperado?
Atenciosamente,
Nuno Madeira.
Nuno Rodrigo Madeira
Fitotecnia / Olericultura
Embrapa Hortaliças, cx.postal 218
70359-970 Brasília DF
tel: (61) 3385-9036 / 9275-8152
fax: (61) 3385-9042
nuno@cnph.embrapa.br
Caro Nuno,
Realmente você tem razão, generalizei e nivelei por baixo.
Mas foi bom, pelo menos para mim, pois serviu para tirar da toca o que eu sequer imaginava haver na Embrapa, um coelho consciente.
Realmente fiquei surpreso com tua consciência e comprometimento com o desenvolvimento sustentável. Você acabou de mudar minha opinião sobre o órgão em que trabalha. De hoje em diante passo a respeitar sua instituição e a zelar do nome dela em meus comentários. Não pelo crivo da junta científica, mas por saber que dentro dela há uma voz humana.
Abraços
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