Em todos os anos, durante o mês de março, é elaborada uma vasta programação para comemorar o aniversário da cidade. No ano de 2005, quando foram comemorados os 150 anos, publicamos no jornal Cinform o presente artigo.
Para resumir o motivo pelo qual o texto está sendo reeditado na Ãntegra, aqui no Overmundo, podemos lembrar da frase de uma composição do Legião Urbana: “Mudaram as estações e nada (ou quase nada) mudou†na área da ação cultural transformadora e inclusiva.
O que nos deixa perplexos é o fato de que a cidade, sendo governada desde o ano 2000 por uma aliança de partidos de esquerda, ainda não atendeu aos anseios de quem tanto esperou e espera do grupo.
Afinal, a expectativa era de que o segmento artÃstico/cultural fosse considerado prioridade no governo da mudança. Mas o que se percebe é que na área da cultura quase tudo está por fazer.
Esperamos que nos próximos aniversários, possamos registrar o melhor e mais duradouro presente, que são as polÃticas públicas de cultura à altura da importância que a área requer no atual momento histórico nacional e mundial.
Enquanto isso não acontece, continuaremos como propõe o ditado popular jogando “água mole em pedra dura, que tanto bate até que fura.â€
Esperamos que muito mais gente se some, para que nos transformemos em uma forte correnteza que provoque uma real mudança de atitude, muito além da retórica, por parte dos nossos companheiros e camaradas.
Eis o texto. Que também pode se chamar:
Aracaju nos seus 152 anos e a cultura que fica.
Os casais sabem que nas relações de amor um dos aspectos mais importantes, e que deixam marcas muito fortes na memória, é o entrosamento do casal na cama. Existe até um ditado que se refere a isto como o ‘amor que fica...’.
Como cultura é uma palavra feminina, e Aracaju também, tanto que nas peças publicitárias referentes ao aniversário dos 150 anos a nossa cidade é apresentada como uma bela menina, penso que o referido dito popular, nesse caso, pode ser aplicado à cultura também.
Concordo com o prefeito Marcelo Déda, no estilo dado às comemorações do aniversário da nossa cidade, com as tradicionais entrega de medalhas, alvoradas, corridas e shows musicais. Eu não faria diferente, afinal este tipo de programação me lembra as declarações de amor, as flores, os bombons e os bichos de pelúcia que quase toda mulher gosta de receber. O problema é que apenas isso não sustenta uma relação que se quer firme, duradoura e inteira.
Mas e a cultura que fica? Como nas coisas do amor , vai muito além dos eventos que o Governo do Estado ou Prefeitura estão oferecendo para celebrar o aniversario da nossa bela menina.
A cultura que fica é aquela que garante um orçamento digno para o crescimento e sustentabilidade deste setor no municÃpio. A cultura que fica é aquela que coloca em prática leis de fomento aprovadas pela Câmara Municipal, como à de incentivo à cultura e a que institui o ‘Programa VAI’ que apóiam, respectivamente, as iniciativas dos artÃstas profissionais e dos artistas e/ou grupos culturais emergentes da periferia.
A polÃtica cultural que fica prepara agentes culturais, incluindo gestores municipais, para melhor planejar e administrar o setor na cidade. A polÃtica cultural que fica se propõe a construir um teatro municipal.
E, principalmente, a polÃtica cultural que se quer firme, duradoura e inteira consulta os artistas, produtores culturais, intelectuais e as lideranças comunitárias para ouvir e atender as suas demandas, utilizando como pressuposto que cultura não é gasto, e sim investimento que resulta na melhoria da qualidade de vida da nossa população e daqueles que nos visitam.
A polÃtica cultural que fica é tarefa dos vereadores, que precisam discutir e aprovar a proposta de lei encaminhada pela ECOS - Entidades Culturais Organizadas - no ano de 2003, instituindo o Fundo Municipal de Incentivo à Cultura, conhecido no meio artÃstico de nossa cidade pela sigla FICA.
Do contrário, é alimentar, em relação à cidade, uma opinião/atitude do machão brasileiro, que vem desde os tempos do Brasil-Colônia, ao afirmar a existência de dois tipos ideais de relação com as mulheres: a de um casamento formal com uma e as relações extraconjugais com outras. As primeiras são as esposas que cuidam da casa e dos filhos. As outras para todo o prazer que houver nessa vida.
Trazendo o exemplo para Aracaju, moramos, trabalhamos, descansamos e, de vez em quando, namoramos com a nossa menina. Já com as outras (Salvador, Recife, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo) nos divertimos, nos esbaldamos e nos deliciamos pra valer. E, neste caso, vale tanto para quem gosta de lixo cultural como para quem gosta da “papa finaâ€, do “biscoito finoâ€, da cultura brasileira e universal.
Se no campo das relações conjugais muitos homens e mulheres estão conseguindo ser completos e viver juntos com plenitude, contribuindo para um novo modo de relacionamento que pode dispensar a necessidade de amantes, penso que o mesmo vale para a nossa capital.
Neste sentido, queremos Aracaju por inteira, dando e recebendo tudo do bom e do melhor nos dois planos: afetivo/sexual e cultural.
TE AMO MUITO ARACAJU.
P.S.: O prefeito atual de Aracaju é Edvaldo Nogueira do PC do B, que foi reeleito em 2004, como vice-prefeito na coligação PT-PC do B. O prefeito na época em que esse texto foi escrito, Marcelo Déda (PT), atualmente é o nosso governador.
O Programa VAI de Aracaju, inspirado em proposta do mesmo nome do municÃpio de São Paulo, foi tranformado em lei através da Câmara Municipal no ano de 2003 e aguarda ser retirado da gaveta pela Fundação Municipal de Cultura (Funcaju).
O FICA ficou parado em uma das comissões na Câmara Municipal, espera-se que com a posse de um suplente de vereador, Chico Buchinho, identificado com as demandas do meio artistico/cultural, o projeto possa andar.
Belas metáfora a da esposa. Sinto Belém, minha cidade, por exemplo, como a bela esposa do coronel que ficamos a espreitar desejosos. Sem podermos cortejá-la diretamente, cortejamos suas filhas, mas o pai, severo e moralista, raramente deixa que nos demos a libertinagens com elas. Só casando! E, enquanto isso, respeito total às tradições da casa.
Isso dá um conto
Valério,
Agradeço os seus comentário e gostaria mesmo de ver o mote sexual/festivo, proposto no texto, ser transformado em conto.
No mais, gostei muito de Belém, pude visitá-lo somente uma vez. Espero que a segunda viagem não demore.
Abraços,
Quem quiser se aprofundar um pouco mais na história de Aracaju, não deixe de ler o artigo "A quadradinha Aracaju" de MaÃra Campos
Zezito de Oliveira · Aracaju, SE 31/3/2007 15:50
É o rumo e o prumo Zezito.
Aprende-se todo dia.
O problema é aplicar todo dia o que se aprende.
Um dia chegaremos lá.
Mesmo que alguém ainda continue perguntando, nós quem? ou lá aonde?
Um abraço forte, tchê!
As secretarias/ministérios da cultura, ao que me parece, tem gavetas demais!!!
Abraço mano Zezinho!
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