O que você lembra sobre as campanhas presidenciais passadas? Lembra da Regina Duarte tentando fazer medo com o Lula e da filha dele que apareceu do nada? Da Patricia Pillar defendendo o marido? E do FHC deixando claro que tinha cinco dedos? Da Heloisa Helena tentando ser presidente, parece que faz tempo né...?
Então, pra lembrar de tudo, fique atento ao documentário Arquitetos do poder, que acaba de ser lançado. Ele vem na seqüência de outras duas importantes produções nacionais, Entreatos (2004), de João Moreira Salles, e Vocação do Poder (2005), de Eduardo Escorel e José Joffily. Estes três trabalhos estão unidos por uma temática central em comum, as campanhas eleitorais.
Em Entreatos, João Moreira Salles acompanha os últimos dias de Lula antes da eleição que o tornou presidente pela primeira vez. No filme, a câmera atenta de Walter Carvalho nos traz importantes registros da rotina de uma campanha polÃtica vencedora, onde tanto os momentos de reuniões muito sérias como os de banalidades do cotidiano são muito significativos. O filme de Escorel e Joffily, por sua vez, acompanhou por sete meses seis candidatos a vereadorores pela cidade do Rio de Janeiro, sendo os seis personagens muito diferentes entre si, com possibilidades bem diversas de serem eleitos. Este painel construÃdo pelo filme apresenta bem como as apropriações e usos da polÃtica por cada candidato podem ser dÃspares e o quanto pode haver despreparo dos candidatos ao cargo, o que deixa evidente a importância da máquina polÃtica que os legitima e fortalece. O mais novo documentário brasileiro tratando do tema traz uma sÃntese entre uma visão acadêmica e a de um cineasta experiente. Arquitetos do poder, filme de Alessandra Aldé (IUPERJ) e Vicente Ferraz (Urca Filmes) não trata apenas dos bastidores do poder numa campanha eleitoral, mas dos orquestradores desse poder durante as campanhas presidenciais no Brasil. Trata daqueles que fazem as funções de marqueteiro polÃtico – embora alguns não se definam assim.
Arquitetos do poder começou a ser gerando ainda em 2003 e foi finalizado agora em 2010, ano de nova campanha para presidente, o que o torna fundamental para refletirmos o processo das campanhas eleitorais e relativizar os métodos utilizados nelas. Ao longo do filme nos damos conta de que, mesmo nos considerando sempre atentos ao cenário polÃtico, a nossa memória é muito seletiva e guarda muita coisa que não conseguimos resgatar por nós mesmos. Mais que isso, além de nos lembrar diversas campanhas presidenciais e seus principais conflitos, a riqueza principal do filme reside nos depoimentos daqueles que tomaram as decisões que orientaram essas campanhas. Passamos então a conhecer as estratégias por trás dos jingles, dos slogans, das cores mais utilizadas, dos Ãcones escolhidos, maneiras de falar e se vestir dos candidatos, sobre ter artistas apoiando a campanha e por aà vai. Passamos a conhecer melhor o quanto uma decisão desses profissionais pode chegar a interferir significativamente nas propostas da campanha e dos argumentos colocados em debate.
Arquitetos do poder abre com uma fala de Duda Mendonça, personagem paradigmático entre os marqueteiros polÃticos, o responsável pela campanha que gerou mais votos no mundo até hoje numa disputa democrática, mas a primeira campanha abordada, porém, é a de Getulio Vargas, onde o filme de fato começa. A partir de Getulio, o documentário passa por todas as campanhas presidenciais até chegarmos à reeleição do atual presidente. Ao longo das campanhas vamos acompanhando o crescimento da importância dos meios de comunicação no processo democráticos e observando também a incorporação de cada nova forma de mÃdia e das novas formas de utilizá-las, tudo isso acompanhado do crescimento vertiginoso da importância decisiva do marketing polÃtico. Claro, nem sempre foi assim. Quem lembra daquelas campanhas onde só apareciam as fotos dos candidatos em sequência com seus números? Tempos da Lei Falcão. Nessa época só dava pra se diferenciar fazendo muita cara de honesto ou abrindo um sorriso bem grande.
O filme da Alessandra e do Vicente é composto por imagens de arquivos tanto dos veÃculos da imprensa, quanto dos responsáveis pelas campanhas, somadas à s entrevistas que eles fizeram com personagens como José Genoino (ex-presidente do PT e irmão do deputado do dinheiro na cueca, essa não dá pra esquecer!), Duda Mendonça, Ciro Gomes, Cláudio Humberto Rosa e Silva (porta-voz do então presidente Fernando Collor, quem lembra?), entre diversos outros. Falando em Collor, sua eleição foi um marco do marketing polÃtico no Brasil e do começo do uso ostensivo da mÃdia nas campanhas. Quem lembra da "Caça aos marajás"?
Nem preciso lembrar que estamos em ano de eleição. Mesmo sem permissão oficial, já tem gente fazendo campanha... Se a televisão, o rádio e a mÃdia impressa foram tão marcantes nessas eleições todas, imagine só como será este ano, na "Eleição dos Candidatos Twitteiros". Meses antes da campanha, Dilma Rousseff já tem blog e twitter, José Serra já tem blog e twitter e Marina Silva não podia ficar de fora, também tem seu blog e seu twitter. O documentário Arquitetos do poder é, portanto, um filme fundamental para refletirmos isso tudo. O filme, que deve ser assistido em todos os cantos do Brasil, infelizmente , tem enfrentado dificuldades para entrar em circuito.
Dando continuidade à série de episódios no Brasil em que os direitos autorais engessados atrapalham a livre circulação da informação e do conhecimento, o filme Arquitetos do poder ainda não desfruta da liberação de algumas imagens por parte de determinados veÃculos da imprensa. Mais que uma resenha ou uma divulgação de um documentário, este é um convite a reflexão por meio dele e, para que isso possa acontecer de forma descentralizada, é também um apelo para que uma produção tão oportuna quanto esta circule e possa desfrutar da importância que ela reserva ao atual contexto polÃtico.
Então, muito cuidado com o canto da sereia, com os ternos muito bonitos, as musiquinhas que não saem da cabeça, com as sobrancelhas importadas, o pessoal da novela e, claro, com o papo furado.
Será lamentável se eles não conseguirem lançar por conta desse entrave dos direitos de imagem. Estou torcendo muito para as mudanças significativas que estão sendo propostas na Lei de Direito Autoral para que tudo fique mais simples. Filmes como esse em ano eleitoral ajudam a fomentar a consciência polÃtica e são bom retrato de uma época...
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 31/5/2010 17:22
Lembro...
grande texto
Não tenho tempo de ler tudo o que foi pedido,
mas fica a dica certeira:
Muito cuidado com as sobrancelhas importadas e o papo furado!
bjs
Pois é Helena, fico até um pouco angustiado em pensar que podem não rolar as exibições em circuito. Mas a gente pode incentivar a circulação nas universidades, o que já é alguma coisa. Vou procurar divulgar aqui no overmundo essas exibições.
Abraços!
Oi Doroni,
Tentei ser mais conciso, mas fica pra próxima hehehe. Espero que consiga ver o filme, tá muito bacana!
Abraço!
Pessoal,
Só pra constar, tem candidato já debatendo diretamente questões relacionadas à internet.
A Marina Silva realizou ontem um encontro com blogueiros twitteiros:
http://bit.ly/d3brX1
Vamos ficar atentos e participar!
Pois é...
Vão me chamar de louca mas eu voto em Marina ou anulo meu voto
bjs
Arquitetos do Poder, na hora certa para conscientizar a maioria que ainda se leva pela mÃdia, ou seja pelos "arquitetos".
Parabens Ale, Vicente!
Vamos divulgar o filme!
Quero muito assistir Arquitetos do Poder, mas não sei onde encontrá-lo. Estou concluindo meu curso agora e minha monografia é sobre mÃdia e polÃtica. Tenho certeza que o filme vai contribuir para o desenvolvimento do meu trabalho. Alguém sabe me dizer onde acho?
Lirane · Natal, RN 11/10/2010 12:23Baixar o Documentário - Arquitetos do Poder - http://fwd4.me/07dJ
Rogéro Floripa · Apiacás, MT 18/9/2011 09:33Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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