Arriando minha sunga!!!

Lú Streithorst
Show no Pátio de São Pedro. Comemoração do aniversário de Chico Science.
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Roger de Renor · Recife, PE
26/3/2007 · 335 · 45
 

Ao reassumir este ano, a Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco, o Mestre Ariano Suassuna, foi enfático ao declarar a política que adotará em sua gestão – será Armorial.

É isso, o Movimento Armorial agora é plano de governo.

Dito isto, nós que vivenciamos o Manguebeat dos anos noventa, não deixamos de lembrar as declarações radicais (mesmo na época) do velho mestre, nos idos e vindos de noventa e cinco, um ano após o lançamento do antológico álbum DA LAMA AO CAOS, que voltaria a atenção da música pop mundial para o Recife. "Eu não entendo em que uma música ruim como o rock, possa contribuir com uma coisa boa como o maracatu? - Perguntava o Secretário. Justificando com isso, que não preveria verbas para esse “tal movimento†ao qual tratava simplesmente como rock. Pois bem, passaram-se mais de dez anos e achavamos que o tempo tivesse respondido a pergunta do Mestre, sim, pois indiscutível mesmo nesta vida, só a sabedoria do tempo, mais nada...

A razão do tempo deveria tê-lo feito enxergar, que o som do Manguebeat, e Chico Ciência (como resistia em chamá-lo), não só contribuiu com o velho e bom maracatu, mas foi além, aproximou as novas gerações das nossas manifestações culturais tradicionais, de uma forma muito mais prática, direta, efetiva e pacífica, do que a intelectualidade restritiva do Armorialismo.

Se o Manguebeat bebeu na fonte ou reprocessou as informações, respirando o ar de Casa Forte de passagem pra Rio Doce, sei lá, eu não tenho aqui a intenção da informação, mas uma coisa é certa: O tempo passa, o tempo voa, e a poupança bamerindus, nem sempre continua numa boa... (desculpa). Então hoje, 2007, nos deparamos novamente com o tema, agora muito mais complexo e por sua vez, também tratado de uma forma muito mais ''simplista''pelo Secretário. Só que hoje, além de ao vivo e nos jornais, graças a tecnologia, acompanhamos com a possibilidade de voz a quem queira opinar sobre o assunto, com agilidade na rede. Ariano, no último final de semana em sua cerimônia de posse, uma aula espetáculo aberta ao público no teatro Santa Isabel, concorridíssima com lotação esgotada, de tanta gente querendo prestigiá-lo, em sua fala inaugural de governo, citou infelizmente (ou não), como exemplo da necessidade da implantação de sua particular política cultural, o sucesso da musica, ''Pra me Conquistar'', da Banda Calypso, cantarolou uma estrofe, e referiu-se aos seus compositores como ''idiotas'', “imbecis'', arrancando gargalhadas da platéia. O país é livre, e os artistas mais ainda, mas na posição de Secretário de Cultura empossado, sua opinião, poderia ser respeitada, se fosse em sua casa, ou então, na universidade, ampliando o debate, e discutindo com a sociedade e principalmente com especialistas acadêmicos, que a muito, pesquisam e estudam sobre o tema, e que estão fundamentados em discordar de sua opinião, inclusive, desde o tempo em que equivocou-se, de forma também preconceituosa com o Manguebeat, que tão humilde foi no cumprimento de seu objetivo muito mais amplo do que o pretendido a princípio.

É muito simples dizer que o brega é uma merda, lá no Burbúrio, tem dias que digo isso de duas em duas cerveja, talvez o punk tenha acabado, ou o rock em inglês seja ridículo, ou todo intelectual seja um chato do caralho... isso em um bar é papo ótimo, mas dito pela boca de quem vai gerir a cultura do meu estado, tem outro peso...

E AGORA, O MEU MARACATU, PESA UMA TONELADA!!!

Admiro e respeito o Mestre Ariano, sua obra e movimento, desde que conheci e integrei a família e a universidade do Balé Popular do Recife, nos oitenta e tal, a sua estética e fundamentos fazem pirar qualquer um que se interesse por gente, pela nossa cultura e nosso povo em sua essência de genialidade, complexidade, nobreza, e simplicidade principalmente, pois se não fosse assim, não poderíamos partir do princípio e licença poética de que não somos nada, e disso... Reprocessar, desconstruir, quebrar conceitos, ampliar valores, agregar, evoluir, abrir o peito... são algumas das palavras de ordem que tenho dado ouvido nestes tempos, e tal acusação me fez vestir a carapuça de brega ou a la ursa. Li a resposta do produtor da Banda Calypso, nunca pensei que reveria meus valores a ponto de reverenciar a nobreza de tal Banda. SE O DIABO É O PAI DO ROCK, O HD É DEUS DE TUDO... VIVA XIMBINHA, VIVA O DJ DOLORES, VIVA OS MARACATUS DE ALIANÇA, E PRESERVEM AS BALEIAS...

Eu num sei tu, mas: EU VIM COM A NAÇÃO ZUMBIII!!!!

www.rogerderenor.com.br

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Keila
 

E apoi!!! Agora num seja armorial não...

RECADO DE ARIANO SUASSUNA AOS ARTISTAS: "Aqueles que não estiverem em sintonia com a estética armorial devem procurar a Fundarpe para poder viabilizar os projetos."

Segunda capa, JC, 17/03/2007

Keila · Recife, PE 23/3/2007 13:55
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Spírito Santo
 

Tô contigo, Roger. Acho que cultura tem mesmo isto aí de embate de uns contra os outros. O Ariano é isto aí. Sempre foi assim e se a gente discorda dele nisto, é bom também que a gente ressalte que ele é uma cara que briga honestamente por esta posição tão arcaica, tão decaída. Não faz mal. A caravana da cultura real sempre passa batida por estes percalços. Faz parte. Está tudo chafurdado no mesmo mangue medicinal.
O que não se deve fazer é cair do outro lado, no lado daquela meia dúzia de oportunistas que, com uma conversa fiada de universalismo pop-rock-pra-inglês-ver tentam jogar, tanto o Armorial quanto o Mangue beat no lixo.
E mangue, já se sabe hoje, não é lixo.

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 26/3/2007 07:09
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Guilherme Mattoso
 

gostei da narrativa.

Guilherme Mattoso · Niterói, RJ 26/3/2007 09:49
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Lioviola
 

amigão, imagina nós que estamos aquí no sertão o que esperar?
pois normalmente nunca vem nada mesmo, quanto a ser armorial
é interesante, mas nem só de pão e agua vive o homem,temos nossos movimentos culturais aqui no pajeú, sem apoio dos home!!!

Lioviola · Carnaíba, PE 26/3/2007 10:54
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Marcos Woortmann
 

Grande Roger,
Sua narrativa é um deleite. Tenho que dizer que sou tentado a concordar com o mestre Ariano, em suas políticas e posições tradicionalistas, mas só em parte, pois acho que frente ao mundo do espetáculo, se não houver forte apoio, as identidades culturais locais pouco a pouco são massacradas. Sabia que havia Boi em Santa Catarina? Hoje quase não há, e exemplos são tantos. Acho também o brega uma bosta, e que a política cultural dele podia ser financiada por um imposto cobrado a cada show de brega (sacanagem, rs). Lamento apenas que, grande mestre como ele é, tenha jogado o Manguebeat no mesmo saco dessas manifestações modistas que em cinco anos acabam (vide lambada e axé music). Realmente o mangue beat fez tanto pelo Maracatu quanto Piazzola fez pelo tango, e ambos foram muito criticados. No mais, paciência, deixa o Ariano lá que o mangue beat é mais forte.

Marcos Woortmann · Brasília, DF 26/3/2007 12:03
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André Gonçalves
 

o que eu gosto mesmo é que, assim, ou assado, recife pulsa.

André Gonçalves · Teresina, PI 26/3/2007 12:08
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Luiz Carlos Garrocho
 

Ei, pessoas:

"Não é por acaso que a cultura tem sido chamada de 'campo de batalha simbólico'." Joost Simiers, in Artes sob pressão - São Paulo:Escrituras, Instituo Pensarte, 2006.

Quando a batalha se dá nas ruas, nos espaços diversos, é uma coisa. Mas quando se define pela força do poder, aí fica difícil. Quantos poetas já não foram executados? Tudo bem, sem exageros... Hoje basta deixar sem financiamento!

Que o velho mestre pense assim é também uma coisa. Direito seu. Outra, é não haver forças que possam equilibrar a batalha. O Manguebeat é uma força de expressão do Brasil. As crianças das escolas públicas deveriam entrar em contato com suas letras e músicas. Porém, pode vir agora um período de censura. Espero que não.

Abraços

Luiz Carlos Garrocho · Belo Horizonte, MG 26/3/2007 12:32
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Josué
 

Roger, criatura,
Pra variar, arrebentou no texto!
E que bom que vc só reverenciou a nobreza da banda!
Um grande abraço

Josué · Recife, PE 26/3/2007 12:51
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DiogoFC
 

C tá sendo muito romântico. Brega é ruim e não deve ser incentivado. Deixa quem quiser ouvir que ouça, não se trata de proibir, muita gravadora vai socar dinheiro em cima e lucrar, problema delas, mas dinheiro público é pra guiar a parada pro 'caminho do bem'. Se o próprio governo resolver dar selo de qualidade pro brega, que dia que o povo vai sair da lama?

DiogoFC · Criciúma, SC 26/3/2007 12:55
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Flávio Herculano
 

Bom que a cultura armorial vai estar por cima. Em outros estados, as culturas tradicionais sãos, invariavelmente, esmagadas por grandes shows de qualidade pra lá de duvidosa, como a banda Calypso.

Mas concordo que, como gestor público, Suassuna tem a obrigação de ter uma visão mais ampla. Como escritor e pensador, ele pode levantar esta bandeira; como secretário, não!

Flávio Herculano · Palmas, TO 26/3/2007 12:57
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Livia Vianna
 

todos temos o direito de ter a change de poder pelo menos ouvir o que queremos ... putz ... e naum interresa se é brega ou rock ou mangue .. ou samba .. pelo menos temos ouvidos uhh....

Livia Vianna · Cuiabá, MT 26/3/2007 14:18
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Fábio Cavalcante
 

Ariano;
o Ariano, sim, virou um velho idiota - e com o poder nas mãos.

Fábio Cavalcante · Santarém, PA 26/3/2007 15:13
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Fábio Cavalcante
 

"Falta de cultura pra cuspir nessa escultura"

Fábio Cavalcante · Santarém, PA 26/3/2007 15:14
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DaniCast
 

Adorei, adorei. Meu bisavô e minha avó eram pernambucanos. Meu avô nasceu em Pau D´Alho e depois se mudou pra Recife. Minha avó casou e foi pro Rio e daí nasceu meu pai. Eu cresci misturada com todas as influências. Todos eram músicos.
Viva o Maracatu! Viva o Manguebeat, viva a Nação Zumbi!

DaniCast · São Paulo, SP 26/3/2007 15:29
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Valério Fiel da Costa
 

A intransigência por trás do Movimento Armorial já fez vítimas até mesmo em Belém. O seu IAP (Instituto de Artes do Pará), na sua carta de intensões inaugural apresenta um discurso em que a cultura paraense é vista como algo oriundo da cultura indígena e cabocla. Esse prisma serviria para definir para onde iriam as verbas públicas da cultura. Começou a corrida por adequação (em prejuizo da produção artística de fato). Arte tutelada por indivíduos que se acham experts em cultura e que acham, pior ainda, que uma vez no poder, devem implementar uma utopia cultural de cunho regionalista tachando de "errado", "anti-paraense", qualquer tentativa de se realizar uma arte livre.

Acompanhei a postura do Ariano Suassuna durante o movimento do Mangue. Sempre foi reacionária, ele é um cara cuja história sempre esteve ligada à essa visão. Deveríamos nos preocupar é com os mecanismos de respaldo a essa atitude, tanto institucionais quanto populares. Parece que tal visão fala alto na mente do nortista-nordestino, que se considera contemplado e apóia esse tipo de coisa.

Valério Fiel da Costa · São Paulo, SP 26/3/2007 17:57
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Sérgio Santos
 

Discordo dos seguintes pontos:1- "humildade do manguebeat": não consigo localizar esta característica no movimento, que era pretensioso e megalomaníaco; 2-a meu ver este "movimento" sofre de ausência de inovação, criatividade e valor artístico, só pra citar alguns trunfos invocados pelos seus seguidores nos elogios possíveis.3 - Não existe nada no "manguebeat" que alcance a importância da obra do Sr. Ariano Suassuna, a distância é abismal. 4 - Idiota é um termo que passa longe desta figura extraordinária que é o Sr. Ariano Suassuna, com todos possíves tropeços em sua trajetória pública e humana, antes de mais nada. Enfim, considero digna de atenção qualquer manifestação cultural, mas no meu humilde "filtrar" entendo o "manguebeat" como um grande equívoco supervalorizado pela mídia e pelos 20% que têm acesso à internet. Saudações a todos e viva para sempre o Ariano Suassuna!

Sérgio Santos · Belo Horizonte, MG 26/3/2007 18:07
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edujr
 

A cultura é absolutamente heterogênea. Pra longe de mim julgar o mangue-beat, que tem sua importância, como um nada cultural; ou mesmo julgar toda a obra de Suassuna pelo repúdio ao mangue-beat e agora ao Calypso. Afinal, em arte há o que agrada e o que não, e gosto é "quinem" olho, cada um tem o seu. Neste particular: Viva Mangue-beat, Viva Suassuna e vida breve ao Calypso...
A propósito... nem Suassuna, nem Chico Science tem a receita para o desenvolvimento cultural perfeito e a política, todos sabemos, se importa mais com interesses do que com estética.
Abraços.

edujr · Mineiros do Tietê, SP 26/3/2007 18:40
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Jefferson Contar
 

"Manguebeat","Calypso"... A bilionária indústria não se contenta com 99,9% dos corações e mentes. Seus soldados, com toda a cara-de-pau, declaram-se vítimas de preconceito e decretam que são "reacionários" (sic) os que não colaboram com o jogo (A fórmula é simples: quem discorda do grande esquema "pop" é nomeado "arcaico", "preconceituoso", "radical"...).

Dinheiro público não é para o privado, nem para a privada. O tempo passa, o tempo voa, e cada vez mais contatamos que o "velho" Ariano estava e está certo.

Jefferson Contar · Campo Grande, MS 26/3/2007 21:16
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Jefferson Contar
 

Perdão pelo erro de digitação: "constatamos" é o correto.

Jefferson Contar · Campo Grande, MS 26/3/2007 21:22
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[ds]
 

Sabia que o roge era bom de gogó, de texto fiquei sabendo agora! Bravo, caba!!

[ds] · Recife, PE 26/3/2007 21:48
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Daniel Duende
 

Acho que cabem uns dois cents aqui:

Conheço pouco, mas respeito muito, o trabalho do mestre Ariano Suassuna. Toda a caminhada do Armorial é digna de respeito e festejo "por todos os anos que virão até a volta de Sebastião". Por outro lado, até onde vai o meu verde entender, a posição de um secretário de governo é a de se colocar a disposição das necessidades, desejos e anseios da população à qual serve, mas sem nunca perder seu direito a posicionamento, crítica e (cá entre nós!) sem nunca perder a autocrítica.

Mestre Suassuna é um homem radical. Mas a cultura brasileira precisa de homens radicais, daqueles que vão às raízes, se agarram a elas e gritam sem se cansar para chamar a atenção daquilo que valorizam. Respeito, portanto, o direito de falar, se posicionar e afirmar suas posições do Mestre Ariano. O que ele não pode esquecer é que, enquanto secretário de governo, ele não pode simplesmente impor sua posição ao povo ao qual serve. Vá lá que a Banca Calypso não chega à altura da poeira acumulada na sola das botas de Suassuna. Vá lá que há quem exagere (e há quem subestime) a importância do Manguebeat. Vá lá que a indústria cultural sempre deu muito mais atenção ao que é pop -- e que por vezes é erroneamente confundido com a vontade do povo, que por vezes quer o que dizem para que ele queira. Mas negar-se a conversar sobre o valor deste ou daquele movimento cultural, agarrando-se à sua justa bandeira de raizeiros, não me parece ser o mais razoável.

Longa vida ao Armorial e seu defensor Ariano Suassuna, mas espero que o mestre perceba que no meio do mangue do Manguebeat existe também preciosidade, que se destaca da lama. Nunca é tarde para os homens de consciência...

Abraços do Verde.

Daniel Duende · Brasília, DF 26/3/2007 23:06
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Duborges
 

Para mim esse negócio de volta às raízes que o Sr. Ariano Suassuna tanto prega não passa de tolice. Não creio que devam existir tentativas de salvar o que tanta gente chama de autêntica cultura nacional. Se as culturas tradicionais têm que continuar a existir, tem que ser pela livre e espontânea vontade do povo. Para mim, tentar obrigar as pessoas de qualquer região a seguir a cultura tradicional é puro fascismo.

Duborges · Santo Amaro, BA 27/3/2007 11:18
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Valério Fiel da Costa
 

O povo "real" consome e produz melodrama latinoamericano. Isso é característico da cultura brasileira e vem como consequência do choque entre cultura camponesa e centros urbanos. O povo na cidade realiza um tipo de arte que a classe média nunca reconheceu como legítima, nem nunca vai reconhecer. A perplexidade diante da invasão de seu espaço aceptico por uma legião de bárbaros sempre foi um pesadelo das elites desde sempre.

O que dizer de um contexto em que uma indústria fonográfica consolidada, percebendo o potencial do mercado e o novo exército de consumidores recém chegados de todos os recantos do país em busca de emprego e um futuro digno e que consumiriam de bom grado qualquer coisa que remetesse às suas origens, qualquer coisa que lhe falasse diretamente? Logo o circuito fonográfico estava sendo literalmente sustentado pela produção desse povão, agora em processo de adaptação urbana, que prosperava a despeito de suas origens paupérrimas.

A elite imediatamente posicionou-se contra esse "desvio cultural" e elegeu uma dita "Música Popular Brasileira" como real cartão de visita de nosso povo. Em todo Brasil ocorreram movimentos de resistência cultural elitista que davam a entender, entre outras coisas, que seria melhor que a arte popular tivesse permanecido na zona rural (a falsa valorização do folclore como crítica aos ex-camponeses que invadiram seu espaço). Foi inventada uma tosca conexão entre um camponês longínquo e ideal e os salões da elite que pretendeu desvalorizar a música que brotava do perigoso e realista entorno imediato.

O Movimento Armorial é apenas mais um dos movimentos que inventaram para si essa conexão ideal com um povo mítico em detrimento da experiência com o povo de fato, cuja cultura se pretende extinguir como remédio para a suposta 'miséria cultural' do país.

Um secretário de cultura que não é capaz de enxergar essa sutil complexidade simplesmente não devia estar no cargo.

"fascismo" cabe bem no contexto. Concordo com Duborges.

Valério Fiel da Costa · São Paulo, SP 27/3/2007 12:37
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Jr. Black
 

Boa!
Pra apimentar a conversa: alguém tem o aúdio da entrevista de Geraldo Freire com o deputado Fernando Ferro, sobre a criminalização do jabá, na rádio Jornal semana retrasada. Alguém ouviu esse programa e conseguiu dormir direito?

Jr. Black · Garanhuns, PE 27/3/2007 14:17
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Sérgio Santos
 

Pinçando algumas deixas aqui "tentar obrigar as pessoas de qualquer região a seguir a cultura tradicional é puro fascismo" e " ' fascismo' cabe bem no contexto". Penso e peço que pensem comigo para tentarmos entender este complexo meio: 1-Será que o simples fato de uma secretaria com seus braços de divulgação utilizar-se de uma metologia qualquer vai conseguir "obrigar" alguém a gostar de alguma coisa? Acredito que não; 2 - Se este investimento fosse direcionado para a divulgação do manguebeat e das outras formas de cultura já tão divulgadas na indústria então não seria "fascismo"? 3 - Existe algo mais "fascista" que a própria indústria cultural e suas imposições à base de muito dinheiro injetado? 4 - Quem disse: "Sempre que escuto a palavra cultura saco meu revólver" ou quem disse: "Sempre que escuto a palavra cultura saco meu talão de cheques"?; 5 - Será que não serão ouvidas realmente as diversas manifestações? O negócio será realmente a ferro e fogo? Acredito também que não... Passo a bola

Sérgio Santos · Belo Horizonte, MG 27/3/2007 16:53
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Roberta AR
 

As gentes do sul (sou paulistana e vivo há alguns anos em Brasília) tem um visão romântica do regional, das tradições brasileiras. Assim, de longe, o discurso de Ariano Suassuna tem toda a razão de ser. Mas se olharmos de perto nossa cultura se fundou nas misturas das inúmeras origens que o povo brasileiro tem. É de mistura em mistura que nos fazemos conhecidos e nos fazemos conhecer. Lembro de uma palestra de um fundamentalista cultural, se assim posso chamar, que é "contra" a Bossa Nova, que não seria um ritmo brasileiro por ter um quê de jazz. Assim não dá, caminhamos para frente, nossa cultura ainda está se fazendo.
Abraços, Rogê.

Roberta AR · Brasília, DF 27/3/2007 17:38
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Shê
 

Desculpe galera, Calypso é o Ó!!!!!! Mas, fiquei impressionada com o Ariano, como pôde ser tão conservador em relação ao nosso Grande CHICO!!!!???? Chico me lembra Recife, que me lembra Maracatu, que me lembra Pina, que me lembra Soparia, que me lembra àquela época....ai, que boa época!!!! Cada um na sua...ele (Ariano) envelheceu ao invés de amadurecer???? Amadurecer significa respeitar o outro, respeitar a opinião do outro, isto se chama também democracia.
Volto a dizer, Calypso é o Ó, mas tem quem goste, a gente tapa os ouvidos...melhor tapar pro Ariano tb naquelas horas infelizes dele. FIQUEI DE CARA!

Shê · Brasília, DF 27/3/2007 19:02
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Sergio Rosa
 

O Manguebeat vai ser o novo Armorialismo. É a troca da guarda.

Sergio Rosa · Belo Horizonte, MG 27/3/2007 22:05
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Daniel Duende
 

Partindo de minhas observações sobre a ciclicidade dos valores e dos movimentos, fico com a frase do Sérgio Rosa.

Trata-se de um conflito de épocas. :D

Daniel Duende · Brasília, DF 27/3/2007 22:13
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Fábio Cavalcante
 

Oxalá eu viva pra ver o tempo do fim de toda guarda!

Fábio Cavalcante · Santarém, PA 27/3/2007 22:33
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Rica P
 

Ótimo texto e ótima também a resposta do Valério Fiel da Costa!
Estou com muitos por aqui, adoro a obra do Suassuna, mas ouvir esse papo dele é dureza.
Aqui tem um poema do Pernambucano Frederico Barbosa sobre o assunto (descer a página até 'Rua da Moeda - Tapa na Cara dos Reaças').
Esperando o fim de todas as guardas também.

Rica P · São Paulo, SP 28/3/2007 02:36
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Jr. Black
 

Alguém? O aúdio do programa de Geraldo Freire com Ferro? Ali também testemunhou-se uma aula de cinismo, fascismo, do que é dirigismo e maniqueísmo cultural e etc. A guarda jamais será trocada enquanto rádios descomprometidas e seus incríveis jabazeiros de plantão continuarem a sentar em suas cadeiras por mais de 30 anos (ou sabe lá Deus mais!?) se considerando sucesso absoluto e impedindo o fluxo da renovação profissional... para onde vão os alunos de Rádio e TV da UFPE? Alguns bem poderiam brigar para tirar o velho Geraldo de lá, não?
Escutem esse aúdio, e tremam.
Abraços a todos.
Fé no trabalho.

Jr. Black · Garanhuns, PE 28/3/2007 10:48
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Elizete
 

Adoro Ariano Suassuna, já ri muito com ele, inclusive ao vê-lo em uma apresentação aqui no Rio. Mas acho que depois de tantas discussões, ainda temos muito o que avançar no que consideramos CULTURA.

É paradoxal que tenhamos um ministro como o Gil e secretários de cultura tão conservadores nos estados. Aqui no Rio aconteceu algo muito semelhante. Quando foi chamado para assumir a Secretaria Estadual de Cultura, o Conde deu uma delcaração ao Globo dizendo que MPB é bossa nova, e que São Paulo prestou um "des-serviço" à cultura nacional com os "novos sertanejos" (já não tão novos assim, pois Zézé di Camargo já tem mais de 18 anos de carreira, mais que muito artita da MPB, e o sertanejo está aí desde a década de 70, com Milionário e Zé Rico). Óbvio que a declaração causou um "frisson", mas como o Conde não é nenhum ícone de cultura, mas os sertanejos são, tiveram direito de resposta na mesma proporção, e o fizeram muito bem.

Entre Zezé&Cia. e Calypso, confesso que prefiro o segundo, porque é melhor pra dançar. Mas não sou fã nem de um, nem de outro. Mas quando quis entender toda essa disputa no campo da cultura, escolhi música sertaneja x música caipira para trabalhar e percebi que estas oposições acontecem mais entre intelectuais e críticos do que entre os artistas. Claro! Existe muita coisa em jogo, não só financiamentos, mas prestígio, reconhecimento e legitimidade social, entre outras coisas.

Por isso quis fazer este "post", para incentivar que avancemos mais na discussão do que é cultura, de preferência, em um sentido beeeeeeem amplo.

Elizete · Rio de Janeiro, RJ 28/3/2007 11:11
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Roberta Ramos
 

Parabéns, Roger, pelo seu texto. Acho que que temos que cumprir mesmo esse papel de questionar essa secretaria "especialmente" armorial, ou armorialmente "especial". Que legal que vc aprofundou a relação com o manguebeat. Eu acabo de escrever, na minha coluna do Idança, sobre essa secretaria, fazendo questionamentos, mas apenas menciono o mangue. Aprofundo outras questões. Dá uma olhada, posta lá teu comentário e, se possível, divulga, para a gente ampliar essa discussão.
A minha coluna está no www.idanca.net , na parte "colunistas". O texto é "Os direitos do heterogêneo".
Beijos. Roberta Ramos

Roberta Ramos · Recife, PE 29/3/2007 15:00
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Alessandra Leão.
 

Considero a administração cultural, por sua natureza inexata, uma das mais complexas e difíceis formas de administração, uma das que mais precisam se utilizar do verdadeiro fundamento da democracia para que possamos ter uma gestão justa e clara. Infelizmente, esse não é um tipo de administração para qualquer pessoa que tenha uma postura minimamente unilateral e radical.
A grande diferença do radicalismo de Ariano, é ser explícito; mas, não podemos fechar os olhos diante de muitos outros gestores públicos que também exercem uma postura radical e unilateral, só que de maneira mais velada. Infelizmente, nós temos a tendência a achar que se estamos trabalhando, se o "manda chuva" gosta do nosso trabalho, ele é um bom gestor, mas temos que observar como ele trata, principalmente o trabalho de quem ELE não gosta.
Os critérios de seleções e editais devem ser bem claro, devem passar por uma comissão e não pelo gosto pessoal de um único e onipotente funcionário público.
Pode parecer muito idealismo e romantismo da minha parte, mas se ninguém começar a pensar e discutir esse tipo de tema, acredito que as coisas tendem a piorar!
Que bom que esse espaço foi aberto aqui no Overmundo por Roger! Para aprofundar e continuarmos o debate, recomendo o texto de Roberta Ramos.

Alessandra Leão. · Recife, PE 29/3/2007 22:00
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Jr. Black
 

Alê, concordo com tudo o que você disse, só acho que administração cultural não é inexata, pelo menos em sua organicidade política: há verba, há pleito e há inúmeras ações a serem feitas, mas esse modelo de administração pública centrado numa pessoa considerada "chefe" ou "diretor" ou "presidente", digo em certas instituições, não serve. Ôxe! E a coisa não é pública!? Então temos que estar todos lá metendo a mão no tacho. A História já mostrou o quanto o poder pode corromper os seres humanos, que são simplesmente amorais em sua essência, e que se tornam uns mais éticos que outros ao longo de suas passagens na Terra.
Postura "radical e unilateral" casa bem em ambientes "dirigistas", onde só uma pessoa tem o joystick do video-game na mão. O funcionalismo público, em algumas searas, tem que rever seus conceitos já-já, pois esqueceram da matéria faz tempo.
Axé, paz e fé no trabalho!

Jr. Black · Garanhuns, PE 30/3/2007 12:25
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Alessandra Leão.
 

Oi Jr., não acho que a administração cultural seja inexata na sua organização (como você citou, verba, pleito...), mas é inexata na sua essência, pois não é como administrar outras áreas onde existe uma facilidade muito grande de avaliar o que é bom do que não é, um trabalho bem feito de um mal feito, entende?
Em cultura, se o gestor (e a sociedade!!!) não tiver muito aberto a ouvir e realizar uma gestão democrática (de verdade), sempre acaberemos nas mãos do "gosto pessoal" desse gestor, seja ele diretor, secretário, presidente... Essa, pra mim, é a maior falha nesses modelos atuais de gestão cultural, a centralização do poder de decisão nas mão de pessoas despreparadas para essa responsabilidade.
Também não acredito que muita gente jogando no mesmo "joystick" seja a melhor forma para se ganhar o jogo... Então, acho que ainda precisamos pensar e conversar muito sobre isso... Esses são "apenas" os primeiros passos...

Alessandra Leão. · Recife, PE 1/4/2007 17:03
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absurdosturos
 

Galera, sou do Rio e confesso que este espaço virtual tem se mostrado muito mais profícuo do que qualquer sala de aula ou mesa de bar onde já estive por aqui - pelo menos no tocante aos meus principais objetos de interesse, tais como as culturas brasileiras e suas imbricações com culturas estrangeiras.

Acabei de escrever um artigo sobre isso, que está na fila de votação - "Tupi or not Tupi, that is the question". Agradeceria a quem se dispor a dar sua contribuição para a disucssão por lá levantada.

abraços a todos.

absurdosturos · Rio de Janeiro, RJ 10/4/2007 14:30
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absurdosturos
 

Digo, fila de edição. Ainda não peguei a manha do Overmundo, mas chego lá.

absurdosturos · Rio de Janeiro, RJ 10/4/2007 14:53
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Rodrigo Almeida
 

Ariano escreveu livros geniais. Isso é fato e não tem nenhuma relação particular com o que estamos a discutir aqui. Mas falar em gestão armorial só pode ser muito retrógrado; só pode ser uma tentativa inútil de retroceder todo um processo natural, ao qual o estado passou nas últimas décadas. Para mim, o próprio manguebeat já está ultrapassado também.

Demorou um pouco, mas acho que Recife já está apontando em novas direções, desvinculadas tanto do lado armorial, como do lado manguebeat. Mas necessariamente, mesmo que não sejam derivados diretos, essas novas direções tomam ar de consequência destes dois processos culturais. E realmente não preciso pontuar a importância de cada um deles. Acho que cada recifense sabe bem.

Recife ta se re-re-re-inventando. E tem de ser. E não tem Ariano que atrapalhe.

Rodrigo Almeida · Recife, PE 23/4/2007 09:49
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Lioviola
 

fala-se em recife como se recife representase todo oestado de pernambuco, vejo que cada um puxa a sardinha pro seu lado,
aí eu pergunto e a cultura do interior que é fortissíma, como fica? salvem-nos!!!

Lioviola · Carnaíba, PE 25/4/2007 07:01
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Rodrigo Almeida
 

Juro que quando terminei de escrever a resposta acima, notei essa lacuna no meu texto e imaginei que logo mais, alguém também notaria.

Dito e feito.

Não discordo (e afinal quem discorda?) que a cultura do interior seja fortíssima. Acredito que se a situação aqui em recife é complicada e ruma vagarosamente para soluções, aí deve ser complicada dez vezes mais. Mas, ao mesmo tempo, acredito que se tem alguém que tem de salvar vocês, em essência, são vocês mesmos. Inclusive para reivindicar visibilidade do próprio governo, apoio financeiro, tudo. Pelo menos a iniciativa tem de sair daí para ser mais autêntica. Depois, damos um jeito para que isso chegue nas cabeças das pessoas.

Rodrigo Almeida · Recife, PE 25/4/2007 08:17
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Mestre Jeronimo - JC
 

Eh, Tupa~, curtindo Jah, compondo com Oxala... essa "roda" eh das boas... &, seja feita a vontade de TODOS... os gregos e troianos... do cenario nacional Br., e seus metaleiros MPBzeiros.

Viva Clementina... & o Milles... acompanhado/s do ...

Roger... (parabens!) & poe o Walters... nesse 'lado das luas' que foram iluminadas, na escuridao do presente que temos, e somos... Viva a cultura do povo, o sonho da massa... da mandioca.... MAE~!!

Viva quem pra faz cultura, pra cultura evoluir, a educacao, pro povo, do povo!

Axe'

mes.jc
www.myspace.com/mestrejeronimo

Mestre Jeronimo - JC · Austrália , WW 5/7/2007 11:08
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Rosa Campello
 

Eita, concordo inteiramente com o Sérgio Rosa, quando diz que é hora da troca de guarda: o MANGUEBEAT será o ARMORIAL. Genial. Fez papel semelhante, o MANGUEBEAT no que diz respeito ao resgate das raízes musicais do estado.
Adoro o mestre Ariano, mas, acho que , como secretário de cultura, não deveria ofender um grupo de música ou de dança. Vamos combinar que ele nunca valorizou muito a cultura negra brasileira, sempre retratou as nossas origens ibéricas, árabes, mescladas com uma pitada de Tupi e Caiapó. Podemos perceber isso claramente na sua aula-espetáculo atual que tem uma bailarina afro-brasileira de cabelos louros. Super esquisito.
arrasou RogÊ!

Rosa Campello · Recife, PE 4/10/2007 09:01
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romulo andrade
 

rsrsrsrs... muito legal o trocadilho do título ! Também acho fundamental e necessário o diálogo entre as linguagens. Apoiado no manifesto em defesa do brega. A banda calypso é muito ruim mesmo, mas como dizia o sábio Caymmi comentando a Axé: se o povo gostou tá gostado.

romulo andrade · Brasília, DF 18/1/2010 19:55
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