A educação é uma das ações que definem nossa humanidade: o ser humano transcende seu status animal pois vai além dos instintos: compreende, reelabora, reflete, cria e recria, critica, aprende, ensina. A busca do homem através da história é sempre uma busca de compreender e transformar a realidade.
Já foi dito que uma característica distintiva do ser humano é a necessidade do supérfluo. O que ultrapassa os limites das necessidades básicas essenciais à sobrevivência e coloca-se no campo da atribuição de sentido é o que nos torna humanos. A admiração diante de um por do sol, a necessidade de deixar uma marca que dure além do efêmero tempo de nossa existência, o incômodo diante da desorganização e a valorização de uma certa ordem individual, o espanto diante do inusitado, a apreciação da beleza, a reflexão sobre o que é diferente e nos provoca... todos os seres humanos vivenciam essas situações ao longo de suas vidas, pois são constituídos de dimensões físicas, cognitivas, emocionais, sociais, éticas e estéticas.
Essa característica pluridimensional do ser humano por si só já seria válida para justificar a importância da arte na educação, já que sua ausência não favoreceria um desenvolvimento integral da pessoa, um dos principais objetivos da educação. Mas além desse fator há outros que valem a pena serem lembrados.
A arte é cultura. É fruto de sujeitos que expressam sua visão de mundo, visão esta que está atrelada a concepções, princípios, espaços, tempos, vivências. O contato com a arte de diversos períodos históricos e de outros lugares e regiões amplia a visão de mundo, enriquece o repertório estético, favorece a criação de vínculos com realidades diversas e assim propicia uma cultura de tolerância, de valorização da diversidade, de respeito mútuo, podendo contribuir para uma cultura de paz. O conhecimento da arte produzida em sua própria cultura permite ao sujeito conhecer-se a si mesmo, percebendo-se como ser histórico que mantém conexões com o passado, que é capaz de intervir modificando o futuro, que toma consciência de suas concepções e idéias, podendo escolher criticamente seus princípios, superar preconceitos e agir socialmente para transformar a sociedade da qual faz parte.
Além das já referidas justificativas ontológicas e culturais para a importância da arte na educação, cabe falar da dimensão simbólica da arte, de seu poder expressivo de representar idéias através de linguagens particulares, como a literatura, a dança, a música, o teatro, a arquitetura, a fotografia, o desenho, a pintura, entre outras formas expressivas que a arte assume em nosso dia-a-dia.
Essas formas são linguagens criadas pela humanidade para expressar a realidade percebida, sentida ou imaginada, e como linguagens que são, têm suas próprias estruturas simbólicas que envolvem elementos tais como espaço, forma, luz e sombra em artes visuais, timbre, ritmo, altura e intensidade em música, entre outros elementos inerentes a outras linguagens da arte. Ora, o conhecimento dessas estruturas simbólicas não é evidente aos alunos, nem se constrói espontaneamente através da livre expressão, mas precisam ser ensinados. O ensino das linguagens da arte cabe também à escola, embora não apenas a ela.
Um outro argumento em defesa da arte na educação passa pela sua importância ao desenvolvimento cognitivo dos aprendizes, pois o conhecimento em arte amplia as possibilidades de compreensão do mundo e colabora para um melhor entendimento dos conteúdos relacionados a outras áreas do conhecimento, tais como matemática, línguas, história e geografia. Um exemplo mais evidente é a melhor compreensão da história, de seus determinantes e desdobramentos através do conhecimento da história da arte e das idéias sobre as quais os movimentos artísticos se desenvolveram. Não existe dicotomia entre arte e ciência, entre pensar e sentir, entre criar e sistematizar, e a fragmentação do conhecimento é uma falácia que tem estado presente na educação, devendo ser superada, pois o ser humano é íntegro e total.
Diante de tal importância que a arte assume na educação, pode-se fazer uma revisão crítica do que a escola tem alcançado em termos de ensino da arte.
Temos conseguido valorizar nos alunos sua expressividade e potencial criativo? Temos sabido perceber, compreender e avaliar suas idéias sobre as linguagens artísticas? Temos desenvolvido nosso próprio percurso em artes de tal modo que conheçamos os conteúdos, os objetivos e os métodos para ensinar cada uma das linguagens artísticas? Temos tido suficiente bagagem teórico-conceitual para identificar o momento que cada educando vivencia em sua construção de conhecimento sobre a arte e fazer intervenções que lhe permitam avançar? Temos sabido incentivar a formação cultural de nossos educandos e ajudá-los a perceberem-se como sujeitos de cultura?
Creio que estamos vivenciando um momento histórico de grande importância na educação como um todo e na arte-educação especificamente: o desafio de superar concepções tecnicistas e utilitaristas, mas também de ir além do “deixar fazer” e da livre expressão apenas, para reconhecer que a arte tem características próprias que devem ser melhor conhecidas pelos educadores, que tem objetivos próprios e seus próprios métodos. Será que nós tivemos, em nossa educação, acesso à arte? E que acesso foi esse? Estamos reconstruindo o ensino da arte, não com base no que aprendemos na escola, mas no conhecimento que estamos a construir agora.
Nós, como educadores, precisamos aprender mais para ensinar melhor. Cada um de nós deverá ser um construtor de conhecimentos e um semeador de idéias e práticas que, esperamos, darão frutos no futuro.
Indicações de Leitura:
Derdyk, Edith. Formas de Pensar o Desenho: O desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo, Scipione, 1989.
Iavelberg, Rosa. Para gostar de Aprender Arte: Sala de Aula e Formação de Professores. Porto Alegre, Artmed, 2003.
Iavelberg, Rosa. O desenho Cultivado na Criança: Prática e Formação de Professores. São paulo, Zouk, 2006
Nicolau, Marieta Lúcia Machado e Marina Célia Moraes Dias (orgs). Oficinas de Sonho e Realidade na Formação do Educador da Infância. Campinas, Papirus, 2003.
Querida Selma:
Muito bem escrito, inegavelmente, aliás, como sempre, seu texto é, no entanto, do começo ao fim, e, é claro, na minha opinião, um grande equívoco!
E este equívoco se dá porque você parte de uma premissa que é extremamente falsa, a saber: a "característica pluridimensional do ser humano por si só já seria válida para justificar a importância da arte na educação, já que sua ausência não favoreceria um desenvolvimento integral da pessoa, um dos principais objetivos da educação" isto é, porque você justifivca a importância da arte na educação a partir de uma ordem de razões absolutamente equivocada,
Senão vejamos:
A necessidade de expressão é ou não alguma coisa inerente a todo o ser humano independente do tempo decorrido desde o seu nascimento?
Do jeito que você coloca, procurando mil "justificativas" para a "utilização" da arte na educação, subodinando inteiramente a primeira à segunda, a arte, expressão mais pura e acabada da alma humana, acaba virando um penduricalho , um artifício para a tal educação cidadã que você tanto preconiza.
Selma, meu bem, muuuito antes de existirem escolas, e muitissimo antes de existirem teorias pedagógicas, a arte já fazia parte da porção mais nobre do que se pode chamar civilização humana. Me atrevo a dizer, se o ser humano dependesse de qualquer aprendizado para expressar-se artisticamente – você precisa conhecer as pinturas rupestres que foram encontradas na Serra da Capivara, aqui no interior do Piauí – me arrisco a dizer que não existiria nenhuma humanidade.
Eu te digo, então, Selma, sem ser nem pretender ser educador, que qualquer ensino de "arte" que não parta da necessidade de expressão de cada um dos educandos não passa de um embuste, ou de uma teoria vazia, como esta que você deseja passar como uma "complemento" para o "ensino" a utilização da arte na educação.
Seu texto nomeu entender, querida, anda na contramão do que era necessário ser dito, a saber, que a educação é uma necessidade advinda da possibilidade das pessoas desenvolverem sua expressão artística.
beijos e abraços
do Joca Oeiras, o anjo andarilho
Selma, querida.
Seu texto está maravilhosamente bem escrito e fundamentado.
Parabéns. Quanto ao comentário do nosso querido Joca, artista gráfico iniciante de oeoiras, pinturas rupestres em eras primitivas, que eram coletivos sociais ou tribais, como queira, tinham seus mestres que passavam suas técnicas de gerações a gerações; de certo, a arte é inerente ao espirito da expressão humana, assim como a literatura.
Portanto, meu caro Joca, sejamos menos arrogantes e tratemos, uma mulher, com respeito e educação.
Um grande abraço Joca e Selma, continue nos brindando com seus textos maravilhosos, e sempre, claro, como postas, muito bem fundamentada.
Seja muito bem vinda.
Em tempo: Não se incomode com alguns dinossauros aqui do Over que costuman acionar botão de alerta.
Retorno para os votos com louvor.
Abraços
Beto
Querido Roberto:
Antes de pedir desculpas à Selma por desrespeito e falta de educação você vai ter que me provar muito bem provado que houve, de minha parte, desrespeito e falta de educação.
O que eu externei, goste você ou não, foi a minha opinião que difere da opinião da Selma. Você pode concordar com a opinião dela, discordar da minha o quanto queira, só peço para não desqualificá-la. E você tem razão: Sejamos menos arrogantes! Faça a sua parte que da minha eu cuido.
beijos e abraços
do Joca Oeiras, o anjo andarilho
Votos com louvor.
Abs
beto
A arte é, sim, fundamental para desenvolver qualidades, emoções, percepções. Infelizmente, neste país isso não é levado a sério. Veja, no Rio de Janeiro, nas escolas públicas, o ensino fundamental (primeiro segmento) não tem aulas de artes plásticas, música, nem educação física. Pasmem!
Muito bom texto. Voto meu com toda certeza.
À parte as colocações ja iniciadas. Não sendo artista, nem entendido de arte alguma. Me colocaria a perguntar.
- Um grande artista, por ser artista, é melhor pessoa que outra;
ele é mais humano; ele é mais compreensivo; êle é mais tolerante? (???)
Na biografia de artistas, de vulto dentre os inigualáveis, tive contato somente com Luis Gonzaga, (dos que atribuo assim). Ele era tudo isto que pergunto. Mas, na biografia dos que "mereceram" uma biografia. Não. A historia deles é de arrogância. Como pessoa em nada moldadas.
Então não consigo ver mais ou menos importância. Nem acredito em arte ensinada. A arte ensinada só vale para quem aprendeu. O artista, verdadeiramente, (fora do ambiente comercial), é nato.
Assim acho, talvez equivocadamente
um abraço, Selma,
andre.
Selma,
Embora não tenha competência técnica para aprofundar o assunto, compreendo sua preocupação com a necessidade do ensino da arte e sua reestruturação no universo escolar.
Concordo ser deveras importante sua aplicação na escola, mesmo que seja metodológica e desprovida de outros significados, como os relacionados ao desaflorar da alma, a intuitividade, à legítima expressão, à originalidade do momento e do meio que a inspirou ou pela qual foi impressa.
Mesmo que fosse categórico, o ensino da arte, que não passase da compilação de estilos e significados passados, que fosse apenas um conceito idealizador do ser humano, ainda assim (e nos tempos de hoje dificilmente asim seria) o ensino da arte faz, realmente, muita falta na precária escola contemporânea.
Entendo seu texto como uma tentativa de animar o pensamento a respeito da importância da arte na escola junto aos colegas das mais variadas classes, inclusive professores. É uma forma correta (técnica) de mostrar os valores e benefícios que ela pode e deve proporcionar ao desenvovimento humano.
Com relação ao que o meu querido (com o tempo você acostuma) amigo Joca, esse anjinho endiabrado, disse, ele tem lá a sua porção de razão quando nos remete ao pensamento de que o ensino da arte vem em razão dela, e não o contrário. Mas não creio que seu texto apresente o ensino da arte como tábua de salvação para a expressividade do ser humano. Acredito apenas que nos alerta para a importãncia de ser processual na oferta de conhecimento e nas possibilidades de desenvolvimento dentro do universo escolar.
Grande abraço Guaicuru!!!
Oi Selma, gostei muito do seu texto, o primeiro contato que tive com ele foi atraves da pesquisa que eu estava fazendo no site Arte na escola, estou procurando trabalhos que falem sobre a importancia do ensino de arte na escola, o que o contato com ela pode desenvolver no individuo, este é o tema de minha monografia, gostaria de entrar em contato com vc, pois fiquei interessada em ler na integra o seu trabalho, pois tenho certeza que me ajundaria muito na elaboracao do meu TFC. Um abraco e ate mais!
Juliana Saad · Manaus, AM 7/9/2009 17:53
Estreio no overmundo expressando minha opiniao sobre não apenas o texto referido, mas as divergências que surgiram: minha visão sobre Arte educaçao mesclaria as visoes da Selma e do Anjo andarilho, de maneira a perceber a necessidade e importância da arte, muito vindo da simples inerente da mesma e de nossa óbvia e latente subjetividade que pede uma relevância maior dentro do curriculo escolar mas também considerando, como o Joca, que tal ensino deve priorizar o expressão humana, vinda ela dos educandos, educadores ou dos grandes nomes da história da Arte. Não considero, em primeira estância, o ensino técnico necessário, esse apenas se faria interessante aos educandos que já houvessem dedicado interesse pessoal à tal ensino. Mas arte não deve ser vista como algo possível de se ensinar aos educandos, ao contrário até: possível e cabível de se explorar deles! De maneira a incitá-los à análise/crítica das imagens, não apenas de Arte, mas daquelas presentes em nossos dia-a-dia, a dita cultura visual. Por isso, percebo técnicas e seu ensino, além da leitura de imagens consagradas e seus autores como auxílio à leitura das imagens de nossas vidas, e essa última leitura, por sua vez, como auxílio à concepção da subjetividade como grandioso composto da natureza humana.
Isso dito, uma questão deve estar aparente para todos: como seria possível um educando competente a análises/críticas de imagens sem um ensino prévio? Ora! Apenas sendo gente no mundo! Percebendo-se como tal e percebendo o mundo ao redor como formador e transpositor de pensamentos. O ser humano nasce crítico, mesmo que ainda não se expresse. A expressão, por sua vez, só se faz possível quando a entendemos e testamos como os outros a entendem. Por isso, a fim de compreender como se o faz o expressar-se, tentativa e erro tem a escola e outros ambientes educacionais como campo de possibilidades.
Espero ter me expressado satisfatoriamente e obrigada pelo espaço,
Ro V.
Ótimo texto, realmente.
Já foi mais que provado que a arte é extremamente importante no desenvolvimento do ser humano, cabe a nós interessados lutar para um maior espaço da arte na educação. Aproveito para deixar uma dica de curso de pós-graduação, o curso de arte integrativa desenvolvido pelo centro de estudos universais (http://goo.gl/v8xN2), tem como intuito capacitar professores/terapeutas/etc a integrar a arte para melhor estimular seus alunos/pacientes. Quem tiver a disponibilidade de cursar esta pós, aproveite, será um ótimo aprendizado.
So gostaria de salientar junto ao comentário da Tãnia Barros:
Educação Física NÃO tem nada a ver com Arte ou ARTE-EDUCAÇÃO. Profissional de Educação Física NÃO é professor de Arte.
Profissionais de Educação Física numa jogada mercadológica vem tentando se promover e se beneficiar USURPANDO a área de Arte. Só que não tem legitimidade e é uma grande FARSA, não compactuem com isso.
At.
Monica Mesquita
Atriz e Professora de Teatro e Cinema
Graduada em Teatro
Pós Graduanda em Dança
Pós Graduanda em Artes Visuais
Somente gostaria de uma referência bibliográfica mais consistente (autor, livro, edição, página) no momento que a autora do texto Selma Moura faz a seguinte citação:" O conhecimento da arte produzida em sua própria cultura permite ao sujeito conhecer-se a si mesmo, percebendo-se como ser histórico que mantém conexões com o passado, que é capaz de intervir modificando o futuro, que toma consciência de suas concepções e idéias, podendo escolher criticamente seus princípios, superar preconceitos e agir socialmente para transformar a sociedade da qual faz parte."
Trata-se de acrescentar o texto a um trabalho de monografica em Artes. Att,
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