Metrô de Madrid. Espanha. Estação La Latina, novembro de 2007.
Quando se está em outro paÃs, muitos detalhes chamam atenção, principalmente aqueles que contrastam com nosso paÃs de origem. Um congresso internacional sobre mulheres e arte (uma das áreas de meu interesse e pesquisa) me levou alguns dias à s terras espanholas. Nos trens de metrô chama a atenção o quanto as pessoas lêem e, mais ainda, o quê as pessoas lêem. Os tÃtulos são os mais diversos e invariavelmente muito bons –literatura, filosofia, arte. Dava para ficar imaginando que vidas levavam aquelas pessoas absortas em uma leitura tão profunda entre uma estação e outra. Nunca mais as veria, resta só imaginar.
Chamou-me atenção, e muito, o quanto as questões sobre violência de gênero estão em destaque na Espanha, especialmente em Madrid. A mÃdia ocupa-se do tema com reportagens na TV e nos jornais, principalmente em relação ao alto Ãndice de mulheres (de todas as classes sociais) assassinadas pelos seus ex-companheiros ou maridos. Dia 25 de novembro, é o dia internacional de eliminação da violência contra as mulheres, alguém ouviu falar? Em Madrid, outdoors de vários formatos nos faziam lembrar a todo instante. Eu via aqueles outdoors e lembrava da Lei Maria da Penha no Brasil e o quanto é difÃcil obter destaque na mÃdia sobre essas questões por aqui. Com certeza, os Ãndices de violência no Brasil não deixam nada a desejar aos Ãndices espanhóis. Basta ler mais atentamente as páginas policiais dos jornais brasileiros e conferir. Quem se importa?
Há muitas formas de exercer violência de gênero, e a arte pode ser uma delas. Quando se exclui a possibilidade das mulheres serem consideradas grandes artistas, quando os julgamentos estéticos mudam conforme o sexo do/da artista, quando as representações femininas (produzidas tanto por homens como mulheres) reforçam determinados estereótipos de passividade e fragilidade e... a conversa é longa.
A foto. Aquele dia era justamente 25 de novembro. Estação do metrô. E lá estava o anúncio em grande destaque. A espera do próximo trem me fazia prestar mais atenção nos detalhes. A mulher carregando flores passa na frente do anúncio, e pára. O que pensaria? Eu, com a máquina fotográfica.
Zoom. Click.
Nunca mais a veria.
Luciana
Interessante, Luciana... a últimas notÃcias que venho tendo da Espanha estão girando sempre em torno deste tema: violência à s mulheres.
Infelizmente, a brutalidade com os touros parece não estar satisfazendo os egos de muitos homens de lá...
Ótimo texto! E, em tempo, seja bem vinda ao novo Overmundo!
Grande abraço!
http://interludios.blogspot.com
Ops... ao nosso Overmundo!
Carlos ETC · Salvador, BA 14/1/2008 15:20
O paradoxo é esse: a violência contra as mulheres aqui é tão grande quanto na Espanha, ou mais... mas não merece tanto destaque. Essa violência aqui já teria se naturalizado nesse um paÃs já tão violento?
Obrigada pelas boas vindas!
Muito bom seu trabalho, da licença que eu vou votar, posso?
victorvapf · Belo Horizonte, MG 14/1/2008 23:01Cara Lú, nos subterrâneos de Madri milhares de mulheres brasileiras estão escravisadas, expoliadas e violentadas diuturnamente! O primeiro mundo, como sempre, fecha os olhos aos destinos de povos exóticos e cucarrachos! É no primeiro mundo que a mulher é deveras violentada!
raphaelreys · Montes Claros, MG 15/1/2008 08:01
Olá, Raphael
A violência contra a mulher não tem raça, classe social, e nem nacionalidade. Na Espanha, a violência não é apenas contra mulheres do terceiro mundo. No Brasil, os Ãndices são altÃssimos, mas a mÃdia e as pessoas em geral, simplesmente ignoram.
A mÃdia destaca a exploração de mulheres brasileiras no exterior, onde elas geralmente praticam sexo por grana, e isso vira idéia geral. Penso que não é bem assim. A violência contra as mulheres, tema central do texto da LU, é uma praga no mundo todo.
O Brasil tem sua realidade que bem conhecemos. Aqui, há muito o que ser feito por aquelas que ainda sofrem com os atos violentos de seus parceiros. As próprias mulheres devem ser agentes principais neste processo. O texto nos leva a reflexão nesse sentido.
Foi-se o tempo das cavernas, mas a força bruta ainda fala mais alto nos relacionamentos.
Oi, Lu
As mulheres brasileiras precisam ter coragem de denunciar seus algozes, muitas vezes seus próprios companheiros e maridos.
Hoje contamos com a Delegacia de Mulheres, onde as vÃtimas são acolhidas por delegadas, prestam queixa e ainda podem ter garantida sua integridade fÃsica. Os agressores são intimados e julgados, caso a mulher não retire a queixa.
Basta de violência! Cadeia para quem maltrata ou discrimina a mulher!
Ei Lú. Gostei muito do texto. Infelizmente a violência ligada ao gênero manifesta-se em diversos meios, e como você mesmo disse,
está além da classe social e não tem limite regional.
BardoGil, Cris e Veganito,
Obrigada pelos comentários. A violência de gênero é mais sutil do que imaginamos, e não é só uma questão que interessa só as mulheres, ou que tenha que ser resolvido somente por elas. É uma questão cultural, que envolve também as diferentes expressões artÃsticas e que deve envolver toda sociedade.
Bela matéria, Lu.
É preciso denunciar, sempre. Qualquer tipo de violência deve ser abominada.
Parabéns!
bonitas fotos,
e sua é muita a sensibilidade!
talvez la cantante española Bebe poderia fazer a trilha sonora do seu trabalho.
seu cd se chama pa' fuera telarañas, conhece?
eu indico que todos.
parabéns!
Lu, olá!
Não poderia deixar passar esse texto. Por todo o seu conteúdo intencional e explicativo e também por nos fazer lembrar de todas as mulheres que já passaram pela violência e que conseguiram viver para contar e outras que por ela foram aniquiladas.
É triste pensar que muitas ainda sofrem caladas.
Um abraço.
Muito bom ver essa colaboração aqui estampada!
Um questionamento mais que adequado.
Abraços, mais uma vez!
http://interludios.blogspot.com
Que foto!! Parabéns!
Tercia Maria · Rio de Janeiro, RJ 15/1/2008 20:26Lu, olha que coincidência, estive em Madrid exatamente neste mesmo perÃodo e vivi uma situação curiosa também no metrô. http://autofago.blogspot.com/2007/10/womex.html
Makely Ka · Belo Horizonte, MG 17/1/2008 10:50Parabéns por nos trazer esta colaboração para estimular a reflexão e o debate sobre o assunto. Bjs.
Joana Eleutério · BrasÃlia, DF 22/1/2008 11:59
La meta-foto
Foto, la meta
Conhece este núcleo de pesquisa da UFBA: http://www.neim.ufba.br/site ?
Bjos
Lu&Arte · Porto Alegre (RS)
Arte, mulheres e violência
Um Trabalho Lindo.
Eu tenho Compromisso de Honra de chegar humildemente e com todo orgulho e carinho e votar por merecimento.
Valeu Demais.
Parabéns.
Abração Amigo.
A violència contra as mulheres infelizmente tem um caráter quase que universal. Mulheres latinas apanham do maridos - no 1º e no 3º mundos. Mulheres japonesas são inferiorizadas. Na china 70% das gestações de meninas são abortadas ou mortas ao nascer. No Brasil, violência contra a mulher é banalidade. Se você for dar queixa de estupro em uma delegacia não-especializada, se arrisca...
Bela seqüência de fotos. ...mas realmente, a principal está muito boa! Merece muitos votos!
aproveito e convido a ver este poeminha que postei hoje
http://www.overmundo.com.br/banco/gente-sente-se-men-te
Obrigado!
Luciana, as feministas brasileiras já têm (temos) implementado a campanha no brasil, que inclusive têm a caracterÃstica interessantÃssima de ser uma data que justamente propõe o envolvimento dos homens, como parte do problema e da solução (homens pelo fim da viiolência contra a mulher). A campanha conta inclusive com a participação de atores brasileiros (globais). Veja: http://www.lacobranco.org.br/
Sua foto é belÃssima, mas comovente ainda com a história que vc conta. Parabéns!
Flávia
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