Amigos de convivência próxima dizem que Murilo Rubião era uma pessoa extremamente generosa. Além disso, ele era muito democrático no trato com as diferentes expressões artísticas. Figura ímpar na literatura mineira, escutava a todos e tinha trânsito fácil nos diversos círculos culturais e políticos de Minas Gerais.
Rubião, escritor descoberto com atraso pela crítica literária, é um dos precursores do realismo fantástico na literatura nacional. O seu conto, O ex-mágico da Taberna Minhota, é um dos principais marcos da sua obra. Sujeito organizado e hábil nas tarefas administrativas, Rubião era o homem certo para criar e coordenar o Suplemento Literário de Minas Gerais.
Há 41 atrás, o escritor mineiro criou o Suplemento Literário de Minas Gerais. E a razão dessa mini-biografia anteceder o verdadeiro assunto desse texto é que pode-se explicar a história do Suplemento Literário entendendo um pouco quem era Murilo Rubião.
Foi exatamente no período de três anos no qual o escritor esteve por trás das páginas do SLMG que foi vivida a sua chamada época de ouro.Ele era uma publicação recheada com o melhor da literatura e das artes plásticas. De Minas Gerais e do Brasil. A publicação, que é reconhecida como a mais antiga ainda em circulação no país, nasceu, acreditem, de um incentivo político.
Corria 1966 e Raul Bernardes, então secretário de governo Israel Pinheiro, colocou nas mãos de Rubião a tarefa de recuperar a seção literária do Diário Oficial Minas Gerais. Bernardes propôs uma página. Murilo rebateu sugerindo um suplemento. Surgiam, assim, as oito páginas que iriam circular semanalmente pelo interior do estado, por Belo Horizonte e algumas outras capitais.
Em 3 de setembro de 1966, dizia a primeira edição do Suplemento:
Na sua simplicidade, o titulo escolhido para esta nova secção do Minas Gerais contém o essencial de um programa consciente. Deliberamos reivindicar a importância da literatura freqüentemente negada ou discutida. Para começar, tomamos o termo na acepção mais ampla.
Nessa ordem de idéias, o Suplemento Literário vai inserir não só poesia, ensaio e ficção em prosa, mas também a critica literária, a de artes plásticas, a de música. Sem negligenciarmos os aspectos universais da cultura, queremos imprimir a estas colunas feição predominantemente mineira, assim no estilo de julgar e escrever, como na escolha da matéria publicável. A fidelidade à Província nos termos que a situamos, até conjura o perigo do provincianismo.
Uma revista Andradiana
O SLMG foi mais do que um suplemento. Ele foi também mais do que literário. E, principalmente, ele foi bem além de Minas Gerais. Ás mãos de Rubião chegavam colaborações dos conhecidos Drummond (já morador do Rio de Janeiro), Lispector, Guimarães Rosa e Murilo Mendes. Revelavam-se também os novos nomes de Humberto Werneck, Ivan Ângelo, Luís Vilela, Roberto Drummond, Oswaldo França Júnior e muitos outros.
A “geração suplemento” não se encontrava apenas nas páginas. Mais do que apenas um ajuntamento de nomes que já eram grandes (e outros que viriam a ser), os encontros pela cidade foram marcantes. Os vários escritores e artistas que freqüentavam a redação do Minas Gerais partiam de lá para bares, festas, sebos e praças.
No início, ao lado de Murilo estava o jovem artista plástico Márcio Sampaio, que o auxiliava na parte visual, contribuía com críticas de artes plásticas e ajudava a escolher os nomes das próximas edições.
“A própria redação transformou-se, nesse período, em um verdadeiro reduto intelectual, detonador de idéias, que o Suplemento Literário logo imprimia para ser degustado por toda sorte de consumidores: da professorinha , do coletor, dos modestos burocratas do interior mineiro, dos estudantes e aspirantes a escritores e artistas, ao grand mond da intelectualidade brasileira e muito dos grandes escritores e artistas do exterior”, afirma Sampaio.
O artista plástico chama a atenção para a circulação do SLMG no interior de Minas Gerais. Isso contribuiu para a formação de um público mais informado e, conseqüentemente, capaz de gerar novas gerações de escritores pós-suplemento.
Ainda na opinião de Sampaio, a desvinculação do SL com o Minas Gerais foi uma das maiores perdas e descaracterizações da publicação. Hoje em dia, além de ser enviado pelo correio, o SL pode ser adquirido na sua sede e em diversos pontos culturais da cidade. Uma parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais digitalizou as centenas de edições lançadas e as disponibilizou na internet.
Hoje, o Suplemento é vinculado à Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais. Que periodicamente alterna os editores da publicação. Embora ela ainda mantenha de certa maneira o formato e os objetivos originais, quem esteve envolvido nos seus primeiros anos afirma que ele já não é mais o mesmo.
A resistência da Ditadura...
O suplemento foi criado no governo de Israel Pinheiro, o último a ser eleito pelo povo, durante o regime militar. Pelo número de jovens cabeças pensantes envolvidas no projeto, era natural que se despertasse a inimizade dos militares.
Enquanto o não-biônico esteve à frente do governo estadual, Rubião encontrava apoio para resistir as investidas dos militares. Em 1969, Médici assumia a presidência e os anos de chumbo tinham início. Nesse mesmo ano, Rubião, que resistiu tanto tempo junto com seus companheiros, teve que abandonar aquilo que havia criado. Fora acusado de subversivo.
Em seguida Rui Mourão assumiu a direção do Suplemento. Por pressão dos militares, não passou de dois meses.
Após decadência por décadas, Murilo Rubião voltou ao comando do SLMG. Em 1983, quando Tancredo Neves assumiu o cargo mais alto da política mineira e a volta da democracia se anunciava pelo país, o seu criador retomava a publicação.
... e dos acadêmicos
Minas Gerais talvez tenha sido o local onde o SL fez menos sucesso. Era exatamente no seu lugar de origem que ele encontrava a maior resistência. Resistentes que, motivados principalmente pela inveja intelectual, acharam impossível ser capaz de preencher oito páginas semanais com boa literatura.
Com o sucesso do projeto, os contras, originários principalmente da Academia Mineira de Letras, se interessaram em assumir a direção do Suplemento. E foi o que conseguiram durante o período militar. Foi a época na qual a qualidade da publicação mineira caiu bastante, assim como boa parte da cultura “oficial” do país.
sim sim, muito bom espero na votação
SILVASSA · Salvador, BA 29/4/2007 21:18
Oi Sérgio. O Suplemento é uma publicação muito especial mesmo. Bons ilustradores, literatura de boa qualidade e bons artigos.
Talvez fosse interessante incluir no texto que é possível fazer o download do suplemento no site da Secretaria de Estado de Cultura no seguinte link: http://www.cultura.mg.gov.br/?task=interna&sec=6&con=478
Mais uma grande contribuição sua.
Abraços
Bem lembrado, Gobira! :)
Sergio Rosa · Belo Horizonte, MG 30/4/2007 15:26Poxa Sérgio, excelente resgate. As fotos são muito boas, enriquecem sua história. Um abraço.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 2/5/2007 08:31Hummm...é sempre muito bom poder lançar os olhos sobre o passado.
apple · Juiz de Fora, MG 2/5/2007 10:47Valeu a lembrança.
Marcus Assunção · São João del Rei, MG 2/5/2007 11:12
Esqueci de agradecer o Marcus Assunção pela colaboração. Foi ele quem fez as entrevistas que estão no site do Murilo Rubião. Ele liberou o conteúdo para que eu usasse no meu texto.
E também o pessoal do Arquivo de Escritores Mineiros, pelas fotos.
Olha o vacilo. Coloquei uma crase indevida ali no primeiro parágrafo. Falta de atenção minha.
Sergio Rosa · Belo Horizonte, MG 8/5/2007 13:38Muito bom. Meu primeiro contado com o textos do SlMG foi recente. Tive a oportunidade do conhece o periódico em um belo dia de estudo na biblioteca pública de Belo Horizonte. Não sabia o quanto ele representa. Agora sei! “Salve, salve os verdadeiro escritores da literatura brasileira salve Murilo Rubião.”
GladsonOliveira · Belo Horizonte, MG 26/5/2007 22:57Muito bom e importate o texto. Para mim ainda mais, mineiro que sou. É-me importante saber da trajetória da literatura em meu estado. Parabéns pelo texto.
Ewerton Martins Ribeiro · Belo Horizonte, MG 8/12/2008 01:51Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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