“Sozinhos”, o título do filme que a Ana Paula Santana está rodando, pode muito bem sintetizar o momento/sentimento matogrossense na difícil arte de se realizar produções audiovisuais.
Corte!
Difícil cada vez menos. As condições para realizar produtos em imagem e movimento estão muito mais viáveis sob vários aspectos: tecnologia disponível em vários formatos e modelos, tanto para produções de maior esmero quanto para produções caseiras, ou de garagem, de fundo de quintal, você escolhe o cenário; celulares, handcams, mini-DV, mini-câmeras, até as máquinas fotográficas gravam em movimento, você escolhe a ferramenta; recursos dos fundos de cultura, leis de incentivo, investimento privado, brodagem, coletivos, associações, cooperativas, você escolhe como fazer; festivais independentes, festivais oficiais, portanto dependentes, internet, YouTube, Overmundo, museus de imagem e som, salas de cinema (será???), salas de filmes digitais, de película, fundo de quintal, sala de sua casa, você escolhe o lugar; ainda assim nos sentimos sozinhos, talvez, cada vez mais sozinhos, no meio dessa multidão.
Corte!
Ana Paula é uma das pessoas que estão produzindo/realizando algum tipo de produto audiovisual em Cuiabá nesse momento. Dando uma pan no olhar vejo mais duas mulheres: em ação! Um “Presente” para o audiovisual de Mato Grosso. Mas como? Se nem é aniversário, se nem é casamento, se nem é batismo. Ah! Batismo sim, a Lenissa Lenza, está estreando com o curta “Presente”. Batizada será portanto, na primeira estréia, na primeira mostra do curta-metragem. Captado em digital vídeo e transfer(ido) para película. Processo muito em voga na atual conjuntura onde descobriram que pode se fazer filmes baratos. Lenissa está em fase de montagem e composição da trilha sonora para finalizar o curta-metragem e daí fazer o transfer. “Presente” é uma produção do Espaço Cubo que promete investir fundo numa política de formação de mão-de-obra e assaltar o setor mostrando que existe sim possibilidades mais concretas para se formar aqui o grande pólo de cinema que foi imposto goela abaixo por uma medida de governo. Criou-se o pólo antes de se tornar um PÓLO, dá para entender? Explico: foi criada uma lei, por volta de 1996, instituindo um pólo de cinema matogrossense. Coisas que caem do céu, só não caíram estrelas de uma pretensa cinematografia matogrossense.
Corte de novo? Não! Fusão...............................................................................................
Confusão: o que importa o suporte? Importa é fazer bons filmes (não distingo mais entre vídeo, cinema digital ou película, meu bem, meu mal, o que importa é a linguagem), não vejo mais diferenças entre uma coisa e outra. Filmes, até com celular estão fazendo. Aí já está ficando demais. Não acha? Ah! Você é retrô! Você é um traidor da suprema arte do corte. Cole aqui, recorte ali, cole novamente, ache o ritmo (timing) e o tempo está rendido, em suas mãos. Você é o montador. Você é o criador. Você é a criatura. Personagem? Não! El Vingador.
Glória Albuês é outro nome que surge grafado na tela do audiovisual contemporâneo. Albuês volta a dirigir uma história em imagem e som depois de um bom tempo após ter realizado o ótimo “Zoofonia”, em parceria com Humberto Espíndola. É bom ver Glorinha voltar ao espaço dedicado ao autor com o curta “Nó-de-Rosas”. O roteiro, ela mesma concebeu e homenageia sua irmã dando o título de um conto escrito pela saudosa Tereza Albuês, escritora que ensaiava uma ascensão em sua carreira, ganhou o prêmio literário “Guimarães Rosa”, em Paris, sim, um concurso em Paris cujo nome homenageia nosso grande Rosa. Tereza morou em Nova Iorque até sua morte, prematura demais, de câncer, em 2005.
Mulheres, ah! As mulheres estão com a fita toda por aqui... Não dá para esquecer do festival que rolou pela segunda vez ,em Chapada dos Guimarães, no ano de 2006, que por sinal homenageou a Glória Albuês. Glorinha aborda uma temática que é um verdadeiro tabu para as mulheres: o filme viaja pelas ondas do orgasmo com delicadeza poética, um olhar feminino sobre uma questão que incomoda e muito as mulheres. No filme a personagem principal é Rosa que é filha da boliviana Rosália que é filha de Rosário. O pai de Rosa matou a mãe e se suicidou. Rosa viaja até a Bolívia, em Tiwanaku, uma cidade que tem um sítio arqueológico belíssimo onde ela vai escavar sua própria história, uma tentativa de retorno às suas raízes, uma viagem para dentro de si mesmo. É um filme que busca a identidade feminina nesse mundo dominado pelos princípios da masculinidade. A diretora nos conta que trabalhou com duas equipes, dois olhares, uma brasileira, com a direção de fotografia de Kátia Coelho e outra boliviana, direção de fotografia de Guillermo Medrano. Ela revela ainda que ficou admirada com a qualidade dos profissionais bolivianos, como eles são atenciosos e dedicados ao trabalho. Integração cultural na prática, sem decretos, sem leis, nem cartas de intenções.
Tinha que ter um homem no meio do caminho. Em cena: Léo Sant' Ana. “Parabéns, Vítor!” é o nome do seu curta de estréia. Rodado em película. Me disseram que está muito bem feito. Que o filme rola legal na telona. Já marquei várias vezes com o Léo para assistir ao filme e os contratempos (contra)agem sempre em cima da hora causando algum tipo de desencontro ou impedimento. "Parabéns Vítor" teve uma pré-estréia num dia que não pude comparecer pois tinha um show para fazer.
Contra-plano. Cena 2: gravando! Ação! Luzes! Celulares! Câmera! Digital! Luzes cruzes! Ação! Tem mais filme por aí, sendo rodado. Tem personagem querendo entrar nessa fita aqui: take 1: interior: Casarão cinema e vídeo: ator Caio Mattoso, direção de Joel Sagardia e eduardo ferreira: eunóia. Um filme que está sendo produzido com zero de orçamento. Como? Parceria entre a Fábrika, Casarão cinema e vídeo e toda a equipe que topou trabalhar coletivamente apostando no resultado. Qualquer ganho será dividido entre todos os participantes do processo.
Tem que botar ordem nesse roteiro aqui. Eis um roteiro sem saída!
Corta!
“Serenata” ao luar. Um curta de Vítor Meirelles. Parabéns Vítor! Não!!! não é para o personagem do filme do Léo. “Serenata” é o primeiro curta do Vítor. O Meirelles, fruto de um projeto da Ana Paula Santana, o três por um, que agora virou dois por um: explico: o projeto contemplava três filmes (realizados de forma bem barata) pelo custo de apenas um. Na realização dos dois filmes abriram oportunidades para formar pessoas que estavam em busca de participar de uma produção audiovisual: Cristiano (cinegrafista) estreou como diretor de fotografia; Nanda e Talita assumiram pela primeira vez a produção de figurinos – no caso de Serenata, foi um trabalho de arrancar elogios dos diretores (Ana e Vítor) pela pesquisa e realização, pois a história se passa nos anos 50.
Enfim chegamos ao fim dessa panorâmica: sozinhos ou não, ao som da serenata, parabéns pelo presente: um belo buquê de nó-de-rosas. The End.
Não! Não! The end fica muito cinemão americano...Corta!
Belo texto, Eduardo.
Uma correçãozinha boba: no último parágrafo antes da linha final: seria "serenata"? (e talvez valha a pena um circunflexo no buquê?)
Você tem notícias do Guará - Festival do Cinema Ambiental?
Um abraço!
obrigado egeu. maravilha de tempo para edição, rs.
já corrigi.
hoje está sendo (nesse momento) lançado o guará. uma coletiva. estou correndo pra lá.
valeu amigão. abração!
egeu, acabo de chegar da coletiva de lançamento do guará - comentei sobre você e o pessoal ficou impressionado com a velocidade com que a informação está circulando. valeu! abração!
eduardo ferreira · Cuiabá, MT 7/2/2007 12:07
Eduardo, mantenha-nos informado sobre o Festival Guara' .
As inscrições parece que estarão abertas dia 15 se não me engano. Fale com Ana Cláudia Simas e peça pra ela se inscrever no Overmundo e postar notas também.
Grande abraço!
Mas que boas notícias, Eduardo! E gostei da apresentação também!
Dê um toque nessa galera de se inscrever no Festival Internacional de Curtas de BH, para eu ter uma chance de assistí-los! :)
Eduardo, gostei muito do texto também, assim como das informações. Não tinha lido nada teu até agora, tens um estilo bem original.
Parabéns e abraço.
egeu estarei informando tudo sobre o guará. aos poucos as pessoas estão entendendo esse nosso lugar overmundo e se dispondo a entrar nessa rede maravilhosa.
valeu cortielha, inês e felipe, vamos nessa. a união que se caracteriza aqui está gerando uma efervescência muito rica e interessante para a cultura produzida no brasil. do lado de fora.
Ferreira, sozinho não rola mesmo e você, que do coletivo cataliza, sabe bem disso. Independe o mecanismo, as idéias estão acontecendo, editando, exibindo e não há frointeira burrocrática que segure isso! eunóia do prelo pro audiovisual que o diga (e caracas, adoraria já estar aí pra me juntar nem que fosse pra secar o suor da equipe e fazer agradinhos). Avante e sempre, que que a cena se faz. Happy end?!
Bia Marques · Campo Grande, MS 10/2/2007 16:42A todos adoro cinema tanto é que tenho uma ilha liquid edition 5.5 mas tem muita coisa que não mexer, então gostaria de saber se tem uma pessoa que pode me ajudar com esta ilha de edição, pois onde moro não acho quem saiba mexer ou mesmo editar com a liquid edition e só com premier..ficarei feliz se tiver uma pessoa que possa me ajudar no mais muito obrigado..
rlb.video · Campinas, SP 7/3/2007 08:30
AHuhaUAhha! Muito bom!
Li metade só, porque meu tempo agora tá curto, mas depois leio o resto.
Beleza, rapaz! www.ovisnigra.org - mangabeira@ovisnigra.org
Mangabeira · Natal, RN 10/1/2008 18:51No próximo volume do index avdiooccvlvm, sobre os anos 1980,vamos falar sobre o boom das locadoras e o pioneirismo de Eduardo Ferreira para nós que seguimos a trilha deixada por ele.
wiene · Cuiabá, MT 6/12/2010 11:16Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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