Dizem que o cinema é a sétima arte, juntamente com a pintura, a arquitetura, a música, a dança, o teatro, e a literatura. Porém, é injusto que não coloquem a fotografia na lista. Mesmo surgindo antes, ela acaba sendo classificada como oitava, já que Ricciotto Canuto falou primeiro.
Mas seriam estas as únicas formas de arte? Bem, oficializado ou não, os amantes de quadrinhos gostam de classificar a arte seqüencial pictórica de Nona Arte.
As histórias em quadrinhos ainda não têm uma origem acertada, pois ela insiste em ser discutida por muitos especialistas do gênero. Sua origem é atribuÃda desde os tempos pré-históricos, até a nomes do século XIX. No Brasil, gostamos de dar a origem das HQs à Angelo Agostini, autor de muitas charges no século XIX.
Como toda a forma de arte, ela deveria ter fases de movimentos artÃsticos. Muitos gostam de falar da famosa Era de Ouro dos quadrinhos, iniciada com a criação do personagem
“Superman†em 1939. A Era de Prata que teria começado com o advento da Marvel Comics e seus personagens mais humanos, na década de 60. E a Era Contemporânea, que teria se iniciado com histórias mais profundas sobre os super-heróis, ditadas por mestres como Frank Miller e Alan Moore. Mas aqui só falamos dos yankes. Há muitas outras fases artÃsticas em outros paÃses, mas como explicação, creio que já é possÃvel entender.
Um gênero de quadrinhos que costuma chamar atenção só pelo nome são os quadrinhos ditos Alternativos, ou “Undergroundâ€. Seriam aqueles quadrinhos que fogem aos padrões exigidos das grandes editoras.
Deles podemos citar alguns que fizeram sucesso. “Maus†de Art Spiegelman possui um ritmo de argumento bem diferente do usual, além de uma arte considerada por muitos como “toscaâ€. No entanto, ele está entre os primeiros da lista de quadrinhos que tiveram uma grande importância no meio.
“Sandman†pode ser um exemplo de quadrinho alternativo que foi publicado por uma grande editora. Saindo pela DC Comics através selo VERTIGO, a história também possuÃa um roteiro bem diferente do usual, com uma base forte em fábulas e mitos como nenhum outro autor antes de Neil Gaiman fez antes.
“Bone†é outro quadrinho alternativo que fez sucesso. Na mãos de Jeff Smith, que se utilizou de um estilo de desenho mais cartoon, e um roteiro cheio de deliciosas reviravoltas, este também entra na lista de grandes idéias que contribuÃram para enriquecer a Nona Arte.
Sempre me encantei com este gênero e resolvi discutir sobre ele com alguns desenhistas brasileiros que trabalham ou sonham em trabalhar com quadrinhos. Primeiramente com a pergunta: O que é quadrinho “Alternativo� Pois parece que a definição não é muito clara. De fato, uma história em quadrinhos alternativa pode receber muitas definições. Mas para minha surpresa, a maioria das pessoas com quem eu conversei a esse respeito foram quase categóricas numa afirmação: quadrinho alternativo é quadrinho ruim. E complementaram: principalmente no Brasil.
Muitos dizem que existem desenhistas picaretas que desenham mal e têm coragem de classificar sua obra de alternativa. Nada posso falar sobre este ponto, porque gosto não se discute.Retomada a discussão, houve comentários sobre novas formas de se fazer quadrinhos, talvez até baseados em gêneros de arte, como o DadaÃsmo, o Cubismo e outras. No entanto quase todos disseram que uma HQ nestes parâmetros ficaria ruim demais.
Aos poucos fui traçando um pequeno perfil do que eles consideravam como uma “boa história em quadrinhosâ€: desenhos no nÃvel de Jim Lee. Quanto ao roteiro, foram um pouco mais comedidos, dizendo que a história só precisava fazer sentido.
De certo modo, a definição não me surpreendeu tanto, afinal conversei com desenhistas que trabalham arduamente para fazerem ilustrações boas – “boas†no sentido de serem aceitas pelo mercado. Mas fiquei um pouco decepcionada ao ver que nenhum deles considerava a possibilidade de fazer uma HQ com uma arte mais diferenciada, talvez mais puÃda ou um roteiro mais sem sentido propositalmente só por diversão. Ou no mÃnimo ler algo assim só por curiosidade. Chamaram de “perda de tempoâ€.
Depois arremataram que um quadrinho “ruim†não venderia. Mas até onde eu sei, existem milhares de fanzineiros (correção, milhões) no mundo que fazem histórias em quadrinhos apenas pelo prazer de fazê-las. Que muitas vezes sofrem prejuÃzos em prol da sua arte, distribuindo revistas de graça por aÃ. Mas parece que nenhum deles têm tempo a perder com isso. Querem fazer ilustrações para ganhar dinheiro. Querem desenhar como Eduardo Risso para conseguirem desenhar uma página que seja nas grandes editoras. Nada contra este sonho – quem não gostaria de ganhar bem com seu trabalho?
Mas é triste ver que eles não apreciam tentar ver um pouco mais algumas experiências feitas não só nos quadrinhos, como em outras formas de arte, para enriquecer seu trabalho. Preferem fazer traços industriais. E quando questionados sobre isso, falam que precisam pagar as contas todo o mês – mas neste caso, creio eu que se dariam muito melhor prestando um serviço público.
É por isso que chamam tanto as artes no Brasil de “xeroxâ€. Desenhistas que querem se exercitar no traço de mangá ou comics para ganharem dinheiro e fama. Não há mais espaço para divagações lÃricas. Nem mesmo num momento de lazer. Talvez seja esta falta de criatividade que torne inviável a criação de um mercado de quadrinhos no Brasil – o que vende é cópia do que se tem lá fora, e mesmo assim não por muito tempo, pois a sÃndrome do “vira-lata†cria um preconceito contra o material nacional.
E para finalizar - vale citar uma ótima revista alternativa que fez sucesso na década de oitenta. A Chiclete com Banana, que trazia arte genuÃnamente brasileira, e alguns poucos convidados undergrounds da cena americana - traços semelhantes aos dos comics americanos? Hã-hã!
Links de referência: Nossa nova divindade virtual, a Wikipédia.
Muito bom texto, principalmente quando se refere aos marginalizados. Mas o fato de "desenhar bem", no caso de cartunistas brasileiros como meu Ãdolo Angeli, é indiferente. Muitos consideram traço ruim.
Uma vez vi uma entrevista onde ele dizia que não desenha bem "pra caralho" mas nem por isso saiu perdendo. Adoro o traço do Angeli, fiz um work shop com ele aqui em Curitiba, eu colecionava Chiclete com Banana na adolescência e hoje, com 36 anos na cara, comprei uma havaiana especial cartunistas com desenhos do Angeli.
Suas perguntas foram pertinentes, mas acho que pedir aos artistas que falem sobre a arte só pode te dar uma visão muito limitada sobre a questão. Sugiro que você continue fazendo essas mesmas perguntas a professores, estudiosos, leitores, vendedores, editores, colecionadores - enfim, a outras pessoas que entendam de quadrinhos mas que tenham uma visão distanciada, até mesmo de não-criador. Pedir a um artista que julgue o próprio trabalho é uma faca de dois legumes - é útil, mas está longe de ser suficiente :)
Daniel Werneck · Belo Horizonte, MG 25/2/2007 21:04
Fala, esquadrão! - (Daniel, certo?)
Hehehe! Chamei mais a atenção para a arte porque realmente este é o campo que anda mais defasado no ramo dos quadrinhos atualmente. Mas sabe que, embora de dois legumes, às vezes é bom o artista julgar um pouco o seu trabalho.
Muito bom seu texto. Eu como arte-educadora que utilizo os quadrinhos como forma de expressão no ensino fundamental ainda percebo este preconceito dos quadrinhos como forma de arte e preconceito ainda nos dias de hoje por parte da equipe pedgógica dos colégios. Também sou quadrinista iniciante e procuro temas, linguagem e personagens próprios, sem imitar modelos, embora animais humanizados já serem utilizados há bastante tempo.
Suas questões são muito pertinentes e bem direcionadas. Parabéns
Bacana seu texto, pois, no meu caso uso os meus desenhos para expor meus pensamentos e minhas possÃveis crÃtica. Qqr coisa olhe as minhas charges que postei, ou, no site que participo (http://midiaxmidia.blogspot.com/search/label/9.1%20-%20Contatos). Flw.
Henrique D. · Chorozinho, CE 1/6/2010 02:56Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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