Avalanche

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Maurício Alcântara · São Paulo, SP
14/4/2007 · 89 · 5
 

Virar a madrugada de um dia qualquer, no meio da semana, apenas bebendo e conversando na maioria das vezes é uma das coisas mais gostosas de se fazer, curtindo a companhia dos amigos, sem se preocupar com o sono ou a ressaca que sentirá no dia seguinte. Isso quando existe o dia seguinte, e a madrugada insone tem seu fim.

Não é exatamente o caso dos três personagens de Impostura, peça de Marici Salomão e dirigida por Fernanda D'Umbra. Em uma madrugada de quarta-feira, uma mulher chega a seu apartamento acompanhada de uma garota que acabou de conhecer. Ambas estão bêbadas e excitadas, e não parecem estar nem um pouco preocupadas com o marido/ namorado/ roomate de uma delas, um desagradável escritor fracassado e alcoolizado sentado no sofá com uma garrafa de uísque quase no fim.

Então o casal alcoolizado (o escritor e sua roomate) começa um bombardeio de ofensas e farpas, provocações que vão crescendo e se tornando cada vez mais agressivas. Um jogando na cara do outro seus problemas, defeitos, frustrações e humilhações. Nem mesmo a visitante, que nada tem a ver com a relação dos dois, totalmente deslocada e sem a menor chance de reagir ou fugir, é poupada do furacão daquela relação que há muito deixara de ser saudável.

E os três ficam ali a madrugada inteira, imersos em um turbilhão de rancor, álcool, desejo e cigarro (nada de amor, nada de bons sentimentos). Uma sujeira corruptora se alastra para todos os lados e corrói tudo o que encontra pela frente, em uma avalanche imunda que não é freada nem mesmo por uma grande fatalidade, naquela noite que parece que jamais terá fim.

Um espetáculo curto, de dramaturgia minimalista porém intensa, com uma direção bem conduzida, focada no texto e nas atuações, sem frescuras e firulas. A trilha sonora é bem escolhida apesar de passar um pouco da medida, e a maior ressalva está na iluminação, um tanto exagerada para uma montagem essencialmente contida, mas que acaba interferindo muito pouco no resultado final. Destaque para a atuação de Fernanda D'Umbra, que mais uma vez tem a platéia inteira em suas mãos com seu vozeirão e sua presença em cena, em uma das melhores atuações da mostra.

Em resumo, uma peça tensa, suja e desagradável, que a platéia torce para que acabe logo, seja para acabar com tamanha angústia, seja também para aplaudir a um dos melhores espetáculos do projeto "E se fez a Praça Roosevelt em 7 dias".

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Juliene Codognotto
 

Gostei muito do texto. Só não entendi o porque do título Avalanche.
É engraçado que dá vontade de ver a peça e não dá, ao mesmo tempo.
Abraço,
Juli.

Juliene Codognotto · São Paulo, SP 11/4/2007 14:06
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Helena Aragão
 

Bem legal a crítica (não no sentido de falar mal, mas de se analisar o espetáculo em vários aspectos). Uma sugestão: explicar para nós que não somos de São Paulo o que é o projeto "E se fez a Praça Roosevelt em 7 dias". No fim do texto ou mesmo aqui no comentário. Ou colocar um link, se houver. Abraço.

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 11/4/2007 14:25
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Maurício Alcântara
 

Oi Helena!

A praça Roosevelt é uma praça no centro de São Paulo que até sete anos atrás, era um local tomado pelos traficantes. De lá pra cá, sofreu um processo de revitalização e um dos elementos centrais para esta virada foi a presença do teatro, sobretudo do grupo Os Satyros. Hoje a Roosevelt é um grande ponto de encontro entre atores, diretores, dramaturgos, jornalistas, escritores, músicos e público.

O projeto, idealizado pela companhia Os Satyros, encerra o que eles chamam de "Trilogia da Praça Roosevelt". São sete peças, uma para cada dia da semana, com uma hora de duração cada, e todas têm como tema central a praça. Os outros dois projetos que integram a trilogia são a peça Transex, sobre os transexuais da região, e a peça A Vida na Praça Roosevelt, escrita pela dramaturga alemã Dea Loher. Estes dois espetáculos foram montados pelos Satyros (e "A Vida..." é a obra-prima do grupo, na minha opinião).

As sete peças foram escritas exclusivamente para o projeto, por 7 dramaturgos convidados, e dirigida por 7 diretores convidados. Espero ter esclarecido ;)


JULI, dei o nome Avalanche porque é esssa a sensação que eu tive ao assistir, é uma avalanche de sentimentos, ofensas, de lavagem de roupas sujas que em vez de se lavarem, ficam cada vez mais sujas...

Abraços,
mau

Maurício Alcântara · São Paulo, SP 11/4/2007 15:12
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Helena Aragão
 

Opa, Mau, valeu! Agora está esclarecidíssimo!

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 12/4/2007 18:57
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Maurício Alcântara
 

Disponha!
Heheheh

Maurício Alcântara · São Paulo, SP 12/4/2007 19:00
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