Nunca mais o despotismo
Quando a gente imagina um senador, vêm à mente aquelas imagens de filmes ou novelas, sempre um homem poderoso e informado, à frente do seu tempo, verdadeiro visionário. Na eleição do representante baiano, este ano, porém, o cardápio será este: João Durval, ex-carlista, Antônio Embassahy, ex-carlista, e Rodolpho Tolinho, futuro ex-carlista. Fora esses, só existe um tal de Dr. X e aqueles estudantes de Filosofia de São Lázaro que fugiram do hospÃcio com a banda Los hermanos. Tá bom pra você?
Tragédia helênica
Mulher, nordestina, candidata a presidente, honesta, cristã, sofredora. De quem estou falando? De Roseana Sarney, óbvio. Ou existe outra com este perfil?
Que beleza é sentir a natureza
Todos os Santos no 2 de julho, bairro do centro de Salvador: Somente aqui, em todo o mundo, coreanos vendem acarajé e caldo de sururu, e o que é pior, ou melhor, sai tudo uma delÃcia. Não à toa, também, fica aqui a sede da seita Universo em Desencanto (em desencontro?), aquela de Tim Maia. Em frente à tal sede, no Largo do 2 de Julho, a grande filarmônica (grande mesmo) da UD se reúne e vai ensaiar no Passeio Público, no Campo Grande. E só poderia ser no 2DJulho que o PSOL (Le Petit PT) alugaria um kitnet em prédio residencial (Edf. Calábria) para funcionar como seu comitê regional. Um aparelho, como nos memoráveis tempos do MR8, para o novo partido do racha unificado.
Olha a faca!
Entidades alemãs passaram o começo do ano tentando doar equipamentos e estrutura para montar cinco bibliotecas modernas em bairros carentes de Salvador. A secretária de Educação da Prefeitura à época, OlÃvia Santana, chegou a visitar as terras germânicas, mas a sua assessoria, nutrida na boa politicagem e na ótima burocracia, boicotou o projeto porque este seria gerido por órgãos independentes ligados à cultura (institutos e universidades). Crianças e jovens ficaram no prejuÃzo. Noutra situação semelhante, a UFBA deveria capacitar professores para o Projovem, programa que oferece R$ 100,00 mensais para jovens retomarem seus estudos, mas a Prefeitura da Capital baiana optou por contratar uma faculdade evangélica, em lugar da Federal. Hoje os estudantes dos bairros pobres obrigam os professores, no fio da faca, a registrar suas presenças e lhes dar notas boas, garantindo o dinheirinho de todo mês. Numa turma de 30 alunos, cinco ou seis participam das atividades de educação formal, profissionalização e inserção social. Também, já faz algum tempo que a gráfica Bigraf tenta doar equipamentos para o curso de design da UNEB, mas esbarra na burocracia daquela universidade.
Pro nobis
Retornando da Itália, encontrei meu guia espiritual, meu Dalai Lama, minha Nossa Senhora, Dona Edézia. Quem? Dona Edézia, minha mãe-de-santo. Explico melhor, ela é minha mãe e eu sou o santo. Trouxe umas imagens do Vaticano e, à medida em que as desembrulhava, Dona Edézia, toda dengo, beijava os retratinhos. Havia ternura naqueles gestos e foi por isso que, lá em Roma, na igeja de Santa Maria Magiore, eu me ajoelhei e rezei por ela, pelas suas vizinhas e por todas as mães. Tão pouco católico, pedi à Virgem que protegesse ao menos essas santas do Coração de Maria. Quando dei por mim, estava chorando como uma velha mexicana, o maior vexame. Bento XVI veio de penetra no pacote que eu trouxe da viagem, e é claro que eu não gosto dele, mas Deus sabe o que faz.
Um é cinco, três é dez
“- É grande, mas é sofisticado†– A mulher, de roupas humildes, dá esse conselho para a amiga que escolhe óculos numa banca de camelô, na Avenida Sete. A cena me remete imediatamente à imagem dantesca de brasileiros atacando as prateleiras nos duty frees, aquelas lojas de aeroportos internacionais que vendem relógios, perfumes e outras quinquilharias de grifes isentas de impostos para turistas em trânsito. Seus clientes são o tipo de gente que em Madrid, Paris, etc, enche a bagagem de Diors, Armanis, Hugos Bosses e outras hipogrifes vendidas a preços módicos. Depois, desfilam charme no retorno aos seus paÃses pobres. É um jogo de vida ou morte, ou eles compram nos dutys, ou terão que desembolsar o triplo nos shoppings de suas terras natais, coitados. Ah, como é difÃcil parecer europeu, ainda mais fora da Europa... Um grande dilema. Mas é sofisticado...
Abominável
A tecnologia estraga tudo, e aqui estou eu preocupado com essa tal TV digital. Até agora, bastava um bom prato de macarrão e um copo de Coca-Cola para entrarmos em um universo paralelo, sentados num confortável sofá, assistindo programas idiotas na telinha. Acabou a paz. Num breve futuro, vendo televisão, seremos convidados a fazer compras, participar de pesquisas e até, mesmo, dar opinião, o que aumentará sensivelmente nosso nÃvel de culpa. Um verdadeiro nojo!
Rerum Novarum
A carne mais barata do mercado é a carne do trabalhador, mais barata ainda se for negra ou pertencer aos jovens. O preço de uma adolescente na Calçada varia entre R$ 10 e R$ 25 (+ as despesas do motel). A cotação de um rapazinho de shopping está em R$ 20 (+ as despesas do motel), chegando a R$ 15 no Pelourinho (+ as despesas do motel). Para contratar um matador de aluguel na Cidade Nova ou no IAPI se paga R$ 100 (+ o preço de uma bala de revólver). Isso tudo a rua informa, e eu pensava se deveria escrevê-lo, quando parei para observar um rapaz sendo tratado aos gritos por seu patrão velho e grosseiro. O jovem, que tirava a ferrugem de uma chaparia, estava tão nervoso que quase decepou o dedo cortando-o numa chapa de metal . O contratante do serviço se ofereceu para levar o moço numa farmácia, mas o patrão não deixou. “- Ele precisa se acostumar. Tem que deixar de ser frouxoâ€. O jovem sorriu seus dentes de tétano e pediu um dente de alho para “queimar†a ferida. Por fim terminaram o serviço e foram embora, deixando a sujeira no chão. Gotas de sangue misturadas à fuligem negra.
Mal do século
Também estou preocupado com o crescimento desordenado da população, a criminalidade, o esgotamento dos recursos naturais, a crise na educação e o consumismo, mãe de todos os vÃcios. Mas quando vejo intelectuais pessimistas com o futuro do paÃs porque leram outros intelectuais pessimistas com o futuro do paÃs, fico pessimista com os intelectuais. Quando percebo que eles não depositam a menor esperança no povo – esse ignorante que teima em sobreviver à indolência e à incompetência dos intelectuais, dos profissionais liberais, dos médicos, dos advogados, dos artistas, dos escritores e dos jornalistas da classe média – descubro onde devo me posicionar para esperar o tão anunciado fim das coisas. Quando vejo as revistas especializadas em arte publicarem mês a mês os retratos das mesmas cantoras brancas do sul, entendo que estas revistas não podem se debruçar sobre a cultura brasileira. Da mesma forma, avistando universitários infantilizados lançando mão do coco, da capoeira e do maracatu para fazerem fusões infelizes e insuportáveis, entendo quanta falta faz o trabalho braçal para jovens que cresceram em apartamentos. Quanto ao povo, não, nunca perco a esperança, embora o povo sempre traia todas as rotas que lhes são traçadas e faça as coisas do seu jeito. Ele é como o fluxo de um rio, que pode ser detido por um tempo, pode ser tangido, mas que tem os seus caprichos e sempre pode explodir na direção que quiser.
Coelhão
A nova Playboy traz uma atriz global nua e tem propaganda na TV: “Nessa edição, uma entrevista bombástica de FHCâ€. Como a Editora Abril não costuma anunciar a Playboy na televisão, estranhei. Supus que decidiu fazê-lo agora, em perÃodo eleitoral, porque a nudez de Fernando Henrique deve interessar muito aos leitores tucanos. Nada que a Revista Veja não fizesse melhor, mas falar mal de Lula na Veja não tem mais graça. A próxima baixaria deve vir encartada na revista do Mickey.
muito legal mesmo.
na proxima fale sobre o nosso Olimpo no planalto central.
vlw
Cara, vc devia ter uma coluna diária aqui no overmundo. Muito bom o seu sarcasmo!
Ilhandarilha · Vitória, ES 1/2/2007 11:24Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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