Como é bom ver as iniciativas pública e privada darem às mãos em prol da cultura; melhor ainda, e mais raro, em prol de um evento sobre Histórias em Quadrinhos. Estive na quinta edição do FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos), em Belo Horizonte, e pude comprovar que no Brasil há sim um local congregador de todos os amantes da nona arte, ou arte seqüencial, para citar o mestre Will Eisner.
O FIQ teve inÃcio em 1999, numa promoção da Prefeitura de BH e da editora carioca Casa 21, e hoje, em 2007, o evento cresceu muito e ganhou corpo (foram mais de dez empresas privadas, juntamente com a Prefeitura e a Secretaria Municipal de Cultura de BH, o Estado de Minas Gerais e o Governo Federal, entre patrocÃnio, apoio cultural, apoio institucional, apoio promocional e incentivo), tanto que foi contratado um arquiteto para fazer a ambientação da bela Serraria Souza Pinto, que voltou a sediar o FIQ, entre os dias 16 e 21 outubro.
Foram seis dias de intensas atividades, mesas-redondas, painéis, bate-papos descontraÃdos, oficinas de tirinhas e mangás, mostras de filmes, espaço para os clássicos e os mais recentes jogos de vÃdeo-game (em consoles variados), lançamentos e encontro com os maiores artistas do traço da América Latina e da Europa, com destaque para o roteirista italiano Giancarlo Berardi (Ken Parker e J. Kendall), para o desenhista argentino Eduardo Risso (100 balas, Menino Vampiro, Wolverine), e para os desenhistas brasileiros Renato Guedes (Supergirl) , Ed Benes (Liga da Justiça) e os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá (10 pãezinhos). Tudo isso de graça!
As mesas-redondas que mais lotaram o auditório Conceição Cahú foram as que reuniram os editores Cassius Medauar (Pixel Media), Cláudio Martini (Zarabatana Books) e Henrique Magalhães (Marca de Fantasia), e os desenhistas brasileiros e argentino que conquistaram espaço no mercado norte-americano: Ed Benes, Renato Guedes, Cristiano Bolson e Eduardo Risso.
A afirmação do Cassius Medauar de que hoje a venda de quadrinhos está preocupante, em comparação com a década de 1980, quando se vendia 200 mil exemplares de HQs por mês (segundo o Cassius, quando atualmente uma HQ consegue chegar à casa de 10 mil exemplares a editora já considera uma vitória), causou comoção na platéia; uns tentaram justificar, apontando como fatores responsáveis por essa queda no consumo de quadrinhos, a Internet, a televisão e o vÃdeo-game; e outros chegaram a discordar do Cassius, perguntando se ele estava falando em números absolutos. O Cassius foi taxativo: “hoje o mercado está saturado de tÃtulos (principalmente por causa da Panini, que lança em torno de 75 tÃtulos todo mês), e cada um vende pouco; ou seja, há apenas crescimento horizontal, e o fã do Homem-Aranha, por exemplo, por mais que as histórias estejam ruins, continua comprando a revista para manter a sua coleção, deixando de adquirir tÃtulos mais elaboradosâ€. Ele deu um exemplo: o excelente tÃtulo da Pixel Media, “O corno que sabia demaisâ€, do brasileiro Wander Antunes (premiado na França), vendeu apenas 200 exemplares desde seu lançamento. Eu sinceramente fiquei preocupada, pois o Cassius tem tantos tÃtulos para lançar, mas avisou que a Pixel agora vai segurar um pouco a onda, e trazer um limite de três a quatro tÃtulos por mês, pois mais do que isso é inviável.
Um dos painéis mais instrutivos foi o que abordou o tema: “quadrinhos fora do eixoâ€, com a professora e pesquisadora Sônia Luyten e o desenhista baiano mais prolÃfico da atualidade, criador da premiada série A Turma do Xaxado, o Antônio Cedraz. Cedraz falou sobre as dificuldades que os desenhistas e roteiristas nordestinos têm ao tentar publicar algum trabalho pelas grandes editoras paulistas e selecionou uma gama de tÃtulos independentes de excelente qualidade para mostrar à platéia, enquanto a professora Sônia deu uma aula sobre os quadrinhos africanos (chamados de Picha, no dialeto swaili, no sul da Ãfrica), destacando a participação de mulheres africanas quadrinistas e informando que lá o quadrinho institucional é o que tem maior produção.
Destaco também o estande dos independentes de BH, patrocinado pela Prefeitura, onde foram lançados vários livros e revistas, entre eles: O relógio insano (Eloar Guazzelli), Graffiti 76% quadrinhos n. 16 (vários autores) e Estórias Gerais (Wellington Srbek e Flávio Colin). Nesse estande se fazia presente a Quarto Mundo, uma associação de vários independentes de todo o Brasil, criada pelo roteirista Cadú Simões (Homem-Grilo) e o desenhista Will (Sideralman). Eu bati um bom papo com eles e trouxe alguns tÃtulos para vender em minha comic shop, a Garagem Hermética Quadrinhos (GHQ), aqui em Natal.
Estive poucos dias em BH, mas consegui devorar, além do pão de queijo, muitos quadrinhos. No FIQ, se discute a nona arte de forma inteligente, mas sem perder o lado lúdico que essa mÃdia traz em sua sÃntese.
Parabéns BH, por fazer uma porção de gente feliz, assim como eu.
Como é bom encher a boca e gritar: FIQ, eu fui!
Desabafo
Em pensar que em Natal eu estou batalhando faz tempo por empresas que queiram patrocinar um projeto que foi aprovado na Lei Municipal Djalma Maranhão, de incentivo à cultura, na qual a empresa não precisa desembolsar nada, apenas concede que até 20% do seu ISS seja repassado ao projeto; ou seja, uma boa propaganda, de graça. Eu estou na cidade errada...
Não só você está na cidade errada.
Todos os dias eu me pergunto quando é que Natal vai ser valorizada culturalmente. Diante do insentivo que a prefeitura e a secrataria da cultura destinaram ao evento em BH, nos resta apenas sentir vergonha pelo que acontece na nossa cidade.
Se bem que no atual momento o que eu sinto não é bem vergonha de Natal, e sim inveja de você! Quem me dera ter ido pro FIQ também =D
Oi, Carol!
Gostei porque você soltou o verbo, e eu solto também, você me conhece. É isso aÃ, aqui em Natal quem trabalha com cultura e não é "poser", nem fica puxando saco de alguém "importante" ou não tem pistolão polÃtico, rala pra caramba pra conseguir as coisas. Natal ainda é uma provÃncia, sim senhor. Quanto à sua inveja, não se preocupe, no próximo FIQ, em 2009, vai uma caravana de Natal para BH.
[]s,
Milena
Fui em quase todas edições do FIQ. Realmente é um evento respeitado pela qualidade e pelo público que consegue atrair. Não vou comentar muito sobre as exposições e os debates porque nessa edição a minha passagem por lá foi curtÃssima.
Alguns comentários:
É interessante ver que a cada ano a presença dos mangás crescem. Não tenho dúvida que boa parte do público vai lá por causa deles. Não sei se teve algum evento de cosplay esse ano, mas tinha gente lá fantasiada (naruto, claro).
Não vi o que teve de videogame. Queria ter visto... para mim tem tudo a ver HQ com videogame. E o público é quase o mesmo. Tanto que era possÃvel reconhecer diversos tÃtulos de jogos na exposição de cartazes de animes e mangás. Essa parte integrava a homenagem ao Japão, certo? Seria legal ver um evento grande como o FIQ dando cada vez mais espaço para os jogos.
A minha crÃtica vai para o local onde aconteceu o FIQ esse ano. Nem sou contra a Serraria Souza Pinto. Mas a Casa do Conde, onde o FIQ costumava ser realizado, é um espaço bem melhor.
ah, e parabéns pela cobertura. ficou bacana.
Sergio Rosa · Belo Horizonte, MG 24/10/2007 12:35
Oi, Sérgio!
Esse FIQ, o primeiro que eu fui e, segundo várias pessoas, foi a melhor edição até o momento. Eu não conheço a Casa do Conde, mas na Serraria Souza Pinto, para quem tinha que ficar nos estandes, o calor foi brabo. No entanto, isso foi um detalhe tão pequeno em relação à estrutura bacana que foi montada, que eu não poderia apontar como um "defeito". Foi tudo muito bem pensado e organizado. E o espaço dos games e dos mangás realmente precisava estar lá, não só porque o Japão foi o paÃs homenageado, mas também porque estão em ascensão e fazem a cabeça da garotada. Legal que você gostou do meu texto.
[]s,
Milena
Parabéns pela cobertura. Rogo para que Natal um dia receba eventos desse porte.
Abraços,
Eugenio Dantas
Obrigada, Eugênio! Eu também quero muito ver a Bienal de Quadrinhos de Natal acontecer.
[]s,
Milena
Milena, excelente cobertura. Parabens.
Valeu.
Poxa Milena, que delicia de texto e que bacana nos trazer essa visão da nona arte.
Parabéns!!!
Muito obrigada, CÃntia e Higor! Sempre que posso, como alguns overmanos e overminas aqui, procuro incentivar os artistas do traço, bem como mostrar à s pessoas que os quadrinhos são uma mÃdia deveras importante, tanto para a criança quanto para os adolescentes e adultos.
[]s,
Milena
MILENA,
sinceramente eu não conhecia o evento, mas através do seu texto, vejo como BH está de parabéns( e você também, claro, pela ótima divulgação)! Os quadrinhos são maravilhosos, educativos, e eventos assim não deixam que eles "morram".
Abçs de Betha.
Maravilha de cobertura, Milena! Queria eu, estar por aÃ! Abraços.
Candice Gonçalves · Crato, CE 25/10/2007 11:26Parabens Milena, nao so por falar de BH, mas pelo trabalho bem desenvolvido, divulgador e belo! Victorvapf
victorvapf · Belo Horizonte, MG 25/10/2007 11:39
Vc viu o pessoal da Quase por aÃ?
Parabéns pela cobertura!
É por essas e outras que eu amo BH radicalmente.
Grande matéria, Milena.
abço.
Netha, Candice, Victor, Ériton e Sérgio, obrigada! E, Ériton, eu vi sim o pessoal da Quase, da Sociedade Radioativa e da Tarja Preta. Comprei exemplares de vários independentes pra minha coleção.
[]s,
Milena
Oi Milena.
Muito bom saber das histórias do FIQ. Realmente, uma pena que Natal não tenha um evento semelhante. Mesmo assim, soube que por aà existe um pessoal bem articulado, não é?
O bacana nesse circuito de festivais de quadrinhos é que, da mesma forma que BH, cidades como Piracicaba, Foz do Iguaçu e Recifese revezam como "capital da HQ". E assim vamos, Brasil afora. Semana que vem será Teresina, com o tradicional Salão de Humor do PiauÃ.
Quero convidá-la a ler minha cobertura do 9º Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco.
Você já conhece? Faz uma forcinha e venha para o ano que vem. =P
http://www.overmundo.com.br/overblog/fihq-2007-pernambuco-no-mapa-das-artes-graficas
Um abraço,
Oi, André! É realmente uma lástima que Natal fique totalmente fora do circuito dos festivais e salões de humor brasileiros, o que mais uma vez comprova o nosso provincianismo. Estou indo agora mesmo ler o seu artigo e vou sim fazer uma força para ir no próximo ano, tanto a Sergipe (onde será realizado o HQ Festival, em março) quanto a Pernambuco; aliás, Recife está de parabéns por ter conseguido trazer Will Eisner a uma edição do seu Festival Internacional de Humor e Quadrinhos. Nós, potiguares, temos que ir a outros Estados para respirar um pouco de respeito à nona arte. Eu faço a minha parte aqui e alguns me ajudam. Quem sabe um dia o sol que tanto brilha para a medÃocre "cultura" do forró e da cachaça, brilhe também para quem faz pensar.
[ ]s,
Milena
A preciosidade da arte está marcada nas páginas de iniciativas como esta que eleva a arte e a cultura proporcionando oportunidades aos talentos à nossa volta e despertando tantos outros para os acordes fabulosos de sua capacidade. Até mesmo as crÃticas inerentes são sugestões valiosas e movimentos ativos à melhoria do mecanismo ora iniciado. Participação sempre!
Andruchak
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Andruchak - artista plástico e professor de arte e arte digital pelas Universidades UMC e UNIP, doutor pela Escola de Comunicação e Artes da USP e Coordenador de Artes do Espaço Cultural UMC.
www.andruchak.com.br
Assino embaixo de tudo o que você escreveu, Andruchak.
[ ]s,
Milena
Ótima cobertura Milena! Gostaria de participar desse evento.
Conheço a Turma do Xaxado e me interesso muito por quadrinhos como ferramenta para educação e meio ambiente.
DifÃcil falar de quadrinhos em BH sem falar no Celton, uma figura que produz suas próprias hqs independentes e vende nos semáforos da cidade. Ele desenha e escreve, quadrinhos de autor total. Um dos personagens figura de BH.
Abraços.
Obrigada, Marcelo! Rapaz, você acredita que eu não conheci o Lacarmáleio, autor do Celton? Ele apareceu no FIQ quando eu já havia ido embora. Foi uma pena porque o Lacarmélio é um herói mesmo. Outra figurinha carimbada de BH, que eu não conheci, é o Edgar Guimarães, que edita fanzines há um tempão.
[ ]s,
Milena
Valeu Milena!
Esse nome é muito difÃcil né? Lacarmáleio, tanto que quando o conheci, ele me disse "pode chamar de Celton mesmo, é mais fácil", figura :)
Abraço, mais uma vez parabéns e sucesso pro Garagem Hermética.
Marcelo, o nome é difÃcil mesmo, até eu me atrapalhei. O correto foi o que escrevi da segunda vez, Lacarmélio. Muito obrigada e você está convidado a conhecer a nossa loja pessoalmente.
[ ]s,
Milena
Edgar Guimarães aliás, pe bem editado por outro Guimarães, o Henrique, da importante editora paraibana Marca de Fantasia. Milena, você teve tempo de conhecer o Wellington Srbek, que lançou o Estórias Gerais no FIQ?
André Dib · Recife, PE 31/10/2007 02:32
Conheci sim e conversei bastante com ele, André. O Wellington é gente finÃssima. E ele é deveras produtivo. Eu comprei várias revistas dele: Mirabilia, Alienz, Monstros, Aprócripha e Mystérion. A propósito, o Henrique é Magalhães.
[ ]s,
Milena
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