Brucutumia 2008 - Secando o Atlântico

organização do evento
Brucutumia 2008
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Roberta AR · Brasília, DF
6/3/2008 · 133 · 3
 


Encontros de Arte Urbana Luso- Brasileira diminuiram a distância entre Brasil e Portugal com parcerias e propostas de trabalho conjunto


Fiquei entre fazer um relato cronológico ou um emocional do que aconteceu em Lisboa entre os dias 20 e 24 de fevereiro, período de realização da primeira edição do Brucutumia, evento que reuniu ilustradores e editores brasileiros e portugueses, além dos djs e vjs que estiveram presentes na festa Dezkalabro, que se uniu ao projeto. A opção pelo cronológico leva em consideração a transcrição do evento para quem ficou interessado em seus resultados. O emocional, bem, essa versão seria pelo bem que me fez o contato com uma cena tão cheia de idéias e vontade de integração como a que tive acesso em Portugal. Acabei decidindo por mesclar as duas coisas, espero que funcione.

Logo que chegamos em Portugal, visitamos a Bedeteca de Lisboa, um espaço público que reúne publicações de quadrinhos de todo o mundo. Para quem não sabe, banda desenhada (BD) é como se chamam os quadrinhos em Portugal, por isso o nome da instituição. No lugar trabalha Marcos Farrajota, que conduziu nossa visita. Ele faz publicações de quadrinhos e afins na sua editora MMMNNNRRRG e é fundador da Associação Chili com Carne, que foi a organizadora do Brucutumia, juntamente com a Groovie Records.

A Bedeteca de Lisboa foi responsável por diversas publicações do quadrinho português, com pequenos cadernos de apenas um autor e grandes antologias anuais, mas seus recursos para novas edições foram retirados pelo governo local e vive hoje do acervo que possui. Apesar disso, nossa impressão foi das melhores ao ver um grande acervo de publicações que nunca chegaram ao Brasil. Além disso o lugar possui um espaço para exposições onde pudemos ver os originais da publicação Honey Talks, do grupo esloveno Stripburger.

Um dos objetivos do encontro foi a troca de experiências editoriais independentes feitas no quadrinho brasileiro e português. Novos métodos de impressão em cores e preto e branco, processos artesanais de produção editorial, experiência de distribuição independente, em contraposição ao mercado de super-heróis e mangás, nos dois países foram bastante debatidos. Biu, Gomez e Stevz, da publicação Bongolê Bongoró, os representantes do Brasil no encontro, puderam trocar suas experiências com Pepedelrey, da editora El Pep, João Maio Pinto, ilustrador, José Feitor, editor, Mike goes West, serigrafista, Joana Figueiredo, ilustradora, Rafael Dionísio, escritor, Edgar Raposo, ilustrador e editor, além do já citado Marcos Farrajota.

As dificuldades de distribuição e troca de publicações entre os dois países foi um dos principais pontos discutidos, pois apesar de falarem a mesma língua, há pouca integração da cultura independente produzida por brasileiros e portugueses. Um esforço nesse sentido foi selado, no que podemos chamar de um acordo entre amigos, para que as publicações portuguesas possam ser vendidas no Brasil e as brasileiras possam ser vendidas em Portugal.

De cara, a Associação Chili com Carne (CCC) já começou a venda do almanaque Bongolê Bongoró #2 em seu site, que, aliás, está com uma moldura desenhada pelo Stevz no ar. É bom lembrar que o número 2 da Bongolê possui colaborações de 18 brasileiros de vários pontos do Brasil e de 4 portugueses. Aqui no Brasil, a Kingdom Comics, principal loja especializada em quadrinhos de Brasília, assumiu a distribuição das publicações da CCC nacionalmente.

Esses foram os resultados imediatos. Para 2008, ainda teremos pelo menos mais duas publicações com colaborações dos dois países que deverão ser lançadas conjuntamente pela Pégasus Alado (da Bongolê) e a recém constituída editora Kingdom Comics. Também será feita no Brasil mais uma edição da exposição Seitan! Seitan! Seitan! , que foi parte da Brucutumia e que deverá ser ampliada com trabalhos de artistas brasileiros.

Durante o encontro foi realizado um workshop de Zines, ministrado por Biu, Stevz, Gomez, Marcos Farrajota e Edgar Raposo, que produziu 8 revistinhas feitas por alunos portugueses e brasileiros radicados em Lisboa.

Também aconteceu uma feira de Zines, com stands da CCC, Groovie Records, El Pep, Imprensa Canalha, Thisco e um stand da Pégasus Alado, com publicações brasileiras diversas, onde os portugueses puderam adquirir as revistas Tarja Preta, Isso Não é Uma Revista de Terror, Mosh, entre outras, além dos dois números da Bongolê Bongoró.

Parece que os organizadores conseguiram a proeza de "secar o Atlântico", como prometeram ao anunciar o evento. Ou podemos dizer, numa dessas expressões clichês, que uma ponte foi construída entre os produtores independentes dos dois países. Que conste que viajamos com o apoio do Ministério da Cultura.

Os organizadores do evento
Associação Chili com Carne:
uma organização de jovens artistas sem fins lucrativos cujo funcionamento se baseia na cooperação livre e espontânea dos seus associados. Mantém página na internet no endereço www.chilicomcarne.com.

Groovie Records: gravadora portuguesa independente, que tem Edgar Raposo como um dos sócios. Já lançou trabalhos de músicos brasileiros, como Os Haxixins, Autoramas e Uncle Butcher. Todos os vinis impressos pela editora possuem um cartaz feito por um ilustrador português, em breve com ilustrador brasileiro também. Página na internet: www.groovierecords.com

Pégasus Alado: editora, não participou exatamente da organização do evento, mas foi a representante brasileira no Brucutumia. Tem como integrantes Biu, Stevz e Gomez e já lançou dois números do almanaque Bongolê Bongoró. Roberta AR trabalha como assessora de imprensa para o grupo. Blog: www.bongole.blogspot.com

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Andre Pessego
 

Muito bom. Pra reler, um abraço, andre.

Andre Pessego · São Paulo, SP 5/3/2008 06:27
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Helena Aragão
 

Ótimo, Roberta! Interessante a mobilização por distribuição de produtos e mais contato entre os dois países - a gente fala muito que o Brasil não se integra com os outros países latino-americanos, mas também não parece haver muito esforço para se aproximar da cultura portuguesa. Prova de que não é só a questão da língua... Aliás, pelo que entendi, não havia outros países de língua portuguesa envolvidos, né? Poderia ser uma idéia interessante para as próximas edições! Abraço

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 5/3/2008 12:37
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Roberta AR
 

Sim, Helena, a idéia é ótima. Mas como produtores independentes conseguirão unir três continentes, se somos absolutamente duros? Conseguimos um apoio do Minc nessa edição depois de longo trabalho prévio. Certamente iniciaremos esses contatos via internet, quem sabe?

Roberta AR · Brasília, DF 6/3/2008 17:14
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