Calango vive!

Vinícius
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eduardo ferreira · Cuiabá, MT
23/7/2006 · 61 · 12
 

Autoramas detonando no Calango em sua terceira edição.

Uma gurizada atrevida, em 2001, meteu caras, corações e muita coragem quando resolveu fazer um festival próprio para as muitas bandas que surgiam nas garagens da capital matogrossense. Vinham com muitas idéias fervilhando e um forte intuito de fortalecer a cena musical alternativa de Mato Grosso. Cheios de energia lançaram uma semente que encontrou terreno fértil para o crescimento. Ousadia e percepção de momento dos caras marcaram esse início. Fervilhava um movimento crescente-emergente em vários Estados brasileiros de uma cena musical identificada como indie, alternativa, independente, a exemplo de outros países. Pipocavam bandas pra todo lado marcando mais uma virada na história do rock. Brasília com o Porão do Rock, Goiânia chamando a atenção da mídia nacional com a afirmação de um selo forte, a Monstro Discos, que logo se transformou em referência para todo o país. Com propostas de criar novas formas de distribuição, visão de mercado, ações planejadas e contínuas, seduziu milhares de jovens. Bananada, Goiânia Noise, Porão do Rock (com uma estrutura que se agigantou) mostravam que o Centro-Oeste brasileiro estava abrindo novos caminhos para um movimento que não parou de crescer e continua contagiando outras geografias. Hoje já são cerca de vinte festivais no país.

O primeiro festival Calango contou com a participação de 10 bandas de Mato Grosso e lembro que ao chegar no Centro de Eventos do Pantanal fiquei chocado com o tamanho da aventura que aqueles meninos estavam empreendendo. Filas enormes, público jovem e bonito com suas roupas típicas, piercings, tatuagens, não pude deixar de admirar aquela pequena massa de quase 3000 pessoas dançando, pulando e delirando aos primeiros acordes que abriam novos caminhos na história musical de Mato Grosso. A expectativa se concretizava de forma fabulosa. Eram muitos os sonhos. Não pude deixar de me emocionar ao ver que a coisa era definitiva por aqui. Não tinha mais volta. O movimento a partir daquele momento se consolidou.

Foi um longo tempo germinando por aqui, desde a década de 80, quando se iniciou uma história cultural com características mais urbanas, quase vinte anos de um rock vigoroso buscando conquistar espaços, ora mais forte, ora mais frágil.

Acreditávamos que num momento a coisa viraria, se tornaria forte e auto-sustentável. Talvez esteja um pouco longe ainda de gerar um mercado próprio, o apoio do Estado, através da Lei de Incentivo à Cultura, ainda é fundamental, mas as raízes se espalharam, novos grupos estão surgindo, é um movimento que, com certeza, não pára mais. Os números do Calango mostram uma evolução surpreendente: veja só, em 2001 contabilizou um público de 2.900 pessoas, de cara o maior público de um evento musical local nesse segmento; em 2003 o festival bateu seu próprio recorde com um público de 6.000 pessoas.

Em 2003, os integrantes do Espaço Cubo, liderados por Pablo Capilé, partiram para a segunda edição do Calango, ampliando a estrutura, mudando de lugar após terem constatado problemas de transporte no Centro de Eventos do Pantanal. Conseguiram realizar o segundo festival nos estacionamentos da UFMT, um lugar que já tinha tradição em eventos culturais, espaço livre e amplo, muito mais adequado para o deslocamento das pessoas.

Ampliaram a estrutura, montaram dois palcos, as bandas tocaram sucessivamente, sem pausa, agora em número de 22. O Calango, nesse ano, conseguiu chamar a atenção da cena nacional. Era a consolidação de um movimento que o Espaço Cubo iniciara dois anos antes e que após uma avaliação percebeu a necessidade de ações intermediárias de fomento para o fortalecimento de uma cena efetiva. Não bastava realizar um festival. Perceberam a necessidade de agir de maneira mais sistemática envolvendo outras atividades. Ouviram com atenção a avaliação de um olheiro que trouxeram em 2001, quando ainda acreditavam num modelo que vinha sendo superado, o de conseguir emplacar algum trabalho através de corporações já consolidadas. Tadeu Valério, da Paradox Music foi taxativo: “O festival é grandioso, mas ainda não existe cena e ele acaba se tornando uma ação isolada!â€

Pablo Capilé afirma que 2003 foi o ano que deu visibilidade ao festival: “Ali iniciou a ligação do Festival Calango com o circuito nacional, pois numa das nossas ações intermediárias, além das já criadas em 2001, como o concurso de redação, bandas nas escolas e pré-evento, trouxemos organizadores de outros Estados para assistir e discutir o fortalecimento do Centro-Oeste. Naquele momento, mais amadurecidos, decidimos pela participação de produtores da região do Centro-Oeste, e de selos e festivais independentes.â€

Mas Cuiabá, há anos, já se movia de forma silenciosa, aliás, abafada pelas paredes das garagens que nunca se calaram. O terreno era fértil e as ações do Espaço Cubo tiveram grande importância para o desenvolvimento de uma cena rock que se expandia. A história contabiliza vários movimentos importantes que aconteceram em Cuiabá e continuam a acontecer com outros grupos. O Festival Calango é parte de um movimento cultural urbano mais amplo que vem acontecendo aqui.

2005, com a realização do terceiro evento, foi o ano definitivo da inserção do Calango entre os festivais que conquistaram visibilidade nacional. Ousadia e muita determinação foram as marcas desse evento que paralisou Cuiabá em seus três dias de duração. Com a criação da Cidade das Artes, fruto da parceria com A Fabrika e a Samba de All Stars, duas outras frentes de atuação cultural, ampliou as ações com oficinas, debates, mostra audiovisual, atividades literárias, pista de skate, oficina de hip hop e a participação de 45 bandas. Músicos de Mato Grosso e de vários estados brasileiros, representantes legítimos do que havia de melhor despontando na cena nacional: Zeferina Bomba, Pata de Elefante, Forgotten Boys, Autoramas, MQN, Vanguart, Ecos Falsos, Daniel Beleza e os Corações em Fúria, Irmãos Rocha, Fuzzly, Caximir, Macaco Bong e uma porrada de outras. Média de 5.000 pessoas por dia, shows arrebatadores, mídia local presente com tvs, jornais impressos, rádios, foi uma mobilização marcante para a história local. O Festival Calango se tornou o maior evento cultural alternativo de Mato Grosso.

Algumas iniciativas paralelas foram fundamentais para esse crescimento. Abriram vários palcos pelos bairros da cidade com apresentações classificatórias para o Festival principal, gerando público, provocando novas demandas. Prévios Calangos no CPA, Coophema, Mercado do Peixe
no Porto, para selecionar bandas iniciantes que não dispunham de músicas gravadas. Foram várias ações estratégicas e certeiras pois foi criando um clima muito legal elevando as expectativas para o Festival principal.

Cuiabá surpreende cada vez mais com esse segmento que mostra ter fôlego para se afirmar como uma das grandes forças da expressão cultural da região.

Vem aí, dias 18, 19 e 20 de agosto, o quarto Festival Calango. É esperar pra ver. A programação completa você pode conferir no blog do Espaço Cubo.


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Yuno Silva
 

Eduardo, meu bróder, a rede está tão conectada que conheci o Caio em Mogi das Cruzes/SP - diga aí?!! Pena não poder dar um pulo por essas bandas durante o festival.

vida longa ao rock, ao Calango, ao Caximir e A Fabrika.

Yuno Silva · Natal, RN 23/7/2006 12:49
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eduardo ferreira
 

yuno, meu velho, esperava que você pudesse vir para o festival (ão tem jeito mesmo?).

a propósito da rede, veja discussão sobre o tema no blog MATULA CULTURAL, aqui mesmo no overmundo, do rodrigo teixeira (alô rodtex, grande figura, meu bróder também). acho que é importante o debate.

yuno tô esperando sua visita no 636. capítulo X. tá esperando o quê? hehehe

vida longa para nosotros hermanos del mundo.

salve o MADA, Calango, e todos os festivais que buscam seus próprios espaços na rede de alternativas que estão aí para serem construídas.

grande abraço!

eduardo ferreira · Cuiabá, MT 23/7/2006 14:56
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eduardo ferreira
 

escorreguei na concordância: "a rede está aí para ser construída..."

foi mal! sonolento, trêmulo de ressaca e resquícios de dionísio.

é domingo, e meu mau-humor está (ana)crônico.

as alternativas estão aí para serem (des)construídas...

eduardo ferreira · Cuiabá, MT 23/7/2006 15:05
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Marcelo Rangel
 

Salve, Salve, overmundanos!!! Esse festival deve ser du calango mesmo... ano uma banda daqui vai tocar, os Rockassetes, eles estão comemorando o feito, o que confirma tudo o que você diz aí em cima, MS tá fazendo acontecer mesmo, já é uma referência pra moçada...
Grande abraço!!

Marcelo Rangel · Aracaju, SE 23/7/2006 16:16
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Rodrigo Teixeira
 

kkkkkkk Marcelo, o Festival Calango é láaaa em MT (Mato Grosso)! Vida longa ao Calango! Grande abraço Eduuu!

Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 23/7/2006 18:11
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eduardo ferreira
 

pois é né rodrigo, em nossos desejos o mt é um! não é mesmo?
´mas na real é MT marcelo, MS é outra praia...(ou deserto) grande abraço rodrigãoooooooooo!

eduardo ferreira · Cuiabá, MT 24/7/2006 00:46
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Marcelo Rangel
 

vixe, q mico geográfico....
sem noção????

Marcelo Rangel · Aracaju, SE 24/7/2006 02:49
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Helena Aragão
 

Tá rolando uma discussão interessante no blog Matula Cultural sobre a programação do evento!

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 24/7/2006 14:32
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Rodrigo Teixeira
 

Com certeza Edu... o Mato Grosso uno seria uma potência cultural. abs

Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 24/7/2006 17:34
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Rodrigo Teixeira
 

só agora entendi sua ironia Edu. Deserto é? kkkkkkkkkkk

Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 25/7/2006 20:09
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eduardo ferreira
 

brincadeiras de lá e de cá. demorô rodrigão! cara, vi as colocações do yuno lá no blog (matula) e acho que ele tá corretíssimo. agora, rodrigo, peloamordedeus, vocês aí em MS só vêem Rio/SP? isso é coisa antiga, certo? não conhecem o MADA? o Brasil é graaande gente! abram os olhos, dêem uma pan...(tem festivais em londrina, uberlândia, porto velho, belém, em joão pessoa está começando agora, recife... etcetc) brasília, goiânia, cuiabá, curitiba e muito mais.

eduardo ferreira · Cuiabá, MT 25/7/2006 20:31
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Rodrigo Teixeira
 

nós temos festivais aqui em MS também Eduuuuu... não se esqueça! e dos grandes!

Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 26/7/2006 17:21
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