Cheiro de tristeza e revolta no ar

Um cheiro de tristeza e revolta pelo ar. Sim, a tristeza e a revolta têm cheiro. Na Vila Liberdade em Porto Alegre elas têm cheiro de casas totalmente destruídas por um incêndio, que embora pareça acidental, tem todas as características de especulação imobiliária.

Cerca de 700 famílias estão sem casa, e graças a centenas de colaborações elas terão comida pelos próximos dois dias. Nada de coitadismo, as famílias estão revoltadas e buscando diálogo com a prefeitura, sem sucesso.

Em busca de mais informações a respeito da necessidade das vítimas do incêndio, visitamos ontem a Vila Liberdade, que fica bem próxima à Arena do Grêmio. Na Vila, as cinzas ainda queimavam, e somadas ao calor que faz na cidade a sensação é ainda pior.

Valéria Soares, moradora da região há 15 anos, seu filho que era vizinho e o irmão, todos vendedores de sucata perderam a casa, seus animais, as carroças as quais utilizavam para vender papéis, pedaços de ferro e latinhas.

Ela resiste ao incêndio, sem sair do local, sem dormir e passa o dia a procura de pequenas ferros que, segundo ela, poderão ser vendidos e com o dinheiro poderá comprar madeira para construir uma nova casa. Ela, e tantos outros que por ali estão acreditam e reproduzem a versão de que uma briga de casal, ocasionou o incêndio. Ninguém tem notícias do casal.

A Prefeitura por meio da DEMHAB, a autarquia responsável pela gestão da Política Habitacional de Interesse Social do Município, declarou que todas as famílias serão retiradas do local, embora muitas delas resistam a desocupação e também ao aluguel social. Por outro lado, dezenas de famílias se recusam a sair do local.

Segundo líderes do bairro, e também pessoas como a Dona Valéria, o valor do aluguel social (que é de 400 reais), é incompatível com o preço dos imóveis disponíveis na região, mostrando claramente a intensão da prefeitura em afastar para as periferias da cidade as pessoas que ali estão.Dá pra acreditar?

Os imóveis próximos à Arena do Grêmio têm preço altíssimos. A Vila recebe o mesmo nome do complexo imobiliário que toma conta da região, com grandes empreendimentos direcionados à classe A e B. A DEMHAB afirma que novas casas serão construídas no local, e no prazo de 12 meses, as famílias poderão voltar ao local. Dá pra acreditar?

Todas as cartas estão na mesa, e não da para desconsiderar as ações do setor imobiliário no Bairro Humaitá ao analisar a conjuntura do incêndio. O prefeito por sua vez, que esta de luto pelo falecimento de sua mãe, não esta se pronunciando pelo fato ocorrido.

Ao mesmo passo que a situação é bastante triste, é também um momento em que se pode perceber de forma ainda mais clara a necessidade de enfrentamento a especulação imobiliária.