Cinema em preto & branco take 3

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O preto velho Grande Otelo
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Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ
19/12/2007 · 302 · 26
 

Negativo revelado


â€Um historiador chamou o período silencioso no cinema no Brasil (introduzido em 1898 pelo italiano Affonso Segretto de "a bela época do cinema brasileiro", dada a quantidade e diversidade da produção. ...mas do ponto de vista do negro brasileiro, isso conta muito pouco. O cinema mudo coincide exatamente com o período áureo das teorias racistas, quando as religiões afro-brasileiras eram perseguidas pela polícia, e os mulatos claros usavam pan-cake para parecer brancos. Houve portanto poucos registros de negros em documentários.â€

(João Carlos Rodrigues)



Apesar da patente invisibilidade do negro nos documentários de nosso período silencioso, aludida e lamentada aqui por João Carlos Rodrigues, talvez já se tenha dito, anteriormente, que a rigor não pode ser considerada, de modo algum, incipiente- ou mesmo insuficiente - a presença da imagem do negro no cinema brasileiro de ficção.

Já nas imagens inaugurais desta nossa cinematografia ‘posada’, o negro estava lá, de alguma forma impresso. A lista de filmes é extensa, a ponto de podermos afirmar, com razoável convicção que, do ponto de vista essencialmente imagético, nunca houve, exatamente, racismo no cinema brasileiro.

Não conheço ninguém que tenha assistido, sequer a um fotograma do documentário (um docudrama talvez )A vida de João Cândido, o marinheiro, realizado segundo as poucas fontes disponíveis em 1912, com direção de Carlos Lambertini e, sabe-se lá talvez, inspirado no ‘O encouraçado Potenkim’ filme clássico de 1906, realizado pelo russo Sergei Einsenstein.

Por conta da insuficiência de fontes aliás, o filme sobre João Cândido, acabou se confundindo com o documentário ‘A revolta da Esquadra’ também identificado como sendo de 1912, sensacional furo jornalístico do cinegrafista Alberto Mâncio Botelho (único fotógrafo a conseguir entrar no encouraçado Minas Gerais, nau capitânea da Revolta) que conseguiu entrevistar João Cândido líder dos marinheiros da Marinha de Guerra, rebelados contra os castigos corporais.

É lícito se supor inclusive, que a maioria – senão todas - as imagens disponíveis hoje deste grande momento da história do Brasil, tenham sido registrados pelas câmeras deste grande precursor do documentarismo brasileiro que foi Alberto Mâncio Botelho.

Pois saibam que A vida de João Cândido, o marinheiro foi o primeiro filme censurado e proibido no Brasil por motivos políticos (certamente junto com o ‘Revolta da Esquadra’ de Botelho). A engrandecê-lo mais ainda, o fato de ter sido também o primeiro filme de ficção, no qual o negro apareceu como protagonista de sua própria história (não se tem a informação se os atores eram brancos pintados. Vamos acreditar que não).


...â€Os atores (no tempo do cinema mudo no Brasil) ainda eram brancos pintados, como os minstrels americanos. Esse costume persistiu até bem mais tarde. No cinema, o verismo exige negros verdadeiros, e assim surgiram os primeiros atores profissionais, vindos dos palcos : Grande Otelo, Pérola Negra, Chocolate - os pseudônimos já ostentam a etnia, informando antes mesmo da própria imagem do intérprete. Mas seus personagens não cresceram de importância.

Caras imagens esparsas de filmes invisíveis.

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Além do imperdível ‘Encouraçado Potenkim’, alguns de nós já assistiram contudo a, pelo menos, algumas das impactantes imagens de ‘O Nascimento de uma nação’ (‘The Birth of a nation’ ou, originalmente, The Clansman) de David Llewelyn Wark Griffith (D. W. Griffith), talvez a mais veemente propaganda racista já exibida pelo cinema, lançando as bases para a recriação da organização terrorista Klu Klux Klan, grupos de brancos que promoveram muitos linchamentos e enforcamentos de afro-americanos nos Estados Unidos.

Embora o filme de Griffith tenha sido um divisor de águas, lançando revolucionárias técnicas para a linguagem cinematográfica do futuro, surpreendentemente, no plano ideológico, estas imagens, ao que tudo indica, não tiveram relação direta alguma com o tema da invisibilidade do negro na mídia brasileira (no cinema inclusive).

As controversas idéias levantadas pelo filme, lançado no já distante ano de 1915, parecem ter somente entre nós - guardadas as devidas proporções - alguns tardios adeptos, veementes opositores das políticas de cotas e ações afirmativas no Brasil, cujo pensamento, ainda que de forma simbólica, pode ser alinhado com este emblemático trecho da sinopse do filme de Griffith publicada pela Wikipédia:

...â€A controvérsia que o filme causou gira em torno da premissa de que a primeira Klu Klux Klan restauraria a ordem no sul do pós-guerra, que estaria "ameaçado" por afro-americanos "incontroláveis" e seus aliados: abolicionistas, mulatos e republicanos do norte.

O fato é que, navegando num mar encapelado de preconceitos estéticos ligados ao biotipo de nossa população, não sabemos ainda a que atribuir esta hospitaleira ilha de diversidade cultural, este inesperado apego, quase fraterno, sempre existente em nosso cinema de ficção pela imagem do povo e do negro, em particular.

Atraído pela imagem de negros e despossuídos, tanto quanto pela pitoresca e dura vida de nossa população ‘carente’ em geral (cujos temas estão sempre presentes nos roteiros, desde os primórdios), este cinema foi sempre bastante popular (ou popularesco), desde a escolha de seus story lines, baseados desde o início em rumorosos casos que eletrizaram a maioria da população, sendo protagonizados por pessoas comuns, até a franca adoção de um conceito de ‘casting’ sem preconceitos biotípicos ou raciais aparentes.

Talvez a pista mais importante desta solidariedade do Cinema para com a imagem do negro do Brasil, a despeito do deslavado racismo das outras mídias, deva ser buscada em outras plagas, bem mais próximas de nós: A colônias italianas do Rio de Janeiro e São Paulo.

Com efeito, ao nos debruçarmos sobre a bases que formaram o nosso cinema, esbarraremos, fatalmente, numa lista enorme de ‘carcamanos’ emigrantes, gente simples, humilde e empreendedora que, construiu aqui praticamente tudo que precisávamos para ter cinema brasileiro.

De Paschoal, Gaetano, Alfonso e João Segreto, passando por Paulo Benedetti até Rogério Sganzerla, são centenas os nomes de italianos e ítalo-brasileiros envolvidos na arte de fazer filmes no Brasil, inventando equipamentos, processos fílmicos, dirigindo, cinegrafando ou atuando, a importância destes europeus na fundação de nosso cinema foi decisiva.

Empreendedorismo, pitadas de Anarquismo, de Comunismo, Socialismo e, logo mais adiante, Neo realismo, eis o que seriam as lentes abertas para a negritude em nossa cinematografia.

“ Fita apreendida

No dia 27 de junho de 1926 o jornal O Estado de S. Paulo publica uma matéria intitulada Exploração ignóbil. Um filme deprimente para o Brasil preparado pela companhia Dramática da Atriz Italia Almirante. A longa reportagem relata a apreensão de um rolo de filme com cerca de 150 metros cenas de batuque que foram feitas no Jardim da Aclimação, supostamente passadas numa senzala de uma fazenda de um nababo português. “Em certo ponto, um artista não se contem e, por pilhéria, arrebata uma pretinha e sai com ela, dançando. Os dançadores se alvoroçam e o chefe do batuque separa o par, com ar feroz. Mas isso não o satisfaz e para vingar-se vai ao grupo de artistas, tira uma atriz e sai com ela, a dançar. Embalde os colegas tentam arrancá-la daqueles braços, da sanha daquela multidão andrajosa, suada, de catadura hedionda. Estabelece-se a luta. E, aos gritos de toda a gente, aparece o fazendeiro, de botas, chapéu largo de cowboy, um tipo anacrônico, que arrebata a moça das mãos do preto, atira por terra o agressor e corta-o de rebenque, surdo às imprecações feitas de joelho. Enquanto o companheiro apanha os pretos fazem esgares
de pavorâ€.

(Em 'Italianos no cinema brasileiro' artigo de Márcio Galdino)


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Positivo velado


...â€Numa conversa com Vinícius de Moraes, que o guiava para conhecer uma favela no Rio de Janeiro, Orson Welles fez um comentário sobre o que via, direto e profético:

_ “É um Frankenstein. É um monstro que vai se voltar contra vocês.â€


Havendo sido criado por volta de 1940, pelo governo brasileiro o Dia da Raça, no qual se criava o conceito algo eugenista da fusão harmônica de ‘três raças tristes’ (brancos, negros e índios, nesta ordem), havia uma intenção oficial de difundir a imagem de que o país era habitado, principalmente, por brancos, com uma taxa mínima de negros e mestiços (intenção a rigor, válida até os nossos dias entre alguns racistas enrustidos)

Foi este, sem dúvida, um dos principais fatores que contribui para a ditadura Vargas acionar o Departamento de Estado Americano e provocar a interrupção do documentário It’s all true, que o festejado cineasta Orson Welles realizava no Brasil em 1942, descrevendo, principalmente, a saga de um grupo de jangadeiros liderados por um homem chamado ‘Jacaré’, do Ceará ao Rio de Janeiro, para denunciar ao governo brasileiro suas péssimas condições de vida.

Segundo o Departamento de propaganda do governo, Welles enfocava, demasiadamente, em seu filme, os negros e a cultura afro-brasileira (no caso, nordestinos – cafusos para alguns - com a pele queimada de sol e favelados negros do Rio de Janeiro).

...â€Em 19 de maio de 1942, já filmando nas praias cearenses, advém a tragédia. A mesma jangada original da ida ao Rio foi virada por uma onda forte num dia de mar bravo. Os quatro homens caíram na água. Jacaré submergiu, voltou à tona, pediu socorro, nadou desorientado mar a dentro e desapareceu. Seu corpo jamais foi resgatado. “Jangadeiro deve morrer no mar†foi a manchete caimmyana de um jornal, atribuindo a citação ao próprio Jacaré.

...Pressionado por todos os lados, com produtores descontentes com a extensão das filmagens, e políticos de cá e de lá furiosos com a ênfase na pobreza e na negritude do episódio sobre o Carnaval, Orson Welles terminou o que viera fazer e deixou o Brasil para nunca mais voltar. Jamais concederam-lhe a oportunidade de finalizar “It`s All Trueâ€, editado parcialmente sete anos depois de sua morte.


Banido, tornado quase invisível, durante muitos anos, os negativos do filme foram recuperados, mostrando imagens épicas fantásticas do nordeste brasileiro, com o movimento impressionista das velas e das ondas do mar do Ceará e da então capital federal, com fortes e trágicos contrastes e nuances de preto & branco.

Visto hoje, com distanciamento, ‘It’s all true’ nos aparece como um legítimo filme brasileiro, tão grande a influência que, sabe se lá por que mágicos meios, imprimiu em nossa filmografia posterior, notadamente no cinema de Glauber Rocha. Talvez fosse mesmo uma tendência, um fenômeno cinematográfico amplo e recorrente, num mundo que, bafejado pelos ventos abrasivos da guerra, impulsionava o cinema, inapelavelmente, para a reflexão em imagens, de valores universais essenciais, tais como a solidariedade humana, a diversidade cultural e a luta contra o racismo, a intolerância e a miséria, seja onde estivessem.

Ventos que, geraram em suma, o movimento denominado ‘Neo-Realismo‘ italiano, famoso movimento cultural surgido no pós guerra cujas maiores expressões foram (olha a Itália de novo aí, gente!) Rosselini e Vitório de Sica.

Mesmo com o advento do Cinema Novo (segundo se diz, criado por Humberto Mauro) o cinema brasileiro segue tributário dos italianos.

Se algum pai houve não se sabe ao certo, mas, talvez 'la Mamma' de nosso cinema moderno tenha sido mesmo esta avassaladora influência neo-realista de De Sica e Rosselini, em seu amor desmedido pela imagem idílica do povo da itália, escurecido pelo sol do Mediterrâneo e entidade vítima de algozes muito cruéis (o nazi-fascismo que morria e o imperialismo capitalista que surgia voraz), num contexto de caos social impactante. Talvez tenha navegado por estas ondas portanto, a relativa aceitação de uma certa negritude em nosso cinema.

Mas, é bom se frisar que este Neo Realismo brasileiro, se impõe mesmo é com o lançamento de 'Rio 40 graus' de Nelson Pereira dos Santos e, logo após, com a série 'Cinco Vezes favela', filme produzido pelo vanguardista CPC da UNE (lançando os cineastas Leon Hirsman, Cacá Diegues e Eduardo Coutinho – cujo filme ‘Cabra marcado para morrer’, ficou inconcluso.

Reveja o cinema de Glauber Rocha e observe nos formidáveis planos-sequências, aquela visão de um povo heróico e retumbante, esturricado de sol e sede, enfrentando, estoicamente, as agruras da natureza e do cruel capitalismo anglo-saxão.

Isto tudo exposto, podemos dizer que sempre houve uma substancial presença de negros nas telas de cinema do Brasil sim, mas, não nos furtemos em perguntar:

_Como assim?

Vejam talvez que esta, talvez seja uma história boa demais para ser verdade. No cinema, como no Brasil, ‘nem tudo é verdade’.

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Alma no olho

João Carlos Rodrigues, em seu livro aqui citado O negro brasileiro e o cinema - enumerou 12 arquétipos (ou estereótipos) invariavelmente, disponíveis para atores e atrizes negros no Brasil. Os mais importantes são os seguintes:

O Preto Velho
O Mártir da escravidão,
O Nobre Selvagem,
O Negro Revoltado
O Negro da Alma Branca (trágico elo entre oprimidos e opressores ),
O Crioulo Doido (equivalente assexuado e cômico do Arlequim da Commedia dell’Arte ),
A Musa Negra. Há dois com uma nítida conotação sexual exacerbada :
O ameaçador Macho Negro ( Negão ) que povoa os sonhos racistas com estupros e violências ;
A Mulata Sedutora ( Uma espécie de mulher-objeto cor de chocolate, desejada por todas as raças).


Na obra de João Carlos, todos os personagens negros e mulatos da ficção brasileira se enquadram em uma dessas categorias.

Assisti, por acaso, um dia destes, ao excelente e bem realizado Também Somos Irmãos, drama de José Carlos Burle com Grande Otelo, Aguinaldo Camargo, Agnaldo Rayol, Ruth de Souza e Jorge Dória, produzido pela valorosa companhia de cinema Atlântida em 1949. Embora velados, muitos dos estereótipos enumerados estavam lá.

Já foram de algum modo citados também outros filmes emblemáticos, aqui mesmo nesta série, entre os quais Assalto ao Trem Pagador de Roberto Farias. Bahia de todos os santos (1960), de Trigueirinho Neto, Sinhá Moça (1953), direção de Tom Payne e Osvaldo Sampaio, Carlos Diegues realizou Ganga Zumba (1964), Compasso de espera, direção de Antunes Filho, conta o drama de um intelectual negro representado por Zózimo Bulbull, na megalópolis São Paulo, tentando integrar-se na sociedade branca. Filmado em 1969, O amuleto de Ogum (1974) e A tenda dos milagres (1977) ambos dirigidos por Nelson Pereira dos Santos, Xica da Silva (1976), direção de Carlos Diegues, Quilombo, de 1984, dessa vez como super-produção e Chico Rei (1985), direção de Walter Lima Junior.

Nesta vasta filmografia, dois fatos saltam aos olhos: Diretamente ligados à história, aos dramas, e ao modo de ser dos negros do Brasil, nenhum destes filmes foi dirigido por um diretor negro. Segundo: talvez por esta prosaica razão, em todos eles, de algum modo, os personagens negros são esquemáticos, estereotipados ou idealizados, quase sem nenhuma diferença do quadro de ‘arquétipos’ enumerado por João Carlos Rodrigues acima.

É fato também portanto que o negro brasileiro está no cinema apenas com o corpo. Não está presente a sua alma. Seus olhos não se reconhecem nestes corpos travestidos por estereótipos os mais diversos, uns frutos do preconceito ou da ignorância, outros fruto da arrogância elitista de uma certa classe cinematográfica voltada excessivamente para uma visão estreita de nossa sociedade, contaminada por nossos vícios racistas mais recorrentes e sempre,renitentemente, presentes. Uma alma, senão branca, desvirtuada pela visão esquemática do filtro torto, com o qual a maioria de nossos cineastas enxerga a alma do negro (e, por extensão, dos pobres do Brasil).

Um dia, a moviola (que neste tema parece rodar sempre para trás) talvez avance rumo a um cinema de todos para todos.

As exceções a esta invisibiliade, quase paradigmática em nossas telas, são poucas, entre elas, Cajado Filho (1912 - 1966), "cenógrafo e roteirista de dezenas de filmes de sucesso. Dirigiu cinco longametragens entre 1949 e 1958, todos infelizmente desaparecidos. Foi quase certamente o primeiro diretor negro do cinema brasileiro"(João Carlos Rodrigues) .

Com um hiato de muitos anos, temos também ‘As Aventuras amorosas de um padeiro’ de Waldir Onofre (cineasta que narra a alma suburbana da zona Oeste do Rio) ,’Alma no Olho’, de Zózimo Bulbull, além de títulos esparsos por aí, a maioria de cineastas negros iniciantes, unidos recentemente pelo Centro Afro Carioca de Cinema, criado por Zózimo Bulbull e Biza Vianna que, a partir de referências seminais do cinema africano, do senegalês Ousmane Sémbene, do nigeriano Ola Balogun (que filmou no Brasil nos anos 80 ‘A Deusa Negra’) e de Zezé Gamboa (prêmio do júri no Sundance Film Festival, em 2005), entre outros, todos reunidos num concorrido festival realizado cine Odeon (entre outros espaços), no Rio de Janeiro em novembro passado, sonham quebrar esta muralha de invisibilidade emocional.

Na crônica destas inconveniências cinematográficas, que este grupo de cineastas negros visa superar, há casos até constrangedores, como a salada antropológica, de cunho grotescamente tropicalista e gosto duvidoso (até como cinema) com que Cacá Diegues tratou o Quilombo de Palmares, emblema de um episódio caro a alma libertária de todos os brasileiros. Sem falar da 'mulata' lasciva Xica da Silva, quase prostituta, que o mesmo cineasta filmara, alguns anos atrás.

A visão em Ganga Zumba (também de Cacá Diegues) de uma escrava africana usando hennè nos cabelos (Luiza Maranhão, apesar de tudo uma grande atriz), um incidente não menos jocoso, me impele a contar também um incidente hilário, acontecido comigo mesmo.

Convidado com meu grupo Vissungo para atuar como músico de cena da versão de Sinhá Moça da Rede Globo de televisão, ali por volta de 1986, logo que tivemos o grupo aprovado, eu e meu parceiro Samuka fomos severamente admoestados por uma figura que se dizia do 'Departamento de Pesquisa’ da emissora (ou da novela). A figura, com toda a arrogância deste mundo nos ordenou:

_Vocês vão ter que raspar os cavanhaques!

Ao que, trocando um olhar significativo questionamos:

_ Como assim?

Pesquisadores experientes de cultura negra (a despeito de nossa aparência de pé rapados), acabando de chegar de um intenso trabalho junto á produção de Chico Rei, de Walter Lima Júnior, ouvimos, pasmos, a figura vaticinar, já irritada com o nosso questionamento:

_ Os negros escravos eram imberbes!

Lembrei das dezenas de desenhos de Debret e Rugendas, Thomas Ewbank e tantos outros cronistas europeus, que consultávamos, avidamente, páginas e páginas de desenhos cheios de negros barbudos ou barbados, e tasquei a merecida pilhéria fatal.

_ A Sra. quer dizer então que eles usavam Presto Barba?

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Corte brusco. Fomos afastados - ou nos afastamos- da figuração das novelas da Globo, a bem da reles ordem dramaturgica que professavam – e ainda professam- por lá. Pelo menos neste caso, não podemos reclamar. Enquadrados num daqueles arquétipos citados acima (Negro Revoltado), fomos defenestrados e metemos o pé na estrada da invisibilidade voluntária.

Fazer o que?

Spírito Santo

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Spírito Santo
 

Aviso aos queridos navegantes:

Você comenta este post, é claro, como e se quiser, mas, por favor, gostaria de sugerir que o faça para enriquecê-lo, embasá-lo melhor (se concordar os pontos de vista apresentados).

Se você discorda, em qualquer medida com o que é dito no post, o faça com argumentos claros e objetivos.

Se a sua divergência for assim, total e inconciliável, e os contra argumentos muito numerosos, faça melhor: Escreva o seu próprio post-réplica. O Overmundo vai adorar.

Boa leitura e abs

Valeu galera (desculpe a impertinência aí, valeu?)

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 17/12/2007 13:34
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Spírito Santo
 

Por falçta de espaço, informo aqui que boa parte das informações sobre Orson Welles e seu filme It's all true' foi extraída do site do crítico Amir Labaki

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 18/12/2007 11:01
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Spírito Santo
 

Ou, melhor ainda, neste endereço.

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 18/12/2007 11:05
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Ilhandarilha
 

Ainda estou à espera do festival. Vai sair o take 4?

Ilhandarilha · Vitória, ES 19/12/2007 08:56
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Spírito Santo
 

ILha,

Sabe aquela história da sopa de pedra? O post original era sobre o festival, você tem toda razão, mas, papo vai papo vem e a conversa desandou por outros rumos, induzidos pelos comentários. Falei um pouquinho do festival sim (não reparou ou não foi o suficiente pra você?).
Na verdade, vou logo comentando aqui, o festival em si foi excessivamente marcado (no meu entender) por questões internas do Mov.Negro em relação a falta de acesso às políticas existentes para o fomento do cinema no Brasil (que já é difícil para todo mundo, quanto mais para negros). Por outro lado, no decorrer dos takes dos posts aqui colocados, fui achando que
um papo sobre um festival de cinema negro seria uma discussão um tanto prematura para a maioria do pessoal daqui do Overmundo que, em sua maioria, está ainda em dúvida se há ou não há racismo no Brasil.
Vou ver o andar da carruagem deste take 3, mas, acho que o assunto do festival do Zózimo cabe melhor noutro contexto ou ocasião.

Grande abraço

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 19/12/2007 09:29
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Adroaldo Bauer
 

Belo, novamente, caro Spírito.
E, repito sem pejo, aprendo mais a cada dia.
Vejo pelo texto que o nosso vigor cinematográfico ressurge com sustentação em O. Welles.
Preciso!
Se não o é, que se encontre outra fonte, porque fonte sempre há.
Vi esse documentário num canal fechado dia desses.
As imagens são belíssimas.
A trucagem para superar a carência técnica, uma epopéia!
Mágico, o mestre O. Welles.
Grato pelo texto e contexto.

Adroaldo Bauer · Porto Alegre, RS 19/12/2007 14:44
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Andre Pessego
 

Meu Querido Spirito Santo,
Belo postado, grande esforço. Estou arquivando para ler
mais atentamente.
Estou preparando algo no mesmo sentido sobre o Teatro,
que acompanho mais de perto, até por algumas atuações.
E começa e termina bem,
- Fazer o que?
um abraço, andre.

Andre Pessego · São Paulo, SP 19/12/2007 19:16
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Spírito Santo
 

Grandes pessoas!
Adro,

Tive a sorte de ver o filme do Welles comentado, ao vivo, pelo Walter Lima Júnior (luxo é pouco!). Fiquei vidrado também. Acho que todo brasileiro devia ver.

André,
O teatro vai por este mesmo caminho (ou até pior) . Bom você tocar nesta outra questão.

Abs
Obrigado mais uma vez.

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 19/12/2007 19:53
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Saramar
 

Spirito, cadê a opção de download?
Estou lendo aos pedaços, como os dias atuais me obrigam, que um texto seu não é coisa de se ler de uma mirada só.

beijos

Saramar · Goiânia, GO 19/12/2007 23:40
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Spírito Santo
 

Saramar,

Pois é, no overblog nõa há a opção download, mas, é fácil: É só selecionar o texto (com fptp e tudo, copiar num doc word em branco e salvar.

Valeu pela força sempre presente.

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 20/12/2007 06:20
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silvino
 

Parabéns, mais uma vez, Spírito. É uma pena que daqui a 100 anos
vamos ter alguém escrevendo (quem sabe aqui no overmundo) sobre a invisibilidade do negro brasileiro nas novelas. Talvez listando os 12, talvez menos, estereotipos dos personagens interpretados por negros. Se a gente olhar para o futebol, também vai encontrar muita semelhanças com o que aconteceu no cinema: o famoso pó de arroz que os jogadores negros do Fluminense usavam para enbranquecer, a falta de técnicos negros (assim como no cinema a falta de diretores), o uso da imgaem do Pelé, para se vender a idéia de que não existe racismo no país, etc.

silvino · Reino Unido , WW 20/12/2007 08:09
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FILIPE MAMEDE
 

Spírito, infelizmente não tenho um comentário de grande relevância, visto que meu repertório sobre este assunto é muito rarefeito, vamos, por assim, dizer. De todo modo, tenho acompanhado tua trajetório desde o primeiro take e não poderia deixar de comparecer neste aqui. De resto, só tenho mesmo a dizer que, essa tal 'invibilidade voluntária' vai dar algum resultado. Vamos ter fé...
Um abraço.

FILIPE MAMEDE · Natal, RN 20/12/2007 10:02
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victorvapf
 

Spirito, ^^Um burro calado passa por inteligente^^ porisso nao vou dar minha opiniao, por nao entender do assunto claro! Mas um belo trabalho que merece nossos votos e o o meu ,claro!!!Victovapf ]

victorvapf · Belo Horizonte, MG 20/12/2007 15:53
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Rinaldo Santos Teixeira
 

Spírito, temos um déficit na representação do negro brasileiro, na frente e atrás das câmeras, Robert Stam diz que as obras refletem invariavelmente suas produções, então necessitamos de formação em cinema, com qualidade, para que os negros brasileiros roteirizem, fotografem, dirijam, experimentem, por uma resposta - esse é o mote de meu texto, passe por ele se tiver um tempo. Aliás, o primeiro curta-metragem de Spike Lee, de 1980, chama-se "The Answer", e eu nunca vi, mas o site IMDB diz que é um resposta ao "The Birth of a Nation."

Rinaldo Santos Teixeira · Campo Belo, MG 20/12/2007 20:05
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Spírito Santo
 

Rinaldo,

Pois eu, de minha parte, concordando com você, acho que é mesmo detrás das câmeras que tem morado o perigo, embora, aprofundando a questão não creio que a cor da pele do cineasta (o do câmera man, ou do roteirista) resolva tudo. O tempo inteiro, o que proponho é a assunção do negro 'essência', da alma negra, íntegra, se é que me faço entender.

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 20/12/2007 21:33
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Ize
 

Spirito, interessantíssimo, absolutamente brilhante este TAKE 3. Não vou dizer que estou chegando aqui com atraso considerável pq já tinha lido o texto, mas não tinha tido tempo de ler o link para "Italianos no cinema brasileiro", leitura fundamental para eu me situar no seu postado. Acabo de fazer isso e me surpreendi ao não encontrar no artigo de Galdino referência à presença do negro na filmografia italiana do início do século XX. Entendo perfeitamente o papel dos italianos no incentivo e desenvolvimento do cinema brasileiro, mas não encontrei a tal pista que vc menciona sobre a responsabilidade das colonias italianas cariocas e paulistas na solidariedade do cinema para com a imagem do negro do Brasil, a não ser pela tal fita apreendida.
Donde, cheguei a conclusão, a partir de sua exposição, que apesar da presença do negro no cinema brasileiro não ser nem insipiente, nem insuficiente, ainda estamos muito longe de superar os tais arquétipos citados pelo autor que vc usa como referência (não obstante Lambertini, Botelho e, anos depois Orson Wells) .
Por isso, seu texto é da maior importância. Porque vem chamar a atenção da audência para a invisibilidade da "alma do negro" no cinema ( como no teatro e na televisão, como lembram Silvino e André).
Revendo os comentários sobre Xica da Silva, que recaiam invariavelmente sobre a estupenda nudez de Zezé Mota, entendo melhor ainda seus argumentos.
Mais uma vez Parabéns pela magnífica contribuição.
Enfim, fica aqui uma pergunta, que é mais uma provocação para outro escrito: o que vc quer dizer qdo se refere à necessidade de que a alma negra seja assumida na íntegra? Pq a noção de cultura negra não dá conta de expressar o que vc quer dizer com "essência" negra? (Eu sei, ou melhor, intuo que sei, e preciso muito que vc me coloque a par da diferença)
Um grande abraço


Ize · Rio de Janeiro, RJ 23/12/2007 02:29
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Spírito Santo
 

Ize,

(Mais um dos seus excelentes - e instigantes - comentários que deveriam ser, ampliados e publicados como matérias).

Como pensei que tivesse ficado claro, a solidariedade dos italianos, para mim, reside no fato de eles não terem se valido do racismo de 'casting', suprimindo a imagem de negros em seus filmes (como se faz na TV). Sugiro que a falta deste tipo racismo poderia ter a ver com o certo grau de humanismo portado por estes imigrantes, humanismo este que (não sei se a palavra comporta o conceito que me ocorre aqui) teria inspirado também o neo realismo cinematográfico (aquela coisa da alma anarquista, do socialismo original, etc.

Difícil saber, mas, a julgar pela grande disseminação do racismo entre nós, se os meios de produção de cinema no Brasil estivessem, naqueles primórdios, nas mãos de um outro grupo (brasileiros e norte americanos mais ligados à estética de Hollywood, por exemplo) é de se supor que teríamos muito menos, ou quase nada, da imagem do negro nas telas de nossos cinemas.

É certo, está dito (e concordamos) contudo que, se tivemos, com os italianos, a imagem do negro impressa, quase nada tivemos de sua alma expressa, até hoje.

Sobre a tal 'Alma Ãntegra' imagino confirmar o que você está intuindo:

A experiência de 60 anos sendo diuturnamente negro me ensinou que deveriam ser óbvias , mas, não são. Uma delas é que o racismo, sendo esta doença patológica e perniciosa que é, não poderia deixar de afetar a alma, o íntimo, o modo de ser da vítima. O que conhecemos como cultura negra no Brasil, infelizmente, se baseia em esterótipos absurdos, mistificações das mais grosseiras - muitas vezes criadas até por racistas de carteirinha - são aceitas e adotadas no âmbito sacrossanto desta cultura negra oficial.

Não sei se alguém já definiu, mas, chamo isto de ‘Síndrome do Escravo’, uma espécie de dança consentida, mero entretenimento para alegrar as visitas do Sinhô, como é este Jongo domado que se está difundindo por aí (sobre o Jongo real – sobre o seu sentido-, ancestral, ninguém fala mais)

Para se afirmar diante de uma cultura branca-ocidental suposta ou falsamente pujante e superior forjada para controlar e dominar, construiu-se se no Brasil uma cultura negra épica, fantasiosa, idílica (e não menos suposta ou falsa).

Já falei muito disto por aqui (de ficar rouco até). Este post, mais este e ainda este, são exemplos deste tema que, você tem toda a razão, deveria ser profundamente debatido por nós todos, para que não percamos, irremediavelmente, elementos essenciais à nossa alma brasileira, a nossa Educação, esteios de nossa civilização hoje tão precária.
Será preciso talvez desconstruir quase tudo.

Desperdício e ignorância os males do Brasil são.

Abs,


Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 23/12/2007 10:10
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Pedro Monteiro
 

Spirito!
Fiquei mudo! Lendo teu texto parecia que tinha ficado extasiado!
Parabéns
Um abraço

Pedro Monteiro · São Paulo, SP 21/1/2008 23:09
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Spírito Santo
 

Pedro,
Que bom que você gostou. Agora leia o take 1 e o take 2 e depois me conta o que achou.
Brigadão pela força.
Abs

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 22/1/2008 06:44
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Tacilda Aquino
 

Muito bom.

Tacilda Aquino · Goiânia, GO 29/4/2008 21:40
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Nic NIlson
 

Cara, deixa eu te falar, estou aqui na minha cidade, Campinas SP e hoje fui ao museu do Negro, pois quero fazer um documentario sobre a importancia do negro na formação desta cidade. Sabe o q encontrei? O museu de portas fechadas. A casa sendo alugada e os vizinhos dando graças a Deus, pois era uma negrada naquele pedaço... Olhei p eles, tive vontade de vomitar, de cuspir no rosto deles... Mas virei as costas e me fui.
Agora achei uns livros maravilhosos de um ´professor negro da Unicamp ele ja morreu, ams tem muita coisa boa la, mas estou com medo de nauma rrumar nenhum patrociniio, da TV local naõ comprar a ideia, mas se eu tivesse pelo menos como levantar uma grana, para fazer este documentario, eu nem queria TV, eu queria mesmo era levar de cidade em cidade, nas prças públicas p 2 ou 3 mil pessoas e rir da cara destes bostas.
E vc com roteiros e naum participou do festival ACI- Globo Cine... Viu que quem ganhou foi a coreana KIM, a Gaitha? aqui do overmundo? Da uma olha da no texto dela, monologos. Maravilhosa ideia.
Valeu, grande!

Nic NIlson · Campinas, SP 30/6/2008 23:19
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Spírito Santo
 

Nic,

Com esta sua idéia de pessoa grande pode ir em frente que atrás vem gente. A maré do contra é forte, é dissimulada e pode vir aasim, sutil quando o interesse vem de pessoas como você e bem agressiva com os outros, mais 'escurinhos' como eu, para os quais eles quase vomitam mesmo.
Acho que patrocínio de TV local você não precisa. Deve haver alguém por aí fazendo o mesmo esforço, na mesma direção. Junte-se a eles, bola um plano de ação. Cultura é guerrilha, meu irmão. Qualquer coisa que você quiser, sugestões, referências, conte comigo aqui.
Abs

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 1/7/2008 08:17
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Marcos Pontes
 

O senhor tem autorização do autor para usar essas imagens?

Marcos Pontes · Eunápolis, BA 22/11/2008 19:18
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Spírito Santo
 

Ué?!Claro. Dá uma ralada pesquisando no CC que você confirma. Ah e...senhor está no céu, tá?

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 22/11/2008 19:31
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victorvapf
 

Quando passava ferias no Rio, via uma Boate fechada e de la de dentro eu ouvia um cantar:

"Grande Otelo comeca a beber...ate sexta feira amanhecer,
Grande Otelo comeca a beber, ate sexta feira amanhecer"

A gente ria e ia andando...meu primo dizendo que era assim , toda sexta feira...(desculpe Spirito, sao as lembrancas...)

PS: Pra rimar vale tudo, ate sabado virar sexta, rsrsrsrsrs...

victorvapf · Belo Horizonte, MG 21/5/2009 09:05
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victorvapf
 

Depois, na outra semana fiz de tudo para ve lo, ate que consegui...Grande Cara!!! Faz falta no Brasil...

abracos e parabens

victorvapf · Belo Horizonte, MG 21/5/2009 09:11
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