Visitei ontem a exposição sobre Clarice Lispector, no Centro Cultural Banco do Brasil. Acho válido todo movimento disposto a apresentar ou aprofundar a história de um escritor ou um artista, ainda mais quando tal personagem é involuntariamente envolta em tanto mistério, como Clarice. Como boa parte dos eventos no CCBB, as salas da mostra estavam lotadas, sobretudo de público jovem. O fato de de chover torrencialmente e de ser o último dia – o que era meia verdade, porque soubemos lá que a data final foi prorrogada para o dia 5 - deve ter colaborado um pouco para a lotação.
Mas não foi por causa do pouco espaço e da barulheira que não curti a exposição. E quando digo que não curti falo de coração aberto, pois fui muito disposta a gostar e não sou veemente na posição: o fato de não ter curtido não quer dizer necessariamente que é uma exposição ruim. Mas senti necessidade de escrever e expor minha decepção, até para ver se alguém que tenha gostado contra-argumente de maneira legal e, quem saiba, faça eu ver a coisa com outros olhos.*
Como disse aà em cima, acho toda exposição deste tipo válida. Faz as pessoas saÃrem de casa para respirar literatura num ambiente coletivo; faz as obras ganharem novos significados, interagindo com outros tipos de arte e exposição, faz muita gente voltar pra casa disposto a tirar da prateleira empoeirada aquele livro que sempre quis ler (ou reler) – ou comprar ali embaixo, na livraria. Faz, sobretudo, o acervo que em geral é visto apenas por pesquisadores chegar ao grande público. Pena que neste caso a exposição tenha me soado pouco significativa no que diz respeito à trajetória de Clarice.
Por acaso, este ano fiz um trabalho sobre Clarice. Escrevi uma pequena biografia dela para ser incluÃda num livro sobre mulheres (que ainda vai sair). Por causa disso, li tudo que me passou pela frente sobre a personagem. E sua história é tão impressionante quanto sua obra (em termos de surpresas e solavancos). Fui para a exposição com a trajetória dela ainda fresca na cabeça. Toda exposição é uma releitura, uma versão com liberdades poéticas, caminhos inusitados, instalações com cores, luzes, imagens. Não tem que contar nada linearmente, não precisa se prender ao factual o tempo todo. Pode se dedicar mais aos livros, mais à vida, como quiser. Isso é legal.
Mas daà veio minha decepção. Achei que a mostra não se dedicou bem nem a uma coisa, nem a outra. Quem não conhece a história de Clarice ficou sabendo que coisas esparsas, e só nas últimas salas. Dos livros e seus contextos também pouco se soube - pouco houve sobre eles além de citações. Aliás, as citações transbordam, ocupam boa parte dos espaços. Entendo a opção: Clarice era uma frasista de mão cheia. Reunia palavras com uma densidade que mesmo fora dos romances e dos contos as frases ganham vida e força próprias. Não faltaram pessoas (em geral mulheres) com caderninhos na mão, anotando esta ou aquela frase que tenham soado mais verdadeiras.
Uma exposição de Clarice não poderia deixar de ter frases. Mas acho que não precisava ter sido focada só nelas.
Tem também o vÃdeo. Trata-se da única entrevista de Clarice gravada para a televisão, no Programa Panorama, de 1977 (pouco antes de ela morrer). Mas sem as perguntas do entrevistador. Não sei bem por que fizeram a opção de tirar as perguntas. Não chega a ser gravÃssimo – a "aura" da entrevista está lá, com Clarice meio mal-humorada, se esforçando para dar respostas (ou não), incomodada com a câmera. Mas algumas respostas ficam sem sentido, os desavisados não sabem exatamente o que é aquilo... Melhor mesmo ver a Ãntegra no Youtube.
A impressionante história de seu nascimento, enquanto a famÃlia fugia da Ucrânia para o Brasil, passa despercebida. A infância no Nordeste também. Do incêndio que quase a matou, não vi sinal. A trajetória internacional, como mulher de diplomata, aparece discretamente – numa linha do tempo "com cara de mapa do metrô de Londres", na descrição de um amigo.
É provável que essas informações estivessem de algum modo na última sala, a mais dedicada à vida da escritora. Esta última sala é cheia de gavetas. Idéia boa, ambiente bonito. Dá a noção da "caixinha de surpresas" que era Clarice. Você abre aleatoriamente e encontra documentos, cartas, livros, fotos, objetos. Uma carta de João Cabral de Melo Neto aqui, um original de conto acolá. Mas, sendo o único espaço da exposição efetivamente dedicado à vida dela, acho que no fundo foi mal aproveitado. O acervo está todo lá, mas fica disponÃvel num misto de jogo da memória com quebra-cabeças. Quem não conhece a história dela sai sem saber quase nada, a não ser que tenha tempo de abrir todas as gavetas e capacidade interpretativa para entender todos os contextos. Quem conhece a história sai um tantinho decepcionado por encontrar muito pouco do que esperava ver.
Entendo que esse tipo de exposição não tenha intenção necessariamente de informar, e sim de criar em cima da informação. Se a intenção era apostar mais no lúdico, dar pistas que fizessem o espectador ficar instigado a conhecer mais, também acho que faltou inspiração. Neste ponto, a exposição sobre Guimarães Rosa saiu ganhando. Era mais bonita e tinha mais surpresas - apesar de, a meu ver, informar tão pouco quanto esta.
* Não sei nem dizer se a versão que veio ao Rio é exatamente a mesma da original que ficou em cartaz por meses no Museu da LÃngua Portuguesa, em São Paulo, mas adoraria se o espaço de comentários desse texto ganhasse a opinião de pessoas que tenham ido à exposição e tenham saÃdo com outras impressões.
Salve, querida.
Plenamente de acordo com tudo.
Sobre o último parágrafo: mesmo que a idéia principal seja surpreender, é fundamental dar um chão (apresentado de forma careta ou não) que apresente o personagem. Apesar de ter saÃdo emocionado do CCBB, especialmente por conta daquele vÃdeo e de algumas cartas que li dentro das gavetinhas, senti falta de um lide.
Sensação parecida com a que tive quando vi o filme sobre Cartola (Música para os olhos, de Hilton Lacerda e LÃrio Ferreira). De tão preocupada que a turma ficou com a forma, senti que faltou um arroz-com-feijão, um beabá. Só que, no caso do Cartola, eu conhecia o personagem. Já Clarice...
Beijão.
Ainda não fui à exposição, mas achei muito interessantes e pertinentes as suas impressões. E seria muito bom se as pessoas que a organizaram, lessem o seu texto para se aperfeiçoarem.
Sucesso.
Votado.
Helena,
vi aqui. Concordo, foi uma espécie de festival de frases desconectadas, sem contexto. E se cada frase tem um valor, seria bom que ela viesse depois de uma apresentação da obra. o site do Museu não disponibilizou muita informação. Porém, os monitores foram atenciosos e conheciam bem as obras da Clarice.
Gostei da sua leitura e do texto.
abraço
Fui a exposição e compartilho contigo da mesma opinião.
Achei até confusa visualmente.
Deixou a desejar...
Abçs.
Helena,
acho que a intenção da exposição não é mesmo de informar ou contar uma história, mas de trazer um pouco da Clarice para quem não conhece ou ilustrar / organizar de forma bonita fragmentos dela para quem conhece e admira. também achei a do Guimarães Rosa melhor em termos de diferentes modos de ver, de caminhar, de ler a exposição ou o livro ali exposto. era linda mesmo. acredito que focar em uma só obra, como foi o caso do Guimarães Rosa, enriqueça muito. mas essa não está tão atrás, achei bastante Clarice. talvez bem mais simples. a cenografia dessa é da Daniela Thomas, que é muito boa, não sei quanto à do Guimarães Rosa. gostei mais, no fim das contas, foi do vÃdeo no final mesmo, com o clima informal de sofazinho e máquina de escrever ali ao lado..
quanto à s diferenças em relação à montagem no Museu da LÃngua Portuguesa, em SP, sei de duas: me disseram que em SP as gavetas eram dispostas de um modo um pouco diferente, menos "opressivo" e vc podia acessar as superiores por meio de uma daquelas escadas bonitas de madeira que tem em bilbioteca. a outra é por experiência própria: lá podia fotografar e no CCBB não. (é péssimo, mas essa regra não varia com as expos, mas com os espaços. no MAM também não pode, exatamente para onde foi a do G. M.).
Helena,
Muito legal o teu post. Bacana mesmo. Para mim, que acho que polêmica educa, ressalto a boa surpresa de sua insuspeitada veia crÃtica.
Abs
Você tocou num ponto que acho fundamental em tudo isso: as frases soltas que tanto fascinam as pessoas. Há muita gente que não conhece nada de Clarice, mas cita frases soltas, e, geralmente, fora do contexto querido pela autora fantástica. Não posso dizer nada sobre a exposição, mas agradeço a sua gentileza em nos comunicar de forma tão interessante e crÃtica.
Grande abraço.
Helena, não fui ver a exposição no CCBB. Mas lendo vc aqui, lembrei-me de outra exposição que vi lá, sobre Aleijadinho e o barroco mineiro, na qual senti mais ou menos o que vc descreve aqui. Acho que a espetacularização das exposições modernas gera esse efeito colateral: a informação é apagada pelo espetáculo. Algumas que vi conseguem um equilÃbrio bacana entre informação e apresentação atraente. Outras não. Parece, pelo que vc fala aqui, que é esse o caso da exposição sobre Clarice. O que é realmente uma pena, pois num paÃs em que mais se cita do que se lê, seria muito positivo que uma exposição sobre uma escritora tão importante fosse mais informativa.
abraços
Helena, fez lembrar uma entrevista dela, a pouco tempo do acidente que culminou com uma queimadura. Ela também tava muito estressada. Anda não havia lido sequer uma crônica dela e fui arrebatado, me apaixonei logo de cara com Clarice. Egraçado que a cada uma dessas frases soltas lidas, seguidas das crônicas e de um livro O Diário de Sofia, eu sentia mais vontade de desvendar seus mistérios.
A crÃtica faz parte porque incita o outro ao questionamento. Quem dera toda crÃtica fosse assim, terna e agradável de se ler.
Obrigada pelos comentários e opiniões.
Pepê, fiquei feliz em saber que você saiu emocionado. Sinal de que, de certa forma, a exposição conseguiu cumprir seus objetivos.
CD, que legal que havia monitores aà em SP. Aqui, se havia, eu não vi, porque estava uma certa superlotação. Mas acho que monitores são uma ótima ajuda em qualquer exposição.
Inês, obrigadÃssima por essas informações tão relevantes. Bacana conhecer sua opinião também. Como disse, não sou radical na crÃtica não. Escrevi mesmo no intuito de ouvir opiniões favoráveis e contrabalançar.
SpÃrito, valeu, ando precisando explorar mais (por escrito) minha veia crÃtica...
Juscelino e Ilha, é verdade, acho que a exposição fez sobressair essa questão do uso das frases da Clarice. Será que alguém já fez um estudo sobre isso? Porque não conheço uma autora que seja mais "citada" desta forma que ela... Mas aà tem o contraponto do Sérgio Franck, interessante, mostrando que as frases soltas fazem sim as pessoas buscarem a leitura dos livros dela. Tomara!
Abraços a todos
É, sou pouco simpático a exposições assim de fulano ou beltrano
os expositores sempre conhecem menos que boa parte dos visitantes. E o pouco que conhecem, conhecem por cima dizem
profissionalmente "o suficiente para fazer a exposição",
.Do postado valeu Helena, as tuas colocações acho que levanta interesses em muitos dos que as lerão.
abraço
andre
Oi helena!
Olhe quando as gavetas foram abertas aqui em São Paulo, no Museu da LÃngua Portuguesa.
Putz, Higor! Sabia que estava esquecendo de linkar alguma coisa importante! Aliás, citei teu texto no comentário que fiz lá no Portal Literal - que, por coincidência, está com manchete sobre a exposição. Abraço e obrigada pela lembrança!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 3/10/2008 16:54Vou assistir no youtub, ótimo registro grata.
Claudia Almeida · Niterói, RJ 4/10/2008 10:55
OUTROS OLHOS PARA VER CLARICE
Querida Helena:
Tentei me colocar no seu lugar e percebi o quanto difÃcil foi, para você, não apenas, gostar dela, mas também encarar com olhos crÃticos a exposição e, principalmente, escrever sobre ela. Penso que o fato de você ter-se debruçado sobre a vida e a obra da grande escritora prejudicou a sua fruição da exposição, isto é, que se você tivesse visto a exposição antes de ter -se dedicado a escrever sobre Clarice; não apenas veria com outros olhos a exposição, como esta visita a teria ajudado a escrever o seu texto. Bom. é claro, evidentemente, não vi a exposição (resido, e lá me encontrava) a mais de 3000 km do RJ.
Acho que sua crÃtica poderia se resumir nessa constatação: que pena que os meus olhos e minha mente não estavam preparados para ver uma exposição cujo público alvo é o leigo, sendo que, em relação a Clarice Lispector, não sou mais.
beijos e abraços
do Joca Oeira, o anjoandarilho
helena, faltar o que vc diz que falta na exposição é faltar meia clarice, acho eu. não tive oportunidade de ver a exposição em sampa, não vou ver no rio... seria bom se ela viesse assim mesmo, cheia de faltas, aqui pra floripa.
agradeço especialmente os dois links. vou montar a minha exposição com esses cacos.
abs
Então, Joca... Interessante sua observação. Acho que o que tentei fazer foi me colocar nas duas posições, se isso fosse possÃvel: ver a exposição com olhos de quem já leu a biografia (o que não faz de mim uma expert, diga-se de passagem) e também com olhos de quem sabia pouco sobre ela (e pude debater com meu irmão e meu primo, que estavam nessa situação e me acompanharam na visita). Você fala também de um certo desconforto meu em criticar, talvez. Pode ser. Acho importante e por isso quis deixar minha opinião. Mas tento mesmo tomar todo cuidado do mundo para fazer uma crÃtica respeitando o trabalho de quem pensou e construiu a exposição. E tentando dialogar com quem tenha visto mais do que eu vi na exposição. Talvez, por isso, tenha ficado uma critica acanhada (mas não em cima do muro, acho eu...)
Milu, que legal seu comentário. Acho que complementa bem o texto e o comentário do Joca: seja como for, a exposição é importante sim. Abraços
Cada obra e/ou seu obreiro, é um universo em particular...
São peças e mais peças, de um intrincado labirinto de conectividades e possibilidades históricas.
Acho que, é claro que salvando algumas poucas exceções, todas as amostras de qq personalidade e/ou suas obras, fica sempre a dever...incompleta...por vezes, soa palmar e rasa.
Ainda mais no seu caso, que se dedicou e instruiu-se ao saber mais profÃcuo do objeto em questão...DaÃ, advem os filtros do conehcimento.
Estive na exposição em Sampa. Achei tudo bonito esteticamente mas,razoável quanto ao conteúdo ( não pela "quantia", mas pela condição de coligações de informação), e , com a mesma sensaç~ao~de estar dentro de uma revista eletrônica...e como tal, muito colorido e um tanto superficial.
Sinal dos tempos.
Mas, de toda forma, as iniciativas são louvaveis. Sempre. E pra lá de necessárias.
Como disse acima, outro overmano, depende que quem vá assistir tambem. Do seu grau de acuidade e percepção, né mesmo ?
Belo post, Helena.Preciso, necessario e elucidativo.
abraço cordial
Querida Helena:
Pensando na nossa troca de comentários lembrei do filme "Pegui Sue, seu passado a espera", do genial diretor Francis Ford Copolla, não sei se vc assisti. A Pueggy Sue, no exato dia em que comemoram, ela, seus colegas e, inclusive, o ex-marido, 20 anos de formados, sofre uma espécie de desmaio e volta ao passado sem abdicar da sua vivência ´posterior a ela. Volta a ser adolescente e virgem com toda a experiência de mulher vivida. Pode ser bobagem, aliás até deve, mas comparo a performance dela com a sua ao visitar uma Exposição que foi feita para despertar os olhares ingênuos dos não iniciados. Quero, no entanto, ressaltar, mais uma vez, que partiram de você, da sua honestidade intelectual, todos os elementos que me levaram a concluir desse modo, e isto é muito raro (e precioso), hoje em dia.
beijos e abraços
do Joca Oeiras, o anjo andarilho
Eu "sofri muito" por não ter conseguido ver a exposição no museu da lÃngua portuguesa. Acho que tampouco vou poder ir na do Rio! De maneira que é quase um consolo saber que "nem era tão boa assim". Mas tenho a impressão que eu ficaria emocionada como Pepê e viajaria nas tanto nas frases que não conseguiria ter o distanciamento crÃtico que vc teve.
Parabéns pelo texto. Abç, Flávia
Helena, visitei a exposição ontem, no real útlimo dia. E também senti falta de alguma coisa embora não saiba exatamente do que. O ponto alto são as gavetas, e acredite, eu as abri todas, pelo menos pra dar uma olhada, e me detive em alguns manuscritos mais interessantes, como do Fernando Sabino, João Cabral, as cartas dela para o filho. De fato, entrei conhecendo muito pouco da escritora e saà conhecendo ainda menos, ficou tudo ainda menos claro. Mas acho que é por isso que no fim das contas gostei. Aquela frase do "entender é tão limitado" acaba resumindo meu gosto pela exposição. De brinde, encontrei a curadora da exposição, pessoa muito simples, muito simpática e risonha, que ainda por cima me deu um caderninho de anotações da exposição muito bonito.
Erick Dau · Rio de Janeiro, RJ 6/10/2008 22:35
Oi Joca, valeu! Foi interessante ler os desdobramentos que você pensou a partir da crÃtica.
FlaM, mas que ótimo que as frases te fariam viajar. Definitivamente não quis ser a dona da verdade com essa crÃtica, mas sim mostrar uma forma de ver a exposição.
Erick, que legal teu comentário. Que bom que você abriu todas as gavetas! No dia que eu fui tava tão cheio que nem se quisesse conseguiria.
Lendo seu comentário (e o que o Joe falou acima), pensei que sair conhecendo bem ela é objetivo meio utópico... Todo mistério atribuido a ela não era à toa, era uma pessoa difÃcil de decifrar mesmo. Daà tanto encantamento! Abraços
Não conheço a exposição, portanto, em quase nada poderei interagir contigo em referência ao assunto exposto. No entanto, sua proposta chamou-me a atenção pela temática. Clarice é muito pra mim. Palavras nunca serão suficientes em expressar minhas hipérboles. Mas, grata pela oportunidade desta reflexão.
Um fraternal abraço!
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