Clevelândia do Norte é o lugar de um episódio pouco conhecido da história amapaense e brasileira. Fica localizada no municÃpio de Oiapoque, no Amapá, extremo norte do Brasil. Esta localidade, durante os anos 20 do século passado, foi instituÃda como colônia penal, para onde foram mandados os agitadores polÃticos, de diversos movimentos de caráter "subversivo".
A criação e o funcionamento da Colônia Penal de Clevelândia do Norte é conseqüência direta dos reflexos da conjuntura polÃtica nacional e internacional de repressão ao anarquismo e ao comunismo a partir de meados da década de 20. Essa época no Brasil foi marcada por grandes agitações sociais e culturais, assim como a Semana de Arte Moderna, a fundação do Partido Comunista brasileiro, em 1922, o Movimento Tenentista, as campanhas anarco-sindicais e por aà vai.
Clevelândia do Norte, situada na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa, foi pensada como um núcleo colonial, na perspectiva da ocupação do território, ao norte do Amapá, que até então era território integrado ao Estado do Pará. Clevelândia foi inaugurada oficialmente em 5 de maio de 1922, recebe este nome em homenagem ao presidente dos Estados Unidos, Grover Cleveland.
Em meados de 1924, já no governo de Artur Bernardes, que governou o paÃs sob estado de sÃtio, amontoavam-se sob custódia do governo federal centenas e centenas de presos em navios aportados em ilhas próximas do litoral do Rio de Janeiro: cárceres provisórios. Clevelândia do Norte foi indicado como um dos lugares que melhor serviriam para uma colônia penal: seu total isolamento dentro da floresta virgem, e a provável recusa dos outros estados em aceitar presos polÃticos dentro de seus territórios.
Diante das intensas agitações que desestabilizavam o governo vigente, o presidente Artur Bernardes (1922 ? 1926), que representava os preceitos dos interesses oligárquicos, transformou o que era uma colônia agrÃcola em colônia penal, tornando-a o que passou a ser denominado "Inferno Verde". É a partir de 1924 que os primeiros navios-prisão lotados de prisioneiros começam a chegar em Clevelândia do Norte. Sendo a maioria dos presos anarquistas, tenentes rebelados, e todo tipo de pessoa que fosse considerada perturbador da ordem. Estes foram submetidos a duras condições de sobrevivência, sendo vÃtimas de violência policial, epidemias, trabalhos forçados e fome.
Foram levas sucessivas entre fins de 1924 e meados de 1925. Com os que se evadiram (262 fugas registradas, quase 28% dos presos), surgem denúncias, publicadas à s vezes em outros paÃses, driblando a censura, falando dos obstinados que teimavam em se organizar, como o núcleo de anarquistas, mesmo dentro da colônia penal.
Domingos Passos, Biófilo Panclasta, Antônio Alves da Costa, Antônio Salgado da Cunha, Nicolal Parado, Domingos Brás, Nino Martins e outros nomes de importantes lideres anarco-sindicais foram enviados para o "Inferno Verde".
Segundo Alexandre Samis, no livro 'Clevelêndia: anarquismo, sindicalismo e repressão polÃtica no Brasil', o primeiro anarquista a escapar do "Inferno Verde" foi o pinto e decorador Pedro Aleves Carneiro, em 17 de fevereiro de 1925, rumo a Belém. As fugas se faziam pela Guiana e, especialmente, por Saint George.
Com o fim do governo Artur Bernardes, a censura diminuiu consideravelmente, e aumentam o número de denúncias sobre as deportações.
Tendo sido Clevelândia do Norte palco destes fatos, há quem a considere forte fator de desestruturação dos movimentos anarquista, comunista e tenentista da década de 20. Centenas de prisioneiros polÃticos foram vÃtimas fatais do episódio.
Após a anistia dos presos sobreviventes, o movimento sindical e a efervescência dos movimentos sociais, especialmente o anarco-sindicalismo, não seriam mais os mesmos. A República conseguiu bloquear a resistência popular, prendendo e eliminando seus lÃderes.
Ótimo trabalho e fonte de pesquisa bem rica. Parabens.
Adriano · Macapá, AP 25/3/2007 15:14Valeu Adriano, quero ver mais conhecidos por aqui. Apareça mais. E já vistes uma nota sobre a Samsara???
Carol Assis · São Paulo, SP 26/3/2007 10:09
Grande pesquisa.
Conheço Oiapoque e também Clevelândia do Norte, tenho irmãos que lá residem. O local continua como dantes comandado pelo governo federal, através dos militares do exército.
Parabéns!
Também conheço Oiapoque e Clevelândia do Norte e inclusive participei de várias missões ali mais interno a selva onde funciona um garimpo chamado Vila Brasil que é mais parecido "terra de ninguém " ali fiz várias incursões com a LEGIÃO ESTRANGEIRA onde participamos de missões através selva e fazendo prisões em garimpos ilegais e prostipulos, fiquei sem fala nunca vi coisa igual em lugar nenhum do mundo o que acontece naquele local somente DEUS para proteger cada um que estava ou esta la ainda, por isso o nome de INFERNO VERDE também né além de ser usado como uma prisao em anos anteriores.
Mas contudo foi algo super diferente algo nunca visto , sempre guardarei e lembrarei em toda minha vida.
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