Eu nunca falei alemão na vida. Nem tenho ao menos uma remota origem germânica. Ainda assim, me senti um descendente de alemães durante o penúltimo final de semana de maio, quando estive na simpática cidade de Estrela, localizada a 113 km de Porto Alegre, no chamado Vale do Taquari. O motivo dessa sensação foi o tradicional Festival do Chucrute, já em sua 42ª edição. O evento é uma forma de celebrar a colonização alemã no Rio Grande do Sul, através de danças e comidas tÃpicas, além de competições que remetem a práticas realizadas pelos imigrantes quando aqui chegaram.
Minha participação nos festejos começou na tarde de sábado, no Parque Princesa do Vale, onde uma lona no estilo circense abrigava shows musicais ao mesmo tempo em que premiações de uma gincana eram distribuÃdas no outro canto do local. Acompanhado por um grupo de amigos, fiz um piquenique na grama, numa espécie de prévia da orgia gastronômica que nos esperava à noite. Enquanto a tarde caÃa, fiquei observando o parque e o clima de festa ordeira que reinava. Devo ter dado um sorriso contido, com uma ponta de inveja por não ter nascido em Estrela e crescido naquela tranqüilidade.
Com a barriga ainda cheia com os lanches vespertinos, rumamos pro Ginásio São Cristóvão, no bairro Boa União, onde estava acontecendo o Baile TÃpico do festival. O frio de aproximadamente dez graus na rua logo foi esquecido na entrada do ginásio lotado, cuja sensação térmica era o dobro da exterior, sem dúvida. Na recepção, o brinde do evento logo foi entregue: um copo com o logotipo do festival e dos patrocinadores, que muito seria usado dali pra frente. Uma das primeiras coisas que me chamou a atenção no recinto foram os painéis gigantes nas paredes. Pintados por um artista local, representavam paisagens tipicamente européias, sendo que algumas casas também podem ser vistas de maneira bastante parecida em determinadas ruas de Estrela, através de construções com o estilo enxaimel. Os painéis ficaram realmente bonitos, embelezando a festa.
Quando entramos lá, as danças folclóricas já estavam acontecendo. Por problemas de horário, perdemos a apresentação das crianças, pois ao chegarmos os adolescentes estavam na pista. Uma pena, mas nada que comprometesse o brilho da noite, já que as demais performances foram excelentes. Além da representação de danças seculares de origem germânica, a colonização italiana existente no municÃpio também foi homenageada, bem como outros povos europeus que influenciaram a dança e os costumes dos primeiros habitantes de Estrela e cercanias.
Perto do final das apresentações e já com algumas providenciais horas de intervalo depois do piquenique, parti pra um dos momentos mais esperados da festa: a comilança. Para aqueles não familiarizados com a culinária alemã, a experiência pode ser traumatizante, até. Como não era a minha primeira vez lá, ansiava pelo momento de encher o prato com chucrute – a estrela da noite, convenhamos -, joelho de porco (ou eisbein), lÃngua, cuca e salsicha bock, entre outras delÃcias. É nessa hora que, mais do que nunca, me sinto um genuÃno morador de lá, saboreando aquelas iguarias com toda a disposição. São dois buffets extensos que acumulam filas durante todo o tempo em que a janta é servida, das 20h à s 23h. Como não poderia deixar de ser num evento dessa natureza, a comida é livre, ou seja, enquanto o vivente agüentar, pode se servir à vontade. Me servi duas vezes e só não encarei uma terceira rodada pra me preservar pro momento seguinte do noite, que era o baile propriamente dito. Afinal, dançar com a barriga cheia demais é suicÃdio.
Sob o comando da banda La Montanara, a pista começou a ser invadida pelos presentes. Trenzinhos foram formados por gente de todas as idades, embalados por música alemã. Fiquei de fora nesse momento, esperando a comida baixar e tomando cerveja no copo personalizado que havia ganho na entrada. Mas observar a alegria do pessoal contagia mesmo, e não demorei muito pra entrar na dança ao som de clássicos das bandinhas alemãs e, na seqüência, aos embalos de vaneirão, pagode, sertanejo, axé e tudo mais que o povo gosta.
ImpossÃvel precisar quantas horas fiquei na pista, com algumas pausas humanamente necessárias pra repor as energias (e o copo, claro) e beliscar uns pedaços de cuca com salsicha bock (pode parecer forte demais, mas garanto que desce que é uma beleza). Só sei que a sensação de estar ali foi muito boa, improvisando passos e coreografias num ambiente familiar, caseiro, por mais contraditório que possa parecer vindo de um forasteiro. Mas é a realidade. Recomendo a todos que um dia tiverem a chance de conhecer Estrela que escolham ir pra lá em maio, quando o Festival do Chucrute acontece. Não importa se virão do Norte, do Nordeste, do Centro-Oeste, do Sudeste ou até do exterior. A chance de se sentir um pouquinho descendente germânico é bem grande. E daà pra entrar no clima da festa é um pulo, podem apostar.
hahahhaha
as bochechas das crianças de Estrelas de tanto fazer arte, correr pelo salão e embaixo das mesas. Pestinhas.
muito legal o texto, eguito. fiquei até desconfiada que no fundo, no fundo corre um sanguinho alemão ae. hehehehe
o prato tÃpico tá bonito, mas eu não encaro não! essas fotos são do acervo pessoal de quem? são suas?
Guilherme Mattoso · Niterói, RJ 1/6/2007 09:10EGS, nessa foto 'refeição dos deuses' tem mesmo um pedaço de BOLO aà no meio ou eu tou vendo coisas?
Lia Amancio · Rio de Janeiro, RJ 1/6/2007 15:41
Jousi: brigado, querida! E também acho que tem um pouquinho se sangue alemão nas minhas veias! Heh.
Guilherme: são minhas e de amigos, mas todas tiras com a mesma câmera.
Lia: é cuca. Sem recheio, só a "base", mesmo. Te garanto que é uma delÃcia!
Ah, sim, a Joelma foi num festival do Cuca com Lingüiça.
Fica a pergunta pros meus conterrâneos que por aqui passarem: existe similar no Rio de Janeiro, mas com comidas tÃpicas daqui? Aliás, eu tou aqui pensando... além de comida de boteco, o que é uma comida tÃpica carioca?
Feijoada, Lia!
Die afro-brazilianisches carioca tipisches essen! Eine warm und grosses feijoada mit schwein fleish, wurts und orange, und...
Got sei danke!
A alegria das festas no sul do Brasil sao muito contagiantes, desde oktoberfest ate a marejada, vale apena conferir, o mais interessante sao as palavras alemaes, como chucrute na verdade ja sao abrasileiradas na lingua alemao a palavra seria Sauerkraut.
Zaubermaus · Joinville, SC 2/6/2007 15:08Mas feijoada não seria algo mais... nacional? em Mina Gerais, por exemplo, existem umas feijoadas supimpas!
Lia Amancio · Rio de Janeiro, RJ 2/6/2007 19:04
Eduardo, que saudades senti da comida da minha mãe! Alemã genuina. Essas delÃcias me vieram à lembrança instantaneamente.Não tinha strudel ? Que pena.
Meu caro, acho que ainda vou conhecer ESTRELA e me sentir na casa da minha mâe! hehehe
Pois é, acho que a feijoada está presente em vários estados. Não saberia dizer a origem.
Brigitte, não tinha strudel, infelizmente.
E Estrela é encantadora. Se puder, vá mesmo!
Olá Eduardo; estive em Estrela no mês passado, fui conhecer a cidade natal de meu pai. Realmente eu fiquei surpresso com tudo que vi, alem da hospitalidade local. Gostaria muito de ir na festa do chucrute para esperimentar. Minha famÃla é de lá, não tenho notÃcias deles a famÃlia é Terme, se tiver alguma notÃcia eu agradeço abs...
Eduardo Terme · Rio de Janeiro, RJ 11/4/2008 19:35
Meu caro Eduardo... Belo trabalho... Parabéns...
Airton Engster dos Santos
Estrela-RS
Bah, eggs. Te achei por aqui. Será que tem cmo me tornar amiga no Overmundo?
LuÃsa Alves · Porto Alegre, RS 29/12/2009 12:13Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!