Queridonas,
Aqui vai, como combinado, o relato minucioso do programa. Foi tudo de bom! Sabia que podia esperar coisa animada do baile charme, já tinha entrado no do Bola Preta uma vez, mas acabei saindo cedo, certamente antes da festa esquentar. Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite, ok, mas neste caso a expectativa não causou decepção, como acontece de vez em quando. Muita coisa me surpreendeu!
Engraçado imaginar as pessoas se arrumando pra ir prum programa embaixo de um viaduto, em Madureira ou em qualquer lugar (aliás, era um visual muito do interessante). Mas como disse o meu amigo, “aqui [ali] não tem ninguém que não tenha perdido alguns minutos na frente do espelho”. Gabi, minha primeira reação foi lembrar daquela nossa conversa sobre essas pessoas que mantêm o hábito bem canastra de perguntar sobre qualquer evento: “Tinha gente bonita?”. Como se a condição para qualquer diversão ou bom resultado de uma noite fosse essa (aliás, deve querer dizer que o sujeito se inclui no restrito clube dos belos! Quanta modéstia!). Pois bem, se me perguntassem, eu responderia: há muito tempo não via tanta beleza reunida num só lugar. Uma coooisa!
Claro que vocês podem concluir que meus trajes destoavam um tanto... Além de sermos quase zero quilômetro nos passinhos, eu e meu all-star encardido estávamos muito deslocados naquele mar de plataformas 15 cm. O uniforme feminino ali era calça muuuuuito justa, saia mínima e salto mais alto do que a soma de todos os centímetros que já tentei usar entre o chão e o calcanhar - em toda a minha vida!
Mas não pensem que era todo mundo igual. Longe disso. Cada um no seu estilo, cabelos de todas as formas: os alisados, os black power com os cortes mais loucos e acessórios mil... De encher os olhos. Ah, Anna e Lu, também não remetam essa descrição àqueles clipes que compõem 80% da programação das MTV da vida que a gente comentava, com os caras marrentos, as mulheres meio vulgares e aquele discurso-padrão do tipo “agora que tenho um carrão, você quer me dar”. Ok, muitas das meninas ali podem sonhar em ser a Beyoncé, mas a coisa é muito mais low-profile. Idem para os homens, que abusavam das correntes de prata, blusas de jogador de basquete e das boinas – o verdadeiro must da noite. Algumas mulheres tinham elegância de passista (e deviam ser mesmo). Fiquei imaginando que se desse a louca no DJ e ele botasse um samba-enredo o povo todo ia começar no miudinho sem pestanejar. A galera parecia dançar bem qquer coisa!
Mas as surpresas foram muito além do look. Em relação à trilha sonora, por exemplo. Sei lá, esperava alguma etapa mais retrô. Mas se rolou foi depois de eu ir embora. Ana Fla e Gon, vocês iam gostar: o hip hop é o dono do pedaço!! Neste dia o que rolou a maior parte do tempo foi o gringo (vocês iam gostar meeeesmo), com alguma coisa brasileira nos poucos momentos de show.
No começo, quando ainda tava meio vazio, ficamos impressionados com a garotada mais nova em pé, imóvel, na frente do telão onde passavam aquelas competições americanas de break. Todos pareciam tentar aprender só pelo olho a fazer aqueles malabarismos impossíveis. Eram poucas as pessoas com mais de 40 anos no recinto, o que definitivamente não queria dizer que não fossem animadas. Muito legal de ver. Quando os grupos de passinho começaram a proliferar pelo salão, fiquei choquê! Dançam muito! Tinha a doce ilusão de chegar lá e conseguir acompanhar, aprender na hora. Impossível! Talvez Paulinha, talvez Angela conseguissem, com suas desenvolturas de gogo girls (hehe). Mas a iniciante aqui não quis nem tentar arriscar o mico. Só com aulas de street-dance e/ou muita, mas muuuuita cerveja na cachola.
Por falar em birita, a coisa é bem servida por lá. Latinha a dois “real”, barraquinhas de batida e caipirinha espalhadas. No começo da festa o sono resolveu querer enfeitiçar e então apelamos. Pedimos red bull com vodka (em homenagem a vocês, hahaha). Pra quê...
- Como é nome dessa vodka, moço?
- Zvonka.
- ...
Dúvida cruel, vcs podem imaginar... Vocês já ouviram falar?? Eu nunca. Mas encarei, torcendo para a ressaca não lembrar de mim no dia seguinte. E não fui muito além disso. Deu para reparar que em volta pouquíssima gente bebia. Talvez por grana escassa além da entrada (preço honestíssimo de R$5 pra ômi e R$2 pra mulé), talvez por vontade de só dançar e fazer social mesmo. E por lá a animação não dependia definitivamente do teor alcóolico da galera. Não sei se vocês concordam, mas acho que tá cada vez mais difícil ver gente se divertindo assim “a seco” na noite. Ou será que a gente anda freqüentando os lugares errados? :)
A próxima parada foi na barraca de CDs.
- Quanto é o disco?
- Depende. Os originais são mais caros...
Claro, pq os “genéricos” eram a maioria. Fiquei particularmente curiosa com a coleção Madureira Hip Hop, que já tá no volume 8.
- Essa sou eu que faço. Vejo o que tá tocando de novo no baile e junto tudo no disco.
Yeah. A essa altura, o baile já tava enchendo. O termômetro era o banheiro feminino, onde a fila não era para entrar nem para fazer o que se faz por lá. A mulherada era capaz de esperar uns 10 minutos para dar aquela longa conferida no espelho de corpo inteiro, com direito àquela olhada final para ver se estava tudo ok no “back”.
Na pista, já dava para eleger o glamouroso rei da noite, carinhosamente apelidado de Michael por nós. Ele até destoava no style, não tava com roupa de jogador de basquete nem tinha porte de segurança. Mas qdo começava a dançar logo vinha o povo atrás imitando os passinhos. No decorrer da noite, vimos Michael comandando grupos de 5, 10, 50 pessoas. The king.
Mas nem todo mundo ficava refém dos passinhos. Tinha uma galera mais perto do palco que era o glamoooooooour, como você gosta de dizer, Ana Fla. Além de estonteantes, dançavam muito. A impressão que dava é que em cada rodinha tinha um dançarino nato, que às vezes começava a performance sozinho mesmo, enquanto os outros continuavam no papo.
Lá pras 4 da manhã, com a festa realmente pegando fogo, resolvemos partir. Da próxima vez, já sabemos: a boa é chegar mais tarde e ficar até o dia clarear. No carro (contei, né, que filei a carona de um amigo repórter), contávamos nossas impressões pro motorista do jornal, que é O local dos bailes. Ele só sorria e dizia: “Gostaram? Então vocês têm que ver como fica a rua do Teatro Rival na última sexta-feira do mês. Vocês iam ficar loucos no Bola Preta também. Quem vem aqui, vai lá.”
Agora eu pergunto: por que afinal de contas NUNCA fomos nesses lugares? Anna, já planejamos tanto... Nesses casos não tem a desculpa de ser longe, sempre falamos disso e acabamos adiando!... Então esse longo email foi para isso: para dar água na boca e funcionar como intimação. PRA-SEMANA, TIREM A POEIRA DAQUELE SAPATO DE SALTO QUE VOCÊS NÃO USAM DESDE O ÚLTIMO CASAMENTO E PRONTO: TODO MUNDO NO BOLA PRETA!!!
Beijocas animadas em todas!!!!
Helena
Nossa, que saudade do Bola Preta e do charme do viaduto! Eu pensei q tinha acabado, pq ha um tempo atras era no Imperio. Tipo, faz por mim um documentario sobre isso, Helena. Esse baile eh mesmo da pesada!
Roberto Maxwell · Japão , WW 18/8/2006 01:30Que bom que o texto te trouxe boas lembranças. O problema de fazer um documentário é que minha intimidade com a câmera de vídeo é ainda mais rala que a que tenho com salto alto! Mas que é uma boa idéia, é. Tomara que alguém se empolgue!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 21/8/2006 19:59
Qual a diferença entre o charme e o funk , um anda bonito e outro elegante !!!!
Ainda rola na Abolição ???
Soulvenirs !!!!
Oi Duda, não sei do da Abolição. Deve rolar, vou procurar saber. O de Madureira tem 16 anos! Abraço!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 23/8/2006 12:27Helena sempre charm-osa, né?
Bernardo Mortimer - www.sobremusica.com.br · Rio de Janeiro, RJ 27/8/2006 22:32
Oi Helena !
Eu estive conferindo o baile na rua do Rival na última sexta, excelente movimento, infelizmente tive que sair cedo, mas gostei muito , esse eu não sabia que estava rolando, valeu pelo dica.
muito bom, Helena!
só pra avisar: o Bola Preta tem sérios problemas financeiros, e já foi a leilão uma vez recentemente (não houve lances, por isso ainda não foi vendido).
é bom aproveitar enquanto está rolando, porque sabe-se lá até quando vai, infelizmente...
Valeu pelos comentários de todos :)
Duda, que ótimo que meu texto te animou a ir lá, então valeu mto a pena ter escrito! Tava louca pra ir, não deu. Mas minha convocação deu certo e minhas amigas ficaram empolgadíssimas para ir no Bola na quinta. Foi excelente também, apesar de bem diferente do climão de Madureira. Na próxima que tiver na rua do Rival eu vou!
Felipe, pode crer, eu tinha ouvido falar nisso... E pior que é dificílimo encontrar informação sobre isso na internet. Caramba, aquilo ali é uma instituição da cidade, não podia fechar, né?! Vou tentar investigar e se for o caso posto alguma coisa aqui. Inté!
Nunca fui, mas fiquei curioso demais com a sua descrição! massa!
abraço
De longe. Aqui da Amazônia, lendo tua narração passou um filme imaginativo na minha cabeça. Muito legal mesmo. A versão paraense disso tudo, é a festa das aparelhagens. Procure saber o que é Tupinambá, Rubi, o brega melody, o tecnobrega e etc. A Regina Casé sabe. Mas eu gosto mesmo é do "Arrastão do Pavulagem", é parecido com o carnaval de Olinda-Pe, só que é na base de toadas de boi bumbá. Fui num em Belém que arrastou 20 mil na maior paz. Parabéns.
Arlindo Matos · Ourém, PA 4/7/2007 07:06Que bacana, Arlindo! Claro que já ouvi falar muito nas festas de aparelhagem. Aliás, elas mereciam aparecer mais aqui pelo Overmundo. Tenho uma curiosidade imensa em ver, quem sabe um dia... O Baile Charm de Madureira foi uma experiência inesquecível, planejo voltar em breve. Viva para todas as festas espontâneas do país! :)
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 4/7/2007 17:37pessoal existe um curta do delano valentim sobre o charm, chama-se "hoje é dia de baile" deem uma olhada! bjs
Mariana Mansur · Rio de Janeiro, RJ 1/8/2007 12:11Oi Mariana, valeu pelo toque. Vi lá, mas ali é só o trailer, certo? Bem legal, vou até dar um toque no Maxwell, que foi o primeiro a comentar aqui justamente sobre filme. Bj!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 1/8/2007 12:57
o viaduto é um clássico absoluto!
deveria fazer parte do calendário turistico da cidade, ou algo que o valha.
Ao menos os b.boys e dançarinos gringos que pousam por aqui e dão a sorte de esbarrar com quem tá ligado acambam dando um rolezinho no viaduto e, claro, pirando!
Mais pro centro da cidade, geralmente rola ali na gafieira elite (central do brasil), uma festa ótima. A soul baby soul é pura classe.
Você tem toda a razão, João. Aliás, tanta coisa que deveria fazer parte do calendário...
Poxa, que coincidência, QUASE fui nesta festa que você cita neste fim de semana. Foi por pouco... Não sabia que era na Elite. Maravilha! Abração
Oi Helena, fico amarrado nos seus textos...abracos vapf
victorvapf · Belo Horizonte, MG 11/9/2007 19:24Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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