Maju Duarte
Os dizeres de Guimarães Rosa, "Minas há pelos menos várias", servem como bússola para os visitantes brasilienses. Logo na entrada da galeria Acervo da Caixa, a imagem de uma mulher muito simples, ao lado de um forno à lenha, vendo a chaleira fumegando, convida o público a entrar na exposição para "tomar um cafezinho" e prosear sobre arte. A foto é de Rui Faquini, novo diretor do Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul). O nome da foto "Grandes Sertões Veredas", uma homenagem àquele que ciceroneou o visitante nas primeiras frases do texto.
Sobre a feitura das obras, que vão desde pinturas sacras ao modernismo de artistas mineiros residentes em Brasília, a exposição "Uai", em cartaz desde o dia 14 de março, tem como fio condutor a paixão por Minas, independentemente da temática escolhida pelo artista. Para o curador Nando Cosac, goiano na certidão de nascimento e mineiro de coração, a primeira resposta à diretora cultural da Caixa, Sônia Schuitek, sobre o convite para a curadoria foi: "Ô trem bão, uai". O tempo foi curto, apenas 20 dias, para organizar a exposição, selecionar obras de artistas contemporâneos e outras do próprio acervo da Caixa que pudessem levar o público a compreender a arte mineira.
A proposta é oferecer um passeio por temas como: Inconfidência Mineira , Casa Mineira, Arte Moderna, Arte Sacra e Popular, e os Modernos, parte que cabe aos artistas mineiros convidados para expor seus trabalhos mais recentes. São telas, instalações, esculturas, gravuras, desenhos, peças de arte popular, objetos, painéis fotográficos, imagens sacras e vídeos que retratam a cultura do Estado das Artes. "Tentei fazer com que cada um (dos temas) falasse com o outro dentro da linguagem das artes plásticas", explica Cosac.
Alberto Guingard, Carlos Scliar, Yara Tupinambá, Aldemir Martins, Di Cavalcanti, Farnese de Andrade, Inimá de Paula, Said Santiago, Amilcar de Castro, Valeria Penna Costa, entre outros artistas, têm suas obras expostas em "Uai". Um dos destaques da exposição é o vídeo "Ataíde, Sua Obra, Seu Tempo", de Maria Coelli Almeida, sobre o artista do século 18, que imprimiu sua marca na arte barroca de Minas e ficou conhecido como o pintor das obras de Aleijadinho.
Além da arte barroca, outra inspiração para os artistas convidados é a curva acentuada das montanhas que marcam a paisagem de Minas. Darlan Rosa, artista mineiro de Coromandéu, explica que sua obra, uma esfera de alumínio, em que curvas e distorções se encontram iluminadas por uma luz azul, poderia representar as montanhas de Minas.
Outro artista mineiro que adotou Brasília como segundo lar, Omar Franco, também atribui a suas instalações uma forte referência à topografia do estado de Minas. Suas peças compõem o acervo da Caixa e podem ser vistas flutuando no espelho d'água que circunda o edifício sede, além de outras que podem ser vistas no jardim do Espaço Cultural do mesmo.
Há 36 anos em Brasília, Omar Franco é um dos artistas que mais possui obras espalhadas pela cidade: 40 no total. "Minas está presente na carteira de identidade, mas faço uma leitura com minha cidade que é Brasília. A arquitetura de Brasília, oposta ao barroco, é limpa. Por isso, presto uma homenagem à capital que é curva, plana e delicada ao mesmo tempo, sem esquecer da influência que tenho de Minas, especialmente Ouro Preto", assim descreve seu trabalho.
Na galeria do Acervo ou no jardim de esculturas da Caixa, outro trabalho que chama atenção do público tem assinatura do artista plástico e estudioso da arte Musiva no país, Gougon. O mosaico feito pelo artista homenageia Israel Pinheiro, 1º presidente da Novacap, convidado por JK para construção da capital, é também um dos pioneiros da indústria siderúrgica do país. Gougon explica que "não fosse a vontade de ferro deste homem, a construção de Brasília provavelmente seria adiada".
Com a inauguração da nova capital do país, em 21 de abril de 1960, Israel Pinheiro foi nomeado prefeito da cidade de Brasília, cargo que exerceu até 31 de janeiro de 1961. Em 1965, foi eleito governador de Minas Gerais, encerrando seu mandato em 1971. Considerado pelo povo mineiro um grande feitor, a obra dedicada a esse engenheiro mineiro de Caeté vigia com olhos de pedra, em busto envolto por minérios de ferro em hematita boleada e especularita, a riqueza da arte mineira.
"Mineiro não dá ponto sem nó. Não conversa, confabula. Não combina, conspira. Não se vinga... Ser mineiro é dizer UAI, é ser diferente, e ter marca registrada, é ter história" (Fernando Sabino). A exposição fica em cartaz até 10 de junho, de terça a domingo, das 9 às 21 horas, no Espaço Cultural da Caixa (Setor Bancário Sul). Entrada franca.
Muito bacana. A mineiridade é algo que nós só sentimos quando, sem perceber, estamos com um pé de prosa na soleira da porta, pitando um cigarrim de paia. Já conheceu Diamantina?
zepereiranoticias.blogspot.com · Belo Horizonte, MG 13/4/2007 17:24
Valeu, Felipe!
Foi minha primeira colaboração no site e confesso que falar dessa "mineiridade", que vc tão bem descreveu, foi começar com o pé direito. Pernambucana e brasiliense de coração tb tem Minas como um segundo lar.
abraço
Muito bom viu Maju. Falou sobre tudo, só esqueceu do pão de queijo (risos). Abraço.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 19/4/2007 14:49Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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