CRÔNICA DOS BELOS TEMPOS "Em todo os tempos os homens lutaram pela igualdade, liberdade e fraternidade. Hoje estas palavras estão inscritas nas fachadas de todos os prédios públicos mas acabaram perdendo o sentido." ROSSELLINI (in JORNAL DO BRASIL - RJ, 1977)
Considerando que meus pais -- neste (fim de) ano da graça de 2004 -- com 87 e 91 verões estão vivos e bem, posso calcular que já passei do que seria (ou será?) a metade de minha modesta existência... e continuo não gostando nada do período natalino. Quando trabalhava, jovem ainda, em butiques e grandes magazines cariocas, eu o detestava ainda mais.
Lembro-me de uma passagem engraçada com referência à Ceia de Natal, esbanjamento absurdo e espantoso de alimentos e bom-senso. Um grupo de quase 15 rapazes trabalhava em 2 sapatarias, na Galeria Menescal, a mais antiga de Copacabana. Os irmãos-proprietários vivam às turras e uma das "diferenças" era com relação à hora de liberar os empregados na véspera do Natal.
O pequeno e raquítico "seu" Alberto queria dispensar mais cedo, enquanto o balofo "seu" Luís Carlos segurava o pessoal até o último freguês. Nós, doidos para ir para casa, atendíamos os retardatários com visível mau-humor, "fuzilando" compradores e acompanhantes com olhares furibundos, pouco se importando com as comissões.
No meu primeiro Natal na loja "Só Crianças" sucedeu o inusitado: devido ao adiantado da hora, mais de 9 da noite, "seu" Luís decidiu promover uma ceia de Natal no restaurante de um amigo, na própria Galeria. Felizes como passarinhos nos abancamos na série de mesas ajuntadas e esperamos os "comes & bebes".
Bandejas abarrotadas pousaram solenes para nos dar um susto inesquecível: ao invés de churrasco e arroz à grega, nos desafiava os estômagos ocos uns pastéis enormes sem nada dentro, bolinhos de carne (quase) crua, bolos esquisitos lambuzados de mel e um bocado de "comidas" árabes que nunca vimos. Foi o maior desperdício de alimentos que o restaurante viveu pois, aliando protesto à decepção, o grupo inteiro debandou.
De minha vivência no Morro onde nasci não me lembro de uma só ceia, nem de visita aos barracos vizinhos e, considerando que nossa vida lá não era um mar de rosas, acho ótimo que a memória me falhe agora. Restam-me os dias de infância passados na casa dos tios, em Rio Negro/PR, em meio aos gritos dos fãs da Jovem Guarda e dos londrinos "Reis do yê-yê-yê" enquanto Jânio distribuía Brasil afora a cobiçada vassourinha dourada (um broche) com que varreira as mazelas & problemas da Pátria amada e idolatrada. Belos tempos aqueles !
O enorme presépio que ocupava boa parte da sala começava a ser montado nos primeiros dias de dezembro. Parece-me que tinha que estar pronto dia 6, sem falta. E tudo iniciava com um longo piquenique aos banhados próximos ao cemitério, num local de mata virgem denominado "potreiro". Com bambus retirávamos as "barbas de pau" das velhas árvores e, 3 ou 4 horas depois, voltávamos felizes, tendo deslizado de "trenó" pelos morros de grama lisa.
Tia Anita já estava às voltas com caixas enormes, retirando dezenas de estatuetas enroladas em jornais, além de bolas, estrelas, guirlandas prateadas e lâmpadas multicores. Vez ou outra uma bola espatifava-se no assoalho, com o desastrado sendo brindado com um longo assobio de desgosto e o olhar condenatório da mais beata das moradoras da Rua Benjamim Constant. Quase uma engenheira, dona Anita construía a "cidadezinha" em 2 tempos, prática adquirida ao longo dos anos. Tio Nato conseguira um motorzinho de aquário que tornava o nosso presépio especial. O único da cidade a ter "cachoeira" e um monjolinho, com roda d'água e tudo, inclusive um "laguinho".
Descia-se um papel grosso desde o teto, pregado ou colado à parede em vários trechos, "enrugado" para parecer pedreira. Disfarçava-se com "barba de pau" e folhas verdes, pintando até, se fosse preciso. Areia e seixos, pedras lisas dos rios, tudo o que transformasse o presépio em paisagem natural. A imagem do Menino-Deus era a derradeira, introduzida com solenidade e respeito em noite de orações e festa, com salgadinhos e alegria genuinamente natalina. Mas, no fundo -- no Passado distante ou nesse exato momento -- quase todos só pensam em si mesmos, nos presentes que ganharão, nas roupas que hão de comprar, no que vão comer e beber antes & depois da Santa Ceia. O Natal exacerba vaidades e um triste egoísmo. Ainda não conheci uma só casa que se preocupasse em diminuir a fome e a precisão alheias.
Eu e meu irmão gêmeo "torcíamos o nariz" para os natais passados com os tios, sem sequer a presença de nosso "sumido" pai. Trabalhando em afazeres diversos boa parte do ano, os presentes do Papai Noel soavam como mera paga por serviços prestados. Daí o mal-estar que nos afligia. Num dos primeiros natais contrataram exímio "faquista" para dar cabo de um porcalhão (?!), imenso exemplar da espécie, com voz de Rita Pavone e pulmões de mergulhador profissional.
-- Afastem as crianças daqui... com essas "pestes" por perto o porco não morre !
-- Qual o quê, amigo! Imagine se com um facão desses o bicho "não bate as botas"?! I sso é superstição boba!
Ficamos... lacrimejantes e morrendo de pena do "bichinho", amarrado e amordaçado. Quatro certeiras facadas e nada. Mais homens para segurar a fera, outras duas lançadas e o monstro resistindo. Morreu na sétima estocada, mais furado que calça de estudante. Abancado numa mesa improvisada, o banho de água fervente para começar a depilação do bruto. Eis que de repente o animal esperneia aos berros, ventre aberto, sangue por todos os lados... ninguém ficou por perto, debandando como ratos pelos cantos da casa.
A Vida passa como um trem e nós, passageiros dela, gravamos na retina imagens indeléveis de muito do que vemos (e vivemos). Pessoas, fatos, coisas, vozes e sons... mas os momentos de Natal dentro de uma família estável, quando a situação de todos ainda permite sorrisos, é uma rara ocasião de felicidade que sempre merecerá ser lembrada. Só por isso a época já vale! E essa reunião de homens e mulheres de boa vontade ainda justifica crença na Humanidade e fé no futuro.
"Já nasceu o Menino-Deus...vinde, cantemos, oh pastores! Celebremos os louvores!"
"NATO" AZEVEDO
(ANANINDEUA, Pará, dez./2004)
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EXÉRCITO DA SALVAÇÃO
Quando se vai envelhecendo dizem que a lembrança de fatos & coisas do passado se torna mais viva e presente no que resta de nossos dias.
E, como diria a canção, "um dia a mais, quem sabe pode ser um dia a menos" no meu caso, que já vivi 55 outubros sem ter muito do que reclamar. Como minha memória anda mais ativa do que nunca, acho que estou ficando velho.
Toda minha infância e juventude foi passada, sem intervalos, entre internatos variados e casa alheias. O barraco num morro de Copacabana -- onde nasci e no qual vivi até os 6 ou 7 anos -- só voltou a ver meus ossos aos 15 anos e pouco, quando tornei a ter família, mãe e dois irmãos meio desconhecidos.
Mas, pulemos essa parte, que esta crônica não tem a intenção de servir de muro de lamentações. Embora carioca, se eu tivesse um pouco do hiper-ufanismo de paraenses, baianos e (porque não ?!) de gaúchos elegeria Rio Negro, no extremo sul do Paraná, como "minha" terra.
Na cidadezinha (à época, 1959 ou 60) com imenso rio de águas marrons e belas pontes de ferro nadei, fiz "caçadas" de coisa nenhuma, roubei uvas no potreiro de um idoso que morava longe de tudo, capturei dezenas de vagalumes que ficavam em potes de vidro até a morte por asfixia e fiz tudo o que qualquer menino (guri ou piá, como se dizia) do interior faria.
Nas férias, quando meu irmão gêmeo e eu não estávamos em algum colégio interno, passávamos os dias na casa dos tios, trabalhando um bocado nos afazeres domésticos para compensar as despesas. Comíamos como esfomeados, nas primeiras semanas "demos fim" na adorada coleção de compotas de pepinos, pêssegos e maçãs da tia Anita -- depois trancada a sete chaves no armário da dispensa -- e devorávamos colheradas de banha de porco, de uso muito comum naqueles belos tempos.
Bem, estas mal traçadas linhas têm por objetivo falar da principal figura da casa, 1,90m de massa e energia conduzindo uma enorme cabeça já com alguns cabelos brancos. Era impossível ignorar aquele caixeiro-viajante -- espécie de "prestação" nos dias atuais, mas que só portava um mostruário -- quando êle estava em casa.
O "golias" CINCINATO Figueiredo, de quem herdei o esdrúxulo nome -- que passou para um dos meus sobrinhos (e espero que pare por aí!) -- virava a casa do avesso nos poucos dias em que lá ficava. Adorava um "buraco" ou canastra, não passava sem cerveja e fumava como uma locomotiva.
Entretanto, era na cozinha que mostrava todo seu talento. De tudo êle entendia um pouco: de assados a ensopados, de beringelas fritas a uma suculenta macarronada. Tempêros perfeitos, comida no ponto, feijoada engrossada no liquidificador, com uma pitada de maizena.
Eu mantinha o fogão a lenha no máximo, as 4 bocas cuspindo fogo, com as paredes de madeira da casa "suando" no calor infernal. Tio Nato, como nós o chamávamos, só não fazia pão, especialidade da beata esposa, a qual nunca vi chamá-lo por outra coisa que não fosse "meu velho".
A cada almôço ou jantar a casa jamais tinha menos que 6 ou 7 pessoas à mesa, o mais velho puxando oração de agradecimento "pelo alimento que vamos receber". Com as travessas postas na mesa, tio Nato não dispensava a chance... abria a bocarra e estrondava o bordão costumeiro, o som da voz a estremecer paredes:
-- Exército da Salvação... a "gororoba" está na mesa !, enquanto nós e o primo Osmar (o "reizinho" da família) avançávamos até as cadeiras. Às vezes, outros primos que moravam mais adiante também se apresentavam.
O "seu" Nato era pessoa absolutamente tranquila, cordata e delicada, exceto quando jogava baralho. Daí, virava um leão enjaulado. Já entrava no jôgo excitado, nervoso, falando alto e fumando desbragadamente. Em época em que 8 da noite "era hora de guri estar na cama" -- víamos "O Sheik de Agadir" ou "A Ponte dos Suspiros" pelas frestas da parede, porque criança não podia ver novela -- o tal jôgo de baralho ía até quase meia-noite.
Tio Nato era um excelente jogador e, exímio com o lápis, incumbia-se de anotar as intermináveis contas do "buraco" ou canastra... que até hoje não sei se são a mesma coisa. Sempre errava a seu favor, detestava "gente de saia" como parceiro e deixava tia "Nica" (como êle carinhosamente a tratava) uma "arara" com seu costume de levantar a ponta da carta de baixo para ver o naipe dela e quem a pegava. Dona Anita enchia os pulmões, dava um longo assobio sob o discreto "bigodinho" e disparava a metralhadora:
-- Meu velho, assim não é possível... você está rrrrrrrroubando !
Tio Nato parecia um castor encurralado! Com os 4 dentões de baixo a morder com força o lábio superior, a mãozarra batia forte na mesa fazendo tilintar os copos:
-- Vocês, mulheres, não são de nada! Só prestam para cuidar da casa... baralho é coisa de homem!, e perguntava aos demais convidados, bastante constrangidos, se tinham visto algo errado. Os parceiros eram quase sempre os mesmos: as vizinhas meio japonesas, filhas da dona Nadir, meu sisudo tio José, o comerciante José Comte -- que fornecia o café e as cervejas -- e quem mais estivesse pelas redondezas.
Rio Negro está cravado em meu coração como aquelas flechas de filme de índio americano e a imagem de meus queridos tios resplandece no quarto escuro, em longas noites, insone. Se, hoje, escrever é um dos meus raros prazeres entre tantos dissabores, devo isso à minha tia Anita (nascida Ana), primeira incentivadora (e leitora) de meus versos.
Felizmente saí da cidade antes que estes e outros entes queridos -- como o enjeitado (alcoólatra ?!) primo Joãozinho -- virassem lápide no cemitério local. Não tive o desgôsto de vê-los hirtos e frios num caixão, tão mortos quanto as flores que os enfeitaram.
Guardo deles as melhores recordações, vivos e sãos a meu lado. Ainda garoto, buscaram-me no colégio interno para ver minha avó paterna num esquife na sala, surpresa macabra ocultada durante toda a longa viagem. Desmaiei no instante em que a vi e acordei na cozinha, cercado de biscoitos e curiosos.
Que me perdoe quem está me lendo, mas considero cemitérios um equívoco, pois deveríamos recordar os que se foram VIVOS em nossas lembranças e não como pó ou cinzas.
Antes de partir "desta para a melhor" espero retornar à cidade de Rio Negro, onde deixei meu coração e quase toda a felicidade de minha solitária existência. Ao menos para rever com emoção os verdes campos do lugar", no dizer do poeta, embora já não haja trens e nem sequer Estação.
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OBS: publicado em LETRAS CONTEMPORÂNEAS nª 6, da IGAÇABA Produções Culturais, de Roque Gonzales, RS/2003
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A seguir, trecho dos "rabiscos" iniciais (o 3º no caderno) tendo como tema RIO NEGRO, escrito em 15-12-1967, para as festas de natal:
SAUDADE E SOLIDÃO I
Numa pacata cidade
a infância toda passei.
Anos de felicidade
aqueles em que lá morei.
III
Nestes dias tórridos, quentes,
para aí minha mente voa.
Co'a lembrança de meus parentes
meu coração mais forte soa.
IV
Muito, agora, me enlouquece
este "Rio" de maldades...
Relembro quem não me esquece
e, deles, tenho saudades.
V
Aos queridos tios, parentes...
à êles e a tod'os presentes
desejo "Paz e Felicidade".
VI
Sinto o coração doente
por saber: vocês contentes...
e eu não estar nesta Cidade !
NATO, sua crônica é quase tão linda qto vc lá na foto (dessa vez não tem o gêmeo?). A Galeria Menescal sobreviveu aos modernos shoppings e continua lá, imune ao tempo. Como ela foi um dos primeiros templos de consumo que maravilhava os adolescentes, claro que andei muito por lá, inclusive em uma das sapatarias que vc fala (que deve ser a que fica extamente à frente da galeria, dando para a avenida NSa Senhora de Copacabana). Como o mundo é pequeno, meu Deus. Como temos praticamente a mesma idade, é possível que tenhamos nos esbarrado por lá. O restaurante árabe tb existe e, contrariamente ao desgosto que as comidas típicas deram ao seu estômago, adoro os quibes, as esfirras, os caftans, e tudo mais, que devoro todas as vezes que vou ao médico que é justamente lá. No entanto, concordo com vc sobre o mal estar que o Natal me causa, depois que passou a ser uma festa de exaltação ao consumo desmesurado (vc sabia que aqui no Rio as comemorações natalinas já começaram? Qualquer hora dessas o Natal vai começar em julho). Tb sinto saudades do presépio da casa de minha vó e do sentido humano e cristão que a festa, que reunia nossa grande família, tinha. Mas pressinto que o "meu" presépio não chegava aos pés do "seu". A história da casa de seus tios é simplesmente o máximo. Graças a Deus nunca assisti a nenhum porco sendo estripado daquele jeito horroroso. Na casa de minha ex-sogra, que tinha um sítio em Jacarepaguá, tb se costumava matar leitoezinhos nos dias de festa. Mas a coisa era mais civilizada rsrsrsrsr Vc fez mto bem de guardar viva a imagem de seus tios Nato e Anita. DE cemitério até que eu gosto, mas defunto, ainda mais qdo é conhecido e querido, não me atrái. O primeiro que vi tb foi minha avó paterna que eu adorava. Mas já era uma moça casada, embora só com 18 anos.
Como vc ainda é um garoto, tem muito tempo pra vc voltar a sua cidadezinha querida.
Os versos, ah seus versos Nato. Vc é demais, sabia?
Bjs
da Ize
Meu querido Nato,
que, como eu já disse um dia num trocadilho infame, é escritor nato, sua Crônica dos Belos Tempos é um retrato sem retoques de uma vida fantástica que - como também já disse - muito se parece com a minha. Aqui me encontrei de novo com coisas comuns como os banhos de rio, a matança de porcos, os natais tristes ou alegres, mas inesquecíveis, as caçadas, as lanternas de vaga-lumes - tudo isso eu vivenciei, só que em Santa Filomena, uma pequeníssima cidade do sul do Piauí.
...continuando (pois enviei o comentário por engano):
Essa matéria-prima nos torna de certa forma "primos", se não de sangue, ao menos de experiências. Os tios marcantes, os primeiros versos, a sensação de solidão - tudo isso marcou também minha alma e me faz agora me identificar tanto com seu texto que - quero ressaltar - é um dos mais belos que li aqui no Over. Obrigado por escrevê-lo. E parabéns mais uma vez.
Um fraterno abraço.
IZE, amoreco... V. não sabe da missa a metade. Só aí/lá na Galeria Menescal trabalhei em 3 ou 4 boutiques, dentre os meus quase QUARENTA empregos/trabalhos em menos de 15 anos de labuta.
Na Galeria também trabalhou minha mãe, por exatos VINTE E DOIS ANOS na mesma mansão, cuidando dos "Campos de Mel" (leia-se Campos de Mello), tradicional familia mineira, podre de rica.
Ainda lá, tentei que fizessem uma Declaração referente aos anos em que trabalhara. Negaram-se... com receio de que o INSS fosse cobrar o depósito de tanto tempo sem quitar os impostos. Dona Apolônia viveria mais 36 anos sem que NINGUÉM conseguisse aposentá-la, mesmo aqui no Pará, onde "isso é tão fácil".
Mas, trabalhei também aí na LÚCIA MODAS, cuja dona parecia uma maluca, um cabelão enorme puxado para cima e para trás. Era uma polonesa de quase 1,90m, olhos rajados, pele vermelha... um espanto! Fiquei pouco tempo lá -- como de praxe, aliás -- e fui para uma sua concorrente, a "Lelé da Cuca", na frente da Galeria.
NATAL NO MORRO ? Não me lembro... nem sequer de Ano´Novo, fogos, essas coisas. Minha mãe insistia numa Ceia de Natal com castanha portuguesa, passas, uvas verdes e um horrendo vinho CIDRA CERESER, que devia ser tomado quente, já que não tínhamos geladeira. A velha tomava sozinha... a família é de teimosos crônicos e ninguém jamais cede em coisa alguma.
Mas, "não saia do canal", ainda faltam as fotos e outros comentários importantes. Abs,
Meu querido "primo" NIVALDO... desse Estado "que não existe"! (Foi um Ministro que disse isso, não é?!) Todo elogio vindo de ti me é uma grande honra, pois acho sem bajulação que escreves melhor do que eu. Portanto, fico lisonjeado em V. reconhecer méritos em meu trabalho.
SOLIDÃO... é meu estado natural, sinto que estou me afastando cada vez mais do resto da Humanidade, grupos de mais de 3 pessoas já me incomodam. Estou mais para eremita do que para um "socialyte" qualquer, do tipó que só vive em festas. Colégio interno tem dessas coisas: me fez detestar bebidas, todas elas, uma simples cerveja me dá caretas. Nem um evangélico é tão "abstêmio" quanto eu, que quando jovem andava com cigarros importados mas não fumava, era só para fazer tipo. Como o Homem é tolo!
Nato, meu querido ermitão,
pois é... mas o Piauí existe, sim, a despeito do ministro. Quanto aos elogios, obrigado, mas retribuo-os na mesma medida. Você é ótimo mesmo, acredite. "Primo", a solidão pode ser calma e boa, se é natural e nela construímos sonhos e esperanças. Ou pode ser cáustica e deletéria, se, ao contrário, nos é imposta e corrói a alma. Acredito que você se enquadre no primeiro caso, pelo que tenho lido nos seus textos - mesmo que muitas vezes tenha percebido mágoas e angústia nas entrelinhas de alguns escritos. Quanto à humanidade, amigo, gostaria de lhe recomendar modestamente - e sem cabotinismo - que nunca se afaste dela, pois o homem, a sociedade humana, deve ser a matéria-prima essencial do escritor, do artista, do cidadão. Sem ela, que seriam das nossas belezas, mazelas e contradições? Sobre o colégio interno, graças a Deus, não interferiu no prazer que sinto numa cervejinha gelada e num bom vinho, que aprecio na medida certa: não tanto quanto o saudoso Padre Gerardo, do meu colégio interno, nem tão pouco quanto você. Disso divergimos, ainda bem.
Um forte abraço.
Nato,
Beleza de conversa esta sua. É o lado humano de Copacabana sem as baixarias. Me lembrei do dia em que, saindo de trem do distantíssimo, do longínquo bairro d Padre Miguel, adentrei na Rua Princesa Isabel e, virando daqui pra ali, conheci os esquisitíssimos filmes que passavam no Paissandu. Me senti um novaiorquino legítimo, logo depois dos egundo chop. Virei freguês, arroz de festa. Dolce vita!
Abs
NATO, as fotos são incríveis. Vc sabe que vc é a cara de sua mãe? Que fofa ela com aquele cachorro. Não é o mesmo que está na foto com vc, né? Na segunda foto, quanta gente simpática e bonita, a começar por vc, um gato(nessa época vc ainda gostava de gente, hein). E a moça no centro da foto...a cara da Sofia Loren! Seu Tio Nato , que garboso senhor, e a Tia Anita, que prova ela é de que tamanho não é documento.
Quer dizer que vc tb trabalhou na Lelé da Cuca? Nessa loja eu não me lembro de ter comprado nada. Era muita cara. Minha mãe fazia crediário na Barbosa Freitas, que era uma loja de departamentos que ficava ali pertinho da Menescal, na esquina de Santa Clara com Nsa Sra de Copacabana.
Sabe Nato, esse seu texto tão lindo me despertou uma sensação muito esquisita: a Galeria Menescal nunca mais vai ser a mesma pra mim. De hj em diante, qdo eu for lá, vou me lembrar das contradições que puseram vc e sua mãe em lugares invisíveis pra mim.
Um grande beijo
da Ize
Salve, Nato!
Fiquei na dúvida por uns dias e não resisti, vim lhe falar.
Acredito que tuas crônicas e um poema deveriam ser postados no Banco de Cultura, não no Overblog.
São seções distintas.
O Overblog fala sobre cultura ou da falta dela mas sempre SOBRE ela. Já o Banco de Cultura é o local ideal para poemas, contos, crônicas, enfim, a produção dos colaboradores e hermanos do overmundo.
No mais, admiro tua história de vida, que não foi fácil pelo pouco que já li de voce.
Abraço pantaneiro!
SPIRITO SANTO (teu nome me lembra ótima banda de rock dos anos 70, aí no Rio)... mas que surprêsa! Confesso não me lembrar de nenhum cinema aí pelas bandas da Av Pr. Isabel, nem nos idos de 1970/72 -- quando trabalhei numa firma de conserto de TV em cores -- e nem depois, quando fui fiscal na MESBLA, (1978?), bem aí no distinto shopping Rio Sul. Mas, cinema ainda me é uma das melhores diversões, com absoluta certeza.
DONA IZE... meu tempo na LanHouse acabou... volto amanhã para comentar teus comentários. Você ainda não viu nada... tivemos perto de TRINTA cachorros, prefiro-os aos humanos e assisti a morte de quase todos. Hoje são apenas 4 adultos e mais 5 filhotes que a bandida da vira-lata insistiu em ter, apesar de nossos impedimentos. Haja paciência!
Em breve tomo coragem de narrar um por um dos meus quase quarenta empregos... cada um mais divertido do que o outro. Cuidei até de casa de jogos eletronicos.
Caros amigos,
creio que o Cine Paissandu a que o Spirito se refere na verdade ficava na Rua Senador Vergueiro, no Flamengo (não na Princeza Izabel, em Copa), também na Zona Sul carioca e que era cult nos anos 70. Hoje me parece que - a exemplo de outras salas de cinema do Rio - virou igeja evangélica.
Abraços
Meu Deus!
O que foi que disse? Princesa Isabel, nunca Princeza Izabel! Perdoem-me.
Rangel:
"Em todo os tempos os homens lutaram pela igualdade, liberdade e fraternidade. Hoje estas palavras estão inscritas nas fachadas de todos os prédios públicos mas acabaram perdendo o sentido." ROSSELLINI. É que no Banco da Cultura não tem essas possibilidades de fotos, e sair o texto na 1ª pagina. É por isso que palavras nada mais são....
Spirito: Eu sabia que te conhecia de algum lugar. Cansei de ir a Padre Miguel visitar o o Mestre Poeira, e antes ia a 1ª estação depois de Padre Miguel, visitar o Clube AFFE de histórias em Quadrinhos, formado por uma familia pedra 90, que fazia teste de letra, prá não receber "Coisa Ruim" em casa, isto lá por 1980, é mole!
Quanta as fotos, não se vê mais o mar daqui de cima, construiram prédios, cujos apartamentos agora devem valer menos do que um barraco. O mais hilário foi uma entidade portuguesa que construiu um asilo de velhos em cima do morro. Descanso ali é igual spa no Iraque, emagrece-se só de preocupação e expectativa de quando estourará o proximo ôme-bomba! Não é Piada Portuguesa, é real!
AZnº 666 · Rio de Janeiro, RJ 14/11/2007 18:14
Ah! não NATO! Vc vai me dizer que foi gerente da Mesbla do Rio Sul. Com tanto lugar asism em comum, é por isso que me dá uma sensação danada de conhecer vc muito. E Spirito e Nivaldo, claro que o famoso Cine Paissandu, hoje Estação Paissandu, ficava e fica na Senador Vergueiro. Existe até uma geração Paissandu formada pelo público que nos idos da década de 60 não ia lá em busca de entretenimento, mas em busca da arte e do ritual do cinema cabeça. E já que estamos em plena sessão nostalgia, me lembrei que por causa do filme E Deus criou a mulher, da década de 50, mas reprisado pelo Paissandu em sessenta e poucos, passei boas horas de um sábado falsificando minha carteirinha de estudante pra poder entrar no cinema.
Nato eu tb adoro cinema e cachorros.
Beijos
da Dona Ize
(Eta conversa boa)
PS. AZnº 666, depois que seu irmão entregou vc, já sei qual é a sua cara (vcs são uma dupla e tanto!)
Obrigado, NIVALDO, pelo "apoio moral"... mas eu só frequentava os Cine-poeira do inicio da Voluntários da Patria, ali perto do Clube do Botafogo. Favelado mal-vestido, tinha vergonha de entrar nos cinemas-classe A lá de Copa. Ademais, só gostava de kungfu e pouca coisa além disso, Bruce Lee e comédias do Jerry Lewis. (Sobre minhas tardes cinematográficas fiz um conto muito interessante!)
Dona IZE... gerente eu fui de fliperamas, aquelas máquinas de PINBALL dos anos 70. O negócio era de um argentino (sempre êles!) esxplorador pra cacete... pagava mal e exigia muito. Pior: tinhamos que pagar os prejuizos que a garotada dava nas máquinas, principalmente vidros quebrados e "fichas" falsas, feitas de humbo derretido. Depois que saí, botei meu irmão lá... também ficou pouco tempo. O "trabalho" era uma loucura: começava lá pelas cinco da tarde e ía até 3 da madrugada. Eu tinha que sair com a renda da noite em plena Jacarepaguá deserta, levar pra casa e entregar em Botafogo de manhã cedo, dormir um pouco e sair de novo as 4 da tarde. Só aguentei uns 2 meses... e nem recebi, porque quebraram na porrada um vidro de uma das máquinas. Tinha me recusado vender fichas para uns baderneiros, os FdaP quase viravam a máquina para "conduzir" a bolinha de ferro. BELOS DIAS!
EM TEMPO:
o Autor da foto com minha mãe e eu é o meu irmão gêmeo RENATO, que também é o pai genético da linda donzela ao lado de minha mãe. Já o "cabeçudo" à esquerda é o pai REAL da menina e também o dono da máquina fotográfica. Meu irmão só conheceu a filha recentemente... e eu essa bela sobrinha.
Mas minha decepção é quie sou o único da família que parece não ter deixado "sementes" cá na Terra. Triste sina!
CAra.. que legal a "Exército da Salvação"! Conheço Rio Negro (sou paranaense de Maringá) e conforme você foi escrevendo eu fui assimilando as sensações!
Demais!!
NATO, todas as famílias têm a sua saga, mas a sua, não sei se pelo seu jeito tão despojado de contá-la, é DEMAIS: viajei com a história dessa última foto. Que garota linda, e sabe do que mais: parece com vc, e portanto com o pai, assim como vc é a cara da Dona Apolônia- fofíssima. Outra coisa: aquele "parece" lá no seu lamento por não ter deixado sementes na terra é uma esperança? E ainda outra: ainda não está em tempo? E mais outra: não ter filhos, pelo que me consta, não é sina, mas deliberação.
Sobre sua história pessoal, ela é pungente: sua vergonha de entrar nos cinemas classe A de Copa me fez lembrar de uma aluna minha que me disse outro dia que não tinha coragem de ir ao CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), que aquele não era lugar pra ela. Mundo cão esse. Ontem passou "O Professor aloprado" na sessão da tarde. Chorei de rir.
Beijo grande
Nato e Nivaldo,
(Desculpe, mas, deve ser a idade)
Claro que o Cine Paissandu ficava no Flamengo (será que 'memoriol' resolve o meu caso?). Memórias suburbanas , sobre a zona sul, são sempre mais difusas, perdoem-me. Juro contudo que fui muitas vezes num cinema por ali, em Copa, perto da Princesa Isabel. Lembrei até a rua: Era a Prado Júnior. Instalou-se então um insondável mistério que nem no google consegui resolver. Na minha cabeça o cinema se chamava 'Cinema Um' (e não Paissandú, o qual também freqüentei). Era ali que eu tomava os tais chops memoráveis. Contudo, não achei nada sobre este cinema fantasma na internet. Estarei ficando gagá e misturando os chops?
Vergonha de ir aos cinemas daí de sua praia, Nato, eu não tinha não, mas, em compensação, que memória ruim esta minha...
Socorram-me, por favor!
Spirito, que idéia mais descabida ficar atribuindo seus lapsos de memória aos seus gloriosos 60 rsrsrssrsr. Falta pouco pra nós que estamos aqui chegarmos a eles (com excessão talvez de Mr Spaceman) e nossa memória continua legal. O cinema na Prado Junior se chamava Paris Palace, depois Cinema I.
Abrçs
Bom feriado pra todos
Ize
Ize,
Gloriosa, Ize. Salvaste-me pois!
Agora me explique uma coisa: Como pode o tal cinema Um não aparecer, assim, logo de cara, no google? Boa parte da esquerda (principalmente aquela que se tornou 'revolucionária') tomou chopes homéricos ali, entre um Trufaut e um Bergmam.
Gloria a Deus nas alturas!
É estranho mesmo. Acabei de entrar no Google e tentei recuperar a história, teclando tanto Paris Palace, cmo Cinema 1, e não encontrei quase nada. Mas, pra vcs, viu Nato, que gostam de cinema, vejam que legal este site http://www.quattro.com.br/passage/100anos.htm
com vários links sedutores.
Caraca, é hj que não sai almoço aqui em casa.
Beijos
Mr.SPACEMAN... (outra das minhas taras eram/são filmes e romances/HQs de ficção científica) seja benvindo!
NoSeminário, em Araucária/PR, 1965/66, conheci vários amigos/alunos lá de Maringá e Campo Mourão, Cianorte, etc. Quem sabe você não andou lá pelos lados de Mafra e Itaiópolis ?
IZE, minha biblioteca ambulante... o PARECE faz sentido, tive vários/muitos amores paltônicos, mas apenas 2 daqueles de sentido bíblico, do tipo "crescei e multiplicai-vos". Como camisinhana época era roupinha de bebê e o famoso JONTEX era caro pra c..., torço para que um dos milhões de "sapinhos" tenham se tornado gente. Mas ser "pai' aos 50 e tantos anos me parece castigo!
ÊEEEPAAAAA... agora vou ter que entrar "de sola" nesse assunto de CINEMA 1! Com ousem Google, o primeiro CINEMA 1 de que se tem notícia foi criado na "galeria" bem ao lado da Menescal, dona IZE e dr. SPIRITO SANTO.
Eu era vendedor da Calçados SÓ CRIANÇAS -- não gostava da cor preta, tentava convencer as madames a levar sapato branco ou havana (perdi e posto e voltei a ser "servente") -- e o microcinema, uma saleta de uns 10 metros por 6 de largura, levou o glorioso nome de CINEMA 1, experimental. Só passava essas "bombas" italianas que voces universitários da época adoravam. Filme p/b feito só de desgraças, um "miserê" de dar nojo. A sala durou pouco... eu passava os descansos de almoço lá dentro, o ar condicionado era ótimo. Vi belos filmes nacionais de sacanagem lá e uma porcaria sem tamanho chamada ASYLLO LUITO LOUCO. Nunca vi coisapior na vida!
Ah, esqueci a data do fato... o CINEMA 1 que cito foi criado entre 1972 e 1974, porque no fim deste ano eu já estava na CULTURA INGLESA, atuando como office-boy. Dispensei o curso grátis de ingles que EMPRESA OFERECIA AOS EMPREGADOS (para quê,morando num morro?) e me arrependi pro resto da vida, pouco depois.
"NATO" AZEVEDO · Ananindeua, PA 15/11/2007 16:43
Nato,
Você tem muita coisa guardada dentro de si, coisas a que você sobreviveu mas não viveu plenamente, como gostaria...
É como se sua voz estivesse sufocada deiante de toda a incoerência que você, desde pequeno, viu passar a sua frente sem a chance de poder questionar, ou porque não te ouviam, ou porque te ouvindo não te compreendiam.
Talvez, apenas talvez, você tenha guardado tudo isso para o agora e para um futuro próximo, onde sua visão intalada do mundo vai mexer com a reflexão e a alma de muita gente.
Aqui no Over já é um começo, mas creio ser possível canalizar isso com mais força numa obra mais dinâmica, que possa explodir com a força necessária para você encher o peito de ar e soltar a coisa pra fora...
Valeu o texto. Reafirmo, riquíssimo...
Grande abraço Guaicuru!
Nato, PQP,
Li agora o Exército da Salvação...
Bicho, você está fera demais mermão. Tua criatividade poética misturada a tuas memórias estão tirando o fôlego da gente. Cara, aprovbeita a onda e escreve um livro, uma peça de teatro, sei lá, pelo menos tem que escrever muito e arquivar para usar logo.
Abraços!
Nato,
Pois é, ao que parece, o tal 'Cinema 1", de tanta 'bomba' que passou, teve que se mudar para a Prado Júnior, onde virou 'cinema de arte'. Que eu me lembre, passava poucos filmes do Cinema Novo (o tal Asylo Muito Louco é um 'clássico' do do estilo). Compartilho com você a minha opinião sobre a discutível qualidade do Cinema Novo (e sobre os 'clássicos' da 'Nouvelle vague' francesa e outras bossas cinemoderninhas. O esforço intelectual que eu fazia para entender aquelas tramas 'cabeça' me davam mesmo era...dor de cabeça. Ainda bem que o chopp lavava tudo. Se não me engano, teve uma época que inauguram lá uma vidraça entre o bar e a sala de projeção, e dava pra gente assistir o filme namorando e tomando uns 'bidináites', ao memso tempo. Foi a melhor época da sala.
Velhos bons tempos
Nato, já te disse por e-mail e repito; que esse texto parece-me ser o mais humano, sincero e verdadeiro que escreveste, pelo menos que eu já tenha lido. Não esquecendo a nostalgia que lembra um amor perdido por entre lembranças.
Te gosto muito Nato, como amigo, e te amo como escritor.
Bjs culturais
Nato e Spirito, a memória de vcs anda mal das pernas. Esse micro cinema que ficava na galeria ao lado da Menescal era o Cine Hora, atual Cine Jóia. Cansei de ir lá e tb na tal sapataria, onde comprava os sapatinhos da Gabriela, então bebezinha.
Mas suas informações sobre o esquisito cineminha coferem Nato. Veja o que achei na internet: " Inaugurado como Cine Hora, a idéia era ser um cinema onde o espectador mataria o tempo, você entrava na hora em que queria e se mandava no momento necessário. A programação era básicamente composta de cinejornais, desenhos animados, pequenos documentários... sobre a tela, estava o relógio para nos situar se já estava ou não na hora do compromisso. A galeria em que o cinema se localizava era o prenúncio dos shoppings que ainda não tinham tomado conta do Rio. Escadas rolantes, três andares de lojas — algumas de prestígio na época, como a Toulon, a Cascata e a Dijon. O Jóia era um complemento. Mesmo assim, o local acabou ficando conhecido como “a galeria do Jóia”. Foi sempre um cinema esquisito. O funcionário da bilheteria, por exemplo, também era o porteiro e, às vezes, ele tinha que ir ao banheiro. Nessas ocasiões, não ficava ninguém exercendo nenhuma das tarefas. E a gente ali, ouvindo os sinais de que o filme estava começando, sem poder comprar ingresso". Engraçado, né?
Eu também odiava os filmes cabeça. Ia na onda, mas só ficava mesmo esperando o final pra esticar nos bares e nas boates, apesar da ditadura que comia solta.
NATO, meu bem, "recordar é viver", mesmo que suas recordações não sejam as mesmas dos adolescentes e jovens da classe média de Copacabana da década de 70. Se não se pode dizer que o dinheiro é promessa de felicidade, por outro lado afirmar que "Pobreza não é desonra" é uma imbecilidade. Este, como aquele outro dito que diz que "É mais fácil um camelo entrar no buraco da agulha do que um rico entrar no reino dos céus" são consolos que só a trouxas enganam. Por isso não vou aqui dizer que o que vc, seu irmão (li o postado dele há pouco e tb me emocionei) e sua mãe passaram serviu de fortalecimento aos seus espíritos. Preferia que a vida tivesse sido outra pra vcs, preferia que os pretextos das escritas de vcs fossem outros. Mas já que vc se dispõe a trazer pra gente a vida como ela foi pra você, posso assegurar que os risos e as lágrimas que seus textos provocam não são vãos. Eles vão instilando, como conta gotas, um apertozinho aqui dentro do peito que se constitui como desejo ávido de mudança. Não tive as dificuldades que a pobreza trouxe para sua infância, adolescência e juventude (tive outras, de outra ordem), mas hj tenho a oportunidade de trabalhar com crianças, adolescentes e jovens pobres e seus depoimentos, como o de seu irmão, são como estrelas em meu caminho.
Espero que, daí de tão longe, vc possa sentir meu abraço apertado e cúmplice.
Beijos da Ize
NATO... Meu irmão!
O texto tem todos os elementos de uma obra-prima escrita
por um escritor único!
E não é só escrever! Viver o que se escreve faz a diferença!
Parabéns! Milhões de parabéns!
Grande abraço!
Lailton Araújo
Hum...acho que pirei mesmo, achei estranho o teu recado..mas vamos lá...nesta época anos 70 passava as férias por este pedaço...Deliciava-me depois dos filmes italianos (que eu amava, rs) e ia a Sorveteria Zero...almoçaava num bar de sucos na Sta. Clara...Bons tempos...
Volto a dizer...que juro..juro...se eu fosse uma atriz;ator...eu fazia um monólogo contando tuas estórias...mas os teus comentários, ou seja, o bate-bola com os Overmanos...Porque voce não grava isso? Vai pra Globo! rsrsrs Tuas respostas e comentarios são tão bons quanto as colaborações...Você é grande...enfrenta essa de "eremita"...
Emociono-me com o que Ize acaba de deixar pra voce...pois a vida pra mim não foi tão fácil, mas a tua, irmão...e voce enriqueceu teu espírito mesmo, com essa biblioteca viva no plalco para uma Copacabana infame de platéia...Parabens mesmo...Sai desta, voce é mais rico do que muitos tidos e metidos ao saber e saber...Desde daí e vai a luta, chegou tua vez...
Cintia Thome · São Paulo, SP 15/11/2007 22:27desce daí...corrigindo.
Cintia Thome · São Paulo, SP 15/11/2007 22:32
Sorveteria Zero, Cinema Rian , aoende ia à praia em frente, este salsicha no seu colo igual ao meu, a doceria Bolonha da Constante Ramos que existe até hoje...O que mais temos em comum...Copacabana nos anos 70 era praia de gente bonita! Hoje é praia de gente simpática, segundo a definição que ví hoje no JN.
Já coloquei entre os favoritos para ler com muita calma!
E esse diabinho, o que anda aprontando, além de me mandar aquelas bobagens da internet para eu dar risada?
Beijos nos gêmeos mais famosos do Overmundo!
Cris
CRIS...
Concordo!
Os "manos", AZN e NATO... São as "caras" deste site!
Sem eles... Isso aqui fica metódico! É essa a palavra? Não passei no famoso "corretivo"! rsrsr
Viva os irmãos histórias-vivas!
Nato: continue publicando essas raridades!
AZN: você sumiu? E as estórias ou histórias?
Beijão Cris!
Lailton Araújo
Nato,
Ler os seus textos já virou em mim uma necessidade. Por isto não reclamo do "desaviso". Eu que não conheço o Rio, por uma série de motivos, gostaria de ter conhecido ainda nos tempos das memorias retratadas. E muito bem retratadas. Gostaria de sentir
a sociedade formada de então: complexa, e tudo o mais que se sabe, porém ainda capaz de inspirar, de fazer homens não vencidos pela necessidade grande demais, que como disse o Lula: "a necessidade não ensina ninguém, só maltrata. Quando grande demais degrada, comumente".
Nato - arquivei pra reler e reler.
um abraço, andre.
HUUUMMMM... aceito as ponderações do "psiquiatra" e indigenista Dom Carlito, mas se faz premente um explicação: estes textos todos estão escritos desde 2000, quando eu e meu irmão fomos presos injustamente -- com DEZESSEIS acusações diferentes, feitas por vizinhos maldosos -- e depois de 29 horas na cadeia, sentei para escrever... ou senão enlouquecia, de raiva e de vergonha.
Hoje, apesar dos sentimentos que me distanciam cada vez mais do Pará (problemas desnecessários e aviltantes com a COHAB local) posso lhes garantir que as mágoas pressentidas nos textos estão passadas, até porque NOVAS (?!) substituiram aquelas.
APIRITO SANTO, meu camarada... não consegui engulir uma só das "obras-primas" do cine iltaliano que o grande O PASQUIM nos recomendava, Luis Carlos Maciel e Tárik de Souza, entre outros. Nem mesmo "Laadrões de Bicicleta", o melhor deles pra mim, coompensou o dinheiro gasto. Acho que a pobreza/miséria do pós-guerra lá me recordava a minha pr´pria. Pior: sem birita para compensar a frustração.
LÍGIA, minha sereia carioca que "virou" paraense... me é uma grande honra tê-la como amiga. Você é desse terço de gentes (no plural mesmo,como paraense gosta!) que ENGRANDECE este Estado, que o constrói e representa todos os dias, que o defende enquanto os 2/3 restantes só fazem denegri-lo e destruí-lo. E VIVA O PARÁ!
IZE, minha internética "Maguila" das memórias alheias. Me confesso nocauteado por ti. Era mesmo Cine Hora.. odoido do meu irmãodiz que era um cinema grande e foi dividido, formando o tal "cine de bolso" da época. Me lembro da placa em acrílico branco e da microcabine do porteiro.
Vi grandes filmes nacionais de sacanagem, com muito palavrão pelo meio, isso me motivou para um conto que vale a penaser reproduzido "nestas páginas", adiante.
PUTA MERDA... era CASCATA o nome da loja do seu Luís Carlos, o irmão gorducho e mandão do meu patrão, seu Alberto. Você bem que podia visitá-los (meu patrão tinha cara e jeito de doente) e dizer que o CINCINATO ainda está vivo, por enquanto. (Esse Estado é um perigo para gente como eu e meu irmão, que diz o que pensa!)
EM TEMPO: minhas memórias já viraram "livro" -- se depender de mim nunca serão publicados, ficam em DEZ MIL REAIS cada edição -- o de contos chama-se "QUASE NADA..." e o de crônicas/memórias se chamará quando eu terminá-lo "AQUELAS TARDES TRISTES..."
LAILTON... grato pelas palavras, você me é uma refereência de luta renhida por seus sonhos e ideais. Agradeço comovido sua visita!
Mas não é que dona CÍNTIA acaba de revolver do fundo de minha memória outro emprego do qual nem lembrava mais?
Juro por Deus que trabalhei também na Sorveteria Zero... se ela for bem ao lado do tal cinema (citado pela CRIS -- teu e-mail está devolvendo mensagens, querida!), que ficava bem em frente de uma ruela, Dias da Rocha, salvo engano, então também trabalhei lá.
VOCES NÃO ACREDITAM... era uma imundicie total o sótão daquela joça, uma poeirapreta de centenas de anos tomava conta de tudo, até eu que vivia num barraco de terra batida sentia alergia.
Os gerentes/donos eram uns magrelos de cara funda, meio italianos, meio árabes, sérios e com carade poucos amigos.
Quando eu pegava os sacos de casquinhas de biscoitos, tinha que passar um pano úmido para retirar a poeira. Acho que até ratos rondavam por lá... fiquei muito pouco tempo, se eu não gostava do patrão me demitia ANTES que assinassem minha carteira.
AH, na frente da loja tinha um enorme sorvete de cimento, e eu tinha que limpar o banheiro a cada 15 minutos, pois as riquinhas encharcavam o chão toda vez que lavavam as mãos. CACETE !
CRIS, por falar em biblioteca, a boa de Copa, ótima aliás, era a do IBEU, depois CCBEU, por ali mesmo, acho que perto da Santa Clara. Nos almoços/intervalos, se eu não ía ao cinema, "descansava" na biblioteca.
ANDRÉ, meu camarada... juro que nem lembrei do teu nome. Esse negócio de ter só 1 hora para fazer tudo na Internet (é quanto o dinheiro dá!) me faz esquecer até diletos amigos como você. SCUSI !
D. Ize ativou minha memória e abriu a caixa de Pandora, o local deste cinema tinha o sugestivo nome de : Boca do Lixo, e concorria com a Galeria Alaska. No Alaska não tinha savana mas tinha Antílopes que são os viados mais charmosos que conheço, já na Boca não tinha rio, mas tava assim de Piranhas!
Pronto, falei.
Natyo...
È essa sim...Com o sorvetão de cimento, rs...Era bem próximo da Sta ClaraxNossa Sra. de Copacabana do outro lado da av....isso foi nos idos 72/75...Um abraço e olha estou viva.acho que era melhor aqueles ratos do que hoje leite com soda caustica...Sobrevivi, será que as criançinhas de hoje vão sobreviver com o Holocausto em gotinhas de "puro" leite caustico, rs????
devaneios...Parabens de novo, mas juro dá vontade de fazer uma peça "carioca" com teus comentários, respostas...Um verdadeiro show!
CINTIA, depois que uma vaca me "atropelou" no colégio das freiras (vide "AQUELA... VACABUNDA", no meu Arquivo) passei a destestar leite, eu que só o tomava bem gelado e com muito açucar. Vai ver já usavam soda cáustica naqueles tempos, pois "esse suco de vaca" sempre me dava/deu/dá dor de barriga.
Voltando ao cinema... lembro que os cine-poeira lá de Botafogo escorraçavam os clientes logo após cada sessão, pelo menos nos sábados e domingos. (Gostaria que alguém confirmasse isso!)
Como eu tinha dificuldades para ler as legendas, perdia boa parte das imagens, da ação da fita e precisava ficar para a sessão seguinte, para repetir o filme. Vaidaí, me escondia no banheiro, os ´pés sobre o vaso e a porta entreaberta, para o"lanterninha" ver (?!) que não havia ninguém dentro dele. Deu certo por algum tempo... Adiante, ficava agachado pór trás do cortinado do banheiro do fim da sala (em geral eram 2, ofeminino mais perto do telão) e, logo que o vigia fiscalizava as filas finais eu me esqgueirava pelo chão até elas. Um belo dia botaram um verme no balcão, acima das cadeiras, e me deram um "flagra" daqueles. Fui arrastado quase aos tapas por dois brutamontes e praticamente jogado na rua Voluntários da Pátria, na sessão noturna de domingo, gente pra cacete assistindo a cena.
Nuncadisse tanto palavrão em minha vida, fui aplaudido & vaiado pela plebe ignara e mudei de cinema logo depois, com medo de apanhar lá dos vigias do cinema, o 1º da rua, bem perto do inicio dela. Na época estavam construindo um viaduto lá, não sei bem para que. (Isto foi por volta de 1977/78. Pouco depois surgiria uma estação do Metrô bem naquele techo... e um minishopping center.
E POR FALAR EM CINEMA...
Nos meus primeiros anos lá no Rio -- pisei na Rodoviária em algum mês/dia de 1967 ou 68, nunca soube ao certo quando saí de Rio Negro/PR -- surgiu a oportunidade para fazer cinema.
EXPLICO: o Circo ORLANDO ORFEI pisou na cidade, pousou num terreno baldio bem na frente da Central do Brasil e conclamou os "otários" (não acho expressão melhor) PARA PARTICIPAREM COMO FIGURANTES de seu internacional filme com os famosos trapezistas, palhaços, leões, etc. A paga diária era boa...
Fila imensa, uns 300 malandros desocupados querendo fazer dinheiro fácil, sem trabalhar e assistindo um gende espetáculo circense de graça. E assim entrei no mundo do Cinema.
Desde o primeiro dia, para não atrapalhar os espetáculos diários, as tomadas eram realizadas entre as 14 horas e 17 horas, no máximo. Quem pensou que veria shows de graça não deve ter voltado no dia seguinte... ficávamos balançando a cabeça pra lá e prá enquanto uma solitária trapezista (feia, ainda por cima) se mexia nos aparelhos, enquanto um sujeito berrava "não olhem para a câmera/sorriam agora/batam palmas,mais palmas", etc
Nada de lanches, pipocas, pirulitos, refrigerantes.
No segundo e no terceiro dias a mesma m..., além de se esperar hora e meia fora do circo, em pé e no sol,até a entrada em cena, digo, nas arquibancadas.
Enfim, no quarto ou quinto dia, era horado pagamento... gente que nunca vimos apareceu para receber, mas eu confiava que o cadastro do Circo fosse eliminar esses "espertos". De repente, correria geral, um bafafá ninguém sabia bem onde, uns barulhos estranhos e, logo depois, a triste noticia: o pagador fôra assaltado, o pagamento ficaria para a semana seguinte.
Revoltados, a turba em pêso invadiu a lona do circo, derrubou a carrocinha cheia de pipoca, chutou a lataria dos carros-dormitório e saiu muito puta da vida com a sacanagem. O Mundo perdeu um grande ator (eu, claro!) porque,tempos depois, houve as filmagens do filme de capoeira CORDÃO DE OURO -- um marco na filmografia desta dança-luta -- e eu recusei a chance de estar nele. C'est la vie!
Tem um texto novinho em folha aqui no Over sobre este site não chegar um dia a ser o Orkut. Bom, sei lá se isso vai acontecer ou não. Daí que vire ou não, esse vai ser sempre o lugar onde muita gente boa em cultura geral aparece para o mundo - mesmo que seja este Overmundo. Como ainda não li o tal texto, prendo-me ao legado que este viajante que parece ter saído daquele filme "Bye, bye Brasil', por ora - acho! - pousou em Ananideua e de lá manda reminiscências em forma de plangente e pulsante literatura, nos deixou aqui... Algo que o Tempo destilou em tonéis de conhecimento empírico nos rincões deste Brazil que o Brasil - ou vice-versa - está descobrindo aos poucos e pra ser bebido naqueles copinhos de vidro típicos de qualquer baiúca de beira de estrada Bras(z)il afora... Grande Nato!
Pepê Mattos · Macapá, AP 17/11/2007 16:21
HUUMMM... vi "Bye, bye, Brazil!" Achei o enrêdo meio vagabundo, mas a atuação da Betty Farias -- apesar da voz de pata no cio -- um espetáculo. Ela, Milton Gonçalves, Cláudio Cavalcanti, o outro Milton e alguns poucos mais salvavam o cinema nacional, que vivia de palavrões, correrias em carros, sugestões de sexo que nunca aconteciam e quase nenhum enredo.
Beber em biroscas de beira de estrada? Só sendo muito louco... principalmente se for Coca-Cola "quente", (sem gêlo) que já nasceu com SODA CÁUSTICA dentro e, há uns 80 anos atrás, até umas folhinhas de coca. Isto é HISTÓRIA, está nos anais da matriz do "xarope" que era usado para retirar a cola das multas coladas nos vidros dos carros nas praias de Copacabana (nos anos 70!) e, aqui no Pará, fervida, retirar a ferrugem preta das frigideiras.
(Da série... VOCÊ SABIA?, "dedicada" a dona Cintia Thomé)
Oi Nato...Fico honrada de vc dedicar teu tempo de lembranças e de "lan" ( o mais sério, pois afinal se gasta, nossa!) a mim... Bom...Bye, Bye , Brazil, rs (Bete Faria é grande apesar da voz... o outro Milton era Milton Moraes...eu o via muito nas minhas férias no Centro Comercial de Copacabana..um cara com jeito de malandro, sempre vestido de branco, com pulseira de prata larga...mas um ator de primeira que se foi já há muito... acho que fez novela com Cuoco, era brilhante..mas participava dos filminhos junto ou na mesma época de C. Imperial (rsrsrs, deve estar pensando, essa moça viu tudo, tudinho...vi mesmo, as pornochanchadas e tudo que era "proibido" eram o máximo, os filmes que alavancaram o cinema com Kouri e atrizes Sandra Brea ( mulher mais linda, uma pena ,.... ) , Adriana Pietro, maravilhosa Vera(mulher mais linda do mundo...), Nadia Lippi, Sonia Braga (lotação). A grande atriz Lilian Lemmertz, uma atriz sem igual, postura de Ingrid Bergman...Saudade.
Filmes ótimos como Rainha Diaba, Amor Bandido ,Eu Matei Lúcio Flávio com o inesquecível Valadão,como também Babilônia (este bem quente pra época da ditadura)...Bom...agradeço...assim pude lembrar de coisas boas ...Abraços. se errei algo, corrija, mas que era bom era...tempos das "verdadeiras purpurinas"...Coca-cola...
OI NATO, nossa quanta coisa maravilhosa seu texto vai desentocando aos poucos. Seu RENATO, não me lembro não que o local do Cine Hora, a tal galeria que o NATO trabalhou, tivesse o nome de Boca do Lixo, nem que fosse reduto das mulheres que vivem da mais antiga profissão da história. Qto à Galeria Alasca, eu não a frequentava na década de 70 pq dizia-se que a barra lá pesava. Depois, em meados de 80, tive a oportunidade de ir algumas vezes a uma boate que ficava por lá, cujo nome esqueci. Denominavam-na de "inferninho", mas das poucas vezes que fui não vi nada que justificasse o nome: muito pelo contrário, os casais homo e heterosexuais conviviam numa boa, nutrindo-se da melhor conversa e das músicas animadíssimas que faziam da pista de dança um verdadeiro céu.
Sorveteria Zero (que horror a sujeira, mas como a Cintia sobrevivi aos muitos sorvetes que tomei por lá) Cinema Rian, Bolonha, biblioteca do IBEU...gente nós frequentávamos os mesmos lugares sem saber que mais tarde nos encontraríamos aqui ...Incrível.
Mais incrível entretanto são suas histórias NATO: nos cines poeira de Botafogo, no Circo Orlando Orfei, na Sorveteria Zero, além de todas as outras que já comentei.
Você é um narrador nato: sua histórias escritas têm o sabor das narrativas orais épicas. Por isso, tudo o que vc escreve é bom de ler, porque enreda a gente no episódio como se estivéssemos ouvindo vc.
Um beijo grande querido e tudo de bom pra vc
Ize
Nato,
a sua crônica é um valioso relato vivo da história de um brasileiro forjado na luta, na adversidade. Aquele que sabe da Guanabara, onde nasceu, ao Pará, onde vive, mas ama Rio Negro.
Você, Nato, que se diz ermitão, é, na verdade, um durão apaixonado pela família, pela vida, pelas letras, pela cultura.
Confesso que essa sua crônica me inspirou a produzir algo parecido, pois, no sentido contrário de seu trajeto, eu nasci em Belém e me entendi como gente em Porto Velho, antes de estar aqui em Anastácio (cidade separada de Aquidauana apenas pelo estreito rio que tem o mesmo nome), no portal sul do Pantanal.
Sou feliz aqui e tenho até título de cidadão aquidauanense; mas eu amo Porto Velho (onde cresci e estudei) e sinto imensa alegria com as coisas boas do Pará.
Valeu, amigo. abrs
CINTIA, AMORE MIO... eu torcia o nariz pro cinema nacional, principalmente pro tal de CINEMA DE VANGUARDA -- titulo de extenso conto meu, que quero um dia publicar "neste overespaço" -- e fora Roberto Carlos e épicos como Independência ou Morte/Xica da Silva/Quilombos, entre outros, eu via pouco cinema.
Em têrmos de mulher, a Cristiane Torloni, enxutíssima, era melhor que as suas citadas acima... exceto as garotas do filme OS SETE GATINHOS, sensualíssimas, não me lembro quem eram.
Dona IZE... meu irmão falava na verdade de uma ruela paralela à Av Princ. IZabel -- uso o Z, era correto isso até os anos 50, vocês sabiam?! -- também conhecida como Beco das Garrafas, local de nascimento da BOSSA NOVA, segundo os próprios criadores. Ficava bem perto do Barata Ribeiro, 200 (depois, 194), de triste memória para mim, que quase fui "comido" por um gerente dos Correios daquela época (chamava-se DCT, depois EBCT, depois ECT...), lá por 1975 ou 76. Fui ao apê do verme para resolver uns problemas pessoais e quase que arrumo outros bem maiores. MAS QUE MERDA!
IZE e CINTIA (mais CRIS...): ainda acho que nos cruzamos na praia -- meuirmão vendeu refrigerantes em carrocinha no Posto 3 por um bom tempo -- ou num shopping destes na época. Eu não passava nem perto da Casa BOLONHA, que era só pra ricos, mas frequentei a praia na Sta Clara e tinha amigos de voleibol no CIB -- bem ao lado da Gal. Menescal e também num clube libanês que ficava depois do túnel da Rua Toneleros, quase chegando lá na subida da Lagoa.
FRAZÃO, my new brother... ESCREVA, escreva mesmo, registre o que puder do teu Passado, não por vaidade mas como parte da viagem de todos nós por esse ingrato navio intergalático chamado Terra.
O Pará me é um imenso dilema... tenho enorme gratidão por uma série de pessoas que me ajudaram aqui mais do que em toda minha vida anterior e, por outro lado, nunca odiei tanto os brasileiros e o Brasil do que a partir dessa "vivência" terrível numa terra "ONDE O IMPOSSÍVEL ACONTECE A TODA HORA... e toda espécie de impossível!", conforme registrei em meu primeiro livreto de poemas, isto em 1986/87, recém-chegado ao Estado.
Mas, tens razão: enquanto libriano, preciso de uma família, sinto falta dela... só não sei ainda onde encontrá-la, os AZEVEDO jamais se comportaram como Família, desde os pais, depois avós/bisavós.
Nato,
Incrível mundo pequeno! Sabe que eu tenho quase certeza que sei quem é o tal diretor dos Correios que você 'entregou' aí em cima? Trabalhei lá, cara, fui desenhista e arquitetura dos Correios a partir de 1971 e estive, várias vezes (nunca a sós, é claro) no gabinete da peça, discutindo fachadas de agências. Posso até te dar as iniciais da pinta: PR (bateu?)
Abs,
HUM, HUM... meu caro SPIRITO SANTO, só errei nas datas. Entrei nos Correios como estafeta -- entregador de telegramas, para quem não sabe! -- num "buraco" em Ipanema, na verdade o subsolo inteiro de um shopping, bem em frente a uma boite muito famosa e uma doceria mais famosa ainda, com nome italiano. Isto foi por volta de 1968, ficando até fins de 1971, ou inicio de 1972.
Só fui demitido de DOIS empregos na vida... o primeiro foi os Correios e o segundo uma empresa falida de engenharia, onde eu e um conhecido fazíamos a microfilmagem de documentos da CONSTRUÇÃO DE BRASILIA, acredite quem quiser. Numa espécie de "cozinha" se almoçava, quem levava marmita no caso e eu, depois da refeição, fiz a besteira de enxaguar a boca e cuspir a água de volta na pia. Isso deu um bafafá danado, uma velha que não era aposentada por falta de grana para a indenização dela pediu minha exclusão da empresa, aquilo era uma imundície para ela. (Fiquei mais uns dias e fui exonerado!)
Nos Correios galguei os degraus da fama, acabei uma espécie de subgerente de uma nova APT (inaugurada no final da Av. Copacabana) e acabei punido nela, por dar excessiva liberdade aos trabalhadores miseráveis que lá atuavam. Eu liberava a garotada aos domingos (eram 8 ou 9) e ficava só com 2 ou 3, porque não havia serviço para todos nos fins-de-semana.
Fui "dedurado", nunca soube por quem, e acabei de volta às ruas, agora como estafeta em... SANTA TERESA, andando mais do Moisés no deserto e pegando 2 ônibus, fora o bondinho, para chegar ao trabalho. Como não ia pedir demissão, "arrumei" uma doença, baixei INPS mas não sabia que isso tinha que ser comunicado à Empresa. Acabei demitido por justa causa, não me pagaram DUAS FÉRIAS e perdi a causa na Justiça injusta porque a sede dos CORREIOS era em Brasília e somente lá a causa poderia ser julgada.
Quanto ao PR... meu camarada, passou looooonnngeeee. O meu era chefão mesmo, quase o Gerente geral e se chamava ACYR! (AWC) Ficava feito um paxá na sede, lá na Primeiro de Março, sacou?
Creio que a passagem mais interessante que vivi nos CORREIOS tem como personagem principal um tal EMIL -- vi um ministro (ou coisa parecida) com esse nome e que era a cara do sujeito -- a quem eu mais invejava do que admirava.
EMIL era um bon vivant, espécie de malandro rico, a quem tudo se perdoa... não queria PN com o trabalho, ninguém sabia realmente porque entrara no DCT. Naquela época, aos domingos, entregávamos os jornais da cidade, imensos, colossais mesmo, quase 200 pags de papel, num contrato salvo engano com O GLOBO. Aquilo era um sacrificio de matar, uns 50/60 jornais cada um, levado nas costas e entregue felizmente de 5 ou 6 em cada prédio. Suponho que nunca encarregaram EMIL desse tipo de "tarefa"!
Voltando aos fatos: morreu um general famoso, 1969, a Ditadura no auge. Toneladas de telegramas de condolências, pilhas 30 ou 40 de cada vez, levadas às pressas para a casa do defunto. A romaria continuou por mais 3 ou 4 dias... EMIL foi encarregado de uma dessas entregas. Voltou com os canhotos todos assinados, é claro!
PRAIA DE IPANEMA, domingo, areia lotada... a criançada cavando e, de repente, pilhas de telegrama do General soterradas sob a areia. Como cada mensagem levava um número e essa relação era anotada junto ao nome do entregador... descobriram que EMIL n~qo entregava QUASE NADA
AINDA OS CORREIOS... meu preito de gratidão à sra SOL BENCHIMOL, magnífica gerente da APT Ipanema daquela época, 1968/70. Que competência, que seriedade, que exemplo de amor ao trabalho e dedicação extrema, a primeira a chegar, a última a ir embora.
Tinha também o sr. NONATO -- que a substituia no comando -- espécie de "metralhadora" da máquina de transmitir telegramas (eles saíam numa fita amarela furadinha, tipo Braille), uns 250 toques p/minuto, algo inacreditável ainda hoje. QUANTA SAUDADE !
Nato,
suas crônicas são uma beleza. Eu adorei! Na verdade eu já havia lido e votado, logo que você postou, mas não havia deixado um comentário. Aproveitei agora o convite para reler, divertir-me e comover-me mais uma vez, e dizer o quanto gostei. A leitura foi um prazer, e ainda por cima complementada por tantos comentários bacanas da Ize, Spirito Santo, Cintia... Parabéns. Desejo sinceramente que sigas sempre escrevendo e que consigas publicar teus livros de contos e crônicas: que por sinal tem ótimos títulos.
Um forte abraço,
Letícia.
NATO, assim não dá...Não quero mais sair daqui por nada desse mundo. Sua história dos Correios (acrescida do tempero do Spirito) já me fez dar boas gargalhadas. Dá pra vc fazer o favorzinho de se lembrar aonde ficava essa agência de Ipanema? Com mais algumas dicas (o nome da confeitaria poderia ser Gênova?) vou chegar à conclusão que por pouco deixamos de ser íntimos rsrsrsrsrs.
Meu Deus, preciso trabalhar...
Beijos Nato
LETÍCIA, grato pelo abraço e pela revisita...
Dona IZE, minha memória não é tão boa assim. O prédio não era um shopping, havia lojas no andar térreo e ficava pouco depois da Pça da Paz, indo em direção ao Leblon.
Era quase na esquina, depois dele (no outro lado da rua) ficava uma boite famosa, creio que do Sargentelli. A pastelaria era "de responsa", de alta qualidade, meu irmão mais velho trabalho nela. Volto amanhã !
Querido Nato, puxe um pouquinho pela memória. O tal predio onde funcionava essa agência dos Correios, que penso que é a mesma que funciona até hj, ficava na Visconde de Pirajá entre a Garcia D'Ávila e a Maria Quitéria? Mais ou menos na frente do Bob's? Pois bem, eu nasci e cresci nesse quarteirão. Numa casinha branca que fica na esquina de Garcia D'àvila com Prudente de Moraes. Hj, como ela está alugada para um restaurante - Delírio Tropical - minha mãe, hj viúva, mora num apto exatamente na frente do tal predio dos Correios. Como eu vou lá praticamente todos os dias, dei agora pra ficar agarrada na janela, esperando vc sair de lá de dentro. Volta e meia vejo alguém que se parece com vc e preparo o grito - NAAAAATO. Mas aí não é. Que pena!!!
Beijos
HUUUMMM... não há Fosfosol ou Memoriol que dê jeito! Já fazem quase 40 anos. O nome Garcia D'Ávila "desenterrou-se" da massa encefálica como por encanto, já a rua Maria Quitéria continua "oculta" em alguma parte senil do cerebelo.
O prédio dos Correios, na Visc. de Pirajá sim, ficava próximo de um teatro famoso, OPINIÃO ou coisa parecida, o Chico e outros tinham feito a peça Cálice na mesma época e a "coisa" virou um bafafá danado. Quanto à pastisseria, era italianíssima, talvez LA BELLA ROMA ou coisa parecida... esses títulos são sempre os mesmos.
Porque me lembro dela? Meu irmão ex-rico (o mais velho, 58 anos hoje) trabalhava lá, não contei a ninguém no DCT para que o pessoal não fosse "filar" doces com êle.
Chegava no barraco de madrugada, lá pelas 3 da matina, nos acordava e quase nos obrigava a comer uns 40 pastéis/folhados/bolinhos, etc que trazia todas as noites lá da loja, porque não tínhamos geladeira e o material estragaria em pouco tempo. Era uma festa...
De casinhas, brancas ou nem tanto, era feita toda a Ipanema daquela época... principalmente a Av. Prudente de Moraes. (MORAIS é o sobrenome de minha mãe!) Nessa rua, no final dela, ficava um Country Club classe A, de frente pra praia. Fui entregar um telegrama lá, era para um figurão qualquer. O porteiro"barrou" minha entrada, calça surrada e uma jaquetinha cinza do tipo escoteiro, o uniforme oficial dos estafetas.
Num carrão qualquer, o sujeito que entrava perguntou do que se tratava: "telegrama pro doutor Fulano!", respondeu o porteiro. "Deixa o rapaz entrar..." e lá fui eu entre "cocotas" e "peruas" -- tachadas de "madames" naqueles tempos, com os cabelos "montados" no tipo sorvete 3 bolas (um horror!) -- entregar a mensagem. Pobre já é sem-graça por natureza... fica mais sem graça ainda no meio da ricalhada, a gente não sabe onde botar as mãos. Não recebi gorjeta, mas acho que a teria recusado. BELOS TEMPOS!
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