("Cultura Brasilis", by Carlos Ventura)

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Carlos Venttura · Suíça , WW
30/7/2011 · 2 · 1
 

Há tempos escrevi um artigo ("Observando a Cultura brasileira de fora pra dentro") que foi divulgado e publicado por um jornalista, escritor e ativista literário e acadêmico, o baiano Valdeck Almeida de Jesus, através do seu blog (Galinha Pulando)
Este artigo falava sobre a difusão da cultura brasileira no exterior e nele eu ressalto a necessidade de um novo olhar sobre esta difusão. Bem como a preocupação de aproximar o Brasil dos brasileiros, que moram no exterior e os que no exterior nasceram e vivem, e que tem uma relação muito distante com a riqueza e a diversidade cultural do nosso Brasil.
Recentemente publiquei um outro artigo (“Um olhar. O Futuro do Brasil do Futuroâ€, ) na revista da ACB-Academia de Cultura da Bahia, sobre a necessidade de olharmos o futuro que queremos para os nossos filhos e como a cultura e as artes e a preservação delas é de primordial importância para este futuro.
Agora escrevo aqui no (Overmundo) este novo artigo, que nos remete a fazer uma nova provocação e a partir dela dar a nossa contribuição, sobre os rumos da nossa arte e da nossa cultura e o que queremos com ela:



"...Um pais com dimensões continentais e que tem o mar como primeira rota de chegada e portal de entrada de diversas outras culturas, e que ali sofreram transformações e teve que ser reinventada passando a ser algo genuinamente brasileiro.
Tem algo de mágico e misterioso e toda esta magia e mistério esta em seu povo sua força e sua historia..."


O Brasil tinha como portal a cidade de Salvador, fundada por Tomé de Souza em 1549, e seu porto o primeiro e maior porto das Américas não era só o maior entreposto de produtos mas, de culturas.
Por ali uma boa parte das culturas do mundo entraram e ali se aliaram a outras culturas e línguas, a outros aromas e cores.
Numa paisagem tropicalmente bela e um calor que sem sombras de duvidas serviu para forjar esta nação e suas diversidades culturais.
Moldando assim um pais com a maior diversidade cultural do mundo.

A cultura indígena que era a anfitriã mesmo não tendo a visão de grande importância que deveria, se mostra hoje viva e esta nas artes, nos sabores e na língua.
Este nosso Brasil, que de berço tem origem européia e uma profusão de outras culturas, passa a ter a sua brasilidade no falar a partir da sua africanindigena miscigenação, e faz com que a língua passe a ter a doçura e malemolência.
Um esticar preguiçosamente delicioso nas palavras dando a nossa língua uma sonoridade ímpar.

O que pouca gente sabe é que o tupi (mais precisamente, o tupinambá, uma língua do litoral brasileiro da família tupi-guarani) foi usado como língua geral na colônia, ao lado do português, principalmente graças aos padres jesuítas que haviam estudado e difundido a língua. Em 1757, a utilização do tupi foi proibida por uma Provisão Real. Tal medida foi possível porque, a essa altura, o tupi já estava sendo suplantado pelo português, em virtude da chegada de muitos imigrantes da metrópole. Com a expulsão dos jesuítas em 1759, o português fixou-se definitivamente como o idioma do Brasil. Das línguas indígenas, o português herdou palavras ligadas à flora e à fauna (abacaxi, mandioca, caju, tatu, piranha e outras), bem como nomes próprios e geográficos.

A contribuição das culturas, africanas e indígenas para o Brasil que conhecemos hoje foi e é de essencial importância para que tenhamos esta tão rica diversidade, pois ambas tem uma base de acolhimento em sua raiz o que na minha visão proporcionou uma maior assimilação e introdução de outras culturas na formação do que hoje chamamos de cultura brasileira.

A insistência de se criar na colônia uma cultura erudita, a partir de uma visão portuguesa (Européia), como forma de transformar o novo mundo em uma extensão do velho (Culturalmente falando), se depara com a resistência de uma cultura oral oriunda da Ãfrica e dos índios que eram os donos da nova terra. A miscigenação passa a ter o papel decisivo de inclusão de seus valores e sabores, através dos dialetos e línguas trazidas de Ãfrica e das muitas nações indígenas existentes e resistentes na terra Brasilis. E foi na interiorização, com as entradas e bandeiras que surge a resistência de uma cultura que ia além dos olhares eruditos da corte.
E a partir dos Quilombos nas lutas por uma liberdade ainda que tardia fizeram ecoar e resistir um novo Brasil que estava por vir.
Uma nova Santa Cruz.
Um Brasil exuberante e rico na sua cultura e no seu povo.

Nas esquinas, ladeiras, feiras e no cais dos portos, (Salvador/Rio), negros, Bantos, Jêjes, Iorubas, mesmo na condição de escravos, através da sua cultura oral, foram grandes os contribuintes para o que hoje conhecemos como vocabulário atual do português que é falado no Brasil.
Muito do que falamos tem origem banta. Mais especificamente, se origina do idioma quimbundo, uma das línguas nacionais de Angola. Por exemplo: "moleque" vem de mu´leke, que significa "menino". "Cafuné" vem de kifunate, "torcedura". "Camundongo" vem de kamundong. "Mugunzá" vem de mu´kunza, "milho cozido". "Canjica" vem de kanjika. "Samba" vem de semba, "umbigada". "Bunda" vem de mbunda e outras...
Bem como a sua contribuição através da sua musica e dança, que fazem com que os sons, ritmos e danças brasileiras seja reconhecidos em todo o mundo pela sua beleza e singularidade.

Hoje esta contribuição e difusão continua através de muitos outros brasileiros que estão por este mundo a fora.
Seja nas rodas de capoeira e nos festivais de cultura ou na Web, globalizando e interligando de forma digital o Brasil e o mundo. Através dos seus blogs, e espaços destinados exclusivamente para a difusão e preservação da nossa cultura.

O Brasil é uma nação potencialmente promissora quando observamos pelo prisma da economia globalizada.
O que na verdade precisamos é de vontade política para promover uma política cultural de verdade dando a cultura o status e a atenção que ela merece.
Falta vergonha nos políticos e senso de responsabilidade nos gestores públicos, que na sua maioria não entendem nada de gestão cultural e nem sabem o que é cultura.
Os poucos que entendem e querem trabalhar são atados como múmias pela politicagem medíocre partidaria e pela falta de recursos o que é um contra censo, quando vemos que nada que se faça ou promova no mundo que não tenha em seu conteúdo cultura e arte não gera dinheiro.
Pois os números frios da economia não mentem quando dizem que as grandes potencias econômicas do mundo tem como responsável por mais de 40% do seu Pib, bens e produtos derivados da cultura.
Portanto a Cultura não é mercadoria e sim uma grande agregadora de valores aquilo que ela é vinculada.
Cultura sempre foi e será um portal para uma outra existência e uma nova consciência..."




("Cultura Brasilis", by Carlos Ventura)



*Carlos Ventura é Musico, Compositor, Dramaturgo, Escritor e Acadêmico, membro efetivo da ACB-Academia de Cultura da Bahia.

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ayruman
 

Maravilha amigo. E viva a nossa Cultura apesar de tão esquecida e deixada em segundo plano! Luz e Paz.

ayruman · Cuiabá, MT 10/4/2012 20:19
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