Meu primeiro contato com o Casca Verde foi meio de espanto. Convidada pra ser jurada do prêmio Solcultura de Música, deparei com o nome do grupo (e também do Coco Doce) entre os grupos a que eu deveria dar uma nota. Não conhecia! Falei com o organizador do prêmio sobre a minha ignorância e ele: “é que eles ainda não estão muito conhecidos aqui, são da zona ruralâ€. Fiquei com o nome na cabeça.
Aà recentemente vi no jornal que o projeto Cultura Casca Verde ia lançar seu primeiro CD em uma festa na praça João LuÃs Ferreira , justamente em uma manhã de sábado em que eu estava de folga. Lógico que fui cedo pra lá, tinha que saber do que se tratava, porque se estava concorrendo ao prêmio Solcultura era coisa boa e eu já estava triste de não conhecer.
Fiquei observando a movimentação, me sentindo mais por fora que umbigo de vedete. Vi que o Casca Verde era mais que música, uma banquinha montada na praça João LuÃs Ferreira exibia, além dos CDs, bolsas de chita (um luxo!), blusas bordadas, vestidos coloridos e biojóias; tudo produzido pelas comunidades que participam do projeto. Aà começou o show. Começou com a cantoria dos mestres Emiliano e Raimundo Branquinho, moradores de povoados da zona rural de Teresina, depois teve cantiga de reisado, bumba-meu-boi e muita dança.
E foi juntando gente na praça.
Quando as meninas do Coco Doce começaram seu show – cantando as músicas das rodas de Birim - , seguras, bonitas e afinadas, já tinha gente dançando. Depois veio o Erva Rasteira, com forró, xote e maracatu e finalmente o Casca Verde, misturando cultura regional com ritmos africanos. A essa hora, sob o inclemente sol do meio-dia, de um lado um grupo de amigos se sacudia, do outro um casal dava um show de forró.
E eu pensando: como é que eu não tinha visto isso antes?
Trocando conhecimentos
Os professores e atores Chiquinho Pereira e Luciano Melo estão entre os principais responsáveis pelo projeto Cultura Casca Verde, que começou há cerca de três anos, envolvendo os alunos da Escola Areolino Leôncio da Silva, do povoado Boquinha, zona rural de Teresina. A escola é a única num raio de muitos quilômetros e crianças e jovens de trinta comunidades assistem a aulas lá nos três turnos.
Luciano conta que as primeiras atividades do projeto foram as oficinas de música para os estudantes. “O que a gente queria era que eles reconhecessem o reisado, o bumba-meu-boi, o birim como criações artÃsticas que são. A idéia sempre foi valorizar essa arte entre os jovens, para que ela não se perca. O Cultura Casca Verde não quer só fazer aquela história de resgate, quer é mostrar que é bonito, que tem valor artÃstico e cultural aquilo que eles vêem seus pais e avós fazendo desde que nasceramâ€.
Com cerca de 20 anos trabalhando com teatro e com arte de um modo geral, Luciano revela que aprendeu uma grande lição: que é essencial estar aberto para conhecer e trocar experiências. “Nós professores não estamos lá para ensinar arte à s comunidades da zona rural. A coisa só acontece se houver uma troca, nós também aprendemos com eles, com os jovens, com as crianças e com os mais velhosâ€.
“Se transformam em deuses quando cantam e dançamâ€
As trinta comunidades que freqüentam a Escola Areolino Leôncio da Silva começaram a ter contato com as oficinas de arte na época das gravações do filme “Os Amores de Teresaâ€, de Chiquinho Pereira, que conta histórias do cotidiano delas. Chiquinho explica que os mais velhos falaram sobre as manifestações culturais que marcaram suas vidas e os alunos representam a história de Teresa.
O filme tem uma parte documental, com cenas das festas do Divino, das rodas de Birim, do Reisado e dos Novenários de Maio.
O ator e diretor é apaixonado pelo que vê e aprende na zona rural, no interior. Chiquinho sonha com o crescimento do Casca Verde porque vê no projeto uma forma de as comunidades aprenderem a se valorizar e com isso resolver problemas graves que se arrastam por décadas. “Uma das comunidades que participa do projeto é muito carente, carente de tudo. Vivem cercados de latifúndios, mas têm uma cultura que encanta. A terra é a deusa, é a ela que eles prestam homenagens em suas festas. Ainda vivem como numa tribo e, quando chega o tempo das festas, das suas manifestações culturais, eles se transformam, conseguem uma força que não se sabe de onde vem. No dia-a-dia os problemas são muitos, as crianças adoecem, têm vermes, muitos adultos são alcoólatras; mas quando cantam e dançam eles todos são deuses. Eles valorizam e se apegam ao lado espiritual porque de material eles não têm nada. Então, a cultura deles é que é importante, eles já percebem que o Cultura Casca Verde é o que eles têm de bonito para mostrarâ€, divaga.
A cor da casca
O nome do projeto, de acordo com Chiquinho Pereira, tem a ver com a banana casca-verde, muito comum nestas bandas há alguns anos. Hoje quase não se vê mais. “Antigamente, no mercado do Mafuá, a banana mais barata que existia era essa da casca-verde, era tão barata que à s vezes fazia lama no chão; mas ela era especial porque alimentava os pobres e os mais pobres. E mesmo com a casca verde, era saborosa e macia por dentro. Essa banana foi estudada pela Embrapa e um cruzamento dela com outras espécies resultou na banana-peroá, mais vistosa e tipo exportação. O Casca Verde é hoje como essa banana, verde por fora mas maduro por dentro. E misturando, pesquisando, trabalhando, vai ser mais forte, mais bonito, tipo exportaçãoâ€.
Bons resultados começam a aparecer. O grupo Casca Verde ganhou recentemente o Festival Chapadão (é chapadão de Chapada do Corisco, hehe) e na última semana conseguiu destaque na TV e nos jornais.
O projeto tem o apoio das secretarias de Educação do Estado e do MunicÃpio, da Universidade Estadual do PiauÃ, do Programa de Combate à Pobreza Rural e da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, além da ajuda de dezenas de amigos.
O CD Cultura Casca Verde e o DVD “Os Amores de Teresa†estão à venda na Toccata Discos (Rua AnfrÃsio Lobão, 922, loja1, Jockey- ao lado do Pão de Açúcar. Telefones: 86-3233-2151/5181).
O e-mail do Cultura Casca Verde é cameloambulante@hotmail.com.
Pois é, sua danada, que sorte tens destas coisas passarem ao teu alcance, andre. vou ficar esperando a votação,
andre.
Querida Natacha:
Bom demais! Parabéns mais uma vez pelo feeling jornalistico. Creio que é um dom.
beijos e abraços
do Joca Oeiras, o anjo andarilho
Como disse o A.Pessego: que sorte tem de passar estes eventos próximo a você Natacha.
Parabéns pelo texto.
Gente o vÃdeo é uma delÃcia. Que balanço e que agilidade do pessoal. Bacana demais!
Fanny · Rio de Janeiro, RJ 4/6/2007 14:54
Natacha,
fazia tempo que eu não lia uma coisa tão linda quanto a que foi dita pelo Seu Chiquinho: "No dia-a-dia os problemas são muitos [...] mas quando cantam e dançam eles todos são deuses".
Fico feliz à beça de ver manifestações como essas e de haver pessoas como você, que escrevem sobre elas.
Um abraço.
Texto divertido (...) "me sentindo mais por fora que umbigo de vedete" (...). E que trabalho bacana esse pessoal desenvolve não é mesmo?
Um abraço.
o trabalho desse projeto já vem sendo visto há mais de 10 anos pelos teresinenses e merece pesquisa pois reflete as verdadeiras raÃzes do povo , da cultura piauiense e destaca o que de melhor esses artistas têm para mostar.Cláudia Santos(Teresina-pi).
claudiartista · Teresina, PI 11/6/2007 11:17
Oi gente, obrigada pelas visitas, hehehe!
Cláudia, o Casca Verde não existe há dez anos não. Começou mesmo há cerca de três anos, quando o Luciano Melo e o Chiquinho Pereira resolveram fazer um trabalho com as comunidades da zona rural.
beijo
Ah! natacha , o grupo casca-verde tem uma origem bem atrás e eu faço parte dessa história , começamos com teatro e uma boa temporada na praça pedroII na galeria 69, a idéia do projeto já vem de longe , precisamos fazer uma entrevista com vc , sou coordenadora do reisado do projeto, vc conheceu só uma parte desse audacioso projeto.Um grande abraço.Cláudia Santos.
claudiartista · Teresina, PI 13/6/2007 10:59
Bom, vamos conversar então! Que o Luciano e o Chiquinho faziam teatro lá pela praça eu já sabia, lembro de entrevistas com eles que fiz quando era estagiária ainda no jornal MN...O trabalho deles, do Circo Negro e tal, é conhecido mesmo.
Mas o Casca Verde começou a ser VISTO pelos teresinenses há pouco tempo...
E falando nisso, ando viciadinha no CD, hehe
oi natacha, ainda não tinha visto seu comentário,desculpe pois estava abrindo só o meu e-mail.Você tem razão ao mencionar o fato do grupo casca-verde ter aparecido somente agora.Na verdade, ele é a semente de todo um trabalho do circo negro dentro da cidade de teresina. Começou depois da nossa saÃda da praça pedro II, com a instalação na zona rural e foi daà que o projeto tomou toda uma outra dimensão, maior até que nossas fronteiras territoriais. Beijos...Cláudia santos.
claudiartista · Teresina, PI 8/7/2007 14:42Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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