Eles podem estar a um palmo do seu nariz sem que você tenha se dado conta: há cada vez mais casos de negócios abertos pelo PaÃs e muito pra se aprender com eles. Se você acha que nunca ouviu falar disso, provavelmente foi por falta de dar nome aos bois. Se matutar um pouco, descobrirá que, a despeito da terminologia, você conhece modelos de negócios abertos – ou “open business modelsâ€.
Definições
Esses modelos baseiam-se em algum tipo de commons. Open business é um modelo de negócio sustentável, sem geração de receita pelos direitos de propriedade intelectual, ou, por direitos autorais. A liberação do uso de uma obra pode se dar pela utilização de um instrumento legal como a licença Creative Commons ou por uma situação social, em que a ausência de estruturas de propriedade intelectual gera, na prática, o compartilhamento de conteúdo.
Em geral, as principais caracterÃsticas de modelos de negócios abertos são a sustentabilidade econômica; flexibilização dos direitos de propriedade intelectual; horizontalização da cadeia de valor; ampliação do acesso à cultura; e contribuição da tecnologia para ampliação desse acesso.
Em Belém do Pará, por exemplo, o modelo de negócios da indústria local do tecnobrega não é aquecido pelo pagamento de direitos autorais advindo da venda de CDs. Movimentam o mercado da música paraense as casas de festa, shows, vendas nas ruas e as aparelhagens, maquinários tecnológicos enormes que protagonizam as festas do tecnobrega. Imagine o seguinte ciclo: 1) artistas gravam nos estúdios; 2) há quem selecione as melhores novidades e leve aos camelôs; 3) estes vendem por preços compatÃveis com a realidade local e divulgam; 4) DJs tocam nas festas; 5) artistas fazem shows; 6) CDs e DVDs das apresentações são gravados e vendidos; 7) bandas, músicas e aparelhagens estouram na opinião pública e tudo volta ao inÃcio. Com isso vem o crescimento da produção musical, o aquecimento do mercado de trabalho e uma distribuição mais horizontal dos ganhos nas diversas etapas da cadeia produtiva.
O Projeto na América Latina
O tecnobrega é uma das experiências observadas e estudadas pelo projeto Open Business (www.openbusiness.cc) na América Latina. Nesta região, o projeto é liderado pelo Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV DIREITO RIO em parceria com o Overmundo, e envolve pesquisas no Brasil, Argentina, Colômbia e México, com olhar focado sobre iniciativas na área de cultura. Os outros dois paÃses que coordenam o mapeamento de experiências de negócios abertos são Reino Unido e Ãfrica do Sul, com atenção voltada para modelos de negócios abertos na Internet e na educação, respectivamente.
Mas a indústria local da música paraense não é a única expressão de modelos abertos no Brasil, tampouco na América Latina. Pode parecer que não têm nada em comum, mas caracterÃsticas de open business unem o funk, no Rio de Janeiro; o Espaço Cubo, no Mato Grosso; a Eletrocooperativa, na Bahia; o filme Cafuné, de Bruno Vianna; a Tortilleria, no México; o mercado cultural em torno do MerlÃn Estudios, em Medellin, ou a comercialização de champeta na Colômbia e Caribe; exemplos de jornalismo colaborativo ou social, como o Repórter Brasil, Carta Maior e o próprio Overmundo, isso para citar apenas alguns que pretendemos registrar.
No caso mexicano da Tortilleria Editorial, por exemplo, autores compartilham suas publicações na rede. Por meio de um software que gera o original para a impressão, eles podem copiar e vender suas próprias obras e a de outros autores que participam do projeto, sem pagar pelos direitos de propriedade. Paralelamente, suas obras podem ser igualmente distribuÃdas e comercializadas, sem o recebimento de qualquer valor referente à propriedade intelectual.
A idéia do projeto é assim compreender quais são os elementos que compõem mercados abertos, como e por que eles funcionam. Entre muitas questões que envolvem as iniciativas nessa direção, interessa a nós entender em que medida as novas tecnologias contribuÃram para o aprofundamento e a disseminação desses modelos de negócios, como eles se organizam em relação aos direitos de propriedade, suas regras, os sistemas de incentivos, quem são os principais atores desses mercados e as caracterÃsticas de seu público.
Por isso, estamos identificando, investigando e sistematizando alternativas que conjugam conteúdos abertos e acessÃveis para o público com sustentabilidade econômica. Essas experiências permitem não só maior acesso ao conhecimento, como também modelos mais horizontais e inclusivos. O desenvolvimento tecnológico e o comportamento social criado em torno dele colocam em xeque os tradicionais modelos de negócios na área de cultura. Novos modelos têm criado oportunidades de inserção de agentes no mercado, bem como o desenvolvimento de indústrias culturais locais e globais.
Para criar referências de negócios mais inclusivos e compatÃveis com a realidade contemporânea, o projeto Open Business desenvolve pesquisa sobre a indústria local da música no Brasil, Argentina e Colômbia, além de compilar casos exemplares de negócios abertos nos três paÃses e no também no México. O projeto investiga também a indústria cinematográfica nigeriana, que produz, copia e distribui filmes sem arrecadação de pagamento pelos direitos autorais e representa nada menos que o segundo maior setor econômico do paÃs, ficando atrás apenas da indústria petrolÃfera, e a terceira maior indústria cinematográfica do mundo em geração de receitas. Os primeiros resultados das pesquisas poderão ser conferidos em março de 2007.
Você pode contribuir
Há diversas iniciativas surgindo e crescendo na América Latina. As periferias, globais e nacionais, estão se apropriando da tecnologia e criando indústrias culturais informais, por meio de redes de produção, distribuição e consumo próprios. Não se baseiam em incentivos tradicionais de propriedade intelectual. Ao contrário, apostam na livre difusão das obras para o sucesso do negócio.
O que motiva o artista a criar? A remuneração é o principal incentivo para criação – que outros existem e que peso eles têm? Quais são os principais meios de remuneração dos artistas? As respostas a essas perguntas podem nos levar a mais produção e mais acesso à cultura.
Contribuições às pesquisas e ao mapeamento em curso são muito bem-vindas. Você pode colaborar para que o projeto se torne mais rico, registrando ou indicando novos casos de negócios abertos aqui no Overmundo – a sugestão é usar sempre a tag “openbusiness†como forma de ir costurando as colaborações que surjam sobre o assunto.
Outra possibilidade é a proposição de questões, idéias ou reflexões sobre o tema, por meio de comentários aqui embaixo. A razão deste texto não é mesmo outra senão a de despertar reações, novas colaborações, casos e perspectivas: negócios abertos, debate idem!
Para saber mais sobre negócios abertos e cultura livre no Brasil, visite também:
www.culturalivre.org.br
www.direitodeacesso.org.br
Salve, Oona!
Tenho tentado acompanhar estas questões por conta de minha tese sobre "maneiras de fazer música" na América Latina (meu recorte é dos anos 90). Encontrei alguns artigos do Hermano Vianna sobre o circuito bregueiro do Pará e soube há pouco que o Benjamin Taubkin estava organizando um site-primo/irmão do Overmundo sobre a cena musical contemporânea na América Latina (a propósito, alguém aà sabe o que rolou com esse projeto?)
Acho que um trabalho legal sobre temas relacionados é o do George Yudice, que aborda a "cultura como recurso".
Bom, estaremos em contato.
Você (ou alguém da trupe) conhece projetos que seriam como a "TortillerÃa" da música?
Abraços
Genial!
Desde que voltei de uma viagem de alguns meses a trabalho, decidi focar em projetos que o expediente e a rotina sempre me obrigaram a adiar.
Um deles está nos últimos ajustes: uma blogovela (a gente chamou assim de brincadeira e ficou). Gravamos tudo num único dia. Serão 36 capÃtulos utilizando as ferramentas normais de um blog para dar maior apelo dramático: posts com textos, fotos, desenhos, vÃdeos do youtube e vÃdeos feitos por nós.
Formamos um coletivo de profissionais (mais do que isso, amigos) que apostaram e fizeram tudo de graça. Pagamos apenas os assistentes e as refeições, o que deu cerca de R$ 500,00.
O blog foi através de uma parceria (amizade e aposta tb) com a Espalhe Comunicação Estratégica . Estamos dando os últimos ajustes no blog (www.acasacaiu.com.br)
Parabéns e muito obrigado pela matéria. Já estou enviando o link nesse momento para vários amigos.
Grande abraço,
Hélcio
otimo texto. e como diz o pessoal do re:combo "...os institutos extremamente restritivos e mantedores de uma proteção excessiva e exclusivista quanto ao uso de obras intelectuais pelo autor ou por outros titulares de direitos sobre determinada obra (...) não mais condizem com a nova ética e com o comportamento decorrente dos avanços tecnológicos, da revolução digital, e muito menos com as possibilidades criativas surgidas desde então.â€
viva a generosidade intelectaul
abs
claudio
Oi Carlos, que legal! Entre as "maneiras de fazer música" na América Latina, qual é o foco - a produção? Por que você não publica algo sobre sua pesquisa aqui? Bom, se já estiver fazendo isso, quero saber quando for publicado.
Sobre a "Tortilleria musical", não me recordo de ter sabido de algo no mesmo formato, mas vou procurar saber.
Sensacional, Helcio! Não vou perder a estréia! Depois, relate um pouco pra gente sobre a repercussão e desdobramentos do lançamento da novela.
Liberdade de Expressão.
Excelente texto.
Nossa Oona,
Seu texto é excelente! Extremamente interessante, didático e esclarecedor. Parabéns e espero ver mais textos como este em breve.
Oona, ótima matéria e que me fez pensar. E ainda tem gente que discorda quando digo que estavamos vivendo a maior revolução das últimas décadas. E é só o começo. Sabe-se lá Deus onde iremos parar.
gd ab
muito bom mesmo o texto. É de fundamental importância que se aborde com esse enfoque cultural as questões ligadas às discussões a respeito da propriedade intelectual e novas tecnologias.
vale lembrar que o livro "Cultura livre: como a grande mÃdia usa a tecnologia e a lei para bloquear a cultura e controlar a criatividade", de Lawrence Lessig (um dos mentores do CC) pode ser baixado gratuitamente em http://www.tramauniversitario.com.br/compartilhe/cultura_livre.jsp
abraço,
obrigado marcelo!
bem, o trailler já está no ar.
http://www.youtube.com/watch?v=5W3kBGwUpUk
abs
"Essas experiências permitem não só maior acesso ao conhecimento, como também modelos mais horizontais e inclusivos."
isso me faz sonhar acordado!
muito bom!
Olá, Oona:
café tacuba, orishas, bersuit vergarabat, la grupa e, daqui, csnz, lenine, chico césar e zeca baleiro são alguns dos nomes que entraram em minha pesquisa. procuro falar sobre os modos como lidam com os diferentes saberes musicais /cuturais e sobre a relação estreita destes trabalhos com as atuais discussões sobre circulação de conhecimentos.
vou publicar, sim, algo por aqui. só preciso editar um pouco por conta da extensão.
Quanto à "tortillerÃa musical" agradecei a todos os que derem maiores dicas sobre.
abraços
Olá Carlos, me lembrei de uma colaboração do Hermano Vianna que talvez te ajude. É essa aqui. Ela dá um panorama bacana das bandas da américa-latina. Ah! Lembrei, por acaso, de uma banda argentina que eu adoro e ainda não vi ninguém citando muito, o los fabulosos cadillacs. Um abraço!
Enquanto isso, a IFPI e a ABDP (Associação Brasileira dos Produtores de Disco) anunciam hoje que vão começar a processar usuários da internet no Brasil. Veja: www.direitodeacesso.org.br.
ronaldo lemos · Rio de Janeiro, RJ 17/10/2006 18:10Ótima matéria, Oona! Excelente contribuição à disseminação didática do tema. Parabéns!
Carol Ribeiro · São Paulo, SP 17/10/2006 18:12Muito bom Ooninha!! Este é sem dúvida um dos temas mais fascinantes dos últimos 20 anos em termos de potencial transformador. A palestra do Ronaldo no Cebrap foi ótima e só me deixou mais interessada... Beijo, saudades, Tati
Lotierzo · São Paulo, SP 17/10/2006 19:59
Valeu a dica do texto do Hermano, Thiago. Muito bom, mesmo! Aliás ótima também toda a série de intervenções (ali e aqui). Meu traballho vai mais ou menos nessa mesma direção: nosso enorme e lamentável desconhecimento sobre o que rola aqui ao lado... E de como compartilhamos, em muitos casos, as mesmas perguntas.
Cadillacs é mesmo uma das melhores bandas argentinas. O Vicentico, vocalista deles, está com um trabalho solo muito legal também. Vale a pena conferir.
Quanto a este texto da Oona, minha pergunta se referia a notÃcias sobre iniciativas similares a essas (de open business) que ela enumerou, mas especÃficamente no âmbito musical latino-americano.
abraço
Oona querida, como sempre ótimo texto!! muito esclarecedor e instigante - uma questão fundamentalmente relacionada a um longo processo de democratização com o qual, espero, possamos contribuir cada vez mais. beijo,
wanda
Texto e contribuições interessantes e de extrema relevâcia :) Aproveito pra pedir uma alteração no endereço do link da Eletrocooperativa: www.eletrocooperativa.art.br. Abços e obrigada!
mayra lins · Salvador, BA 23/10/2006 15:16
Perdón por no escribir en portugués.
Nosotros en México estamos interesados en un proyecto del tipo "tortilleria musical" y podrÃamos ayudar a programar un software para tal fin, posiblemente usando el formato .ogg
Si les gusta la idea, intentemos hacerla, empezando por méxico y brasil. ¿qué piensan?
Muchos saludos
La TortillerÃa Editorial
tortilleria.vientos.info
Legal, pessoal da Tortilleria! Acho que a idéia de vocês tem a ver com o que o Carlos b (primeiro comentário) perguntou. Seria uma ótima idéia implementarmos esse projeto na América Latina.
Mayra, obrigada pelo link. Não tenho como mudar lá em cima, mas acho que dá pra ir de um para o outro, né? Na próxima vez uso esse que você divulgou, ok?
Valei pessoal. excelentes comentários.
Oi Oona. Bom texto. Se souber de algo sobre o projeto do Benjamin Taubkin nos avise. Ele esteve no Rio esta semana mas nao pude ir ver a apresentação. Abraço do Egeu
Egeu Laus · Rio de Janeiro, RJ 2/12/2006 22:35Salve Egeu, bom te ver por aqui no Overmundo!
ronaldo lemos · Rio de Janeiro, RJ 3/12/2006 12:52
Oi Egeu, queria ter ido na oficinal da Rede no FCM, mas não consegui sair em tempo. Não estou sabendo dos projetos dele, mas foi uma boa lembrança. Vou correr atrás disso.
Se alguém aqui tiver informações sobre o projeto e achar que se trata de Open Business, vale um toque aqui.
São iniciativas como esta que nos fazem apostar algumas fichas no futuro dos empreendimentos culturais. Bela postagem, Oona!
absurdosturos · Rio de Janeiro, RJ 12/4/2007 16:18
Muito bom*! Música independente... e empreendimentos culturais!!! Se puder, ouve lá, Neuroses Atuais, da minha banda, Besouro Zorah*!
Comente e dê seu voto!!!
Valeu!*
Devo admitir que você entende do traçado. Escreve cada vez melhor sobre tantos assuntos relevantes. Um abraço.
Remisson Aniceto · São Paulo, SP 2/8/2007 08:04Vejo que temos muito a aprender sobre os direitos autorais. O Overmundo é, sim, um bom lugar para se aprender sobre isso.
Bruno Resende Ramos · Viçosa, MG 26/3/2008 22:31
Li, gostei e votei...
Estou na fila de votação com este poema espero sua visita e se gostar vote e deixe seu comentario...
http://www.overmundo.com.br/banco/os-sonhos-que-eu-sonhava
beijos no core...
Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!