No último domingo estava na Av. Paulista com uns amigos depois de sair do cinema. Para comer sugeri que fôssemos ao Burdog, uma excelente e tradicional lanchonete paulistana, como tantas espalhadas pela cidade. Desmotivados pela minha sugestão, tentamos mais dois lugares para variar um pouco, um deles era inexistente e o outro (a padaria Bella Paulista) estava com uma fila quilométrica. Resolvemos então acatar a sugestão de um dos membros do grupo e conhecer a Lanchonete da Cidade, supostamente o melhor hambúrguer da cidade (embora não tenha encontrado essa referência).
Fiquei confuso, já que minha sugestão do Burdog não foi acatada, e o esforço logo se mostrou equivocado pois tivemos que entrar numa fila de espera e em um evento raro meu estômago estava dando nó de tanta fome.
Ao entrar, o choque: O chão era de cacos de ladrilho, daqueles que você coloca nos fundos da sua casa quando o dinheiro acabou; como luminárias, copos furados; o balcão e as mesas eram de madeira com acabamento em esmalte branco; e as cadeiras de ferro e madeira com acolchoamento vagabundo revestidos de plástico imitando couro. Nas paredes fotos de São Paulo no que parece um misto das décadas de 60 e 70 (incluindo a famosa foto da Rua Augusta coberta de carpete).
Olhando o cardápio, logo notei que é impossível alimentar-se por menos de 14 reais. Pedi um sanduíche intitulado Paulistinha, de fato saboroso, mas a carne não estava no ponto que eu pedi; a porção de batatas fritas (que me neguei a comer devido ao preço abusivo) era previsivelmente pequena; já o serviço, bem, esse era demoradíssimo. Comi e quis dar logo o fora dali.
Há algum tempo a quantidade de “casas de hambúrguer” (o que aconteceu com a palavra lanchonete?) em SP aumenta assustadoramente, chuto grossamente que dois terços delas tenham uma temática anos 50. Que aliás não correspondem aos anos 50 brasileiros. Enquanto isso, o hype anos 80, que há muito já rendeu o que tinha, não acaba: tá certo, eu tenho muitas saudades da minha infância, adorava e adoro muitos dos brinquedos e programas dá época, mas tem uma hora que chega.
A tal Lanchonete da Cidade chega agora para cimentar essa onda de retrô eterno que tomou conta da cidade. Finalmente caiu minha ficha, e fiquei realmente perplexo com o quanto as pessoas são trouxas; me desculpem, mas não consigo encontrar outra palavra para descrever-nos, a Lanchonete da Cidade é o ápice. Há diversos locais legitimamente congelados na década de 60, 70 e 80 espalhados pela cidade, vários botecos e lanchonetes, mas garanto que o público do Cidade não tem coragem nem de passar perto. Para que a experiência real se podemos ter a versão limpinha?
Não somos apenas trouxas, somos covardes. Queremos viver algo mas não temos coragem de ter a experiência real, então buscamos o simulacro, é como um vídeo-game cultural. Colocamos a culpa em um fator externo qualquer, como a falta de tempo ou segurança, e corremos para experimentar o máximo da versão plastificada daquilo que falsamente desejamos, e no fim não compreendemos nada.
Estando na tal lanchonete me recordei da cena do filme Ghost World em que as duas personagens principais vão à “mais uma dessas lanchonetes anos 50” e debocham da autenticidade. Sempre que adentro um local estilo anos 50 por aqui me lembro da cena; mas ver aquela mesa vagabunda mais barata que meu sanduíche finalmente me fez compreender a sensação.
Claro que não sou um Indiana Jones culinário/cultural que desbrava qualquer boteco de esquina e encaro um churrasco grego na cara e na coragem. Mas também não me sinto bem brincando de estar em algo que sei ser uma imitação paspalha. É como o bar Favela em Moema, cuja idéia eu considero um insulto.
Eis uma das frases feitas mais chatas do universo, mas que no caso é verdade: “nada se cria, tudo se copia.” É por aí mesmo, vivemos numa situação em que tudo é cercado por marketeiros de todos os lados, cheios de idéias roubadas de outro lugar; e quando um consegue emplacar algo, todos vão atrás. A idéia de fazer algo retrô já não é original por princípio, e os imitadores logo a multiplicam ao insuportável. Estamos em uma constante fase de transição: quando o último termina de copiar a idéia, e todas as opções que temos são iguais, alguém começa algo de sucesso que irá puxar um novo ciclo xerox.
O verdadeiro mérito dos anos 80 e das décadas anteriores (mesmo as mais débeis) foram sua originalidade. Já década 00 ainda há de provar seu mérito em termos de um estilo reconhecível; várias modinhas já passaram e a única que persiste é a do retrô. Daqui a vinte anos, em uma “festa anos 00” teremos músicas do Blitz tocando em um bar estilo anos 50 com garçons fantasiados de Ronnie Von, por enquanto esse é nosso legado.
Nossa! Excelente final!!! Hehe! Sinto falta de uma foto. O que me diz? Abração!
Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 17/4/2007 17:23
A idéia para o texto foi inesperada, então tirei as fotos com o celular mesmo. Como não tenho o cabo, demorei um pouco pra conseguir pegá-las. Mas estão aí.
Acho que o texto está apocalíptico demais. Acho que foi indignação diante da fome que estava sentindo. ;)
Oi Fernando. Legal o texto. Confesso que não entendi bem se a Lanchonete da Cidade é retrô porque é antiga mesmo ou se foi criada recentemente com cara retrô por idéia de algum marqueteiro (se for isso, é bizarro mesmo). Entrei no site do Bar Favela para tentar entender qual é a idéia que você considera um insulto. A idéia é que as pessoas "imaginem" que estão bebendo numa favela, é isso?
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 18/4/2007 15:10
É por aí, Helena. Talvez eu tenha que deixar mais claro no texto que a Lanchonete é BASTANTE nova. E cobra o preço de lugar da moda, não dos lugares que ela emula.
Sobre o Favela são as pessoas celebrarem um lugar arbitrariamente chamado Favela enquanto repudiam A favela.
Nossa, então é tudo muito mais grave do que eu imaginava... Que coisa!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 19/4/2007 15:45
Sou do interior, mas moro em Sampa há quase dez anos, e ainda não consegui me acostumar com o preço da comida nos bares e restaurantes, são assaltos.
Apesar de já termos passado da metade da década, realmente ainda não dá para ter muita idéia de sua "cara"...
Pois é Fernando, achei o texto bem legal, mas não entendi se a lanchonete que você foi é autêntica ou "temática"... Gostei muito do texto... essa coisa de simulação é uma loucura.
Acredito que aí em SP devam ter vários, mas os chamados "pé-limpos", há um tempo, invadiram as esquinas cariocas. É como se você estivesse na Disney ou na novela das oito e fosse num botequim... tudo é limpo demais, bonito demais, artificial demais...
Guilherme, o texto falhou nisso mesmo. Infelizmente não tive tempo de corrigir isso antes da publicação. Espero que os leitores confiram os comentários ;)
Esse é mesmo o espírito da coisa, algo Disney, como quando você vai ao "japão" no Epcot Center. E sim, os pé-limpos estão se proliferando cada vez mais aqui, tenho uma sensação muito estranha quando entro num lugar desses.
Marcelo, por aqui é assim mesmo, se o lugar é limpinho demais vai ser caro demais.
Gostei bastante do texto, Mafra. Você está se tornando um grande cronista do "mundo lá fora": divertido, inteligente, contestador e informativo. Boto fé.
MariG · Campo Grande, MS 19/4/2007 22:46
Bom eu acho que anos 90 (antes dos 00 vem os 90 esqueceste ?) e os anos 00 tem estilo e marcas com certeza, os oitenta voltaram com força por um lobby enorme de uma geração jah estabelecida , normal o pessoal da moda sabe disso, soh que agora o pessoal do marketing também , fora o saudosismo lusitano que paira por aih.
Quanto ao Favela ele vem de uma onda do final dos anos 90, quando foi lançado no Rio, um livro chamado Rio Botequim (1998 - Casa da Palavra) e a partir daih criou-se toda moda, concursos de comida, eleição de melhor chopp, termos tipo baixa gastronomia, botecos cariocas em Vila Madalena etc e etc
Tah vendo o Favela na verdade ainda eh resquicio de uma moda do final dos anos 90.
Duda, legal essas informações. Sobre esse livro, em BH começou o Cumida Di Buteco -concurso para pratos de boteco-, mas não lembro em que ano, vc sabe se também foi influenciado por ele? Ano passado a AmbEv comprou a idéia e trouxe pra SP (não sei se terão outras edições).
Fernando Mafra · São Paulo, SP 19/4/2007 23:39
Sobre os anos 90 eu não falei porque eles ainda não entraram nessa onda retrô que eu vejo agora. Eu os vivi plenamente, mas não lembro de ter uma onda retrô tão forte durante esse tempo - daí minha crítica.
Tenho certeza que meu comentário sobre os 00 não ter estilo reconhecível foi ousada e até precipitada (é muito mais fácil reconhecer um padrão depois que a década passou). Mas já que você falou, qual seria então o estilo dos ano 00, o que o destaca das décadas anteriores?
Não estou falando de coisas relacionadas a tecnologia ou troca de informação - onde eu acho que essa década deu uma contribuição importante e está remoldando o mundo. Falo de estilo mesmo, coisa de bater o olho e reconhcer.
O Comida di Boteco foi influenciado com certeza.
http://www.casadapalavra.com.br/catalogo.php
Essa eh a sexta edição , a última foi lançada no Circo Voador e eh dedicada exclusivamente a petiscos de bares.
O que falar por exemplo na onda lounge(que começou no final dos anos 90) e que acabou gerando fora os bares em estilos minimalistas ou estilos "asiáticos" , agora temos na noite jah a pelo menos 2 anos o house minimal nas pistas.
O que dizer do drum n bass de Marky e Patife ? Que aconteceu nos 90 e que ateh hoje ainda ecoa e que jah se misturou com a bossa nova. (fernanda porto e bossacucanova)
E o pessoal que não eh apressado mas anda comendo cru ?
Eu acho que esta onda retrô deve ser consequência de um grande número de marketeiros de plantão , consequência talvez que venha do fato do curso de marketing ter sido a grande onda das faculdades nos anos 90. Diferencial, publico alvo etc e etc.
Quanto aos anos 00 , como eu disse anteriormente tem muito de lounge , de minimal, tem essa onda de boteco e sua franquias. Isso com certeza você pode apontar entre 95-05 agora depois de 05 ainda não vejo muita coisa fora disso, existem tendências mas não moda como essa duas tendências viraram.
Vou lembrando e vou comentando por exemplo vai ser impossivel você não falar em funk carioca entre 95-05 e toda a sua estética com os bailes funk.
Das misturas:
Planet Hemp - hip hop mais rock 90-95
Marcelo D2 - hip hop mais samba 95-05
Rappa - reggae e rock 90-95
Chico Science e Nação Zumbi - maracatu e rock 90-95
Mundo livre
Vamos comentando
Por exemplo desde do ano 2000 aconteceu a afirmação de um circuito de festivais para bandas, músicos "iniciantes". O Mada em Natal, O Porão em Brasilia, o Abril Pro Rock em Recife, o Humaita pra Peixe no Rio - todo esse circuito hoje estah aih como plataforma de lançamento de bandas novas.
O Lobão com a A vida eh doce nas bancas e posteriormente a Revista Outra Coisa. A Bizz voltando, a Rolling Stone no Brasil.
O centro de Midia Independente que veio desde dos embates anti gloablização em Seattle, com sede em vários locais do mundo.
Jah tem gente dizendo que indie virou moda nos 00.
Outra questão seria falar nas tais "tribos", jah virou ateh programa de tv.
dudavalle · Rio de Janeiro, RJ 20/4/2007 00:54
Poxa duda, gostei. Derrubou metade do que eu falei no texto ;)
Acho que os mais expressivos aí são a onda Lounge (que agora virou sufixo de qualquer porcaria) e o drum'n'bass.
Você reclama, mas ainda não viu "Os morro-em pé" aqui em Natal...excelente texto. Abraço.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 20/4/2007 11:20
Belezura de crônica, namorado.
Ondas à parte, acho que a denúncia mais séria do texto é o nosso comportamento de adotar emuladores limpinhos e evitar aquela realidade. Várias vezes eu acho dificuldade em traçar um limite do temático bom e do ruim...
Acho que este texto do Fernando é mais uma boa provocação do que uma afirmação irredutível. Também achei as observações do Duda boas, várias coisas que não tinham vindo à cabeça. O Lounge e as franquias são marcas dos 90 para cá, sem dúvida. Adoro ir em pé-sujos, mas confesso que opções "limpinhas", como têm feito nos comentários, nem sempre são de todo ruins (como disse a Mi aí em cima, há os bons e ruins). E o pessoal das franquias, pelo menos aqui do RIo, já percebeu que há um desgaste das marcas, tanto que os donos de redes têm aberto bares com nomes diferentes.
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 20/4/2007 13:47Oi Fernando, é possível que não conehcesse, por freqüentar o Burdog, mas na realidade, a Lanchonete da Cidade, se é a da Al. Tietê, não é tão recente assim... foi inaugurada no fim de 2003 - eu ainda era residente na cidade. O que, é evidente, não tira o mérito da sua avaliação sobre ela. É um daqueles lugares que só pessoas com um salário mais farto do que o sanduíche que servem podem freqüentar - mas com ar despojado o suficiente para atrair o circuito alternativo. Sou mais tradicionalista e, neste caso, dico com o América. E, se a comparação é com os anos 80, 70, 60 ou 50 - ou com o Riviera, por exemplo, aí sim, a Lanchonete torna-se novíssima.
Oona Castro · Rio de Janeiro, RJ 20/4/2007 14:36
Só para você ter uma idéia no começo do tal Rio Botequim franquias não eram aceitas, apenas botecos originais. Que eu saiba este último dedicado a comidas e receitas de boteco foi bancado por uma das maiores cadeias de boteco no Rio. Nessa queda da onda das franquias vale salientar que esta mesma rede em seu último boteco inaugurado colocou o nome do dono para não dar na pinta.
E o termo boteco de raiz ? Eh aquele que serve cerveja de garrafa com aquela crosta de gelo :-)))
Olha, taí, há tempos não vejo o Rio Botequim, nem sabia desse detalhe.
Sabe o que reparei? Praticamente só há comentários de RIo, BH e SP neste texto (se não me engano só o Filipe Mamede, de Natal, foge disso - aliás, o que são "os morro-em pé"??). Será que falar em franquias, onda retrô e pé-sujos X limpinhos é coisa de região sudeste? Capaz...
Fernando,
Parabéns! Jantamos o bom gosto para arrotarmos o demodê. O pé sujo agora é artificial, aromatizado com spray de naftalina e decorado com baratas de plástico. Sem contar o amarrotado "fake" dos aliens que equilibram os "cheeses" numa bandejola a la "Saturday Night Fever" dando como certo a gorjeta. A minha paciência com o lugar acaba, quando começam os gritinhos "hype" do lugar. Desculpe o estrangeirismo, mas foi inevitável diante dessa obra "naif" que é esse lugar! Forte abs.
Sem julgamento de valor , a decada de 90 serviu com certeza também para afirmação do carnaval da Bahia se espalhando pelo Brasil inteiro através das micaretas.
dudavalle · Rio de Janeiro, RJ 21/4/2007 00:09
Não podemos esquecer do Suba e o São Paulo confessions no começo dos anos 00 e delas e a eletrônica sendo elas:
Cibelle
Céu
Bebel Gilberto
Katia B
Nina Miranda (ex Smoke City)
Se nos 90 perdemos Chico Science nos 00 a perda do Suba também foi uma tristeza
Duda, julgamento de valor incluso: Seus comentários se tornaram contribuições inestimáveis nesse tópico.
Fernando Mafra · São Paulo, SP 21/4/2007 00:48Me diverti com os textos e gostei dos comentários. Resumindo, o tal "pé-sujo" de hoje é pra filhinho de papai curtir uma ondinha de "miserê" com classe.
Fanny · Rio de Janeiro, RJ 21/4/2007 13:50
Fernando, senti falta de, no trecho que falas da necessidade de simulacros, citares o Slavoj Zizek (que já vi usar o exemplo do café descafeinado pra ilustrar esse tipo de atenuação da realidade), ou pelo menos fazer uma ponte com a caverna de Platão, sei lá...
Mas gostei do texto. A leitura foi fácil (no sentido de não-emperrada, bem azeitada a tua escrita).
Abraço,
Caramba...esse final foi genial. E o pior é que eu acho que é isso mesmo. Mandou forte
Marcos Woortmann · Brasília, DF 21/4/2007 19:47
Outras:
Forro Universitário - não sei precisar aonde começou mas sei que foi uma onda forte no final dos 90
Pagode - começou com Cacique de Ramos, Fundo de Quintal e tantos outros e acabou virando moda no final dos 90 gerando ateh o pagode mauricinho
Grafitti - começou como pixação nos 80 virou tendência grafitti nos 90 e se tornou moda nos 00
Outras:
Documentários - surgia em 1997 o festival Étudo verdade e hoje aquilo que era tendência no final dos 90 virou moda, acho que se você perguntar a alguém que vai frequentemente ao cinema nos últimos 5 anos com certeza ele assistiu a um documentário.
Geração VideoClip - aquilo que era tendência nos 80 veio com força nos 90 através da MTV virou moda e hoje me parece que acabou já que a MTV virou um Silvio Santos "teen".
Lapa, Circo Voador, Samba e Chorinho - no final dos anos 90 inicio dos 00 a reforma do Circo Voador alavancou de vez o bairro da Lapa e trouxe uma nova geração de sambistas e grupos de samba e praticamente fez renascer o chorinho . Agora a extensão estah acontecendo ateh a Gamboa que já recebeu a Cidade do Samba e faz parte do projeto de revitalização da area portuaria do Rio , coisa que já aconteceu em San Francisco, Nova Iorque e várias outras cidades mundo afora.
Artplex, multiplex e os cine shoppings - no inicio dos 00 aconteceu também definitivamente essa cadeia de cinemas artplex multiplex, lugares com 8 a 10 cinemas no mesmo lugar, isso em meio a decadencia dos cinemas de bairro que cabaram sendo comprados por igrejas.
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