Caroço... Caroço... Caroço de Banana... (ecos na cabeça)
Saí da casa do autor de quase todas (ou todas!) as letras do Caroço de Banana com o coração aos pulos. Desde que comecei a conversa com Leandro Ornellas – líder do grupo musical Caroço de Banana - e que ele, tão gentil, ofereceu aos meus olhos mais de um álbum com as memórias do grupo e também dos festivais da canção dos anos 80, fiquei com o pensamento fixo de que queria levar o álbum do “Caroço” para casa. Poder folheá-lo e olhar cada pessoa da foto, ler as letras das músicas e cantá-las seria uma volta musical no tempo.
Voltar no tempo significava, naquele momento, rememorar cada evento da música de minha região e descobrir-me lá! É, eu estava lá, muito jovem, curtindo cada noite de música que acontecia nas redondezas: Cordeiro, Cantagalo, Santa Maria Madalena... E se tivesse os meninos do Caroço ainda era melhor! Lá estava eu cantando com o grupo, que pra empolgar a “rapaziada”, distribuía a letra da música da vez, muitas delas copiadas em mimeógrafo ou feitas em gráficas com patrocínios dos bares e do comércio local. Eu estava lá naqueles festivais. Sabia que as músicas com letras de crítica social, palavras difíceis e arranjos elaborados ganhariam os melhores prêmios. E o Caroço? Ah... Era o que fazia a nossa festa, o nosso riso e a nossa rouquidão no dia seguinte. Comunicação com o público era o prêmio deles.
Com o álbum já em casa, fui revendo toda essa história, cantarolando as músicas que mais sacudiam as arquibancadas dos festivais nos anos 80. O início do álbum tem um texto pequeno e datilografado que resume bem o perfil dos “malandros” do Caroço: “ O estudioso japonês KUMIKANGIKA KENTI, autor da frase “Banana tem caroço”, admitiu esta semana estar totalmente errado sobre o assunto, declarando para toda a imprensa japonesa: O único Caroço de Banana existente no mundo encontra-se na cidade de Cordeiro-Brasil e é um grupo de música diferente de todos os outros que eu já vi até hoje.”
Enquanto no mesmo período o Grupo Blitz estourava nacionalmente, entre as muitas bandas de “Rock Brasil”, unindo letras simples e divertidas a uma roupagem teatral , o Caroço de Banana alcançava fãs e públicos na região do interior fluminense com o “foco musical” mais voltado para o samba e o pagode, ambos de aceitação tímida pela mídia e recusados de serem executados por muitas rádios na ocasião. De semelhanças entre a Blitz e o Caroço, somente o uso cênico dos espaços de apresentação. O deboche, a irreverência e um tom nem sempre politicamente correto ficavam mesmo por conta da banda cordeirense. Talvez seja por isso que eles arrastavam os jovens para onde fossem tocar e cantar. Leandro Ornellas disse que muito mais tarde observou um estilo um pouco parecido no também extinto grupo Mamonas Assassinas que fez grande sucesso em meados da década de 90.
A origem do Caroço já é de sacudir muitos conceitos e de incomodar muita gente. Surgiram em 1982 nos tempos dos Festivais Estudantis da Canção. As escolas públicas, em seus calendários tão rígidos, cediam espaço para a juventude mostrar a sua música. Tudo muito bem comportado, é lógico. Em 1983, dobraram a sisudez de um júri com a música “Um Estudo Muito Confuso” e abocanharam um sério 2º lugar e evidentemente ( o que depois ficou sendo troféu-marca-registrada) o prêmio de “melhor Comunicação com o público”. Com boinas e uniformes, cantaram o que os alunos sempre diziam nos corredores escolares: “Chega de estudo / Seja do jeito que for / Pois se for pra estudar essas coisas / É melhor ser um trabalhador...”
Daí pra frente, alcançaram muitos palcos . O sucesso foi tanto que dividiram a grade de programação de shows da Exposição Agropecuária da cidade com os bam-bam-bans da música da época. Chegou ao ponto de um conhecido artista reclamar que não havia sido favorecido pelos organizadores da festa, pois “como ele iria fazer pra segurar o público depois desses meninos?” . Histórias assim e outras mais recheiam o álbum do Caroço de Banana. Uma outra bem divertida é encontrar o nome do Grupo na grade de programação da Festa da Padroeira de Cordeiro, onde, por descuido tocaram Boneca Dura e levaram uma baita esculhambação dos religiosos. Numa outra festa, em Macuco/RJ, tiveram que tocar por mais de duas horas porque o público não os deixava ir embora e o prefeito cancelou a próxima apresentação daquela noite, que seria de um grupo de rock vindo da capital.
Mas nem só de riso e deboche vivia o Caroço de Banana. Para minha surpresa, encontrei registros no álbum do engajamento do Caroço em lutas bonitas como os três dias de festa cultural para a preservação do prédio do Cine Madrid, que seria “demolido” sem consulta popular. Hoje, o prédio está lá. É sede da Sociedade Musical Fraternidade Cordeirense – a nossa banda – e palco de inúmeros eventos culturais que acontecem desde aquela época. Também fizeram bonito numa grande seresta no CIEP Dr. Oswaldo Cruz para reverter toda a renda em benefício do querido cordeirense Helenio Sally , que havia sofrido um grave acidente automobilístico. Helenio , atualmente, toca uma rádio comunitária na cidade e ainda sonha em estabelecer de vez um canal comunitário de TV, com programação voltada para os interesses de nossa região.
Nos dias de hoje, os meninos do Caroço de Banana nem são assim tão meninos. Hélio – amigo do nosso Rei Chico, que já ganhou um artigo no overmundo – hoje é chamado de “Pai Velho” pelo seu amigo e compadre Leandro Ornellas, que acabou de fazer um curso de batismo pra ser padrinho da recém-chegada filha daquele que já se vestiu até de Xuxa nas apresentações do grupo. Hélio é professor de Educação Física e também trabalha numa estação meteorológica. Leandro é assessor de imprensa de duas cidades, escreve para jornais locais e compõe sambas-enredo e músicas “mais elaboradas”. Nego Roger segue o caminho musical e com voz aprimorada e límpida encanta em festivais , shows e em escolas de samba. Tadeu Santinho partiu para outros acordes e hoje se dedica ao chorinho com o grupo musical “Os Matutos” . Ricardinho também compõe e se tornou um excelente intérprete de escolas de samba, além de também trabalhar com assessoria de imprensa para câmaras e prefeituras municipais. Gustavo hoje é dono de farmácia e Dudu é sócio de uma distribuidora comercial - mas ambos continuam apaixonados pelo samba, inclusive sendo ótimos ritmistas da GRESMIC, uma escola de samba local. Edmilson continua sendo o "Pouca Sombra" de sempre, de acordo com Leandro, mas agora bem mais comportado (só bebe umas cervejinhas de vez em quando). E assim segue a vida...
Depois desse artigo, e o meu peito? Continua num ritmo nostálgico de um baticum que ele já não ouve, mas que agora ecoa: caroçoooooooooooooooooo... caroço de banana.... caroçoooooooooo!
Infelizmente, não tive a oportunidade de assisti-los em pleno apogeu. Entretanto, hoje as coisas mudaram, embora eu conheça todos os integrantes do grupo, tenho um deles como grande amigo, o fantástico Ricardo Vieira (Ricardinho). Posso dizer também, que não são todos que têm o privilégio de ouvir as músicas e os comentários dos shows narrados pelos próprios integrantes, sem contar os relatos concernentes ao que acontecia "atrás dos bastidores".
Parabéns Luiz!!! Realmente, é um grupo digno de nota.
Um abraço!!!
Salve Luiz Antonio Cavalheiro.
Um trabalho bem caprichado.
Uma Turma bem legal.
Uma História marcante.Muito obrigado por me convidar para ver.
Me deixou uma ótima impressáo.
Inclusive que isso seja pra gente estabelecer uma grande amizade.
Até o Filosofo Japonê temm a sua simpatia. Sua que eu digo é dele.
Importante garantir essa turma cantando e, vocé produzindo e editando aqui no Overmundo.
Seu Trabalho é um bom Trabalho de divulgacáo e, o pessoal das Cidades da Regiáo váo achar na internet.
Uma Luta e Vida que váo valer a pena.
Parabéns e capriche o que puder.
Vou votar com maior carinho.
Um grande abraco.
Meu micro náo tem til,cedilha, acentos e pontos
Luiz, obrigada.
Já incorporei à pele o Caroço de Banana. Fiquei lendo e indo e vindo quase a tarde toda e me apaixonando.
Você hein?! Tem um jeito especial de contar essa história que, ao final explica tudo.
É paixão. Linda paixão.
beijos, obrigada.
Puxa Luiz, eu que já participei de muitos Festivais senti-me dentro de seu texto e sei muito bem como funciona esta paixão. Maravilha de texto. Muito bom mesmo.
Um grande abraço
Oi povo!
Ouçam as músicas do Caroço!
http://www.overmundo.com.br/banco/caroco-de-banana-irreverencias-musicais-nos-festivais-dos-anos-80
Valeu! Grande abraço e obrigado!
Já te falei que você escreve muito bem?
Que seu texto tem um ritmo evolvente e seu enredo nos prende até o final?
Pois é, tudo isso e mais um pouco.
Sobre o tema e nostalgia, nada melhor do que relembrar o que há de melhor, aquilo que realmente a mairoia das pessoas não conhece, mas que tras na essência a pura arte brasileira...
Votadíssimo com direito a parabéns e tudo!
Cavalheiro, embora com certo atraso, volto pra votar,
um abraço, andre.
Prezado Cavalheiro,
Agradeço-lhe pelo convite para conhecer este texto. Estes eventos sempre me deixam também envolto em grandes recordações. Tempos dos festivais musicais na minha querida Fortaleza. Época dos festivais universitários, festivais na TV (Programa Terral do meu amigo Will Nogueira).
Beleza de texto este seu.
Agora... quanto ao(s) caroço(s) da(s) banana(s), dizem que elas não os têm para não engasgar macaco (rs). Mas - falando sério - dizem que há (ou houve) espécies selvagens - primitivas - que possuem grandes sementes (ou caroços).
abraço musical
e o meu voto!
Ei Luiz. Legal demais sua matéria. Não conheci o grupo, mas pela sua palvras me veio à mente mais ou menos como eles seriam. Não tem como colocar uma música para agente ouvir também?
Seria muito legal.
Abços
Elizete
Luiz. Vi o link da musica agora, depois comento.
Abços.
Elizete
Luiz, fabuloso o seu texto e as lembranças são fantásticas. Imagino a saudade que sentes no peito!
Caroço de Banana é um nome bem interessante! Irreverente como a própria banda, de acordo com seu texto.
Votado com louvor e agradeço seu convite para conhecer essa história linda.
Abração!
ô cidade animada...Ainda bem que agora, de volta à Serra, vou poder beber dessa fonte!
Vou morar em Friburgo, em breve!!!!!
CRIS
É isso aí meu amigo cavalheiro,
você é o maior divulgador cultural desta bela cidade de Cordeiro. A época dos grandes festivais foi realmente um grande marco na estória da música popular em nosso país e Cordeiro fez bonito dando a sua colaboração realizando esse festival. Meus sinceros aplausos e abraços meu amigo Cavalheiro.
Carlos Magno.
Texto rico Luiz, valeu a pena divulgar o que aconteceu e acontece em Cordeiro. Boa colaboração.abç voto
Cintia Thome · São Paulo, SP 28/10/2007 22:40
Oi Matheus!
Imagino que você talvez tenha nascido por volta dessa época em que o Caroço fazia tanto sucesso por aqui.
Como você é amigo do Ricardo, deve saber também da importante contribuição que esse grupo deixou para a música de nossa terra e, hoje, individualmente, essas mesmas pessoas continuam desempenhando papéis culturais importantes na cidade que é chamada de "celeiro de artistas".
Valeu e obrigado.
Oi Azuir!
É... o trabalho ficou bem legal mesmo. Quis que revelasse a essência do Caroço. Meninos brincalhões que contagiavam a todos com as músicas cheias de irreverências.
Obrigado por ter vindo e, principalmente, gostado do meu trabalho.
E quanto a nossa amizade, será sempre bem-vindo um overmano amigo!
Abraços.
Oi Saramar!
Que legal você ter ficado "grudada" ao texto. Fiquei super feliz com isso porque admiro os seus trabalhos postados aqui e a sua grande sensibilidade artística.
Beijão!
Oi Marcos!
Menino.... fico lisonjeado com as suas palavras. Agradeço muitíssimo.
Gosto de temas que reviram os baús do passado. Tem sempre boa coisa escondida por lá. Contar sobre o Caroço de banana pra vocês foi também contar como vivi a minha juventude nessa cidade que amo tanto.
Abraços e obrigado.
Luiz,
Boa chamada... tenho saudade dos "velhos" festivais... mas, nao conhecia este trabalho, nem o movimento do grupo... ta valndo entao, pra saber mais sobre mais gente.
Aquele abr
JC
Luiz.
Teu texto é simplesmente excelente. Uma aula, um passeio muitíssimo bem contado.
Parabéns, amigo
Abraços
Noélio
Parabens Luiz, Pessoal esse é meu professor de Português!!!
É de invejar a sabedoria dessa pessoa maravilhosa que o Prof. Luiz Antonio Cavalheiro!!!
Parabéns Luiz,
Pessoal esse é meu professor de Português!!!
É de invejar a sabedoria dessa pessoa maravilhosa que é o Prof. Luiz Antonio Cavalheiro.
Valeu...
Luiz.
Um probleminha desses, já tão conhecidos na rede tornou impossível minha presença até mesmo aqui no Over.
Estou retornando hoje e vim deixar aqui minha imensa apreciação por seu belíssimo trabalho, assim como meu agradecimento pelo convite. Maravilhoso. Parabéns!
Luiz, que maravilha! O seu texto, de primeira, faz a gente viajar no tempo. Viajei com as fotos também.
Abração.
Votado.
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