Devemos "blogar"?

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João CB · Curitiba, PR
24/11/2007 · 140 · 19
 

A discussão sobre o uso dos blogs e "redes sociais" pega fogo na Internet questionando a relação professor aluno na web. Já me perguntei sobre o grau de exposição que tenho frente aos meus alunos pelo fato de ter um blog e de participar de algumas "redes sociais" como o Orkut, Last.fm, facebook, 43things e mesmo o del.icio.us. Até então era exclusividades dos "geeks" o debate sobre as possibilidades de interação e sobre o caráter do conteúdo que circula na chamada web 2.0. Agora aparentemente a discussões terá que ser levada mais à sério por todos!

O jornal "Columbus Dispatch" do último dia 10 de novembro fez circular uma polêmica no artigo: "Teachers' saucy Web profiles risk jobs". Eles relatam uma disposição da "Ohio Education Association" (OEA) que desencoraja veementemente a utilizarem as redes sociais como o MySpace, e o Facebook. A justificativa para tal disposição é uma coleção de citações retiradas de perfis de professores do estado nas redes sociais, como a de uma professora do noroeste de Ohio que afirma ser "an aggressive freak in bed," "sexy" and "an outstanding kisser." Os comentários maliciosos deixados pelos alunos nos perfís dos professores também preocuparam a OEA. Além de tudo isso há o caso do professor William Eiseman, que foi preso por manter relações sexuais com uma aluna, seu processo de investigação começou com denuncias sobre o conteúdo sexual em seu perfil no "MySpace".

A "pendenga " foi armada e uma série de sites, blogs e jornais do mundo inteiro que colocam a questão: O problema está nesses meios de comunicação ou no conteúdo de mensagens especificas que circulam? E no caso específico dos professores a questão é a de abandonar esse tipo de comunicação, ou a de pensar sobre ele?

Trabalho como professor há algum tempo, no entanto, durante os dois últimos anos andei afastado da profissão enquanto morava no exterior. Nesse período resolvi criar meu blog a "Casa do João" como um espaço no qual eu poderia desabafar as coisas que estava passando, estudando e vivendo. No início a idéia me parecia meio esquizofrênica. Para quem escrevemos um blog senão para um leitor imaginário? Naquele momento era tudo que eu precisava: "- Escrevo para você porque assim será mais fácil do que não dizer nada a ninguém" - diz o cabeçalho do blog. Com o tempo de "bloging" as coisas começam a mudar. Uma rede de leitores começa a se estabelecer, a maioria amigos, e o blog começa a "dialogar" com pessoas reais afinal das contas. Escrever um blog significa participar de uma rede de blogs, pois, em geral os leitores de blogs também têm blogs. Dessa maneira se estabelecem essas redes que se comunicam nos nos temas, nos textos, nos comentários, nas conversas de bar e etc. Para usar o meu sociologuês há uma economia de trocas simbólicas que se estabelece dentre essas redes de blogs. O grande problema é que apesar dessas redes parecerem extremamente fechadas elas não são, se digitarmos "João Castelo Branco" no google acharemos na primeira páginas a "Casa do João" e o link da minha página pessoal na "Last.Fm".

Enquanto eu estava no exterior perceber isso não me incomodava nem um pouco. No caso da "Casa do João" inclusive tive períodos bem pessoais, quando resolvi discutir e desabafar questões bem intimas com esse grupo seleto leitores amigos, mesmo sabendo que o conteúdo era aberto à todos. Contudo no início desse ano, depois de voltar para Curitiba, voltei também a dar aulas. Nessa época eu estava bem feliz com meu blog, mas começou a me incomodar o fato dos meus alunos terem acesso às informações que eu postava, até porque eu descobri que muitos deles lêem o que eu escrevo. O Orkut e a Last.fm também passaram a incomodar, bem como a idéia dos comentários de alunos nesses espaços me é desconfortável, mas nunca tive problemas com eles, até porque não alimento muito as relações com alunos nas "redes sociais" e nunca me expus como fazia com o blog..

Os argumentos sobre a tal polêmica que me pareceram mais sensatos até agora foram os de Regina Lynn, colocados em seu texto "Teachers Should Blog, Tweet and Flirt Online Like the Rest of Us" no blog wired.com. Ela vai criticar a posição da "Ohio Education Association" como algo completamente absurdo e desapropriado. Afinal de contas, ao invés de pensar sobre o uso que os jovens fazem da internet, propomos que nos afastemos ainda mais deles. Lynn diz: "Todos os adultos que trabalham com jovens devem estar atentos para as formas que os jovens se comunicam; eu aconselho aos professores à participarem das "redes sociais", a criarem seus blogs e a trocarem textos com suas famílias e amigos. Professores experientes não vão apenas compreender melhor o mundo no qual seus alunos estão vivendo -- alias, o mundo que eles estão criando -- mas vão também vão ter uma compreensão muito maior sobre os jovens professores que começam a entrar na profissão. "

Quanto aos casos citados pela OEA ela diz: "Já era errado para professores do ensino médio (high school) se envolverem romanticamente ou sexualmente com seus alunos (...). Isso já é proibido, não importa como se faça - telefone celular, castigos depois da aula, notas escritas em um papel." Segundo Lynn os professores que entendem a relação apropriada entre aluno e professor não iriam discutir a vida sexual de seu estudantes no MySpace. Ela conclui seu texto dizendo ainda que tentar colocar os professores num pedestal, "símbolos de um ideal pureza que o resto de nós não tem que se preocupar" é impossível e vai contra o objetivo comum de ajudar aos jovens à amadurecem como adultos responsáveis .

Eu assino embaixo das reflexões Regina Lynn, e ainda acrescentaria que independentemente de tentarmos compreender o mundo que nossos alunos estão criando, temos que participar desse mundo. Para isso temos que aprender a usar as novas ferramentas que nos são disponíveis para nos comunicarmos. No caso das redes sociais e dos blogs precisamos compreender os esquemas de sociabilidade que ai se estabelecem para melhor nos sociabilizarmos no mundo de hoje. O telefone celular assustou à todos e hoje é uma ferramenta essencial no mundo há quase uma década. As ferramentas de interação da web - blogs, redes sociais, chats, second life, e etc - tem se estabelecido como outras possibilidades. Cabe a nós fazermos bom uso, e não nos abstermos!

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Paulo Esdras
 

João, ótimo texto! Acredito que professores devem sempre se atualizar e acompanhar os avanços da comunicação. Caso queira escrever algo que não queira que seja lido por alunos, basta criar um nome falso e um blog para este fim (ou apenas não tornar público o que não queira que se torne público.

abs!

Paulo Esdras · Brumado, BA 21/11/2007 14:45
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Letícia L. Möller
 

Interessante a discussão que trazes, João. Estive pensando nesta questão recentemente, uma vez que mantenho um blog, estou no exterior mas voltando ao Brasil, e com a perspectiva de lecionar na universidade. Creio que o cuidado com nossa postura on line, e com o conteudo e a forma daquilo que escrevemos, seja suficiente a evitar situaçoes inconvenientes... (espero!).

Letícia L. Möller · Porto Alegre, RS 23/11/2007 15:29
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Estrangeiro
 

Baita texto, cara. Na medida.

Estrangeiro · Rio de Janeiro, RJ 23/11/2007 21:59
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Vitória Nascimento
 

O texto flui numa linguagem leve, João CB. Pena é vc não ter percebido na frase "Agora aparentemente a discussões terá que ser levada mais à sério por todos!", no final do primeiro parágrafo. Ocorre com todos nós isso. Escrevemos concordando de um jeito primeiramente e, depois, na intenção de fazer arranjos, acabamos deixando passar umas coisinhas. Parece que cega a gente. Por isso é que convém nas filas de edição termos a companhia de uns atentos colaboradores do site. Gostaria de ter visto a tua matéria antes para ajudar neste sentido. A internet, sobretudo com o advento dos blogs, tornou-se sem dúvida numa importante janela de interação e comunicação. O Overmundo é um grande exemplo deste poder da rede.

Vitória Nascimento · São Luís, MA 23/11/2007 22:30
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Vitória Nascimento
 

Ao término da leitura de seu texto acabei sendo compelida a comentar novamente, ainda trazendo observações sobre edição. Não me leve a mal, João. Penso que seria legal uma republicação do texto editado. Ele é interessante, principalmente para a leitura por parte de blogueiros e educadores. Verrei seu blog.

Neste sentido (edição), acho que aqui no Overmundo deveríamos ter como apagar uma quando da publicação de outra colaboração de mesmo conteúdo.

Vitória Nascimento · São Luís, MA 23/11/2007 22:42
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João CB
 

Obrigado Vitória, aquele "discussões" no plural realmente matou o texto logo no princípio. Gostaria que vc tivesse visto isso antes... tarde demais, quem sabe eu não teria mesmo cortado um quarto do texto.

João CB · Curitiba, PR 24/11/2007 03:20
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Tom Damatta
 

Também gostei do assunto. Iniciei um blog e desisti. Meu objetivo com ele era mostrar um pouco do que produzo em fotografia. De fato, João. Vitória tem razão. Edição é fundamental aqui. Objetividade, também. Depois de publicado ja era. Abraço.

Tom Damatta · Araguaína, TO 24/11/2007 11:11
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tiagón
 

reflexão importante e válida! aos professores se abre uma oportunidade inédita - interagir com os alunos de forma distensionada fora da sala de aula. fazer bom uso das ferramentas de conectividade social na educação é uma prática a ser incentivada, não restringida.

tiagón · Porto Alegre, RS 24/11/2007 18:10
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dMart
 

excelente questionamento, João!

penso muito nisso em relação ao meu filho que, agora adolescente, se estrevera no mundo virtual. em diversas vezes, acabo me pergunto sobre o tipo e conteúdo que publico na internet. acaba virando uma certa auto-censura.

no fim das contas, o que prevalece é a liberdade de dizer e de ser.

também é uma discussão sobre os limites que cada se impõe e se permite, não? se está na internet, acabou-se a privacidade. caiu na rede é de todos.

agora, a questão sobre as novas possibilidades sobre a interação entre professores e alunos dá pano pra manga. sei lá. creio que sou um pouco convencional. o trabalho do professor é na sala da aula. é claro que o professor pode indicar links e conteúdos que achar convenientes e importantes para complementar o tema. mas aí acaba a função, não? se não, ele vira um escravo de sua própria profissão. fora deste espaço, é uma pessoa como qualquer outra.

baita abraço, dMart.

dMart · Porto Alegre, RS 24/11/2007 19:04
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dMart
 

digo...

... em diversas vezes, ME PERGUNTO sobre...

... sobres os limites que CADA UM se impõe...

ehehehe... ; )

dMart · Porto Alegre, RS 24/11/2007 19:06
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Verdes Trigos
 

Excelente reflexão.

Verdes Trigos · Presidente Prudente, SP 24/11/2007 19:07
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Hermano Vianna
 

oi João: realmente a reflexão é excelente - a distração na concordância acontece com todos e de maneira alguma invalida o todo do texto - seria bacana a gente não fazer esse tipo de comentário quando o autor não pode mais corrigir o texto - isso é assunto para a fila de edição - depois da fila de edição o importante é comentar sobre o conteúdo, já que a forma não pode ser mais alterada - entre as novidades que vão para o ar até o fim do ano vamos criar um mecanismo para os comentários editoriais serem apagados depois que a colaboração passar para a Fila de Votação - assim as colaborações não vão carregar esses comentários para sempre - abraços

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 24/11/2007 20:42
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Sergio Lima
 

Opa João!

Excelente discussão e excelente leituras que você trouxe para enriqecer o debate!

O professor deve se portar com bom senso e correção em qualquer espaço! Na festa da escola, em espaços públicos e/ou em redes sociais ou blogues.

Não podemos perder de vista também que os professores também são humanos e não devemos estar acima dos outros mortais, ainda que tenhamos responsabilidades em sermos exemplos para a garotada.

E sim, temos que ocupar com sabedoria os novos espaços informacionais: blogues, mensageiros instantaneos e redes sociais!


[]´ s

Sergio Lima · Rio de Janeiro, RJ 24/11/2007 20:53
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Mi [de Camila] Cortielha
 

Oi, João, legal a discussão (apesar dos probleminhas editáveis e das citações em inglês - que nem todo mundo lê).

Acho que os professores devem se resguardar na internet, já vi muita gente dando "bandeira 2.0", como disse o Jorge em uma conversa particular. Na verdade, acho que tem muito professor (principalmente os que não são ligados a tecnologia) que não entende o real alcance da internet.

Mi [de Camila] Cortielha · Belo Horizonte, MG 24/11/2007 21:36
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FlavioDeSouza
 

Interessante tema, este levantado por ti.
Acrescento dizendo que a internet deve ser utilizada pelos professores (e pais também) para ficarem mais próximos dos seus alunos (e filhos, claro). É mais um canal de comunicação, mais uma porta que se abre.

FlavioDeSouza · Rio de Janeiro, RJ 24/11/2007 22:02
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Reticências...
 

Muito bom texto, coerência nos argumentos, posicionamento crítico, todavia leve!

Sou mulher, trabalho na educação, mas com crianças... Pensa, pensa, pensa... Venho pensando sobre isso há tempos!!!

Concordo em gênero, grau e número... mesmo com o lapso NATURAL da concordância... ACONTECE!!!!


Reticências... · Salvador, BA 25/11/2007 11:07
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LAILTON ARAÚJO
 



VOTEI NO TRABALHO...


AMIGOS E AMIGAS...

Para o bem do OVERMUNDO

E da liberdade do autor – leiam:

http://www.overmundo.com.br/overblog/tirem-do-ar-moleques

http://www.overmundo.com.br/forum/debate-geral-o-que-e-cultura

Desculpem! Foi necessário!

Grande abraço!

Lailton Araújo

LAILTON ARAÚJO · São Paulo, SP 25/11/2007 18:18
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Psychojoanes
 

Muito legal, me fez refletir o tamanho do alcance disso tudo...

Psychojoanes · São Domingos do Prata, MG 27/11/2007 03:56
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Luciano Carôso
 

Caro João:

Importante contribuição esta sua. Acho que este tipo de discussão deveria ser uma das bolas da vez no variados meios educacionais. Infelizmente, no meu contexto, não é o que vejo. Poucos se dão ao trabalho de tentar. Menos ainda percebem a dimensão e a irreversibilidade de todo este processo.

Textos como o seu podem ajudar a mudar este quadro.

[]s,

Luciano Carôso · Salvador, BA 14/12/2007 16:54
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