Dez por cento

Fotomontagem (pela moralização dessa malandragem) por Delfin
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Delfin · São Paulo, SP
7/7/2006 · 145 · 22
 

A problemática da famosa 'taxa do garçom', facultativa, é um grande reflexo do mau atendimento dos serviços cariocas.

Acho que todo mundo sabe que os estabelecimentos comerciais são proibidos de cobrar, obrigatoriamente, os famosos dez por cento pelos bons serviços prestados por garçons e funcionários em bares e restaurantes. Se você parar para pensar, é algo bem lógico, já que o local está cobrando pelo que você consumiu e a obrigação de todo bom estabelecimento é o bem servir. Condicionar o bom serviço, no entanto, à cobrança dessa taxa adicional é algo que já se tornou parte de uma espécie de tradição. Tanto que é de praxe que as pessoas paguem os tais dez por cento sem nem ao menos dar um pio.

Por lei, os estabelecimentos têm que informar ao consumidor de que ele não é obrigado a pagar esta taxa. Alguns nem isso fazem. Mas, até aí, isso é no país inteiro que acontece. Porém, como consumidor, eu nunca reparei tanto neste detalhe como no Rio de Janeiro. Alguns me dizem que, por eu ser novo na cidade, eu ainda não me acostumei com a atitude. Mas com o que é que eu tenho que me acostumar, mesmo? Em diversas cidades, quando eu informava que não pagaria os dez por cento, por causa da não-obrigatoriedade, quase sempre houve respeito pela decisão. Porém, na capital fluminense, parece que os lugares acham isso uma espécie de ofensa.

Como eu acho isso um problema generalizado da cidade, notadamente na Zona Sul, não vou aqui ser indelicado com os locais que me foram indelicados. Mas acredito que isto seja um problema cultural e, como é de cultura, em todas as suas formas, que se pretende falar aqui no Overmundo, vou contar alguns dos problemas que já enfrentei por aqui.

Um deles foi num tradicional restaurante do Flamengo. Eu estava junto com a minha mulher, o amigo João Paulo Cuenca e sua esposa, Rosana Caiado. Eu ainda não morava no Rio e combinamos neste lugar, o qual eu queria muito conhecer, para beber um pouco e conversar. Ficamos por horas, num ambiente verdadeiramente agradável e descontraído. Quando fui fechar a conta, no entanto, fui ao caixa para pagar sem os dez por cento. Seguiu-se o seguinte diálogo:

– Então, eu gostaria de pagar a conta, mas sem os dez por cento.
– O senhor não foi bem atendido?
– Sim, mas...
– Se foi, qual o motivo de não pagar?
– Porque não é obrigatório.
– O senhor foi bem atendido?
– Sim, mas...
– Então, vai de sua consciência, não é mesmo?

Esta última frase foi dita já com a máquina do cartão de débito à minha frente, pronta para digitar a senha, com o valor acrescido do extra não-obrigatório. Que, sim, acabei pagando. Ainda ficamos mais uma hora por lá, pois o JP e a Rosana chegaram um pouco atrasados e estavam comendo. Durante toda esta hora, mesmo tendo pago os tais dez por cento, os garçons sequer dirigiram a palavra a mim enquanto estive por lá. Quando tentei pedir um chopp adicional, pelo qual pagaria, o senhor que atendeu a mesa simplesmente deu de ombros e meu chopp, claro, nunca chegou. Como diria um amigo meu de Campinas, era a lama. Óbvio que nunca mais fui lá.

O que eu não sabia, naqueles dias, é que diversos outros estabelecimentos seriam riscados do meu caderninho de lugares para se ir na cidade. Outro deles, já comigo morando aqui, é pertinho de casa. Mesma situação: eu, minha mulher e meu enteado. Quando fui pagar sem os dez por cento, o rapaz do caixa simplesmente me disse: "Está errado, a conta deu tanto". Eu expliquei, ele fez que não entendeu e, apenas após dez longos minutos, consegui fazer valer meus direitos. Mas, quando fui lá de novo, sozinho, fiquei quase meia hora sentado, esperando ser atendido. E nenhum garçom (eram quatro, se não me engano, e o bar estava vazio) veio me atender.

Acha incrível? Como eu disse, é um problema cultural. Em geral, a parte de serviços no Rio de Janeiro é pior do que a de outras capitais que conheci. Há um pouco o sentimento de que, se o cliente está ali, ele tem que aceitar as coisas como são, inclusive o atendimento, bom ou ruim. Mais ou menos assim: isso é o que tem, se estiver bom, tá, se não estiver, vá pra outro lugar. Poucos lugares dão ênfase ao bom atendimento. É uma tendência que, acredito, tenda a mudar com o passar dos anos. Mas, é claro, isso leva tempo.

Acho que o pior de todos os abusos foi num bar que pertence aos mesmos donos de uma rede de bares que suporta uma minicervejaria aqui do Rio, cujo nome remete a uma mulher fogosa. Lá, o absurdo se torna tão absurdo que, ao invés de se cobrar 10%, eles têm a petulância de taxar o usuário em 12 por cento! Este bar, no Recreio, é superagradável, não me entendam mal, mas basta chegar a este ponto para todo mundo ficar em polvorosa. Neste dia, o garçom chamou o gerente, que estava na entrada do local, e ficaram confabulando por uns cinco minutos. Eu fiquei me indagando o que conversavam: sobre minha ousadia, minha atitude ou sobre alguém ter exigido um direito cumprido? Nesse caso em particular, pedi até o último centavo do meu troco (pois, às vezes, arredondam, e nem sempre com a vantagem para o cliente, como reza nosso atual mundo do fair play comercial).

Há também o caso de uma pizzaria, na rua mais cool do Leblon: rodízio bom de bola, um dos melhores do Rio, mas na qual decidi nunca mais entrar porque, quando os garçons me vêem, fazem questão de me servir de um modo demorado, por saberem que eu exijo o direito de pagar os 10% apenas se eu quiser (ou se puder, que é um fator que eles não costumam levar em conta). Porém, devo admitir que nunca reclamaram do pagamento apenas da conta, sem a taxa opcional extra — apenas atendem mal a posteriori. Isto também me basta.

Na mesma rua, houve um caso em que o que me indignou foi a malandragem do garçom que atendeu a minha família, em outra pizzaria. Fazia uma semana que eu tinha me mudado e era meu primeiro sábado na cidade. O restaurante, pertecente a uma rede local, tinha pouquíssimas opções em seu rodízio, uma massa ruim e um preço salgado, além de um chopp apenas mais ou menos. No cardápio do local, estava, no entanto, claro como água, que lá não se cobravam os dez por cento. Portanto, quando fui pagar, para mim foi natural este pequeno diálogo que o garçom teve comigo:

– Oi, a gente não cobra dez por cento. Pode ser?
– Claro!

Fiquei feliz por mais ou menos um minuto. Um lugar que, além de não cobrar a taxa, ainda informa sobre isso? Perfeito! Mas, quando a conta veio, lá estava aquela quantia abaixo do valor da conta, ainda por cima destacada. Quando fui perguntar ao garçom, ele disse:

– Ué, eu perguntei ao senhor e o senhor disse que podia ser!

Percebe a malandragem no uso das palavras (aliás, reconheça-se, muito bem escolhidas)? Não paguei, é claro. E, novamente, mais garçons indignados. É mole? Diga, então: quem será que se indigna mais? Creio que, se os consumidores tivessem mais postura, a lei seria cumprida e, então, o atendimento dos lugares teria que melhorar – ainda que, em princípio, isso fosse provavelmente usado para novamente condicionar bom atendimento a taxa extra. Mas mudanças culturais interessantes geralmente começam com rupturas, não? Talvez seja hora de romper este ciclo vicioso e, sem os dez por cento, torcer para que a área de serviços e atendimento da cidade se torne, mesmo, 100%.

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Saulo Frauches
 

Delfin, seu texto foi um grito de 'defensor dos oprimidos'. Uma sacada ótima, aliás. E este problema não se resume à capital não. Aqui em Nterói o esquema é o mesmo; babas bovinas raivosas sempre saem da boca de um garçom - principalmente de bar - quando a gente se recusa a pagar os 10%

Saulo Frauches · Rio de Janeiro, RJ 3/7/2006 17:25
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Viktor Chagas
 

Em uma ocasião, com uma enorme roda de amigos em um rodízio de pizzas, tivemos problemas para pagar os dez por cento, até porque não esperávamos que um rodízio cobrasse a taxa. Mas fizemos questão de marcar novamente no mesmo rodízio, e na hora da cobrança, demos a gorjeta toda em moedinhas de 1 centavo.
Dizem que padarias e botecos adoram ter troco, mas daquela vez o protesto bem humorado funcionou: os caras ofereceram uns sucos de graça pra gente. Só pra compensar o mau atendimento...

Viktor Chagas · Rio de Janeiro, RJ 4/7/2006 11:55
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Delfin
 

Tenho certeza que isto não acontece apenas no Rio (mesmo porque já rodei por muitos lugares e sei que tem malandro de toda naturalidade). Convido a todos os overmanos e overminas que passarem por aqui a deixarem a sua história. É certo que todos têm, ao menos, uma história de abuso por conta deste destrato com o cliente, que é a pessoa que suastenta estes lugares.

E isso porque nem toquei na questão dos lugares que não repassam os 10% para o garçom — o que também não é nenhuma novidade por aqui. Enfim, o canal está aberto, como sempre. Contem, contem!

Delfin · São Paulo, SP 5/7/2006 08:55
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fellini
 

Concordo contigo, se não queres pagar, por que haverias de fazê-lo? Porém, acho que o bom atendimento merece ser recompensado, não através de uma taxa instituída pelo estabelecimento, porém por uma gorjeta (não obrigatória, logicamente) oferecida pelo cliente diretamente ao garçom que atendeu melhor, de acordo com o que o cliente ache justo.

fellini · Itajaí, SC 7/7/2006 17:36
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achr
 

E ai Rapa! A cobrnaça dos 10% são uma prática nacional.
Concordo com o Felini, deve-se quando possível recompesar o bom atendimento.
Um abraço

achr · Porto Alegre, RS 8/7/2006 01:44
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Inês Nin
 

lembrei que há ainda os lugares que resolvem cobrar dez por cento sobre o valor da entrada! assim, somam-se os dez por cento sobre o preço dos chopps que vc pegou no bar e os da entrada. nada mais sem sentido. uma extinta casa de shows costumava praticar isso, e embora ganhando cara feia, eu conseguia não pagar. hoje tem outra que também cobra esses dez por cento para pegar bebida no bar..

Inês Nin · Rio de Janeiro, RJ 8/7/2006 03:05
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Delfin
 

Alexandre, mas por ser uma 'política' nacional é que deve sewr questiionada, pois parece que é lei, quando é justamente o contrário! O direito à opção sem prejuízo no atendimento é um dos debates aqui. Se o bem servir não pode estar condicionado a uma gorjeta. E, como Inês lembrou bem, a 'política' é tão forte que nem atender alguns atendem mais.

Delfin · São Paulo, SP 8/7/2006 08:11
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André Dib
 

Realmente, os brasileiros devem ter grana sobrando. Não bastassem os impostos... Olha, ,minha irmã, que já foi garçonete numa cidade do interior do Paraná, disse que os garçons nunca recebiam os dez por cento, o patrão fica com tudo. E ele garantiu que todos os estabelecimentos da cidade fazem o mesmo. Pode????

André Dib · Recife, PE 8/7/2006 18:46
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achr
 

É Delfin, esse nosso país...temos tantas leis...
Eu concordo com o seu texto que deve ser opcional ... pois temos o "direito à opção", aliás, temos tantos "direitos" não respeitados. Gosto muito das discussões do Overmundo, mas além de trocarmos essas idéias, acho que cabia um grande movimento de protesto contra os 10%, para não ficarmos só no blá blá blá... e o livre arbitrio, se quiser recompensar um garçom de a gorjeta a ele pessoalmente. Ah! Sem contar o preço do chopp, das refeições num país onde o salário miníno é minímo nós aqui somos privilegiados de freqüentar estes estabelecimentos.
Me desculpe os amigos do overmundo se me estendi muito.
Um abraço a todos, e abaixo os 10% obrigatórios!

achr · Porto Alegre, RS 8/7/2006 20:26
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Delfin
 

Na fila de edição/votação do Banco de Cultura, está o selo que usei na ilustração desta matéria. Consumam moderadamente.

Delfin · São Paulo, SP 8/7/2006 21:08
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Marcos Carvalho Lopes
 

achei que só eu era o chato...o texto é MUITO pertinente.

Marcos Carvalho Lopes · Jataí, GO 8/7/2006 21:40
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Luba
 

Achei o artigo bem interessante. Porém convenhamos... quando você é bem atendido, não é de bom tom incentivar este atendimento com os famosos 10%? Seria bom se informar sobre os salários e condições de trabalho de um garçon e procurar entender o porquê de tanta raiva quando um cliente não o paga mesmo sendo bem atendido. Faz sentido?

Luba · São Paulo, SP 9/7/2006 22:07
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Delfin
 

Fazer, fazia. Hoje em dia, Luba, as coisas se inverteram: os 10% são condição para o bom atendimento, e não sua conseqüência. Virou a regra. Por isso merece ser mesmo algo dito em público, não apenas na hora da conta e jogado ao nada.

Delfin · São Paulo, SP 10/7/2006 00:17
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Edgar Borges
 

Aqui em Roraima é a mesma coisa. E o pior: em alguns lugares, se avisar antecipadamente que não vai pagar, o garçom sugere que vc se retire. ou então não te atende.

Edgar Borges · Boa Vista, RR 11/7/2006 13:57
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Felipe Gurgel
 

Sou a favor de recompensar o bom atendimento também. Já que o acontecimento é raro e vida de garçon não deve ser mole. Mas, quando mau atendido, deve-se dispensar mesmo o pagamento. Não faz sentido pagar pelo que não foi feito.

Felipe Gurgel · Fortaleza, CE 12/7/2006 21:39
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Felipe Gurgel
 

Ah, existem estabelecimentos que tiram o pagamento do garçon da quantia recolhida pelos 10%. Tem que se avaliar isso também, a questão resvala nas condições do trabalho de quem tá ali cobrando.

Felipe Gurgel · Fortaleza, CE 12/7/2006 21:40
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Delfin
 

Mas, mesmo com o bom atendimento, a lei faculta o pagamento, Felipe. Tem que ser uma decisão do usuário do serviço. E, quanto ao que você disse, dos garçonss tirarem seu pagamento das gorjetas, isso pode ter sido muito forte no passado, mas, com as leis de trabalho de hoje em dia, existe uma remuneração fixa para estes profissionais. A gorjeta não pode ser encarada como parte do salário, já que ela é opcional — o garçom não é como um vendedor de loja comissionado, apesar de quererem que acreditemos nisto. E há um número considerável de casas que realmente não repassa integralmente os 10% pagos (às vezes nem um centavo deles) a seus garçons.

Delfin · São Paulo, SP 13/7/2006 01:35
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Guto Junior
 

Hoje tive essa experiência e vir na internet pesquisar, pois me opus a pagar os 10% num bar que fui essa noite, depois de questionar o dono do bar, ele me informou que aquilo era a comissão do garçon e se eu não havia sido bem atendido, fato que eu neguei, por pena do garçon paquei os 10%. Por favor alguem me informa a lei que nos dá o direito de não pagar esses 10% e mais convés artistico para o bar. Obrigado

Guto Junior · Eunápolis, BA 23/7/2006 01:11
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Luba
 

Por favor... COUVERT artístico... pelo amor de DEUS !!! COUVERT artístico... "convés artístico" deve ser algum barco com artes cênicas.

Luba · São Paulo, SP 23/7/2006 01:33
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brigitte
 

Aqui em Goiânia também não é diferente.O corporativismo dos garçons é bem forte e a pressão do comerciante é maior ainda. A lei existe, todos os frequentadores de bares, restaurantes e afins conhecem seus direitos de consumidor. Oferecer bom atendimento não é diferencial, é regra.A variação de dos preços praticados já demonstra que o atendimento deve ser de 1ª.O lucro fácil e a famosa "Lei de Gerson" precisam ser banidos de vez dos costumes brasileiros.

brigitte · Goiânia, GO 27/2/2007 21:28
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rlfornazari
 

li uma vez numa revista(não sei qual), que 70% dos processos trabalhistas são referentes a garçons que cobram o repasse dos 10%. Precisa ser checado porque são números absurdos não acham?!?!?!

rlfornazari · São Paulo, SP 16/2/2010 11:19
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Juninho Amorim
 

Ja pararam para pensar que esses numero absurdos de processos,pq os patrões normalmente não rescindem corretamente com seus garçons?Em relação aos 10 por cento tão dicutido aqui,não vejo nada de mal em pagar essa taxa,desde que ela seja realmente destinada ao garçom,agora falar em protestar contra os 10 por cento?Vcs estão de brincadeira né?Enquanto os politicos fazem o que querem lá no senado,vcs querem tirar dos garçons que na minha opinião são de direitos deles,sou mais de apoiar a essa taxa se tornar obrigatório,mais uma vez desde que vá para o garçom.Pago com o maior gosto,pois pago pelos serviços prestados dele e imagine se tivessemos que levantar e pagar no balcão tudo que queremos na mesa?Por isso que dizem que o brasil é país de segunda mesmo,nos eua e em outros paises mais desenvolvidos é cobrado 20 por cento,sem contar que o anfitrião é obrigado(por seus convidados) a deixar uma gorjeta ao mesmo!É isso...abraço a todos!

Juninho Amorim · Bauru, SP 5/5/2011 02:36
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