Dicas de cinema de Diego Sierra

Olá ,pessoal,
Compartilho as dicas de cinema da minha coluna mensal na revista Hype. Visitem-me: http://papopop.net

valeu!

De olhos abertos

O diretor Fernando Meirelles desagradou até José Saramago em alguns momentos da adaptação de Ensaio Sobre a Cegueira. Corajoso, imprimiu sua própria visão à história de uma epidemia de cegueira que coloca à prova todos os valores da civilidade humana. Tudo se passa em uma cidade qualquer de um país aleatório. Mas, na tela, é possível reconhecer pelo menos São Paulo e Nova Iorque.

Dentre tantos cegos, a personagem de Juliane Moore é misteriosamente a única que vê e que passa o filme todo se dedicando religiosamente a garantir a sobrevivência alheia. E percebe, assim como o espectador, que muitas vezes a linha que separa a racionalidade da irracionalidade é muito tênue. Saramago, que bem sabe disso, criou mesmo uma das mais geniais metáforas da sociedade contemporânea.

Valores perdidos

Tire suas próprias conclusões sobre o que é fantasia e o que é realidade em Labirinto do Fauno. Em meio à luta armada entre guerrilheiros e partidários do general Franco, surge a imagem de Ofélia, uma doce criança que descobre um universo de seres míticos que podem salvá-la do sofrimento de ser maltratada pelo padrasto e da ausência de sua mãe.

A fábula de tom político de Guillermo del Toro nos ensina que os sonhos ingênuos de uma criança podem atenuar a dura verdade da guerra e das tragédias pessoais. A direção de arte é bela, com influências surrealistas. Contrasta com a tristeza da história que homenageia os valores de fé e pureza ao mesmo tempo em que evidencia o sofrimento do povo espanhol em anos de chumbo.


Passe Livre

Pode ser que você não goste de Linha de Passe. O novo filme de Walter Salles é mesmo meio monótono, mas cumpre o papel de documentar o dia a dia de uma típica família da periferia paulistana. Estão lá a personagem da mãe solteira, que deu uma Palma de Ouro em Cannes à atriz Sandra Corveloni, e quatro filhos, entre eles Dario, o jovem que sonha em ser jogador de futebol e é interpretado por Vinicius de Oliveira, aquele menino de Central do Brasil revelado por Salles em 1998.


A maior graça do filme é a forma menos pretensiosa de explorar o tema preferido do cinema nacional. São histórias de vida que mostram que a superação e o fracasso podem estar mesmo muito próximos. O que vale, afinal, não é o esforço? Pessimista, talvez, mas revelador.