O que tem em comum o diretor americano Quentin Tarantino e o italiano Sérgio Leone? Em primeiro lugar, Sérgio Leone ainda hoje é fonte de inspiração para cineastas como Tarantino. Em segundo lugar, sem nenhum dos dois imaginarem, eles são influência para o diretor roraimense Alex Pizano, que há pouco lançou o seu primeiro curta-metragem: “DÃvida Sangrentaâ€.
“O curta conta a história da guerra das máfias guianenses e venezuelanas pelo controle do contrabando de combustÃvel e drogas na região.†, diz Alex. Com estilo faroeste moderno, o filme faz referência direta aos Western – espaguete do diretor italiano Sérgio Leone e dos filmes do diretor americano Quentin Tarantino.
“Um filme 100% roraimenseâ€, como o próprio diretor disse. Durante muito tempo nutriu uma ansiedade e curiosidade em saber como seria um filme lançado em Roraima. “A minha paixão por cinema vem desde criança, sempre fui apaixonado por cinema como um todo mesmo, sempre foi o meu passatempo preferido, assistir a filme. Eu era diferente de outras crianças que iam pra rua pra brincar. Eu ficava assistindo a filmeâ€, diz Alex Pizano.
“DÃvida Sangrenta†é o primeiro curta-metragem realizado em Roraima. Uma produção de baixÃssimo orçamento, mas com uma qualidade incrÃvel. O elenco do filme é formado por amigos de trabalho e com exceção de um ator, o restante do elenco é todo amador. Nunca haviam feito nada parecido. O que foi uma experiência interessante, pois até mesmo o diretor nunca estivera em um set de filmagem de verdade.
Um filme que entrou para a história do estado, e que já tem garantido o seu destaque no cenário nacional. Até então, alguns documentários já haviam sido realizados, mas nunca ninguém se aventurou a tirar do papel o projeto de realização de um filme de ficção. Podemos dizer que Alex Pizano é precursor desta linguagem e a noite de estréia nos mostrou que ele veio pra ficar.
Alex Pizano é totalmente autodidata, sempre estudou muito sobre cinema, direção de cinema, diretores, sempre assistiu muito a making of de filmes. “Quando eu vejo um filme eu analiso ele todo, tô ali assistindo, curtindo, mas tô analisando a parte estética do filme, presto muita atenção na trilha sonora, em tomadas, em efeitos, porque a parte técnica do filme me atrai muito também, e quando eu vejo uma tomada legal, eu sempre tomo nota pra ter uma referência depois. As idéias não surgem do nada, tem que ter uma referência.â€, diz Alex.
Ele sempre leu muito livro sobre técnicas de filmagens, sobre cinemas, de como elaborar roteiro, e na sua pequena trajetória já fez de tudo um pouco, “igual a um diretor mexicano, Robert Rodriguez, diretor do “Sin Cityâ€, e “A balada do pistoleiroâ€. Ele começou assim também. Ele não foi atrás de nenhuma indústria, não foi puxar o saco de nenhuma indústria de cinema, tinha sua câmera e seu computador e filmava, editava, roteirizava, mas é claro que eu não pretendo ser assim, eu quero dirigirâ€. No seu próximo filme ele quer ter um especialista em fotografia, alguém pra edição, outro pra montagem, quer uma equipe completa, pois acredita que fazer cinema é um processo coletivo, não dá para fazer sozinho, ainda mais em um estado sem recursos como Roraima.
Perguntei para o Alex como foi que surgiu a idéia do filme e ele foi rápido em me responder que levou anos até que realmente tivesse coragem de colocar ação nos seus planos. “Eu sempre quis realizar um filme de faroeste, só que um faroeste moderno e então pensei, “a gente troca aqui os cavalos pelos carros...â€, concluiu, e assim saiu o filme “DÃvida Sangrentaâ€.
A história do filme que ele tinha na cabeça foi colocada no papel, não em forma de roteiro, mas em forma de história em quadrinho. A própria história em quadrinho serviu como roteiro e como storyboard para conclusão do filme. A duração do filme, de meia hora, consumiu um mês de filmagens em vários pontos da cidade. “O filme é praticamente a custo zero, tive que usar muito da criatividade, como eu não tinha recursos financeiros pra realizar o filme, usei muito da criatividade mesmo. O material usado pra filmagem foi apenas uma câmera mini dv, um computador que eu tenho lá em casa e um programa de edição que é o mais básico de todos, Windows Movie Maker. Daà saiu o filme todoâ€.
Os cinéfilos de plantão vão poder perceber a salada de gêneros a que o diretor faz referências. E isso é um diferencial na sua produção. É possÃvel identificar tomadas semelhantes a filmes do gênero. “O filme teve muita aceitação, pelo fato de ser o primeiro filme feito aqui em Roraima, na verdade foi o primeiro passo e espero que sirva de motivação a outras pessoas, que realizem seus curtas, seus filmes, seus documentários. A gente já tá com planos, de junto com a prefeitura realizar uma mostra de documentários regionais, quando inaugurar a nova sala de cinema aqui do SESC, cinema digital, esse estado vai estar voltado para as produções locais mesmo, pra fomentar mesmo a indústriaâ€, completa Alex.
Hoje, em Boa Vista, existe muita gente com roteiros prontos. Só falta tirar do papel. Ele disse ainda que “através da cúpula do RPG foi criado um grupo de roteiristas que se reúnem todos os fins de semana, e juntos elaboram roteiros pra curtas, longas, documentários, ficção, algumas empresas de publicidade já até se interessaram nos nossos roteiros, foi dado o primeiro passo.â€
Mas fazer cinema em um estado onde a cultura é deixada de lado pelo poder público realmente é muito difÃcil. Em todo o estado de Roraima existe apenas uma sala de cinema, na capital, que exibe filmes do circuito comercial. O SESC possui um auditório, que improvisadamente possibilita a população ter acesso a filmes, em sua maioria também do circuito comercial. O CINE – BR em parceria com o SESC exibiu uma diversidade de filmes nacionais e hoje o Projeto “A escola vai ao cinema†(também no SESC) tem ajudado na formação de platéia e divulgação do cinema nacional.
“Fazer cinema não é fácil, não é barato, tem que ter muita criatividade, investimento, patrocÃnio, porque o equipamento pra fazer filmagens é muito caro e aqui no estado praticamente nós não temos nada com relação a cinema", falta estrutura técnica mesmo", diz Alex.
Em 2004 foi realizada a capacitação do CINEDUC voltada a educadores e cineastas e este ano está prevista uma nova capacitação para roteiristas em linguagem cinematográfica, que será aberta ao público. "É um começo e daqui pra frente, quem sabe, no futuro, possamos trazer diretores, cinegrafistas, diretores de fotografia pra contribuir com o desenvolvimento do cinema no estado.â€, diz Alex.
Alex Pizano, 27 anos, acadêmico de publicidade e propaganda, que como ele mesmo disse, “como não havia o curso de cinema, esse foi o mais próximo que eu pude chegarâ€, dono da Produtora Al Produções e que, apesar de ser um estreante, já demonstra maturidade em seu discurso e capacidade na execução de seus projetos. Ele sabe muito bem o que quer. E o público presente na estréia o aplaudiu de pé, reconhecendo o talento e trabalho deste jovem diretor.
FICHA TÉCNICA:
TÃtulo: DÃvida Sangrenta
Direção: Alex Pizano
Produtor executivo: Jean Carlos Farias
Elenco: César Almeida, Miquéias Monteiro, Fábio Milhomem, Alice Cardoso, Naldo Manduh, Élcio de Abreu e Francisco da Silva.
Por ser média-metragem, fica mais difÃcil entrar no circuito dos festivais, então fica a dúvida: como poderemos assistir ao filme?
Marcelo V. · São Paulo, SP 28/4/2007 11:23Assim que chegarem a uma solução, me avisem, pois estou louco para assistir!
Alê Barreto · Rio de Janeiro, RJ 29/4/2007 15:30Que experiência, hein? Como e quando poderemos assistir ao filme?
Fanny · Rio de Janeiro, RJ 30/4/2007 08:57
E aÃ, pessoal!
Valeu o interesse. O curta tá sendo exibido apenas no estado e gratuitamente. Coisas de direitos autorais, sabe como é... a trilha sonora por exemplo. O Alex disse que no próximo projeto pretende seguir todos os caminhos possÃveis para que o seu filme possa ser exibido em qualquer lugar. Mas eu tenho lá minhas dúvidas quanto a direitos autorais. Quem entender mais me dê uma luz.
Abração.
No caso especÃfico de liberar músicas para a trilha sonora, normalmente paga-se à editora pelos direitos de utilização das mesmas durante um determinado perÃodo (1 ano, 5 anos etc.) e em determinados formatos (cinema, DVD, TV etc., no Brasil e no exterior).
No meu último curta, queria usar uma canção nordestina dos anos 70 (sucesso à época, hoje desconhecida); falei com a empresária do intérprete, que topou em liberar gratuitamente os direitos, mas a editora quis me cobrar R$ 6.000,00, que eu não tinha _porque fiz meu curta sem patrocÃnio privado ou incentivo estatal. O jeito foi contratar um músico e compor uma trilha 100% original (ficou muito melhor, ou seja, há malas que vão para Belém).
Para saber mais, é só consultar a Lei do Direito Autoral, você a encontra facilmente com uma pesquisa no Google.
Valeu, Marcelo!
Vou passar essa informação para o Alex. Inclusive acho que é até interesse dele de trabalhar com artistas locais. Seria ótimo.
Abração
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