DJALMA CORREA – Sons repercussivos
Djalma Correa nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais no ano de 1942. Sua formação musical foi em Salvador onde estudou percussão e composição nos seminários da Universidade Federal da Bahia com professores como Walter Smetak, Hans Joachim Koellreuter e outros.
Foi nessa época que aconteceu a entrada no palco do primeiro grupo experimental de música popular com o show " Nós por exemplo" no Teatro Vila Velha com Djalma Correa, Betânia, Gil, Caetano, Gal Costa e Tom Zé. Foi a porta de entrada para convites e muitos shows. O grupo foi para São Paulo e Djalma continuou em Salvador com suas pesquisas.
Djalma Correa lembra que quando chegou à Bahia soube da existência de uma lei antiga proibindo tocar tambor nas igrejas porque era cultura negra, existia um toque – o batacotô – que foi banido e era proibido em qualquer lugar e não se podia nem pronunciar esse nome, era um chamado de guerra. E conta:
- Nas minhas pesquisas descobri o documento que proibia o toque do tambor e ainda que eles fossem queimados. O batacotô foi usado durante as revoltas porque era um toque de luta! Criei então a releitura do toque que não tinha registro, fiz a trilha sonora, ou seja, uma sÃntese dos toques.
Etno- musicologia foi um trabalho de Djalma Correa documentando os candomblés da Bahia. Esse acervo ainda não publicado conta com 10 mil slides, 30 mil pés de fitas gravadas (filme super-8) e ainda a parte manuscrita.
Ele não quer comercializar esse acervo e pretende dar um destino a ele, mas não sabe ao certo o que será e diz:
- Não posso comercializar, são documentos de confiança coletados em sessões de terreiros e comunidades baianas e de todo o Brasil.
Djalma Correa propôs uma releitura desse acervo com a Universidade e teve o apoio do Instituto Goethe e a partir desse apoio se formou o grupo "Baiafro" com 3 percussionistas. Com isso despertou o interesse geral crescendo resultando no Movimento Integrado Baiafro, e diz:
- Foi uma releitura séria e verdadeira, envolvendo mães de santo e comunidades baianas. Desse Baiafro foram exportados muitos artistas.
Sorridente Djalma comenta:
- Imagine você que tenho a carteira de músico com o número 1526!
Um pouco desse trabalho de pesquisa ele fez um CD Room "Brasil Afrodescendente" enriquecendo com depoimentos de estudiosos do assunto como Ney Lopes, Abdias Nascimento, Muniz Sodré, Mary Del Priore, e Raul Lody , entre outros .
A carreira musical de Djalma Correa é uma sucessão de acontecimentos bons, viaja todo o planeta mostrando seus sons percussivos. Agora tem uma pesquisa com os sons dos sinos.
- Os sinos têm sons diferenciados, quero pesquisar esse som que faz parte da história do Brasil, toda cidade tem seu sino e seus sons que identificam: chamados, velórios, casamentos, missas, reuniões, etc.
Para essa pesquisa ele pretende conhecer várias localidades brasileiras que tenham sinos com sons diferenciados.
Djalma se orgulha de ter vestido a camisa da "música espontânea":
- É uma meta um pouco complexa, pois não é improvisada, é um momento sem limite e pode tomar qualquer caminho dependendo do conhecimento que o outro tem, é como tirar a roupa em público. É uma música que nunca vai se repetir, portanto não tem ensaios.
Sua "música espontânea" já foi dividida com grandes nomes como Patrick Moraz, Stênio Mendes e tantos outros.
Outra formação de percussão que Djalma destaca é a que aconteceu no 1º. Festival de jazz Montreaux de São Paulo com 1 pianista e 18 percussionistas, foi a primeira vez que se juntaram sons do piano e da percussão. Brinca dizendo:
- Pela primeira vez eu trouxe a cozinha para a sala
Continua pesquisando e compondo e seu trabalho é sempre voltado à linguagem da percussão. Sua definição da percussão no Brasil:
- O Brasil não é o berço da percussão, porém me baseio no triângulo que se formou com o negro, o Ãndio e o branco. Essa trilogia percursiva no Brasil é única no mundo, é uma fusão maravilhosa que varia de acordo com a cultura de cada região.
Exemplifica como encontrou em Portugal bem viva a tradição do Zé Pereira que foi a primeira que viveu ainda na infância.
Djalma afirma que a percussão surgiu na Ãfrica e depois para o mundo, acredita que todo ser humano passa pelo aprendizado da percussão:
- A batida do coração no útero da mãe é um som da percussão,os 9 meses no útero materno são a primeira escola de qualquer ser humano!
Segundo ele, nos tempos ancestrais o poder mágico da percussão era das mulheres que se encarregavam dos rituais enquanto o homem caçava e pescava, a mulher era divinizada porque tinha o poder de parir filhos. A situação mudou quando o homem descobriu que se ele não copulasse a mulher não paria, e nessa evolução ela perdeu um pouco. Mas a percussão feminina existe em todo o mundo e confirma:
- Acho que a percussão requer sutileza, carinho, a mulher é a mais adequada.
No Encontro de Culturas de São Jorge Djalma Correa conviveu com grupos de todo o Brasil e teve a surpresa de encontrar mulheres kalungas que batem a "bruaca ou buraca", uma espécie de caixa feita com couro de boi para transportar mercadorias em lombo de burros. Ficou muito emocionado em conhecer mais essa forma de percussão, e mais ainda quando foi presenteado por Juliano Basso, organizador do evento, com uma bruaca.
Sobre ter reconhecimento de seu trabalho no Brasil, ele sorri e fala:
- Ah, santo de casa não faz milagre! Mas o objetivo principal do meu trabalho se faz sempre na multiplicação, tenho contribuÃdo no que posso, principalmente no efeito multiplicador e minha percussão está em todo o mundo.
Fica pensativo e conclui:
- Mas é assim mesmo, continuo com a música espontânea e não gosto de ensaio, assim se mostra a alma de verdade.
Djalma Correa se preocupa com o destino da percussão:
- O modismo do tambor traz o distanciamento da sutileza do tambor e do que é realmente a percussão.
Djalma Correa é reconhecido pelas pessoas nas ruas e com muita simplicidade fala com todos e tenta passar o que sabe, transmitindo com sabedoria segredos de um mestre da percussão.
Discografia de Djalma Correa:
SALOMÃO – The New Dave Pike Set and Grupo Baiafro in Bahia / MPS -1972
BENDENGÓ - Gereba / 1973 - Fontana
JORGE GIL OGUN XANGÔ – Jorge Ben e Gilberto Gil / 1975 - Philips
QUALQUER COISA – Caetano Veloso / 1975 - Philips
JÓIA – Caetano Veloso / 1975 - Philips
SMETAK- Walter Smetak / 1975 – Philips
GIL E JORGE (OGUN XANGÔ) – Gilberto Gil & Jorge Ben /1975 - Polygram
DOCES BÃRBAROS- Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa / 1976 - Philips
OTALIA DE BAHIA - Otalia da Bahia / 1976 - RCA
MEUS CAROS AMIGOS – Chico Buarque / 1976 - Philips
AFRICABRASIL – Jorge Ben / 1976 – Philips
MORTE DE UM POETA – Alcione / 1976 – Philips
OS PASTORES DA NOITE – Otalia da Bahia / 1977 – RCA
*CANDOMBLÉ – Djalma Corrêa / 1977 - Fontana
*BATUCADA No 4 – Djalma Corrêa / 1977 – Philips
REFAVELA- Gilberto Gil / 1977 - Philips
TOQUINHO TOCANDO – Toquinho / 1977 – Philips
BICHO – Caetano Veloso / 1977 – Philips
FILHO DO POVO – Walter Queiroz / 1977 – Philips
O DIA EM QUE A TERRA PAROU – Raul Seixas / 1977 – WEA
MEUS AMIGOS SÃO UM BARATO – Nara Leao / 1977 – Philips
ALHOS COM BUGALHOS – Almôndegas / 1977 – Philips
NORMA, CANTA MULHERES – Norma Benguel / 1977 Elenco
REFESTANÇA – Gilberto Gil / Rita Lee / 1978- Som Livre
VITAL FARIAS – Vital Farias / 1978 – Polydor
ZEZÉ MOTA – Zeze Mota / 1978 – WEA
BARRANQUEIRO – Marku Ribas / 1978 – Philips
CHICO BUARQUE – Chico Buarque / 1978 – Philips
*MPBC – BAIAFRO – Djalma Corrêa / 1978 – Philips
PATRICK MORAZ – Patrick Moraz / 1978- Polydor
GILBERTO GIL AO VIVO EM MONTREAUX – Montreaux’78 / 1978 – Elecktra-WEA
NOVA HISTÓRIA DA MPB – Abril Cultural (serie) / 1979
MEL – Maria Bethânia / 1979 – Philips
NIGHTINGALE – Gilberto Gil / 1979 - WEA
REALCE – Gilberto Gil / 1979 - WEA
A MASSA – Raimundo Sodre / 1980 - Polydor
KLEITON & KLEIDIR – Kleiton E Kleidir / 1980
FALA MOÇO – Alcivando Luz / 1980 - Disco Independente
COISA DE NÊGO – Raimundo Sodre / 1981 – Ariola
QUE QUI TU TEM CANÃRIO - Xangai / 1981 – Estúdio de Invençoes
REVOLTA DOS PALHAÇOS – Francisco Mario / 1982 – Libertas
MARIA – Maria Bethânia / 1988 - BMG Ariola
PASSION – Peter Gabriel / 1989 – Universal
SO – Peter Gabriel / 1989 – Universal
BRASIL – Manhattan Transfer / 1990 – Atlantic
CANTA BRASIL: GREAT BRASILIAN SONGBOOK, #1 – Compilation / 1990 - Polygram
CANTO DO PAGÉ – Maria Bethânia / 1991 – Polygram
SHAKING THE TREE – Peter Gabriel / 1991 - Universal
THE ANTHOLOGY: DOWN IN BIRDLAND – Manhattan Transfer / 1992 – Rhino
SAMBA SOLSTICE – Marcio Montarroyos / 1993 – Black Sun Records
GOSTO DE BRASIL – Nonato Luiz / 1993 - Milestone
BRASIL: A CENTURY OF SONG, VOL:1 – Compilation / 1995 – Blue Jackel
RETRATOS – Francisco Mario / 1995
BARRO OCO - Maria Bragança / 1998 – Disco Independente
SENHORA DEL MUNDO – Collegium Musicum de Minas / 1999 – Disco Independente
A ORIGEM- Collegium Musicum de Minas / 1999 – Disco Independente
AQUILON – Corciolli, Djalma Corrêa, Maria Bragança / 2000 - Azul Records
A MUSICA BRASILEIRA DESTE SECULO POR SEUS AUTORES E INTERPRETES - Djalma Corrêa / 2000 – SESC SP
Corrigi, vou tentar postar audio, mas no site dele tem qualquer coisa. Obrigada
bjs
sinva
Muito bacana Djalma dizer que o pulsar no útero é a mais antiga memória do ritmo, tambor...
Som do Djalma é universal.
Sin, vc está de parabens, teus postados estão bacanas bacanas, bj
Cara mia, sem audio! Isso naum se faz! Como vamos nos emocionar sem ouvir o batuque do Djalma?! Mas tai, a gente naum conhece mesmo a nossa gente e a midia de massa faz a diferença. Nois cunhece os sertanejo, os funk do Rio, os Brega.... mas naum conhecemos Djalma e seu tambor! Ai vem vc e manda uma materia linda. Muito obrigado por vc nos mostrar um pedacinho de coisa boa e q discografia! Merece respeito este djalma. Ah se eu pudesse fazer um filme dele! Ah se eu tivesse um dinheirinho eu começava hoje mesmo! Valeu! Parabens! Aplausos de pé! Bravo!
Nic NIlson · Campinas, SP 6/8/2008 16:24
Oi caro amigo, tem o link do site dele onde tem videos e voce pode ouvir à vontade o batuque do Djalma
obrigada
bjs
sinva
Oi Sinvaline, estive lá na oficina do Djalma, grande aula, GRANDE PESSOA. Parabéns pela iniciativa de escrever sobre ele. Estou com alguns vÃdeos dessa aula e vou tentar disponibilizar aqui no Overmundo. Fica a lição do mestre: "Hoje todos só querem saber de bater, enquanto que é preciso ouvir acima de tudo. E o tambor falou pro batuqueiro: Se bater, eu grito. Mas se tocar, eu canto."
abraço!
Um mestre sinva!
Uma aula seu registro!
E essa Kalunga da foto uma figuraça!
parabéns
vero
Sinvaline · Uruaçu (GO)
Djalma Correa - Sons repercussivos
Parabens Professora Amiga e Poeta.
É um Trabalho Extraordinário.
Bacana a Vivéncia de Djalma Correa no Teatro Vila Velha com Betânia, Gil, Caetano, Gal Costa e Tom Zé.
IncrÃvel o batacotô, que foi banido e era proibido em qualquer lugar e não se podia nem pronunciar esse nome, era um chamado de guerra.
Parabéns por esta apresentação mágica da nossa Cultura.
Seu Trabalho é de apaixonar.
Receba nosso orgulho admiração e elogio Sincero.
Maravilhoso.
Abração Amigo
Obrigada Azuir, voce me incentiva a continuar, confesso que me sinto grande depois de estar com Djalma, Kazdi, Caxa,indigenas e tantos outros e especialmente com o Kaxalpina que é minha próxima publicação
bjs
sinva
bjs
sinvaline
Sinvaline, vc é madeira pura. E Djalma é ouro raro brasileiro. bj
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 7/8/2008 01:46
NÃO ACREDITO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Que felicidade!
Djalma, aqui é Conceição ex-Hackler.
Sempre penso em meus amigos distantes há tanto tempo e você está sempre em lugar de destaque entre eles.
Maravilha reencontrá-lo.
meu email: paranhos_44@hotmail.com
cel: 71 8785 2421
Continuas genial, não é, amigo doido?
Vá me visitar hoje, filas de edição, poesia, "Cantiga".
Beijo imenso com toda a saudade!
Olá mulher "carimpeira" parabéns pelas publicações.
Alexonia Padilha · Reino Unido , WW 7/8/2008 12:00
sinvaline! fiz um cadastro aqui no overmundo tb...
vo ve se coloco algumas divagações culturais por aqui!
bj
ps: ta bombando teu artigo sobre meu pai eing... =)
ps 2 colei os links e uma parte do texto la na comu do dija no orkut:
http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=34097202
ps3 me passa por email as fotos q tu fez dele com as calungas, das oficinas e do show?
nao precisam ser todas pra nao te dar trabalho.. so pra ter uma de cada cmg pra releases futuros...
beleza?
bj
E aà menino, novinho em folha? Que bom que vc fez o cadastro, poste novidades do Rio pra nós. Saudades de voces, fale pra o Djalma fazer o cadastro tambem. Vou mandando as fotos aos poucos.
bjs
sinva
Silvaline,
Muito bacana este post.
Me lembro bem do Djalma Corrêa e do seu eletrizante Bahiafro, nos anos 70. Grande referência da percussão brasileira de todos os tempos (principalmente, pelos registros que fez do ritmos rituais do Candomblé bahiano) é urgentÃssimo que se leve a sério a necessidade de um pouso para o acervo do homem. Em tempo de tantas broas, loas e salamaleques em reverência à Bossa Nova, tão novinha ainda para ser história, por que não se cuidar também das outras tantas referências seculares do Brasil mais profundo, todas elas carentes de, pelo menos, registro para a posteridade, senão for por sua importancia insubstituÃvel, ao menos para emocionar os meninos e meninas que nos seguirão?
Abs
Muito bom Sinvaline, saber que no Brasil tem pessoas como ele que se preocupam em trazer rÃtmos que foram deixados ou esquecidos no tempo.
Muito boa matéria, mais uma vez parabéns.
Excelente matéria, parabéns! Djalma é um mestre. Adoro as colaborações que ele fez com o Nonato Luiz, "Gosto de Brasil" e "A Música Brasileira deste Século".
Valeu!
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