A primeira vez que vi uma performance do Montage pela internet, eles ainda eram uma banda praticamente desconhecida no cenário musical brasileiro. De lá para cá, os caras apareceram em festivais de todos os naipes e mostraram que o mundo underground anda fervilhando, ao contrário do universo modorrento das grandes gravadoras. Seguindo a trilha de artistas como CSS e Bonde do Rolê, é provável que o duo de origem cearense estoure primeiro no exterior, onde o negócio da música está encontrando melhores saÃdas para a questão da pirataria e do compartilhamento, para depois voltar ao Brasil como banda "internacional". Daniel Peixoto, que forma o duo com Leco Jucá, deu uma entrevista por e-mail sobre o primeiro álbum I Trust My Dealer, androginia, internet e muito mais. Mas, antes, abra o myspace da banda como trilha sonora:
Roberto Maxwell: Primeiramente, conta como a cena de Fortaleza - uma cidade meio fora do que é convencionado como circuito de novidades musicais - teve (ou não) influência no surgimento de uma banda como o Montage?
Daniel Peixoto: A influência da cidade veio na necessidade urgente que nós tÃnhamos de produzir algo diferente do que se faz normalmente... Eu reclamava da falta de opções culturais na cidade e tinha que tomar uma atitude e parar de reclamar. Dai nasceu o Montage, da vontade de ser novo.
RM: Sem querer entrar nessa idéia de rótulos, mas que tipo de som o Montage faz, na sua opinião?
DP: Somos uma banda de música eletrônica e trabalhamos dentro disso todas as possibilidades sonoras que cabem. Vamos do trip hop ao breakbeat. Mas, como a guitarra é uma constante não nos incomoda dizer que somos uma banda de electro rock, com atitute punk...
RM: A imagem para o Montage é tão importante quanto o som, nas performances. Quais são as influências sonoras e de imagem de vocês?
DP: Adoramos The Cure, Sex Pistols, Slayer, Daft Punk, Marilyn Manson, Iggy Pop, Chemical Brothers, mas também coisas mais antigas, como jazz e blues... Nossas referências visuais são, também, uma salada. Misturamos punk, skate, glam com o universo de Tim Burton e outras refêrencias do mundo pop. Adoramos Pop Art, cinema, macumba... Nossas referências saem do campo musical.
RM: Que importância teve a internet para o atual momento vivido pelo Montage? Muda a relação da banda com os fãs a partir do momento que vocês assinaram com um selo? As músicas, antes distribuidas por download gratuito, vão sumir da net?
DP: Importância total. Somos uma cria da internet e temos uma relação de cumplicidade com ela. Talvez, por isso, tenhamos sido a banda convidada pelo Second Life para lançar o simulador num show. Fomos a primeira banda da América Latina a se apresentar virtualmente por lá. Quanto à s nossas músicas, elas continuaram disponÃveis oficialmente para baixar, faz parte do nosso plano de dominação do mundo (risos).
RM: O Montage tem se expandido para uma carreira internacional. É possÃvel que vocês integrem o grupo formado pelo CSS ou Bonde do Rolê, que têm mais repercussão fora do que dentro do Brasil? Aliás, você concorda com a minha avaliação de que essas bandas - e, possivelmente, no futuro, o Montage - são mais valorizadas fora do que dentro do Brasil? Em caso afirmativo, por que você acha que isso ocorre?
DP: Pois é... O Montage já conseguiu algo muito bacana nesse caminho, porque não precisamos ter o aval gringo para sermos aceitos no nosso próprio paÃs, como rolou injustamente com o CSS, por exemplo... Seguimos nossa onda sem nos espelharmos no sucesso de outras bandas. Essas duas bandas tiveram a grande sorte de contar com nomes grandes por trás, um apadrinhamento digamos. Isso facilita. No nosso caso, tudo é diferente porque funciona de uma maneira indepedente, nós mesmo somos os nomes por trás de tudo que fazemos.
RM: Conta do novo álbum e do projeto de disco coletivo que vocês estão envolvidos. Aliás, qual o sentido do lançamento de um disco fÃsico na carreira do Montage, que é uma banda que já tem um repertório que está se consolidando?
DP: Estamos dentro de uma compilação chamada Neofunk, que será lançado pela Som Livre, uma gravadora de peso aqui no Brasi. Esse álbum será trabalhando também aà no Japão e conta com uma leva de artistas que são capazes de apresentar um outro paÃs, além do samba ou bossa nova... O disco que estamos lançando é o primeiro completo depois de dois EPs ja trabalhados em 2005 e 2006. Ele vem apenas como cartão de visitas, já que nossas músicas sempre circularam livremente pela rede. Ele se chama I Trust My Dealer e conta com 13 faixas, metade delas já estão por toda parte em alta qualidade para baixar.
RM: Quais as propostas da banda para a divulgação do novo álbum dentro e fora do Brasil?
DP: Começaremos por uma tour na Europa que contará com a visita e shows em sete paÃses. Depois, vamos contar com o trabalho do nosso selo brasileiro e aliar aos contatos feitos nessas viagens... E, claro, continuaremos promovendo e vendendo o disco pela internet.
RM: A questão da sexualidade está muito presente quando se fala de Montage. Você é um cara andrógino e de uma beleza que atrai homens e mulheres. Como isso influencia a sua visão de música e de artista? Essa androginia, de algum modo, é parte da fórmula de sucesso do Montage? Não me lembro de outra referência na música brasileira, a não ser o Secos & Molhados, mas a androginia "pega" no pop brasileiro?
DP: Tem pegado, justamente por esse fator de nunca, desde Ney Matogrosso, algum artista se expor dessa maneira, provocando através desses elementos ambÃguos. Mas, isso se limita ao meu visual, uma vez que nossas músicas ou performances não exaltam uma opção sexual, por exemplo. Falamos de sexo e pronto. Prefiro deixar as pessoas pensarem e sentirem o que quiserem, o que conseguirem. Nosso show tem esse fator sensorial muito forte, parece que estamos em transe...
Publicado originalmente em Alternativa
Vi o Montage no CCBB em São Paulo e pirei. Da pesadissima. Apesar da hora, 13h, estava lotado. Só umas velhinhas q entraram acho que por engano ficaram chocadas com o strip-tease.
Ramiro Quaresma · Belém, PA 23/10/2007 17:54
Acompanho a trajetória do Montage com atenção faz um tempinho, Roberto - e foi ótimo ler sua entrevista. Aliás, não entrevistar o Montage para o documentário sobre glam rock que fiz há pouco tempo é uma coisa que lamento no filme - não deu para tentar por falta de verba pra sair do Rio.
Uma coisa que vale ressaltar no Daniel - vi um show deles recentemente - é a presença de palco que vai além do visual: o cara pula, grita, rola no chão, tira (parte da) roupa. Não dá pra assistir indiferente, independente de opiniões.
Fala Roberto,
muito boa a entrevista, bastante esclarecedora. Pelo visto, os caras tocam o tipo de música q eu raramente ouço. Mas, só pelas imagens e a entrevista, senti vontade de procurar algo deles pra ouvir.
Sobre o apelo imagético, andrógino, acho excelente. É preciso um pouco de perplexidade para muitos olhares caretas.
Há algum site oficial da banda, ou algum outro em que eu possa ouvi-los?
Abraço
Um lixo essa banda!
Héber Bensi · Moji Mirim, SP 23/10/2007 20:33
Eriton, um dos erros que passou na edicao foi a falta do endereco e do myspace. Eles tem myspace, estou fora hj, mas basta escrever o nome deles no google.
Um abracao
Blz.
Achei uns vÃdeos no YouTube.
Gostei da performance, bem bacana! qto à música, tenho q tomar alguns "valiuns" ainda para me adaptar. Eletrônico não é meu forte, nunca foi. Mas, curti.
A música -talvez eu esteja falando bobagem - lembrou-me, um pouco, a banda capixaba Zémaria, q esteve recentemente em turnê pela Europa. Vc conhece?
eles vieram aqui no Paraná, pena que não fui vê-los, gosto deles. apoio a causa! ha-ha :}
adan arr. · Maringá, PR 24/10/2007 12:01Conheco o Zemaria, sim. Excelente banda e uma das primeiras a colocar suas obras na internet para download gratuito. Vale uma materia sobre eles para o Overmundo, nao?
Roberto Maxwell · Japão , WW 24/10/2007 12:01Causa????? Explica melhor... Hehehehehe.
Roberto Maxwell · Japão , WW 24/10/2007 12:02Molko, Molko, mas seria essa franjinha emo ?
dudavalle · Rio de Janeiro, RJ 24/10/2007 12:19
É. é uma boa. Vou pensar. Abraços.
Sobre a tal "causa" aà em cima, penso que toda arte, por mais q seus idealizadores neguem, representa uma "causa", um certo engajamento sim. Mesmo o "dadaÃsmo" e seus reflexos em tendências contemporâneas pressupõe uma causa. Talvez a causa da falta de causa, mas sempr há. Talvez o Adan esteja se referindo ao estilo andrógino da banda, q remete à um rompimento com rótulos de gêneros sexuais, socialmente construÃdos.
Abçs
Sim, eu acho que tudo tem uma causa. Mas, fiquei curioso na causa do Adan.
Roberto Maxwell · Japão , WW 24/10/2007 13:29
Opa! Maxwell, valeu por nos trazer esse retrato do Montage diretamente do Japão (e às vésperas da apresentação deles no Tim Festival). Aproveito para dizer que há uma ótima matéria sobre o Zemaria por aqui. E uma mais antiga sobre o Montage (dentre outras citações sobre as duas bandas em vários posts, é só conferir na busca). Muito bacana ver textos acompanhando a trajetória da banda!
Pois eh, Helena. Isso eh bem legal, mesmo. Tem gente que nao gosta de escrever sobre uma banda porque ja tem texto aqui. Eu ja acho bacana essa ponte que voce fez, captar varios momentos da banda. Quando eu decidi publicar esse texto do Montage, eu dei uma olhada nos anteriores para ver se havia algo novo, um passo. E achei que o disco e a feliz coincidencia do TIM valeriam a nova postagem.
Abracao.
Concordo plenamente. Se há mais coisas a falar, ou se a banda está em outro momento, por que não? Depois de uns anos, a banda vai ter uma apanhado legal da carreira por aqui...
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 24/10/2007 15:13não conhecia o Montage, fui lá no myspace dar uma olhada, tô gostando sim senhor! \o/
Luciana Maia · Rio de Janeiro, RJ 24/10/2007 15:47Conheci o Montage em 2005, quando fui ao Noise 3D, o inferninho indie em que tocavam desde o começo da banda. Naquele momento, estavam se despedindo dos conterrâneos para se jogar no Rio e SP. O show foi chocante pela intensidade das texturas sonoras e comunicação total com um público enlouquecido pelos caras.
André Dib · Recife, PE 25/10/2007 19:57Também conheci o Montage através do Noise 3D. DaÃ, baixei as faixas deles no site Trama Virtual. Os caras são muito originais. O som é bem diferente e dá vontade de dançar o tempo inteiro.
Gus Vieira · Fortaleza, CE 8/9/2008 15:14Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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