Dos porões da Eternidade: Bento XVI no Brasil

Basílica de São Pedro: Porões da Eternidade
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isaac_lira · Natal, RN
19/5/2007 · 134 · 5
 

Papa Bento XVI em visita ao Brasil. Confesso que o Sumo Pontífice me entediou. Aliás, não ele, mas a reação das pessoas quanto a sua visita. Em diferentes faixas, de escolaridade a poder aquisitivo, uma algazarra com o nome do Papa. Reclamou-se de tudo. Excluindo as apreciações pessoais, antipatia e falta de carisma, e a justificável e insistente comparação com João Paulo II, duas me pareceram um tanto quanto sem sentido. Posições conservadoras e luxo ostensivo. Uma obviedade. Herr Ratzinger é presa fácil. Ele assume e representa “divinamente†bem o papel de Eterno que a Igreja almeja para si. E, convenhamos, o Eterno, por si só, já é um tédio.

O Tempo é um Velho Safado. As coisas acabam. Tudo. Não há notícia de nada que tenha sobrevivido à sua inclemência. No mundo, várias são as formas que a mortalidade tem de perscrutar o Eterno. A ciência e suas leis imutáveis; a arte e a captação - ou tentativa – da essência do humano; e a religião, a única a admitir abertamente suas intenções com o infinito.

Infinito é o objetivo da religião assim como infinitos são os credos e deuses. Dentre todas, a Igreja Católica sempre se destacou aos meus olhos. Só me sinto atravessando o portal do Eterno, ao adentrar um Templo Católico. Mas, no meu caso, não por um transe místico, nem por uma questão de fé e sim por causa de um capricho do Velho Safado. O silêncio, a amplidão da arquitetura, desenvolvida exatamente com esse fim, uma sensação de ausência. Parece que os quase dois mil anos de instituição não passaram. Numa igreja católica não se está nem na Idade Média, nem no século vinte e um. O tempo simplesmente não existe, a eternidade encarnou em pedra.

Exatamente por isso, determinadas críticas parecem patéticas frente ao delírio Apostólico Romano. Estamos confundindo alhos com bugalhos. Os sempre prontos defensores da liberdade incondicional, entre os quais me incluo, lamentaram muito as posições defendidas por Bento XVI, durante a visita, sobre aborto, uso da camisinha e união entre pessoas do mesmo sexo. A igreja se fecha, choram uns, o Papa se distancia dos fiéis, gemem outros. Nada mais justo. Como Presidente da Filial do Céu na Terra, o Papa não poderia fazer outra coisa. Todos os problemas que listei são angústias típicas do período da vivência humana em que nos encontramos. Problemas pós-modernos, diriam os acadêmicos. Acontece que todas essas questões são eminentemente terrenas. À Igreja compete o Céu. Ao Papa recomendar oração e abstenção. É uma luta injusta. A Santa Madre nunca esteve interessada em acalentar a Carne, que o diga Leonardo Boff, teólogo brasileiro que ajudou a criar a Teologia da Libertação. Nos anos 80, Boff foi condenado pelo então cardeal Joseph Ratzinger ao “silêncio obsequiosoâ€. O motivo era a inserção da Igreja nas problemáticas das grandes populações oprimidas principalmente na América Latina.

Quanto à acusação de conservadorismo - ultimamente se converteu em acusação, tanto que os que são, dizem que não são, e os que não são, negam que sejam – me parece meio esdrúxula. Para Bento XVI, isso não existe, pelo menos nunca soube que utilizasse tal palavra. Perante Deus não há conservação nem destruição, só há misericórdia e, se Ele quiser, a salvação da alma e a expiação dos pecados. Como também é inócuo afirmar que a Igreja esbanja dinheiro quando tantos morrem de fome no país que o Santo Padre visitou. A quem importa? Problemas do Homem, meu caro. O cálice de ouro, os bordados de ouro, a cadeira e o cetro, todo o luxo é apenas mais uma manifestação do Eterno. E, convenhamos, o Eterno, por si só, já é um luxo.

No mais, os seguranças, o carro blindado, o sorriso insosso no passeio pelos fiéis em São Paulo, tudo só demonstra a distância, impercorrível, entre a Igreja e o resto do mundo, entre o Céu e a Terra, entre o Eterno e o mortal. Também não custa nada ressaltar que vai tudo em paz nas ilhas da fé. Como bem demonstra a foto que rodou o mundo, retratando o pé esquerdo do Papa e aquilo que Ele calça. Sim, ao contrário de Jesus, o Papa calça Prada. Mais que uma constatação, esta se converte em denúncia: Bento XVI e sua corte pretendem viver mesmo em outro mundo, seja ele terreno ou espiritual.

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FILIPE MAMEDE
 

"E, convenhamos, o Eterno, por si só, já é um tédio." (...)
"E, convenhamos, o Eterno, por si só, já é um luxo."
... até o "diabo veste prada". Isaac, excelente texto. Um abraço.

FILIPE MAMEDE · Natal, RN 16/5/2007 11:23
1 pessoa achou útil · sua opinião: subir
isaac_lira
 

como complemento a este artigo recomendo a todos, o texto de Leonardo Boff para a Folha. Boff trata do distanciamento do mundo real, por parte da igreja. Indispensável. No site dele também há duas entrevistas bastante contundentes.

Artigo
Entrevistas

isaac_lira · Natal, RN 16/5/2007 11:35
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Andre Pessego
 

Pois é - acho que o cristinismo católico romano sendo contra os conceptivos, aborto, ou "contra", quer compensar ao mundo os milhões de almas que mandou pro céu antes do tempo. No mais, sou mais os encontros com Oxossi, Xangô e uma pleiade ... um abraço, andre

Andre Pessego · São Paulo, SP 17/5/2007 08:28
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Guilherme Mattoso
 

engraçado é que vc falou muito sobre o distânciamento da igreja etc... mas milhares de fiéis ainda se espremeram para ver o papa por onde ele passou...

Guilherme Mattoso · Niterói, RJ 19/5/2007 08:55
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Roberto Maxwell
 

Eu acho que qualquer multidao lota uma rua de Sao Paulo, Guilherme.

Roberto Maxwell · Japão , WW 20/5/2007 02:15
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