É TEMPO DE PEQUI!

jjLeandro
Pequis roletados
1
jjLeandro · Araguaína, TO
11/11/2008 · 219 · 22
 

É tempo de pequi (Caryocar brasiliense) no Tocantins. Essa maravilha do cerrado está presente em todo o estado, sendo componente da alimentação de todas as classes sociais. Desde a ocupação colonial tornou-se alimento nobre e indispensável da culinária tocantinense cuja safra é esperada com ansiedade pela população nos últimos meses do ano.

O pequi merece a nossa atenção desde pouco antes do meio do ano quando emite os primeiros sinais que deixam claro ao sertanejo se a safra será boa ou não. Isso mesmo. Como outras frutas do cerrado, entre elas o buriti, o pequi não tem uma produção constante ano após ano. Quando a árvore troca a folha verde-escura pela roupagem verde-clara no outono, é garantia de que a produção será boa.

E não dá outra. Ali pelo mês de julho estará florida, carregada de flores de filamentos e pétalas brancas.

Sabe o sertanejo que poderá valer-se de outros dividendos enquanto aguarda a produção garantida: várias espécies de animais procuram o pequizeiro para alimentar-se das flores que caem. Entre elas, caças nobres como o veado, a paca e o tatu. É empoleirar-se no pequizeiro durante a noite, no que por aqui chamam ‘espera’, para levar para casa a carne que será servida à mesa no dia seguinte. Como a prática é hábito transmitido há gerações, não há receio de destruição da fauna. Vale a garantia do alimento que, para muitas populações pobres do interior, é a única servida à mesa.

Quando o ciclo da floração é interrompido pelos frutos que intumescem nos cachos às extremidades dos galhos da árvore, praticamente desaparece a freqüência de caça. O sertanejo entretanto não se preocupa, as vitualhas voltarão a aparecer à mesa pouco tempo depois: durante a maturação dos frutos.
Entre outubro e novembro, a safra alcança o pico. Os pequizeiros carregados deixam desabar no chão com os ventos das chuvas as grandes frutas maduras. É quando os animais silvestres voltam a freqüentar as frondosas árvores e com eles os caçadores. A ‘espera’ volta a ser prática rotineira e o saboroso fruto bem se pode casar nas refeições a um assado de veado.

Bom é o pequi que cai

O sertanejo sabe que a fruta estará apta para o consumo quando cai do pé. Não deve colher os grandes frutos no cacho, pois acontece de a maioria assim colhida murchar e quando ‘roletada’ (abertura da casca com faca pela cintura) não desprender o caroço polpudo da casca.

O pequi caído do pé sofre a ação do calor do sol e do solo, amolecendo a casca. Após um ou dois dias, esse processo deixa-a tão mole que é capaz de dissolver ao toque da mão, liberando o caroço. Nem sempre o pequi nesse estágio pode ser aproveitado para o consumo humano, haja vista o risco de já estar contaminado pela putrefação. No entanto é alimento apreciado pelos animais silvestres. Tatus e pebas costumam enterrar o pequi para apressar a putrefação e liberar o caroço, voltando depois para degustar o fruto. Muitos assim enterrados e esquecidos nascem depois.
As feiras nas cidades tocantinenses, em outubro e novembro, exibem à venda os pequis colhidos no cerrado. Nas margens das rodovias são freqüentes sacos e mais sacos cheios dos frutos à venda para os motoristas.

Há muitas maneiras de comer o pequi. Os mais apressadinhos devoram-no cru, arrancando com a faca grandes lascas da polpa que comem com farinha – seca ou de puba. É um prato próprio para estômagos resistentes ou acostumados à ingestão. É desnecessário dizer o efeito colateral para pessoas não “aclimatadasâ€.

Versatilidade

Mas a culinária tocantinense reserva pratos variados para todos os gostos e estômagos cujo ingrediente principal é o pequi. Ele poderá unir-se ao arroz, ao feijão, à carne, ou solitário temperado com cebolinha e outros condimentos, com ou sem molho. Ah! A galinha caipira com pequi é o manjar dos deuses para os tocantinenses. Não somente aqui, sei, em Goiás também é muito apreciado. Mas falo de minha terra.

Quem pensa que a prodigalidade do pequi encerra-se na mesa subestima-o. A fruta pode ser aproveitada para extração do óleo comestível, que tem inclusive propriedades medicinais, licores e sucos. O caroço, ou somente a polpa extraída dele em tiras, pode ser usado para conserva.

Desde que o colonizador travou contato com o pequizeiro que lança mão de sua madeira para a construção ou transformação em carvão vegetal. Os pequizeiros maduros (velhos) forneceram ao longo de séculos de colonização boa madeira para currais e emprego em cavernas de embarcações na região do rio Tocantins.

Hoje, apesar da proteção estabelecida em lei, o pequizeiro é extremamente ameaçado pelo avanço agropecuário e emprego na indústria do carvão vegetal. Por causa disso, pode chegar um dia em que nem a sua tão decantada propriedade benéfica à memória será capaz de torná-lo lembrado pelas gerações futuras. Sabemos todos, e isso é chiste por aqui, que quem se delicia com o pequi é capaz de se lembrar da ingestão mesmo que arrote horas depois de tê-lo consumido. O gosto forte que retorna à boca é o responsável pela lembrança.

HÃ MAIS FOTOS NESTE LINQUE NO BANCO DE CULTURA

PUBLIQUEI UMA CRÔNICA SOBRE PEQUI NESTE LINQUE

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Ilhandarilha
 

JJ, que incrível, vi hoje mesmo o programa Um Pé de Quê?, com a Regina Cazé... sobre o pequizeiro. Na minha ignorância, imaginava que o pequi era uma frutinha amarela do cerrado. Descobri no programa - e aqui - que a tal frutinha amarela é na verdade uma polpa dentro de um fruto maior.
bjos

Ilhandarilha · Vitória, ES 8/11/2008 15:37
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jjLeandro
 

Realmente, Ilha, às vezes conhecemos tão pouco do Brasil que esses momentos são de uma grande importância elucidativa. O pequi é um caroço com polpa (comestível) dentro de uma casca, na foto vê-se ela. Com casca e tudo, há deles maior que uma laranja, pois ele pode conter dentro de uma só casca até quatro caroços. O caroço, depois de roído, apresenta espinhos dentro. Por isso muito cuidado enquanto é degustado. Se pressionar muito o dente enquanto se rói o pequi, os espinhos podem grudar na língua. Mas não é perigoso se consumido corretamente.

Daqui a pouco vou publicar mais fotos no banco de cultura, pois aqui só sete são permitidas. Estou esperando uma outra publicação minha lá ir para a votação.

abcs

jjLeandro · Araguaína, TO 8/11/2008 16:32
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Lustato Tenterrara
 

Excelente artigo, JJLeanfro.

Ah! Aqui nos cerrados do Piauí,
o pequi - e sua culinária - também é abundante,
e deveras apreciado.

Abraço.

Lustato

Lustato Tenterrara · Teresina, PI 9/11/2008 19:55
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Yusseff Abrahim
 

Sou um relapso.
Já estive em Goiânia, Palmas e NUNCA comi nada com pequi.
Valeu Leandro! Com tantas informações legais, certamente quando provar o pequi ele terá um gosto muito melhor do que já tem.

Yusseff Abrahim · Manaus, AM 10/11/2008 01:08
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jjLeandro
 

Lustato, realmente o pequi é uma unanimidade, ou quase. A incidência dele é muito vasta, dos campos do Piauí a São Paulo. Obrigado pela presença.

.........
Yusseff,
Com certeza, amigo. A época certa de apreciá-lo é agora, no pico da safra por aqui. Se não me engano, em Minas a safra é lá por janeiro. Mas aqui, de Goiás ao Maranhão e Piauí é por essa época.
O pequi além de tudo é um delator nato. Quando está sendo cozido, se chega visita à casa, ela logo sabe.

abcs

jjLeandro · Araguaína, TO 10/11/2008 11:17
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rosa melo
 

Que delícia! O pequi e o registro. Quando pequena morria de medo de roer, porque diziam que se os espinhos tocassem na nossa boca ficaríamos aleijados. Bom, minha roidinha era leve, mas ficava olhando admirada meu cunhado roer dezenas de pequi até deixar os espinhos às claras.
Parabéns Leandro.
Espero que nos vejamos mais.

rosa melo · Pio IX, PI 10/11/2008 11:36
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jjLeandro
 

Havia sim essas crendices como forma de botar freio na gula das crianças. Mas é muito difícil o espinho pegar a língua. Ele fica dentro do caroço duro, como vc bem sabe afinal aí tb deve tê-lo.

abcs

jjLeandro · Araguaína, TO 10/11/2008 17:10
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Helena Aragão
 

Uau, pequi em todas as suas formas! Que linda a árvore!

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 10/11/2008 17:16
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jjLeandro
 

Olá, Helena. De fato a fruta dá em cada pequi até quatro caroços. Não conheço com mais de quatro. Também variam os caroços em tamanho e cor.
A árvore, quando muito velha, pode chegar a ter quase 20 metros de altura, uma grande fronde e um tronco igual em circunferência ao de uma mangueira centenária. A sua madeira é útil.

abcs

jjLeandro · Araguaína, TO 10/11/2008 20:19
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Krista K
 

ai que saudade de um frango com pequi.... Obrigada pelo texto!

Krista K · Salvador, BA 10/11/2008 22:32
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jjLeandro
 

Krista, de fato frango com pequi é nota 10...
abcs

jjLeandro · Araguaína, TO 11/11/2008 00:39
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Roberta AR
 

Aqui em Brasília o pequi está presente em pratos até de redes nacionais, que fazem algum prato com ele de ingrediente. O sorvete de pequi também é uma delícia. Para quem mora fora do cerrado, ou no período em que não há o fruto em natura, recomendo procurar as conservas de pequi ou os cremes, molhos e óleo industrializados, que já devem ser vendidos em todo o Brasil. Vale à pena.

Roberta AR · Brasília, DF 12/11/2008 05:20
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Andre Pessego
 

Ah!!!!!!!!! que saudade me dá das chapadas do meu Gilbués extamente as chapadas onde inciam o caminho que nos levavam a Ponte Alta de pois a Porto Nacional, mas também às cercanias do Jalapão......
Grande e grande,
abraço
andre.

Andre Pessego · São Paulo, SP 12/11/2008 06:51
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EdimoGinot
 

Leandro
Para quem não conhece é meio esquisito.
Mas cá entre nós, um sabor sem igual.
Total apoio ao pequi.

EdimoGinot · Curitiba, PR 12/11/2008 09:16
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Pepê Mattos
 

Leandro, que isso motive todos a postar sobre as maravilhas de nossa rica e quase desconhecida diversidade de frutas locais... Votado... Dá uma passada em Marcas, quando der... Abraços...

Pepê Mattos · Macapá, AP 12/11/2008 10:15
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jjLeandro
 

Roberta, o sorvete nunca tomei, mas já ouvi dizer que é realmente uma delícia.

É, André, no seu Piauí tem também. Assim como aquele maravilhoso doce de buriti embalado no próprio talo que por aqui chega muito. Uma delícia tb. Talvez alguém do PI pudesse falar numa matéria aqui sobre a indústria artesanal desse doce. E mostrá-lo aqui. Seria interessante.

EdimoGinot, realmente é saborosíssimo. E é isso que vc falou: se alguém não tem o hábito, é bom ir devagar até acostumar.

Pepê, sua sugestão é boa. Outras maravilhas deviam aparecer aqui. Seria asim como um guia gastronômico. Das delícias naturais do BR.


abcs a todos

jjLeandro · Araguaína, TO 12/11/2008 14:27
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Ana_e_Lauro_Alagoas
 

Belas imagens do Pequi (a principal então) e sua árvore!
Como é rico esse Brasil!
Parabéns!
Viva a magia do Cerrado.
Tive o prazer de conhecer quando morava no DF,GO... antes do To nascer! :-) (Lauro)
Abraços,
Ana e Lauro.

Ana_e_Lauro_Alagoas · Maceió, AL 12/11/2008 16:28
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jjLeandro
 

Lauro,
Ver a árvore de perto então é impagável. Quando é um pequizeiro velho então é muito bonito, pois é grande como uma mangueira secular. Obrigado pela participação.
abcs

jjLeandro · Araguaína, TO 12/11/2008 16:35
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MARCONI BARROS
 

MARCONI BARROS · Paraíso do Tocantins, TO 12/11/2008 20:17
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MARCONI BARROS
 

Pequi... ou o amamos ou o odiamos... nós que o conhecemos,
.
Fruto só essência... eu o adoro...
.
Ótimo texto, Camará ... abraços,
.

MARCONI BARROS · Paraíso do Tocantins, TO 12/11/2008 20:19
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Rodrigo Teixeira
 

amigão, arroz com galinha e pequi é bão demais hein? se não me engano há alguns anos teve um político que acabou com a língua cravada de espinhos do pequi... poderia ser distribuído no Congresso... abs e parabéns

Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 13/11/2008 02:22
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raphaelreys
 

Por aqui em Montes Claros no Norte de Minas temos anualmente o festival do pequi, promovido pela Secretaria de Cultura da Municipalidade. Ocorre no mes de agosto e atrai grande numero de visitantes. É puro folclore e tradições Norte Mineiras em efusão!

raphaelreys · Montes Claros, MG 14/11/2008 19:15
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Pequis após a roleta zoom
Pequis após a roleta
Pequis na panela zoom
Pequis na panela
Diferentes tamanhos de pequi zoom
Diferentes tamanhos de pequi
O pequizeiro zoom
O pequizeiro
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A boa safra no chão
Um cacho de pequis no pé zoom
Um cacho de pequis no pé

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