Entrevista - Burro Morto

www.flickr.com/photos/alessandropotter
Burro Morto - Haley, Daniel Ennes, Leonardo Marinho, Natcho Gonsalves, Ruy José
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Alberto Nanet · João Pessoa, PB
27/7/2008 · 188 · 10
 

Das bandas que têm aparecido em João Pessoa, e são inúmeras, há uma que sempre me chama atenção. Em todo e qualquer aspecto a banda Burro Morto é uma das únicas que em minha opinião vão conseguir respirar acima do mar de descaso que o cenário underground paraibano se encontra.

No aspecto profissional os caras já mostraram que não estão para molecagem. Desde sua formação, em principio como um coletivo artístico, a banda resolveu que não valia a pena brincar de ser músico, ainda mais na vertente que preferiram navegar, algo entre o groove e o afro, entre o dub e o jazz.

Tantas influências e fontes sonoras exigiam sempre muito estudo e quando me encontrava com algum deles na rua, ficava no mesmo cumprimento: “vamo rala Alberto, vamo ralaaaâ€.
Tanta ralação resultou em um som bem trabalhado, bem executado e certeiro na idéia, esforço que já está tendo reconhecimento.

A musica Indica foi escolhida para participar da coletânea Amplifica Vol. #1, que foi lançada junto com a sexta edição da revista +SOMA. Puxa vida né?! Bacana pra uma banda com apenas cinco apresentações, mas a qualidade é muita, demais, tanto que não ficou só ai.

Além de participarem do lançamento da coletânea que aconteceu na festa de comemoração de um ano da revista, no CB Bar, a banda fechou mais quatro shows em Sampa.

Não pude estar lá com os caras, mas quando voltaram fiquei imaginando como teria sido essa experiência, sair de Jampa Village para Sampa Mega City.
Sentei meia hora com a Burro Morto para saber e o resultado ta ai.


Alberto Nanet – Qual foi o impacto que vocês sentiram em São Paulo?

Ruy José – Eu achava que a cidade seria muito rock and roll e de repente a galera não estaria muito a fim de curtir o som da gente. Até o bar que a gente tocou primeiro era muito rock e fiquei meio naquela né? Pow será que vai rolar.

Leonardo Marinho – No primeiro show a casa tava cheia, era uma festa “open barâ€, a galera já tava meio alta, a gente tocou em um horário bom, acho que era uma da manhã, então acabou sendo muito bom. Estávamos meio tensos porque já fazia algum tempo que não ensaiávamos, a gente estava concentrado na finalização do nosso disco e eu tive que viajar com outra banda nesse mesmo período. Então acabou que fizemos apenas quatro ensaios, ficamos uns quinze dias sem se ver e nos encontramos novamente no dia do show. A expectativa era grande, mas acabou dando tudo muito certo.

Alberto – Fiquei sabendo que o pessoal da revista curtiu.

Leonardo – Muita gente veio falar com a gente dizendo que gostou e que estava surpreso porque não esperava que vindo da Paraíba o som fosse aquele.

Ruy – Lá realmente há uma grande concentração de cultura, talvez por isso, ainda exista muita gente pensando que fora dali não circula informação. Na verdade a gente sabe que por aqui sempre houve uma galera comprometida com esse lance da criação de novas formas, da experimentação e do não comprometimento com rótulos. Acho que foi isso que eles mais curtiram.

Leonardo – A galera lá sabe que rola alguma coisa em recife sabe, recife é uma referencia, mas saber que aquele som vem da Paraíba foi uma surpresa.

Alberto – Então foi surpresa dos dois lados, tanto de vocês com o lugar como do público com vocês?

Ruy – De certa forma foi sim, até o cara que chamou a gente não sabia se a gente ia se garantir no palco, por exemplo. Porque a gente com essa formação ainda não fez nenhum grande show, então não tinha comentários em torno da gente, tipo ele não tinha nenhuma referência. Então... Foi uma loteria, ele curtiu e resolveu apostar.

Leonardo – Ele viu o myspace e viu uns vídeos no youtube e gostou. O cara até disse que a galera achava que a gente iria de ônibus então eles colocariam a gente pra tocar de todo jeito.

Alberto – E a relação entre o som que vocês fazem e o som que vocês ouviram por lá, tudo casou direitinho ou vocês se sentiram fora do ninho?

Leonardo – Na verdade a gente se sentiu mais dentro do que nunca. Lá tem muita gente produzindo coisas com diversas referencias. Muita gente com a mesma base.

Ruy – Todas as bandas que nós conhecemos, com quem tocamos juntos, eu curti, todas tinham certa afinidade com a gente, algum ponto em comum.

Alberto – E a volta? Como é que é voltar depois de ter acompanhado o ritmo de São Paulo?

Ruy – A maior diferença é essa né?! A velocidade das coisas. Lá meio que todo mundo se preocupa com o que produz. Os bares, por exemplo, já tem o seu próprio equipamento de som, naturalmente, se os caras já sabem que vão fazer show toda semana, varias vezes por semana até, então não vão ficar alugando som todo dia. Sai caro e as vezes você corre o risco do cara não aparecer. Aqui é normal tu chegar pra tocar e não ter técnico de som, não ter nada montado, ou não é? Muitas vezes marcam uma passagem de som três da tarde quando dá umas oito é que tão terminando de montar o palco. Lá, pelo menos nas tocadas que agente fez, se você chegasse meia hora atrasado já te olhavam de cara feia e quase não dava mais pra passar o som. As pessoas tentam se levar a sério mesmo, sabem que é um mercado e tem gente ali tentando sobreviver de alguma forma. A galera ta sempre pensando em fazer a coisa funcionar.

Leonardo – Lá em todo lugar tem diversas idéias nessa área da arte que a galera compra mesmo, que a galera patrocina mesmo. A galera faz coisas viáveis e tem iniciativas privadas que apóiam, lá não é tão absurdo você chegar e pedir patrocínio pra fazer um show. É outro nível de produção e o pessoal tem consciência de há um retorno.

Alberto – E agora que voltou qualé o plano?

Leonardo – Agora é ensaiar mais e produzir pra tentar ficar lá e lô.

Alberto – Vocês acham que se conseguirem se fixar por lá vão conseguir produzir tanto quanto aqui?

Leonardo – Acho que sim, mas teríamos de trabalhar mais. A gente ia ter que se virar mais.

Daniel – Se tivéssemos a mesma estrutura que temos aqui lá em SP, seria possível. Mas como a realidade é outra, a produção acabaria diminuindo.

Ruy – acho que ainda vai demorar um pouco pra gente decidir ficar mesmo por lá. a correria tem vários pontos negativos. Mas por outro lado até seria bom também, você acaba tendo que acompanhar o ritmo da galera e consequentemente produzindo mais, porque se não nego véi, se quando chegar a hora de mostrar teu trabalho você não estiver em forma, ai tu volta pra casa. É uma questão de seleção natural, né?! Se a concorrência é grande, quem não sustentar a pisada vai ficando pra trás.


A banda Burro Morto está finalizando seu primeiro CD e já tem balas na agulhas para o próximo EP.

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Nic NIlson
 

O Burro mais inteligente e q de morto naum tem nada! rsrsrsrsr
Parabéns! Aplausos, tem q meter o burro pra frente, gente!
Seguinte, mas colocar uma materia dessa, sem colocar uma faixa p gente escutar é mau! Isso e cruel! Ve se coloca aeh!

Nic NIlson · Campinas, SP 26/7/2008 19:07
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Alberto Nanet
 

Eita, é o segundo comentário que recebo falando disso!
Seguinte... Eu tenho as MP3 do burro morto, quem quiser manda um i1/2 pedindo. Agora, na primeira vez que eu escrevi Burro Morto, tem um link p/ o myspace dos caras, que é:

http://www.myspace.com/burromorto

Aproveitem!

Alberto Nanet · João Pessoa, PB 27/7/2008 04:23
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Andre Pessego
 

É sempre bom, útil, interessante o furar o bloqueio do chamado "Eixo Rio/Sp", em termos de insersão artistico musicial
abraço
andre.

Andre Pessego · São Paulo, SP 27/7/2008 19:07
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Hermano Vianna
 

muito interessante essa Lagos paraibana! realmente: João Pessoa é a cidade brasileira mais próxima da Ãfrica - sei bem disso: nasci no Grupamento de Engenharia e, anos depois, tive a honra de ver Fela Kuti ao vivo no Shrine... Longa vida ao Burro Morto!

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 27/7/2008 22:49
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Alberto Nanet
 

Valeu turma boa!!!

Alberto Nanet · João Pessoa, PB 27/7/2008 23:03
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Fernando Oliveira
 

Bôa musica, viajei................parabéns.

Fernando Oliveira · Rio de Janeiro, RJ 27/7/2008 23:24
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Felipe Gurgel
 

a banda é foda. não vi ao vivo ainda, mas o myspace é muito bom!

Felipe Gurgel · Fortaleza, CE 13/9/2008 12:11
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Dani Montalvão
 

O norte e o nordeste se mostram cada vez maiores celeiros de criatividade e inovação musical. Bem legal o Burro Morto.

Dani Montalvão · São Paulo, SP 7/10/2008 12:26
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Djalma Nery
 

Nossa, gostaria muito de vê-los aqui pros lados de São Paulo, já que eu perdi essa primeira vinda dos caras! Podíamos ajudá-los, tranquilamente, a marcar uma porrada de shows pelo interior tb! Muito boa a banda, me encantaria conhecer melhor o ambiente deles lá na Paraíba!

Muita Força
Abraços!

Djalma Nery · São Carlos, SP 24/11/2008 22:28
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Fernando Oliveira
 

Seria Muito bom um show de vcs no circo voador rj.

Fernando Oliveira · Rio de Janeiro, RJ 17/1/2009 10:58
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