Acidental feito pedra no caminho
Romancista estreante e contista premiado, como leitor ele se define atÃpico e como escritor de ficção cientÃfica diz que o gênero surgiu em sua vida feito uma topada numa pedra. O primeiro romance dele, SÃndrome de Cérbero - no qual um homem de meia idade viaja 40 anos ao passado para tentar salvar o idolatrado pai de ser assassinado - é uma amostra de seus objetivos literários: um autor que pretende utilizar ferramentas do gênero para tratar das angústias humanas, dos dilemas do indivÃduo. Na entrevista a seguir, o paulistano comenta os motivos para ter situado o livro em um cenário estrangeiro, descreve um pouco do método quase mediúnico de escrita e aproveita a experiência como publicitário para analisar as estratégias possÃveis para se popularizar a FC no Brasil. Com vocês, o sobrinho-neto do escritor e dramaturgo húngaro Zsigmond Moricz (1879-1942), Tibor Moricz.
Você lançou seu primeiro livro com praticamente a mesma idade do protagonista da obra, à s vésperas de completar 50 anos. Mas, nos textos de apresentação de SÃndrome de Cérbero, é dito que você escreve desde a adolescência. Há muitos outros textos seus, quer sejam ou não de ficção cientÃfica ou de literatura fantástica em geral, já elaborados e aguardando publicação?
Devo ter escrito ao longo da minha vida centenas de contos. Todos eles perdidos nas mudanças que realizei ou devorados pelas baratas. Tenho dois romances prontos. Mas a editora cometeu um exagero quando disse que eles estavam no prelo. Na verdade não tenho nenhuma intenção de publicá-los. Um deles é uma fantasia medieval que cheguei a reescrever quatro vezes procurando aprimorá-lo; o outro, um livro de aventura e sobrenatural que, embora seja relativamente bom, está longe de me agradar inteiramente. E quando não me sinto seguro com algum escrito, não o torno público. Jamais. Há um terceiro, mas este foi escrito recentemente, tem o tÃtulo de Fome e se encontra nas mãos de alguns editores conhecidos. Acredito muito na sua publicação. O conto que abre o livro está disponÃvel na internet e já foi lido por muitos. Chama-se “O caçadorâ€.
Depois de tanto tempo escrevendo antes de se lançar às livrarias, por que você escolheu a FC como tema do romance de estréia? De onde veio seu interesse pelo gênero e que autores você costuma ler e lhe servem de referência?
Uma vez eu disse que a FC aconteceu na minha vida da mesma maneira que uma pedra acontece na vida de algum passante distraÃdo. Foi uma topada acidental. Ocorreu de elaborar uma história cuja temática central era de viagem no tempo. Resisti muito a aceitá-lo como ficção cientÃfica porque meu objetivo era – e sempre será – o homem. O indivÃduo. Suas incertezas, seus medos, suas imperfeições. Utilizei a poderosa máquina de Barnard Caldwell apenas para dar uma base segura ao argumento principal que era o amor de um filho pelo pai. Com o passar do tempo fui me ajeitando dentro desse novo contexto e comecei a aceitar o fato de ter escrito uma obra de ficção cientÃfica. Justamente por ter sido um evento acidental não posso dizer que fui influenciado por esse ou aquele autor do gênero. Sou um leitor diferente. Em muitos aspectos, atÃpico. Desde a pré-adolescência venho lendo quase tudo o que me cai nas mãos. Muito mais literatura mainstream que de gênero, embora tenha lido Isaac Asimov, Arthur Clarke, Ray Bradbury, Robert Silverberg e outros. Considero-me atÃpico porque não lembro os livros que li, a não ser uma meia dúzia que por essa ou aquela razão me marcaram. Nesses, incluo Sexus, Nexus e Plexus de Arthur Miller, A insustentável leveza do ser de Milan Kundera, Complexo de Portnoy de Philip Roth, Fome de Knut Hamsun, Os sete minutos de Irving Wallace e outros mais recentes que ainda não foram removidos para o arquivo morto da minha memória (rsrs). Minha maior influência veio mesmo da TV e do cinema. Fui um entusiasta de Perdidos no espaço, Jornada nas estrelas, Túnel do tempo, Viagem ao fundo do mar, Star wars e quaisquer outros filmes ou séries nessa temática. Assim, posso dizer que minhas referências literárias vêm de uma imensa sopa de impressões obtidas com a leitura de livros dos mais diversos gêneros, a esmagadora maioria completamente esquecida por mim atualmente.
Foi feita muita pesquisa para compor a trama de SÃndrome de Cérbero, tanto nos aspectos técnicos da viagem no tempo, envolvendo algumas teorias de fÃsica; quanto na construção psicológica do personagem principal, Leonard Cameron; ou ainda no cenário do livro, que se passa inteiramente em cidades de porte médio dos EUA?
Média. A construção psicológica do personagem não exigiu pesquisa nenhuma. Saiu tudo da minha cabeça. Os detalhes técnicos sobre a viagem no tempo mereceram uma pesquisa básica já que não mergulhei de cabeça no aspecto hard da ciência. Quanto ao cenário, tive que pesquisar o cotidiano e a geografia dos EUA, mas nada muito exaustivo.
Por falar na ambientação do livro, por que você optou por criar uma história que não tenha nenhum elemento, ou mesmo citação, ao Brasil ou à terra natal de seus pais, a Hungria? Em relação ao primeiro caso, foi para fugir do mito do Capitão Barbosa, como é apelidado o temor de que soe ridÃculo o uso de personagens e de temáticas brasileiras em um enredo de ficção cientÃfica?
Na ocasião eu não conhecia o mito do Capitão Barbosa, embora tivesse sido exatamente por isso que resolvi ambientar a história do livro num paÃs estrangeiro. Não conseguia (nem consigo agora) imaginar um cientista chamado Benedito ou um “da Silvaâ€. O cenário brasileiro contemporâneo me remete a outros argumentos ficcionais, todos eles realistas e mais condizentes com a literatura mainstream. Pobreza, crime e corrupção (vividas tão de perto e intensamente) são referências desestimulantes para quem quer escrever uma boa história de FC. Pelo menos pra mim.
Sua escolha por utilizar personagens e cenários americanos provocou alguma reação perceptÃvel entre os leitores? Houve alguma crÃtica positiva ou negativa por ter feito tal opção?
Poucas reações. O Fábio Fernandes comentou que perdi uma excelente oportunidade em ambientá-lo no Brasil do golpe militar. Li alguns comentários sobre o fato em algumas comunidades do Orkut. Alguns puristas reclamando da “imbecilidade†de um brasileiro ambientar sua história noutro lugar, num paÃs estrangeiro, como se isso fosse um crime de lesa-pátria. Tudo bobagem. Mas as reações negativas foram realmente pequenas. Graças a Deus os elogios suplantam em muito as crÃticas.
SÃndrome de Cérbero pretende ter alguma forma de continuação, seja na forma de uma seqüência da história, seja com uma adaptação para outra mÃdia, ou você já explorou tudo o que tinha a dizer sobre aqueles personagens?
Na minha cabeça não há a menor chance de escrever uma continuação para SÃndrome de Cérbero. Quanto a adaptações para outras mÃdias, acho-as pertinentes. Mas nem sei como poderia fazer isso. Gosto de pensar que o livro renderia um bom filme, mas sei que isso é fantasia e estamos falando de ficção cientÃfica (rsrs).
Seu livro foi publicado por uma empresa que é conhecida pelo lançamento de tÃtulos ligados ao espiritismo – JR Editora – que nunca mostrou interesse anterior pela ficção especulativa. Como foram os bastidores dessa negociação e há possibilidade de a editora voltar a lançar outras obras do gênero, de suas ou de outros autores?
As coisas com a JR Editora aconteceram de forma completamente inusual. Estava batalhando uma editora há dois anos sem nenhum resultado positivo. Um amigo, escritor do gênero de auto-ajuda, me convidou para uma noite de autógrafos numa livraria Siciliano próxima de casa. Fui. Lá conheci o editor, para quem enderecei todas as minhas reclamações quanto à capa abominável do livro que se homenageava naquela noite. Propuseram-me então que apresentasse uma capa melhor, que desenvolvesse um projeto. Aceitei com a condição de que o editor me auxiliasse na procura de uma outra editora para SÃndrome, já que ele estava fora da linha editorial da JR. Condição aceita, iniciei o trabalho a que me propus. Duas semanas depois, numa reunião onde apresentei as opções de capa, entreguei ao editor o original de SÃndrome de Cérbero. Ele leu a sinopse e declarou interesse em publicá-lo. Coisa que acabou acontecendo um ano e meio depois. Tive muita sorte, na verdade. Quanto a possibilidade da JR Editora vir a publicar outras obras do gênero, desconheço. Mas acho que nada impede um bom argumento de ser aceito.
Apesar de se lançar como escritor já com um romance, você tem sido premiado por textos mais curtos que também tratam de temas de FC. Foi assim com “Ordem Crepuscular†e com “Filamentos iridescentes como numa chuva de néonâ€, respectivamente vencedores dos prêmios Ignácio de Loyola Brandão, no XI Concurso de Contos de Araraquara, e Braulio Tavares, em uma competição promovida no Orkut que em breve deverá dar origem a uma coletânea. Qual a importância desse tipo de incentivo para um autor iniciante?
Acho que para chegar ao ponto de um autor iniciante ser premiado num concurso de contos qualquer que se pretenda sério, é necessário que ele já tenha queimado uma série de etapas anteriores. Ter escrito bastante para evoluir tecnicamente, poder dizer que desenvolveu um estilo próprio. Ter sublimado aquilo a que chamamos de talento (desde que ele exista nessa pessoa) e tê-lo transformado em ferramenta constante e não apenas efêmera e ocasional. Depois de tudo isso, um prêmio num concurso de contos é apenas a ratificação de um trabalho árduo. O verdadeiro incentivo não está nos prêmios nem nos concursos. Ele está à nossa volta. Em nós mesmos. Naquilo em que acreditamos. Naquilo que queremos para nós e para as pessoas que amamos.
Há alguma diferença marcante entre seu processo de elaboração de um romance e o de um conto? Poderia descrever como é sua preparação no momento em que resolve criar alguma história?
Meu processo criativo é, de certa forma, entrópico. Não há, na maioria das vezes, uma elaboração antecipada. Quanto muito uma idéia básica. Eu me sento para escrever e deixo o texto fluir. É quase mediúnico. SÃndrome de Cérbero recebeu de mim uma atenção rasteira quanto à linha geral de raciocÃnio que nortearia o trabalho. Resolvi o nome dos personagens, decidi que o filho tentaria salvar o pai sucessivas vezes de um assassinato e o resto foi acontecendo na medida em que escrevia. Eu era um escritor/leitor privilegiado. Conto ou romance, ambos sofrem o mesmo processo. Posso sentar, respirar fundo diante do editor de texto e começar a batucar o teclado. Colocar palavras a esmo, deixar que elas se sucedam e formem linhas, orações, páginas inteiras. Em 90% das vezes fico satisfeito com o trabalho. Ultimamente tenho permitido que a inspiração me atinja, em vez de simplesmente sentar e escrever. Deixo a mente aberta até que uma idéia surja e brilhe. Devo ter um anjo da guarda literato que me sopra as idéias, talvez até um anjo familiar já que meu tio-avô Zsigmond Moricz foi um dos escritores mais importantes da Hungria no século passado (rsrs).
Aproveitando da sua experiência profissional como publicitário, você poderia sugerir alguma estratégia para popularizar a ficção cientÃfica entre o público brasileiro? O que está faltando para atingir maiores mercados consumidores para o gênero?
Essa questão me lembra um cachorro correndo atrás do próprio rabo. Ou a cobra Ouroboros. Não há jornalismo literário especializado no paÃs, o que dizer então em relação à literatura de gênero. Por outro lado, não temos um gênero especializado no paÃs, que dirá um jornalismo que o respeite. O que quero dizer é que faltam obras verdadeiramente respeitáveis, que chamem a atenção pela inequÃvoca qualidade. Trabalhos que, pela virtude técnica, poderiam lutar ombro a ombro com a literatura mainstream. Trabalhos que valorizem não apenas uma boa idéia, mas também o poder narrativo.
Indo direto ao ponto, precisamos primeiro produzir obras de inegável qualidade para depois reclamar a falta de atenção da mÃdia. Claro que campanhas publicitárias ajudariam, mas qual editora investiria num autor brasileiro de futuro ignorado? Já é uma luta conseguir uma que aceite nos publicar, convencê-las a nos bancar publicitariamente é quase uma alucinação. Não resta alternativa senão usar e abusar dos recursos que a internet nos fornece. Divulgar nossos trabalhos e nomes em blogs, comunidades, sites diversos, explorar ferramentas como o Youtube. E contar com a sorte. Ela à s vezes dá as caras. Temos que estar atentos para agarrá-la nessa hora.
Este texto encerra um projeto chamado Ponto de Convergência, que pretendeu traçar um panorama da ficção cientÃfica nacional através de resenhas de livros significativos lançados ao longo da última década e de entrevistas com seus autores. O livro SÃndrome de Cérbero foi resenhado no Overblog: http://www.overmundo.com.br/overblog/complexo-de-chronos
Parábens ao Tibor pela habilidade literária e bom humor e parábens ao Romeu Martins pelo projeto!
Horacio Corral · São Paulo, SP 5/5/2008 15:08Excelente entrevista, com questões pertinentes e respostas que revelam um entrevistado muito esclarecido e consciente. Parabéns ao site e ao autor!
Mila F · São Paulo, SP 5/5/2008 15:40
Gracias novamente, Horacio.
E obrigado a você, Mila F, que, salvo engano, é uma outra excelente escritora.
Obrigadão, Mila. Depois desse comentário vou adotar uns 15 gatinhos, pode mandar separar...rsrsrs.
tibor · São Paulo, SP 5/5/2008 16:51Parabéns Tibor pela entrevista e parabéns Romeu pelo projeto!
Huguinho... · São Bernardo do Campo, SP 5/5/2008 17:19
Muito bom Tibor. Ao Romeu parabéns pela sensibilidade.
Grato, Huguinho e grato, Daril (hã, sensibilidade foi um elogio, certo?)
Romeu Martins · São José, SC 5/5/2008 19:28
(Pâtz, já tá todo mundo sabendo que eu sou a crazy cat lady do pedaço. :-P)
Tibor, como disse, achei suas opiniões muito sólidas e seguras. O site também é excelente e variado, um local que dá oportunidade de divulgação e debate para nossos escritores, e isso sempre deve ser valorizado. Só me entristece que ao pensar em Brasil as primeiras coisas que lhe vêm à cabeça sejam "pobreza, crime e corrupção". Não sou nem anti nem pró-Capitão Barbosa, creio na literatura de qualidade como algo universal, que transcende a nacionalidade. Mas gosto de pensar que o Brasil é muito mais do que isso. Nossa terra tem palmeiras onde canta o sabiá.
O sábia tombou com a fumaça densa dos escapamentos. Seu canto foi absorvido pelas sirenas insistentes que anunciam mais uma chacina. Tenho medo de sair à porta de casa. Olho com desconfiança para os lados. Esse é o Brasil em que vivo.
Mas todos os dias de manhã abro a janela e vejo a montanha, o céu e pardais e sabiás laranjeira tentando sobreviver em meio a todo esse caos. Quero acreditar, Mila. Quero muito. Mas fica tão difÃcil...
Parabéns Tibor pela entrevista e obrigado Romeu pelo projeto.
Clinton Davisson · Macaé, RJ 6/5/2008 12:45Gostei muito da entrevista, Tibor. Parabéns aos dois
Mhel · Rio de Janeiro, RJ 6/5/2008 13:24
Obrigado, Clinton, obrigado, Mhel.
Eu é que tenho que agradecer o apoio que levou o projeto a aprovar todos os textos nas votações. Ótima chave de ouro.
Abração a todos!
Ótima entrevista!
Duas coisas me chamaram atenção e me pareceram interligadas: será que o fato de não ter muitas histórias ambientadas no Brasil está diretamente relacionado com a dificuldade de popularização da FC brasileira? Fico pensando na música, onde, sei lá, 70% do que é consumido é em português, com ritmos nossos. É uma questão de identificação, enfim, e não há sucesso estrangeiro momentâneo que consiga reverter essa tendência. Será que não conseguir imaginar um cientista com nome "da Silva" não é só uma questão de hábito, pelas referências e leituras que inspiram os autores de FC brasileira?
Ainda que concorde com o que a Mila diz aà acima, tendo a achar que seria possÃvel até misturar temáticas "reais" como pobreza e corrupção com FC. Bom, mas isso quem tem que avaliar são vocês, os autores (e, dada a fluência da conversa de vocês, imagino que devam discutir essas coisas com freqüência).
Aliás, desculpe a ignorância, mas apesar de você explicar o conceito do "mito do Capitão Barbosa", Romeu, fiquei curiosa para entender o que deu origem a isso...
Pra acabar (chega!), bem que o Tibor poderia dar o link para o conto "O caçador", já que ele diz que está disponÃvel na internet.
Abraços
Oi Helena. Vou deixar o link aqui. Leia o conto e depois diga o que achou, ok?
http://tmoricz.livejournal.com/689.html
Beijos.
Tem também esse aqui, Helena. O conto premiado em Araraquara.
http://clfcbr.org//index.php?option=com_content&task=view&id=70&Itemid=99
Helena, quanto ao fato de não conseguir associar a temática nacional com uma boa história de FC é pelo fato disso me atingir em cheio, magoar, entende? Para escrever essa história eu precisaria não sentir isso na pele. Nos EUA existe a mesma problemática, mas está lá, não me atinge. Aqui é tão visceral, penetra tanto na carne que machuca. Me tira o tesão de escrever. Outros podem não ter esse problema. Respondo apenas por mim.
tibor · São Paulo, SP 6/5/2008 19:50
Olá, Helena
Você sempre levanta pontos instigantes nos comentários. Essa questão do nacionalismo na FCB daria um projeto à parte, e minha intenção foi traçar um panorama, não me atendo a nenhuma questão mais a fundo.
Mas você tem toda a razão, faltou dar uma contextualizada na chamada SÃndrome do Capitão Barbosa, expressão de autoria do escritor, músico e poeta Braulio Tavares.
Cito um trecho da dissertação de mestrado de Fabiana da Camara Gonçalves Pereira, Fantástica margem - O Cânone e a Ficção CientÃfica Brasileira:
"As dificuldades de adequar uma literatura associada ao Primeiro Mundo e aos paÃses anglo-americanos ao cenário terceiromundista brasileiro foi expressa por Tavares, que alcunhou a ‘SÃndrome do Capitão Barbosa’: como acreditar num herói com um nome tão... brasileiro? A lÃngua nacional revestira-se de pressupostos culturais tão fortes, ligados ao atraso e à impotência, que sua sonoridade desafiava a verossimilhança de toda uma história de ficção cientÃfica, especialmente se esta abordasse a temática tecnológica."
Dito isso, vale lembrar que, mesmo no universo da mostra do projeto Ponto de Convergência, existem exemplos de autores que exploram cenários e personagens brasileiros.
Octavio Aragão, autor de A mão que cria, idealizou uma polÃcia temporal formada majoritariamente por nossos conterrâneos de diferentes perÃodos da história.
Fábio Fernandes, nosso colega aqui do Overmundo, tem vários contos ambientados no Brasil no livro Interface com o vampiro e outras histórias.
Jorge Nunes usou o Rio de Janeiro como uma espécie de personagem no livro Macacos e outros fragmentos ao acaso.
Max Mallmann também usou o Rio como cenário na metade da trama de Zigurate.
Flávio Medeiros Jr. tratou de Minas Gerais em Quintessência.
Carlos Orsi, do livro Tempos de fúria, constantemente explora cidades do interior de São Paulo nos seus contos de FC e de Horror.
Tibor,
Obrigada pelos links. Pode ter certeza que vou lá conferir, depois comento. E olha, o que falei não foi absolutamente em tom de cobrança. Cada autor faz o que quer de acordo com sua vontade, você tem todo o direito de escolher temas, lugares e personagens como quiser, imagina! :)
Romeu,
Se teve uma coisa que aprendi lendo tua série foi que a FC brasileira é variada e que tem sim o Brasil como cenário em alguns casos, como esses que você cita, muitos deles resenhados por aqui. Ainda assim, pelo que entendi, existe uma dificuldade de encarar com naturalidade cientistas e heróis dos livros com nomes "da terra". Só fiz o comentário porque achei muito curioso que isso seja uma questão a ponto de gerar um "mito".
Aliás, muito obrigada pela explicação sobre ele. Bem interessante. Bráulio Tavares é fera em tudo que faz, sou admiradora de seus estudos e criações em cordel há tempos.
Quem sabe nos textos avulsos sobre FC que você eventualmente escrever dá para tratar dessa questão da brasilidade (aliás, é bem brasileira essa minha atitude de ficar pedindo mais depois de uma série tão legal como esta, hehe).
Abraços a todos e obrigada pela aula!
Esqueceu de falar de um certo "Fáfia", um cyberpunk ambientado no Rio de Janeiro de 2022, que mostra gangues de motoqueiros hackers que se fundiram com torcidas organizadas de futebol.
Me disseram que o livro é muito bom...rs
Eu que agradeço sinceramente o seu questionamento, Helena. Deu a oportunidade de esclarecer um pouco um ponto que é mesmo controverso entre vários autores. E é controverso justamente porque este é um gênero bastante plural.
Há autores como o Tibor e o OsÃris Reis (que também fez parte dos dez incluidos neste rápido panorama) que não se sentem à vontade em trabalhar com aspetos nacionais. Há muitos outros que sim, fazem questão de tratar de personagens e de cenários brasileiros.
Um livro a ser lançado em junho e que deve ser resenhado aqui é um bom exemplo desta segunda tendência.
Adorei você ter pedido mais, isso reforça a minha impressão de que a FC nacional pode atrair a atenção de um público tão qualificado quanto você é.
Abraço
Pô eu não li Fáfia. O autor ficou de me mandar mas deu pra trás.
Romeu Martins · São José, SC 7/5/2008 21:22Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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