“Grupos jovens, dispostos a escrever o próprio texto, ao se perguntarem sobre o que querem falar, em geral apresentam respostas bastante similares. Todos querem falar do amor, do medo, da violência. Querem falar de perdas, de morte, de solidão e de sonho. Falar do que se passa dentro deles e no entorno”, Adélia Nicolete, dramaturga e professora.
Você compra o ingresso e aguarda na fila. Conversa ou fica em silêncio e ouve a conversa dos outros. É um dia comum, uma noite como as outras. A vida segue o script e você é o ator, por mais que não goste do ofício. A porta do teatro se abre, a fila começa a andar. Você entra, procura um lugar confortável e espera o início da peça. Toca a campainha, as luzes se apagam: breve silêncio. As luzes voltam, a peça tem início e alguém está no palco. Esse alguém é você.
É impossível assistir a uma apresentação do grupo Espanca! sem se reconhecer nas falas dos personagens. Beira o incômodo a sensação causada ao se ver no palco, apresentando uma peça, falando para toda aquela platéia sobre a sua vida: as suas relações, os seus medos, os sentimentos humanos em último estágio. Não é exatamente você que está ali no palco, mas, ao mesmo tempo, é.
O jovem grupo belorizontino representa com facilidade um teatro que, se foge do rótulo de ser chamado de “mineiro”, é conhecido pela característica desse povo: a simplicidade. Peças com pouco cenário, figurino prático, para platéias menores que ficam próximas a um palco não muito grande.
Surgido no Festival de Cenas Curtas, realizado pelo Grupo Galpão com o intuito de revelar novas criações locais e pensar o teatro em voz alta, com menos de dois anos de vida, o grupo teatral Espanca! já deu o que falar no cenário das artes cênicas do Brasil. Todo o reconhecimento do prêmio Shell e da Associação Paulista de Críticos de Arte é bem-vindo, mas com ele vem a responsabilidade dos próximos trabalhos. “As pessoas têm a expectativa que no próximo haja uma superação criativa da linguagem criada. É alguém ‘esperando’ por você e isso é bom para a existência das coisas, para a existência, no caso, de um grupo. Quer dizer que existimos. Quer dizer que nosso trabalho existe”, explica Grace Passô, atriz e dramaturga, que forma o Espanca! junto com Gustavo Bones, Marcelo Castro, Paulo Azevedo e Samira Ávila.
Grace escreveu, dirigiu e atuou em "Por Elise", a peça que rendeu os prêmios ao grupo mineiro e que pode virar filme. No trabalho mais recente, “Amores Surdos” (que estreou em maio desse ano), o Espanca! abriu mão da direção de Grace e convidou Rita Clemente para realizar a tarefa. A idéia era trazer um olhar externo para dentro do grupo.
Tanto “Por Elise” quanto “Amores Surdos” trazem duas histórias com personagens extremamente cotidianos e ordinários (no melhor sentido do termo), cada um carregando sua vida comum com prazeres e desprazeres, com seus “quentes” e “frios”. E não é essa a vida de cada um de nós? Talvez seja a prova de que o que fazemos da hora em que acordamos até a hora que dormimos dá um bom roteiro para um filme ou uma peça de teatro. Para transformar o cotidiano em espetáculo basta apenas ter a capacidade de se inspirar com ele. E é isso que Grace mostra: “Meus primeiros impulsos para criar são sempre baseados na coisa mais pragmática que existe: a sensação que determinada coisa me causa. Vou dar um exemplo: no texto de ‘Por Elise’ há um personagem que é um lixeiro. Os lixeiros, no dia a dia, inspiram uma espécie de alegria e leveza. E olha como essa é uma sensação deslocada da realidade trabalhosa que exige esse ofício.”
Na sua opinião, esse tipo de teatro ainda se restringe muito a um público específico. Para ela, as pessoas que freqüentam fazem parte de uma camada específica, e já estão acostumadas com esse tipo de trabalho. Quando pergunto para quem então ela gostaria de apresentar suas peças, Grace responde na impossibilidade “queria apresentar para mim mesma.”
parabéns pelo texto, sérgio. belo equilíbrio entre a reportagem e uma crítica respeitosa. sua admiração pelo trabalho do grupo é contagiante.
Júlia Tavares · Belo Horizonte, MG 18/9/2006 00:47O Espanca! é uma das minhas inspirações! Por Elise é arrebatador! Uma salva de palmas.
Felipe_CiaMínima · Santa Maria, RS 13/3/2007 22:04
Essa peça "Por Elise" me tocou muito quando tive a oportunidade de assisti-la aqui em João Pessoa. É sensível às questões "ordinárias", como bem disse o Sérgio, sem ser melodramática; é muito poética e ao mesmo tempo super real, cotidiana, até pq uma coisa não exclui a outra...
Ótimo texto, Sérgio.
"Por Elise" é um espetáculo sensasional!!!
É um espetáculo complexo dentro de sua simplicidade. Merece sempre uma "cerimônia de palmas".
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