EuNóia capitaneando

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Claudiocareca · Cuiabá, MT
9/11/2006 · 207 · 4
 

Desconcertante! Talvez seja um bom adjetivo para descrever este pequeno notável. Uma narrativa diferente (outro adjetivo apropriado) que marca a estréia como escritor do overmano Eduardo Ferreira (blog Caximir Buquê).
Eduardo é sócio do coletivo A Fabrika, músico e compositor do bando Caximir, já dirigiu teatro, vídeo e televisão. Poeta maldito transita feito cachorro louco por estas terras áridas do cerrado matogrossense.

Eunóia vem abrindo portas para o jovem maduro de cabeça branca. Já está presente no Acre em dez Salas de Leitura, política pública de apoio a leitura. Foi lançado em Aracaju, na Poyesis, dia 07/11. E no dia 17/12/06 será lançado em Campo Grande. Segundo o escritor a intenção é noiar todo o Brasil. Invadir os recantos de paz e sossego e difundir a nóia, o escracho, o resto, o lixo da própria sociedade contemporânea. Para isso aceita convite para lançamento in loco (com apoio pra passagem, ehehe) ou virtual com bate papo on line.

Recentemente, o jornalista Marinaldo Custódio, que é mestre em literatura brasileira pela Universidade Federal Fluminense - UFF, escreveu uma resenha sobre o livro e eu como sou pequenininho nessa briga de cachorro grande trago abaixo o texto do Marinaldo que a meu ver abre o apetite para o livro.

Um narrador feito cachorro louco

Eduardo Ferreira está com livro na praça. O lançamento de eunóia aconteceu em setembro durante a Literamérica. Eduardo o fez pela afábrika, a “santa casa da criação†que ele e amigos tocam, para fazer publicidade, literatura, cinema, música e para agitar esses e outros tantos itens mais. Por sinal, afábrika lançou dois livros durante essa edição da grande feira de livros e culturas das Américas: o outro foi na verdade uma reedição, mas vejam bem que reedição: mui simplesmente o premiado e básico Deus de Caim, fruto bendito da primeira fase da carreira de Ricardo Guilherme Dicke.
Mas cá estou para falar não do Ricardo, não das peripécias de Jônatas e Lázaro, mas das muitas nóias do Eduardo neste seu bolsilivro de 140 páginas, capa discreta e funcional (de André Balbino e Paola Zanetti) e linguagem vazada aos borbotões, em que não há vírgulas nem maiúsculas, mesmo para iniciar frases ou grafar nomes próprios. Mas o eu-protagonista às vezes interage como nos papos malcriados que trava com o amigo chico amorim.
A linguagem de Eduardo Ferreira é, aliás, segundo o meu entendimento, um desses casos raros e sempre muito bem-vindos quando se trata de literatura: ela é literária por si mesma. Desse modo, o autor pode muito bem nos iludir, no bom sentido, fazendo com que a gente o leia com o maior prazer ainda que ele não tenha nada de relevante para nos contar. Em eunóia não é bem o caso, talvez aqui haja excessivamente o que contar, mas o plano do livro visa a uma contra-finalidade: ele gira infinitamente em círculos enganosos que não se atam a nenhuma esfera seguinte, e assim nunca chega – porque não pretende mesmo chegar – a lugar nenhum. O protagonista encontra-se preso, não se sabe se deliberadamente ou à força, num cubículo de um metro e meio quadrado, em Cuiabá, e está “girando num beco sem saídaâ€, conforme nos informa logo no primeiro parágrafo.
Claro que tem a ver com o recurso chamado de “fluxo da consciênciaâ€. Uma consciência noiada, de quem às vezes relata fatos sob o efeito de “uma droguinha qualquerâ€, mas extremamente crítica e perpassada pelo maldito mal-estar da civilização de que nos falava Freud. Tem pornografia, tem um ar beckettiano que aliás o próprio eu-narrador identifica, e há um disparar praticamente infinito de referências ao mundo das artes, da cultura, da filosofia. Mas há sobretudo uma ligação permanente com todo o universo da comunicação contemporânea, em particular a tevê e a internet. Cita-se Mallarmé, Beckett, Buñuel, a Bíblia, até Renato Teixeira e Almir Sater. Num dado momento, a narrativa migra para o ensaio, quando se faz a defesa de um grande literato da terrinha: “por falar em esquecimento lembrei do cerimônias do esquecimento do escritor ricardo guilherme dicke um dos grandes da literatura brasileira desgraçadamente esquecido nessa terra de verdes matas mato grossensesâ€.
O autor me disse que a garotada, em especial a da periferia, está curtindo de montão o livro, por identificar nele o seu mundo de nóias e de questionamento implacável da (des)ordem contemporânea. Disse, ainda, que uma amiga, professora da Unemat, pretende levar a obra ao conhecimento e ao trabalho em sala de aula com seus alunos. Isto deve provocar um abalo nos puristas, mas os partidários da abertura para toda forma de linguagem possível, os “Marcos Bagnos†da vida certamente vibrarão e hão de tirar daí material para infinitas dissertações, e teses, e ensaios de toda sorte. Afinal, vão travar contato com um personagem que, ao se definir, o faz misturando línguas e, até, um escorregão quanto à norma culta [à moda dos letristas de funk]: “sou poeira, sou nada. dizimado pelas notícias que vêm pelos telefone da vida. móvel. auto-suficiente como todos los otros seres que habitan deste lado del mundo. latino latrino ladino latindo por aí que nem cachorro loucoâ€.


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capileh charbel
 

cachorro insano

capileh charbel · São Paulo, SP 9/11/2006 17:23
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Marcelo Rangel
 

metralhadora verbal
noites noiadas neanderthal
doces e amargos vitupérios
excelente mostrar sua ousadia por aqui, meu caro

Marcelo Rangel · Aracaju, SE 11/11/2006 03:22
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eduardo ferreira
 

nóia nossa de cada dia, dai-nos a paz! seus 'lóki'!!! abração...

eduardo ferreira · Cuiabá, MT 8/1/2007 13:09
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sandra vi
 

au au auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu

sandra vi · Petrópolis, RJ 28/7/2007 05:02
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