Exclusiva: Apolônio de Carvalho - Parte I

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Bosco Martins · Bonito, MS
6/4/2006 · 132 · 7
 

Quando ele nasceu, o anjo torto, aquele mesmo do poeta Drummond, disse vai Apolônio ser um cidadão do mundo. Morto em 23 de setembro de 2005, aos 93 anos, Apolônio Pinto de Carvalho era corumbaense, e nasceu em 1912 no Estado de Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul. Socialista e figura legendária, sua trajetória de vida se confundiu com um roteiro de um romance épico. Nesta última entrevista concedida com exclusividade em seu apartamento no Leblon, no Rio de Janeiro, em agosto de 2005, poucos dias antes de morrer, ao lado de sua companheira Renée de Carvalho, Apolônio fala do governo Lula, de Luis Carlos Prestes, da decadência do comunismo no mundo, da guerra civil espanhola e do sentimento de ter matado seres humanos, e dá um depoimento inédito sobre a Guerra do Paraguai e de sua amizade com o poeta Manoel de Barros, entre outros assuntos. A entrevista foi concedida com exclusividade ao jornalista Bosco Martins (bonito@boscomartins.com.br), foi exibida pela Rede Pública de Televisão de Mato Grosso do Sul, através da TV Educativa Regional/MS.

Apolônio, uma breve biografia. Quem é Apolônio de Carvalho?
Sou produto da minha época e tudo isso. Quando me perguntam: "Por que você foi se engajar na esquerda?...†A trajetória de meu pai era contra a ditadura e contra as violências da direita. A trajetória de meu irmão, tenentista, também rompeu com os arbítrios e as coisas negras da chamada República Velha, da primeira República, da Proclamação da República, até 1930. E também porque a minha geração não teve outro caminho, senão sentir os efeitos da Coluna Prestes! Em 1929 houve maior crise da história do capitalismo. Com terríveis efeitos sobre as vidas das populações. Então nós jovens éramos a favor da justiça, da igualdade, do respeito humano. Isso faz com que nós entremos na luta armada. Depois na luta política. Então passamos pelos altos e baixos dos partidos. Faço questão de falar um pouco das coisas positivas do Partido Comunista, porque muita gente fala olhando, só unilateralmente, para o lado negativo que não foi só do nosso Partido Comunista Brasileiro, mas dos partidos comunistas de todo o mundo.

Em 1935 você foi transferido preso para o Rio de Janeiro. Como foi seu engajamento na Aliança Nacional Libertadora?
Aos 20 anos eu era um patriota, democrata, um jovem acessível às pressões do movimento social no momento em que a vida política e a vida social do país estavam profundamente marcadas pelos efeitos tremendos da maior crise cíclica da primeira metade do século passado, a crise de 1929, 1933 e 1934. Então, como democrata, como patriota eu me engajo na ANL, por uma questão de ética e de respeito a amizades profundas para com alguns dos meus colegas, era tenente de artilharia em Bagé, RS – o meu comandante era o major Costa Leite, um dos dirigentes da ANL, mas nas minhas viagens pelo interior, através da vontade de conhecer o Rio Grande, porque é a terra de minha mãe e de meus irmãos, conheci um outro oficial, Rosa Rolin, que quis me engajar na ANL. Fui conhecendo através dos documentos a Aliança Nacional Libertadora. Seus objetivos, seus sonhos de um Brasil mais livre, mais justo e sobretudo ligado à grande massa da população. Passava então a conhecer um pouco da realidade brasileira e seus profundos contrastes sociais e é justamente por isso que me engajei nela, através de uma pequena manobra desses oficiais que me cercavam. Havia em Bagé uma série de sindicatos operários muito ativos, sobretudo de influência anarquista e havia reuniões constantes desses sindicatos, que os companheiros que já estavam ligados à ANL queriam ganhar para a organização. Então, a manobra de um deles foi a seguinte: “Nós fomos convidados para uma conferência especial sindical hoje, onde estarão presentes os melhores dirigentes sindicais e nós gostaríamos que você nos representasse. Então eu fui assistir a essa conferência e eu passei a ser participante porque, num momento, um dos dirigentes anarquistas que já me conhecia dizia: nós queremos ouvir a voz de um oficial do Exército que está aqui entre nós e que começa a conhecer nossos sonhos, nossos objetivos, nossas fraquezas e nossa vontade de mudar a sociedade. Aí eu fui obrigado a falar e me engajei profundamente na ANL. Então, eu me torno combatente da ANL, mas apenas como um democrata e patriota integrado num movimento social extremamente forte e também com diretivas políticas que chamavam o Brasil a elementos novos ligados à soberania nacional num País ainda profundamente dependente, como era o Brasil da época.

Nesta época você ainda não conhecia o Partido Comunista Brasileiro e isso só foi acontecer após 1936, 1937, quando a ANL foi “levada†à ilegalidade?
Nós fomos todos vítimas de uma repressão muito violenta, então não somente presos, como expulsos do Exército e como preso político, isso no RS, em Bagé, eu fui transferido com outros para o Rio de Janeiro, onde Getúlio Vargas, um pouco descuidadamente, nos reservava a condição de hóspede de honra na Casa de Detenção e da Casa de Correção. Ali na prisão fiquei, junto dos companheiros que haviam participado do movimento de 35, no Nordeste e também no Rio, junto dos outros companheiros que eram combatentes da ANL em sua fase inicial, na fase áurea. Aí eu fui conhecer o Partido Comunista e, ao mesmo tempo, me iniciaria um pouco na visão da realidade brasileira, das suas profundas contradições e como eu tinha sido, desde o meu período de cadete do Realengo da Escola Militar do Realengo, muito chegado à poesia, à literatura modesta, mas ativa, eu passei a estudar na própria prisão alguns problemas da nossa realidade econômica e social e isso me ajudou a pleitear, junto aos amigos ligados ao Partido Comunista, uma série de aulas, uma espécie de curso inicial para formação política como militante.

Qual é a sua visão de “Memórias do Cárcereâ€, de Graciliano Ramos?
É aquilo mesmo que ele conta, embora eu tenha certas divergências com Graciliano por uma razão muito simples: nessa época, 1935, eu era um garotão de 23 anos, cheio de entusiasmo, passando a conhecer um pouco do que era o papel das classes sociais no Brasil, o papel dos trabalhadores no Brasil, os companheiros que me faziam conhecer um pouco da teoria própria das áreas de esquerda, embelezaram naturalmente os lados positivos, escondiam naturalmente os lados negativos, se é que o conheciam. Mas eu era um apaixonado já pelas idéias de renovação da sociedade, pelas idéias do socialismo. Então eu passei a inteirar-me com a idéia de uma sociedade nova, que a meu ver não deveria vir como foi tentado em 1935 e como eu tinha sido intentado antes, na Proclamação que Prestes fizera em nome do Partido Comunista, a 5 de julho de 1935, chamando os militares a uma ação violenta contra o Governo de Getúlio e a derrubarem o governo de Getúlio, eu passava a sentir o problema do socialismo através de uma floração de sociedades mais avançadas, com presença muito alta e muito ativa da população trabalhadora e não como um produto de violência, que da noite para o dia transforma as cores, a essência, e o sentido da vida e das coisas no Brasil da época.

Aí se deu o início de sua entrada ao PCB.
O Partido Comunista Brasileiro não era perfeito, mas enfeitou a minha vida com coisas muito bonitas, me convidou para ir para a Espanha e isso representou uma das coisas mais compensadoras, estimulantes e mais valiosas na minha trajetória. Porque combater com uma República, agredida, por dentro e por fora. Apoiada no povo. E sobre ideais muito próximos dos que eram os ideais das forças de esquerda no Brasil. Depois disso fui para a França e lá continuei as lutas contra a ocupação militar alemã, era a luta de libertação do povo francês sob a presença muito ativa também do Partido Comunista francês que também me ajudou muito a ser um participante nesse conjunto de combates, de ideais. Tenho um grande carinho pelo Partido Comunista Francês, mas também fui formado pela geração de comunistas dos anos trinta. Estou no Partido Comunista, entre 1937 a 1967. São trinta anos e pertenço à faixa comunista dos anos trinta. Éramos profundamente religiosos nas nossas ligações partidárias, tínhamos os olhos fechados para aquilo que não fosse belo e luminoso no partido, acreditávamos em tudo que diziam os dirigentes e mantínhamos o mesmo espírito de críticos. Aceitava aquilo que me parecia justo no partido com uma alegria extraordinária. O Partido espanhol também foi um partido em que me apoiei, para participar ao lado do povo espanhol, na luta por seus direitos e por suas diversidades. Quando volto para o Brasil, já em 1947, depois de dez anos no Exterior, encontrei um Partido Comunista que estava amplamente em liberdade, mas que gozaria dessa liberdade apenas por um período de meio ano. Fui convidado pela direção do partido para estréia, provisoriamente, numa direção, também provisória, a União da Juventude Comunista. Os jovens queriam vir para o partido, mas se chocavam com a natureza muito fechada e muito dura do partido com os militantes. Virei o presidente e me identifiquei muito com essa função, mas só estive na frente da Juventude Comunista durante um mês, porque os generais não admitiam e a frente dos generais estava no governo. Era o General Dutra. Em 1947, a União da Juventude Comunista foi fechada com menos de um mês de existência. O Partido Comunista entendeu mal esse gesto de arbítrio dos governantes. Prestes teria dito: "Fecharam a União da Juventude Comunista porque não têm força para fechar o Partido Comunista". Na realidade, a Juventude Comunista foi fechada no fim de abril com quase um mês de existência, mas o Partido Comunista seria fechado uma semana depois, a 7 de maio, pelo próprio governo do General Dutra. Então, um período diferente vai marcar a minha segunda militância. É uma militância na clandestinidade, isolada da sociedade, porque o Partido Comunista entendeu muito mal as decisões do Supremo Tribunal Eleitoral, que apenas tinha cassado o seu registro eleitoral. O partido pôde continuar a existir como uma organização recreativa.

Só não podia disputar as eleições?
Sim, mas o partido considerou que aquilo era o início, o anúncio de uma repressão violenta, caiu também numa clandestinidade elevada ao extremo. O partido confundiu a pressão das direitas vinda do governo, então nós passamos a viver completamente desligados da sociedade, da família etc. Foi um período muito duro, sem perspectivas e de possibilidades de ação e é isso que fez com que os anos cinqüenta ficasse conhecido como os anos de chumbo.

E ai a ação dos companheiros também foi dura? Em relação ao Prestes, principalmente?
O companheiro Prestes foi responsável por essa orientação fechada e extremada, estava inteiramente identificada com ela, e o Prestes era uma figura excepcional no partido. Ele era vontade suprema do partido. Então, entramos num período de clandestinidade em que o próprio Prestes mergulha, e desaparece durante anos e anos, até que em 1958, Juscelino Kubitschek abre uma era nova, acha que o Partido Comunista pode ser reabilitado como organização política geral, desde que ele abandone alguns dos temas de seu programa. Por exemplo: A ditadura do Proletariado e o caráter violento da Revolução etc. Então o partido adquire uma espécie de similaridade, que vai de 1958 até 1960, que cresce, relativamente, com a subida ao poder de João Goulart, e também continua crescendo, mas de maneira isolada, depois de 1962, já com o governo presidencialista João Goulart, até 1964 quando vem o golpe de Estado.

E como que ficou sua cabeça depois que Prestes, esse mesmo Prestes, acabou convocando o próprio Partido a apoiar Getulio? Você acha que foi um equivoco esse apoio a Getúlio?
Acho que não. Era necessário unir ao momento dado todas as forças que podem trazer algo que seja um programa de mudanças da sociedade. O Getúlio trazia – ele estava cercado de forças muitíssimo conservadoras – alguns elementos positivos e me lembro que ele tinha criado Volta Redonda, coisas novas para o Brasil, além de ter aberto caminho para a presença, embora sob sua tutela, da massa trabalhadora na sociedade e na política. Era então necessário aproveitar esses elementos para um partido que começou, afinal de contas, pela primeira vez, a ter direito a falar legalmente para a população, unir as forças interessadas num mínimo de mudanças parciais necessárias. O problema é que, até essa época, eu acho que o erro não era do Partido Comunista Brasileiro, o erro vem desde o Manifesto Comunista de Marx e Engels, o erro era querer a mudança da sociedade da noite para o dia, era querer a mudança da sociedade através de algo que seria utilizar uma crise política nas classes dominantes e, ao mesmo tempo, encontrasse as condições novas para mudar sem apoio efetivo e consciente da população. Teríamos que fazer um imenso trabalho de consciência da população para, através dele, implementarmos uma mudança sucessiva na sociedade brasileira.

Getúlio tinha certa afeição pelo nazismo?
Não se pode dizer isso, seria catalogar sob um determinado prisma, uma figura histórica da história política brasileira e a maioria das figuras históricas, no caso Getúlio Vargas, são figuras que têm dois aspectos. Duas partes. Uma parte, que sobre a pressão do popular, que é o que há de positivo nas nossas tradições, o obriga a aproximar-se mais do povo para distanciar-se de outras faixas das classes dominantes e que eram profundamente retrogradas, inimigas dessa mesma população. Outra parte da personalidade dessas figuras históricas, e ainda falando de Getúlio, era o fato de serem integrantes das classes dominantes. Eram grandes fazendeiros de São Borja (RS), e de outras áreas do Rio Grande do Sul, e, portanto, estavam identificadas com os interesses gerais das classes conservadoras. Então, de certa maneira, Getúlio jogou um pouco com a crendice popular, através de certas concessões – o Salário Mínimo que instituiu a partir de 1941 – mas ao mesmo tempo, vendeu, entregou o país à sanha de certos grupos financeiros da Alemanha, da Itália, dos Estados Unidos, que era o único imperialismo na sede neste momento. Ao mesmo tempo, se prontificou a cercar-se de elementos profundamente reacionários, capazes de instalar um regime de terror contra os que faziam oposição a ele. No sentido mais duro, mais acerbo, contra os mais cheios de perspectivas, contra o Partido Socialista, o Partido Comunista, os antigos Tenentes etc. Getúlio foi, ao mesmo tempo, um homem que teve as condições de proximidade para o povo, relativa, que lhe dava a alegria de ser chamado o "pai dos pobres", e, ao mesmo tempo, um ditador, sanguinário, frio, diante das populações mais avançadas na sua consciência e que não aceitavam o seu regime, de aparência democrática, e de realidade autoritária.

Apolônio, ainda na prisão, você chegou a conviver com Olga Benário?
Estive preso no momento em que, era o ano de 36, a Casa de Detenção guardava o que havia de mais influente na esquerda, que seria o movimento comunista, isto é, os presos políticos que vinham de Natal, de Recife e do Rio de Janeiro. Dentre os presos havia a seção masculina e a feminina. Na seção feminina tínhamos Olga e outras mulheres muito valiosas vindas do Nordeste, tanto de Recife como de Natal. Nesse momento eu conheci a Olga de longe, porque vivíamos numa separação muito rigorosa entre os presos e as presas políticas. Dentro da mesma Casa de Detenção era como se fossem duas prisões separadas: havia felizmente uma espécie de sobre loja, que as mulheres de vez em quando olhavam para o salão amplo, onde os presos políticos se reuniam. Nós discutíamos os nossos cursos, etc. e daí era possível ver uma de nossas companheiras presas. Houve um instante, eu me lembro como se fosse hoje, que pude sentir o contato de Olga olhando para a nossa ala masculina e, ao iniciar o mínimo de conversação, porque ela estava a uma distância de quatro metros e numa altura maior, eu ouvi dela o seguinte: “É preciso lutar, sem lutar não se consegue nadaâ€. Eu vivi essa situação! Porque ela estava na Casa de Detenção, quando foi arrancada e levada para o navio, para ser levada para a Alemanha. Então nós fizemos um protesto muito grande, dentro dos limites, protestamos muito, porque sabíamos que ela estava sendo ameaçada. Ela e a companheira de Arthur Herbert estavam sendo ameaçadas para serem mandadas para a morte, na Alemanha nazista, para a morte. Nós fizemos uma gritaria enorme, protestamos por todos os meios, tínhamos somente esta possibilidade de falar para uma parte da população.

O filme sobre ela do Jaime Monjardim passa essa imagem de mulher revolucionária?
O filme é extremamente justo do ponto de vista da vida e da historia da Olga Benário e do movimento comunista da época. Achei muito bom e muito positivo, e nós precisamos nos habituar melhor à força das críticas. A crítica, afinal de contas, como tudo no mundo, tem dois lados: um lado de verdade e um intencionalmente perverso. Na esquerda, há elementos extraordinários fundamentais para o desenvolvimento dos militantes, das instituições, do plano e da realização do trabalho: a constatação das realidades. A visão do que há de justo e injusto nessa realidade. A crítica ajuda a corrigir os erros iniciais, a autocrítica, a preparar coisas novas, utilizando a experiência recebida anteriormente, abrindo caminho para o novo e o que há de mais positivo da nossa ação política e social.

Você saiu da prisão, é expulso do Exercito e segue para a Europa.
Ao sair da prisão, eu me incorporo ao Partido Comunista, pois na prisão eu conhecera o Partido Comunista, através de uma dezena de antigos cadetes da Escola Militar do Realengo, através deles vieram as primeiras lições da doutrina comunista, do marxismo em geral. Ao sair da prisão, no dia seguinte, me incorporei ao PC através de figuras muito bonitas de nossa cultura, como Aparício Torelli (o Barão de Itararé) e Otávio Malta, que seria depois um jornalista muito respeitado do jornal Última Hora. Tinha havido uma reunião do comando central do Partido Comunista Brasileiro e nessa reunião tinha sido definida uma iniciativa. Havia muitos oficiais, muito sargentos, muitos cabos, muitos militares que estavam expulsos do Exército, a República Espanhola estava assaltada por generais, pelos príncipes da Igreja Reacionária Espanhola, era necessário, portanto, que alguém de fora, com forças de fora, suprisse essa defasagem de forças existentes em torno da República ameaçadas naquele momento. Então, eu que na minha família já tinha um pouco de experiência de posições internacionalistas...

Vai para as Brigadas Internacionalistas.
Eu era um jovem tenente, moço de 24, 25 anos. Eu era tenente de artilharia e a Espanha estava com muito poucos oficiais e eu tinha todo um curso da Academia Militar do Rio de Janeiro. Nessa época a Escola do Realengo não tinha a pompa militar da Academia das Agulhas Negras, era apenas a Escola Militar do Realengo. Eu tinha todo um curso de oficial do Exercito. Então eu passei na Espanha a ter funções sucessivas. Além da função de comandante-chefe de uma bateria de artilharia, eu fui também encarregado de funções de comandante, coronel e mesmo funções de General se tivesse continuado por lá.

Você participou de muitos combates na Espanha?
Eu passei nesse período a estar presente a todos os combates da metade sul da Espanha.

Quantas pessoas você matou?
Ali a gente mata de longe. Não vê as vítimas, porque nós atiramos a 6, 7, 12 km , mas a missão da artilharia era ajudar.

Sua consciência é tranqüila? Sendo você um grande humanista, isso nunca te afetou?
O problema é o seguinte: você está numa batalha não pelo seu desejo de sobreviver, não pelo seu desejo de se opor. Você está por um ideal, do outro lado estão os inimigos desse ideal, do teu lado estão os partidários desse ideal, então você está numa luta em que, usando os meios que se dispõe, no caso eu era um oficial de artilharia, e a artilharia atira de longe. Eu não via as minhas vítimas. Mas tinha consciência que eu liquidava uma parte dos meus inimigos lá. E aí você tem a consciência de que está lutando por algo, de um conjunto de razões a serviço do povo. E, portanto, se é necessário resistir aos que ameaçam os direitos dessa população, você tem direito também de responder à violência desta parte da sociedade. Tenho minha consciência muito tranqüila, porque você estava guiado por um ideal baseado na perspectiva de transformação de um mundo melhor do que aquele, com a visão de que você está naquela batalha para mudar o mundo, em busca de uma sociedade diferente.

Veja segunda parte da entrevista na próxima edição.

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Helena Aragão
 

Bosco, é importante saber se os direitos da entrevista são seus (ou da emissora de TV).

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 3/4/2006 19:46
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Bosco Martins
 

Graaaande entrevista, ainda se faz jornalismo sério neste País. Parabens overmundo pelo espaço, parabéns ao jornalista, Saudades de homens do carater do velho Apolônio. Claudio@Claudiotrelha.com.br

Bosco Martins · Bonito, MS 3/4/2006 22:42
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Bosco Martins
 

Olá, Helena, prazer em falar contigo, fique tranquila que os diretos são meus, no mais gostou da entrevista ou não? bonito@boscomartins.com.br

Bosco Martins · Bonito, MS 3/4/2006 22:58
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Helena Aragão
 

Gostei sim. Mais uma amostra da grande figura que ele foi e de tudo que representa. Em princípio estranhei uma entrevista dessas num site de cultura brasileira, mas daqui a pouquinho ela vai pra sala de votação: vamos torcer para a comunidade curtir como eu curti. Um abraço.

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 5/4/2006 15:09
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Claudião
 

Obrigado Bosco por ter me indicado o overmundo, agora ja estou ok para mandar bala aqui de jardim neste site q é uma verdadeira revolução da contra cultura. Vamos enfrentar a globalização com nossa tribo. Meu novo e-mail: claudionor.trelha@bol.com.br.

Claudião · Jardim, MS 6/4/2006 17:10
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Zezito de Oliveira
 

Que alegria! encontrar Apolonio de Carvalho no Overmundo.
Sigo as pegadas de gente como ele, Helder Câmara, Darci Ribeiro, Paulo Freire e tantos outros e tenho certeza que o meu caminho está bem iluminado.

Zezito de Oliveira · Aracaju, SE 16/8/2006 19:39
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arlindo fernandez
 

Bosco!
Gostei muito.E onde anda vc?????
a.fernandez

arlindo fernandez · Campo Grande, MS 28/8/2006 19:12
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