Falações é um livro. Poderia dizer “Falações é o meu livro”, mas assim me limitaria a escrever sobre mim, sobre os poemas que ali estão, e não é isso que pretendo fazer. Falações é um livro e um livro de poemas (“mas não esses poemas que as pessoas se acostumaram a ler”, costumo frisar: “Falações é um livro de poemas de mau-gosto”).
Há muito tempo que estava pronto e há muito tempo que pensava em torná-lo público. Alguns amigos advertiram: “Labes, não faz isso, primeiro publica em papel, depois publica em pdf, etc e tal”. Aceitei o desafio — e a angústia da espera — depois de ter percebido que, de fato, é muito difícil ser lido com atenção pelas telas de computadores. Além do mais, já há anos publicava prosa e verso em blogs por aí: já era tempo de ocupar um novo espaço, experimentar um novo formato.
Blumenau, a cidade onde moro, há três anos foi beneficiada com o Fundo Municipal de Cultura, projeto aguardado há duas décadas. Advertido sobre as dificuldades de se publicar — de romance experimental a receita de bolo — quando se é estreante, pensei: “uai, não tenho dinheiro mesmo... vamos ver o que pensa o Fundo a respeito disso”. É certo que o projeto entregue é mais do que a publicação do livro. Desde seu início, o blog Falações tinha por objetivo discutir literatura, criticar, promover dúvidas e debates (que aconteceram e eu juro como quiseram me processar por isso) entre os leitores e escritores daqui de Blumenau. Portanto, o projeto vai além: em agosto, dois eventos marcam o Projeto Falações: no início do mês, uma oficina sobre literatura blumenauense, suas determinações cronológicas e teóricas; no final do mês, uma mesa-redonda com poetas (poetas mesmo, nada de tentativa de) blumenauenses, onde se procurará discutir algumas questões sobre a produção literária local. Pois bem.
Falações, então, conseguiu dinheiro para ser publicado. O que faltava, agora, era uma editora. Mas pensei: se a capa, que surgiu de uma brincadeira do amigo Pedro Dieter, de Vitória, com colagem do americano Justin Kauffmann, dos Estados Unidos, aconteceu, por que então não conseguiria uma editora? Porque em Blumenau é assim: tu escreves, tu publicas, tu distribuis... e depois tu ficas com algumas centenas de livros em casa, porque quem tinha de comprar já comprou e não tens dinheiro pra mandar o livro pra fora. É aí que entra a editora. Falações saiu pela Editora da Furb e em uma semana começa a ser vendido em alguns estados brasileiros (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro) e na internet.
O livro saiu numa edição muito bonita: da capa à orelha ao posfácio, posso me dizer orgulhoso. No entanto, aprendi que um livro não lido não passa de um objeto. Para que o meu deixasse de ser um enfeite, fui atrás de leitores. O padrinho do projeto, o escritor Viegas Fernandes da Costa (o cara que dizia “olha, Labes, espera”, “Labes, fica tranqüilo”, “Labes, não é assim que se faz”) escreveu uma suntuosa orelha, que transcrevo a seguir:
A vida é um imperativo, está aí, tal qual nosso mal-estar ao constatarmos a sentença: há um princípio, há um fim! Soco no peito saber das coisas assim. Pronto. E temos Falações a preencher toda esta escatologia. Os versos do Labes são este punho de pugilista... sem luvas. Tendões e nervos desnudos da pele, e não sabemos se dói mais nossa face, ou se suas próprias mãos. Porque aqui temos o poema sincero, o poema direto. Porque se há a ferida, há também um dedo a escaranfunchá-la, sem piedade. Incomoda-nos, porém, sabermos que a ferida borbulha em nosso peito, aberta como boca sedenta, e o poeta aqui se mete, invade como seta, revolve e rebenta tudo, órgãos, veias, músculos. Por fim, sabemo-nos irmanados: a dor é sempre a mesma!
Há muito que venho lendo os poemas do Labes; melhor, há muito que os poemas do Labes vêm me revolvendo o íntimo, estabelecendo esta relação bizarra, febril, como o homem que morde os lábios para sentir o prazer da dor. Há um incômodo nisto tudo, claro está, mas para que serve um poeta senão para isto? E os poemas reunidos neste livro têm esta capacidade de desestruturar, de chocar, de socar, de revolver. São curtos, são duros, eloqüentes! Devolvem à palavra todo seu peso de dizer!
Dizer de Falações um livro de poemas, é dizer pouco, muito pouco. Talvez dizer que há muito estávamos precisados de um acontecimento assim, é dizer mais, é dizer o justo. Falações é este acontecimento literário que ainda vai dar muito o que falar.
Pois é, acho que não tenho muito a dizer. Na verdade, nem quero, porque posso estragar uma possível leitura ou uma das possíveis interpretações. No mais, é necessário dizer aos autores eletrônicos que é sim possível dar um passo adiante. E que, de repente, esse passo pode parecer muito maior do que as pernas. Mas não: a verdade é que, antes de se querer publicar um livro, é necessário se expor a isso, se expor ao próprio livro e aceitá-lo.
É claro que não poderia deixar de convidá-los para o lançamento. Mas para não tornar este texto uma nota de agenda, deixo este endereço aqui como referência. Uma dica: ele acontece dia 22 de julho, próxima terça feira, aqui mesmo em Blumenau. Quem quiser e puder, que apareça.
Então... dizer isso até parece conversa de comadres, mas gostei do texto e quero ir no lançamento.
Abraço!
Estaremos te esperando, Obrer: meus amigos, o livro, a cerveja e eu.
:D
Abração e... boa viagem!
Gosto bastante do que já li aqui e no seu blog, então acho que o livro deve estar mesmo muito bom. Se a gente pudesse avaliar pela capa, diria que é ótimo (afora o orgulho capixabês de saber que o autor é daqui!). Esperemos o lançamento. Sucesso - no lançamento e no retorno do livro.
Ilhandarilha · Vitória, ES 16/7/2008 22:04
COM MEUS VOTOS E DESEJOS DE MUITO SUCESSO !!!
BEIJO NO CORAÇÃO
Ilha, Celina... muito obrigado! A ansiedade - que não me deixa dormir, mas isto é detalhe - pelas respostas dos leitores é grande. Vou compartilhar este retorno aqui no Overmundo, certamente.
Labes, Marcelo · Blumenau, SC 17/7/2008 16:54Então, acabei de saber: o livro está à venda pela internet. É legal ver o site da Edifurb. Por enquanto, quem vende é a Livraria Cultura On Line.
Labes, Marcelo · Blumenau, SC 17/7/2008 18:18
Parabéns, Labes!
A gestação e a parição de um livro - nada de intimista ou imparciaL - é o divinal grão que (tanto) precisa este velho momento recheado de pavor.
- Que Teu livro seja pão na mesa do Mundo. Poesia é a Salvação do Homem...
Boa, Labes!
Gracias, Benny! Mas vamos adiante, nós poetas, com livro ou não. O que importa é bem outra coisa, não é?
Grande abraço!
Labes,
Como quem fez um filho por conta, conta que veja e aplauda os filhos feitos por outros, que a sensação de parir é a mesma.
É hora de graça.
Saúdo tua iniciativa também de pôr-se ao debate com um público que, espero, torço, almejo, tenhas em profusão.
Dê um impulso pessoal à divulgação do teu livro (é teu filho, és o primeiro a querer mostrá-lo aos demais), não acredite apenas nas prateleiras das livrarias, ainda que lá devam estar exemplares.
Leve exemplares às bibliotecas públicas e comunitárias e mesmo de clubes populares e associações. Participe de saraus, promova-os em algum café. Fale ao mundo.
É bom. Eu gosto muito de fazer parte disso.
Se quiseres, inda tenho algum exemplar da minha novela e faço um escambo com um exemplar do teu.
De quebra, dou uma nota na coluna de livros e literatura do Fala Brasil, que circula em Porto Alegre.
Parbéns e sucesso, guri.
Irei adquirir um, tenha sucesso no lançamento, pois os que já ouvi
são muito interessantes , gosto do jeito...depois te digo algo ab.
Adro, tenho certeza de que, como escreveu o Viegas, amigo e "orelhista" de Falações, a dor é sempre a mesma. A dor de publicar, seja por si, seja por uma editora, é sempre a mesma. A questão não é ter o livro impresso. A questão é: "cara, isso vai ser lido por muita gente! E agora?" Pois bem.
Agora que o livro está pronto e o lançamento marcado, não tenho muita força; a ansiedade me rebate. Mas sim, sei da necessidade de se levar, pessoalmente, o livro adiante para que aconteça. Vamos adiante.
Quanto à tua novela, é bom que colocaste, porque não esqueci dela. Pensava em tê-la em mãos na última feira do livro. Agora, tenho a certeza de que escambaremos nesta feira, em 2008... Porque, afinal, têm de ser trocados pessoalmente., não é?!
Obrigado pela força. Muito obrigado mesmo! Abração.
Cíntia, esperarei, ansioso, pelos teus dizeres! Gracias! :) Abraço.
Labes, Marcelo · Blumenau, SC 19/7/2008 09:11pois é. só ouvi de FALAÇÕES por estes tempos. olha, parabéns pelo livro mesmo. que outros venham para dar continuidade a toda essa conversa de falações.
Maria... · Blumenau, SC 1/9/2008 19:44Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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