Filhotes 'Monstros'

Divulgação: Fósforo Records
Rockassetes: banda sergipana é a última aquisição da Fósforo Records
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Edson Wander · Goiânia, GO
30/10/2006 · 306 · 13
 

O selo/produtora de rock independente Monstro Discos completou dez anos em 2005. A comemoração se deu na prática (pelo palco do festival que lhe deu origem, o Goiânia Noise) e na teoria, com o lançamento do livro do jornalista Pablo Kossa que contou a saga do selo (10 Anos de Goiânia Noise, edição da Contato Comunicação/UCG). Uma década depois de construir uma cena musical alternativa na capital goiana, a Monstro vê crescer filhotes diretos desta experiência. Goiânia tem hoje quatro selos roqueiros organizados sob inspiração da Monstro Discos, um deles surgido de divergências conceituais com a produtora.

"A diferença é ideológica, nada pessoal, quanto mais a cena estiver unida melhor, não sou sectário", defende Wander Segundo, baixista do Corja e criador do primeiro dos filhotes "monstro" há quatro anos: o selo Two Beers or Not Two Beers. Segundo, como é mais conhecido no meio roqueiro da cidade, foi o primeiro e único dos polemistas com a Monstro Discos. Para ele, os sócios da principal produtora roqueira de Goiás (e uma das mais significativas do país) trabalham com a mesma lógica da indústria cultural. "Eles querem ser major, mas não dão conta. Fazem um som indie de butique para a classe A, nós não, fazemos som para a molecada pobre que vai lá [nos shows] e vomita", cospe a crítica que repete desde o nascimento da Two Beers. Segundo diz que o selo dele nasceu para dar guarida às bandas da cidade que não tinham espaço junto à Monstro.

Leonardo Ribeiro, um dos quatro sócios da Monstro, responde que nunca tiveram a intenção de segmentar o rock da cidade e muito menos copiar a indústria. Afirmam que incluem, nos festivais, bandas até do selo de Wander Segundo e que o principal objetivo dos festivais é fortalecer a cena, seja através da inclusão de bandas locais ou do intercâmbio entre artistas de fora e de Goiânia. Segundo diz que a relação com a Monstro "melhorou muito" desde o início da Two Beers. "A gente não é inimigo, eles me ajudam e eu ajudo eles sempre que posso. Este ano mesmo eles me convidaram para montar banca da Two Beers no Banadada [o outro festival organizado pelo Monstro] e duas bandas do meu selo tocaram no festival", disse Segundo sobre as bandas WC Masculino e Ressonância Mórfica.

O selo de Segundo, cujo título-trocadilho com o aforismo shakspeariano ele tirou de uma camiseta dos Simpsons, completou cinco anos em setembro. Pelo Two Beers or Not Two Beers já passaram cerca de 50 bandas, a maioria de Goiânia. As meninas dos olhos de Segundo hoje são Ressonância Mórfica (banda que vem ganhando projeção em outros estados) e Desastre e Eternal Devastation, grupos punk e metal que estão com EPs sendo distribuídos na Europa. O esquema de trabalho do selo, explica Segundo, é prensagem, distribuição e divulgação porque a gravação é da conta das próprias bandas. O primeiro CD da banda dele, "um quarteto crossover" (segundo define), saiu com o sugestivo título de Al Qaeda´s Gratest Hits.

Outros três selos vão tocando o barco à sombra da Monstro: On Voice (mais voltado a bandas hardcore), Anti Records (para grupos que navegam pela praia emocore) e o Fósforo Records (selo surgido há pouco do fim do Be Acid que junta os indies, grunges, stoners e que tais), todos mais mais apaziguados com sua influência direta. O Be Acid durou quatro anos e surgiu de dentro dos festivais da Monstro. Pedro Henrique fazia camisetas roqueiras para vender nos festivais Goiânia Noise e Bananada e João Lucas tinha uma pequena produtora de shows na capital. Resolveram unir forças para fundar o selo Be Acid. O elo do encontro e os planos conjuntos, relembra Pedro Henrique, começaram no Orkut. "Assumimos a influência da Monstro, mas pegamos um público diferente do dela, mais adolescentes, a garotada que está se iniciando no rock, ouve nossas bandas e gosta. Outra diferença é que a Monstro não agrega o público que gosta de metal e nós sim", conta Pedro, que atua como produtor musical enquanto o parceiro canta numa das principais bandas do selo, a Johnny Suxxx n´ the Fucking Boys. Desfeita a parceira há três meses o Be Acid virou Fósforo Records numa nova empreitada de João Lucas com o jornalista Pablo Kossa, o que escreveu a história da Monstro Discos.

O Fósforo Records herdou do Be Acid o casting de 10 bandas, a maioria de Goiânia. As únicas duas "estrangeiras" da lista vieram de Belo Horizonte: Enne e Moldest. A primeira já conta com um CD "cheio " gravado em Minas e lançado com a antiga chanchela Be Acid; Moldest vai no mesmo caminho. Os novos lançamentos do selo já saíram com o carimbo Fósforo, casos do EP da garageira Bang Bang Babies (stoner rock à moda da paulista Thee Butchers´ Orchestra), o grunge Lake e Johnny Suxxx, que funde punk e glam rock. A relação com a Monstro, contou Pedro Henrique, é a melhor possível. "Temos bandas do nosso selo nos eventos Monstro", conta. E o selo aposta no circuito independente de festivais para crescer. E escalada de Johnny Suxxx vem crescendo em show tanto em Goiânia quanto em outras cidades. Com a Technicolor, foram os únicos de Goiás escalados para a última edição do Porão do Rock (de Brasília). Para o Calango, festival de Cuiabá (MT, que realizou sua quarta edição em agosto), a Be Acid deve enviou três representantes (mais do que a Monstro e a Two Beers). "O caminho é esse, temos que nos unir", diz Pedro Henrique. Nos sites dos selos, dá para ter uma boa visão das bandas, inclusive com MP3.



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Rodrigo Teixeira
 

Muito legal Edson. A Monstro e seus filhotes e a cena de Goiânia me deixam curioso pacas. Como esta cidade consegue produzir tantas bandas de rock mesmo sendo um 'polo sertanejo' (é ou não?) E como aqui em Campo Grande estamos distantes da Monstro. E pq aqui em CG não temos um único selo, muito menos gravadora e menos ainda distribuidora... ser ou não ser eis a questão... hehhehhe poxa mano, como consigo o livro do Pablo sobre os 10 anos da Monstro? vida longa ao rock do centrooeste... abs rod ms

Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 1/11/2006 12:38
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Claudiocareca
 

Vida longa ao rock! Parabéns Edson! Parabéns à Monstro! E que coisa em Rodrigo, sertanejo domina o Centro-oeste e o rock medra na pedra. Cerradão saárico e rico...

Claudiocareca · Cuiabá, MT 1/11/2006 16:53
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Rodrigo Teixeira
 

é carecacláudio como diz o menestrel Geraldo Espíndola 'rosa em pedra dura tanto bate que perfuma...'

Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 1/11/2006 16:56
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Sergio Rosa
 

Cara, que foto massa.

Sergio Rosa · Belo Horizonte, MG 1/11/2006 17:21
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Edson Wander
 

Caros, grato pelas manifestações.
Rodrigão, tenho observado que muito do alimento da cena roqueira de Goiânia é o prazer mesmo da galera em tocar. Fazê-lo de forma organizada é que foi o "plus" dado pelo quarteto Monstro à cena local. Depois deles, quem quer mexer com rock na cidade, sabe que o caminho é fazer de forma mais profissional possível, aí é que vejo a maior contribuição dos caras. Mas tentando dar uma cara mais sócio-antropológica pro negócio (sem querer ser um pesquisador do gênero, claro), observo que há também um grande esforço da juventude goiana em combater na prática a pecha sertaneja com que a cidade ficou conhecida. É como se eles quisessem, revoltadamente, mostrar ao Brasil que não é extamente o estado que alimenta o estigma sertanejo. Aliás, a fama e fortuna do peletão sertanejo-romântico foram feitas nos grandes centros onde estão as gravadoras, as TV e rádios. Já vi números por aqui mostrando que Zezé Di Camargo, Bruno e Marrone e que tais vendem menos em Goiás do que qualquer outro artista goiano sem um décimo da mesma fama. Qualquer dia desses escrevo por aqui algumas maltraçadas discutindo essa questão.
Abraços,
EW

Edson Wander · Goiânia, GO 1/11/2006 17:50
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Luisa Pitanga
 

Legal sua colocação Edson. Acho que o Overmundo surgiu para isso, acabar com estereótipos e pré-conceitos sobre o que rola na cena cultural "fora do eixo" RJ-SP. Seu texto vem provar que Goiás não é a terra de agroboy que andam difundindo por aí. Valeu!

Luisa Pitanga · Rio de Janeiro, RJ 2/11/2006 01:55
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Guilherme Mattoso
 

texto bacana. goiânia é exemplo!

Guilherme Mattoso · Niterói, RJ 2/11/2006 04:55
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Daniel Cariello
 

Legal a matéria, Edson.
Em termos de organização da cena roqueira, Goiânia dá um banho no resto do país. Tem a Monstro (e agora seus filhotes), dois festivais importantes e uma constante renovação na safra de bandas. Muito desse resultado vem do trabalho incansável do simpático Fabrício Nobre, um dos donos da Monstro e vocalista da bacana MQN.

Daniel Cariello · Brasília, DF 3/11/2006 23:53
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kudla
 

Bom, não poderia deixar de ser o melhor momento para comentar que o REVOLTZ é a nova contratação do selo FÓSFORO RECORDS. O disco que foi produzido meados deste ano por ASTRONAUTA PINGUIMcom a participação de Daniel Belleza sariá ainda no primeiro trimestre de 2007. É a FÓSFORO botando FOGO em tudo ja no início do ano.

kudla · Cuiabá, MT 3/11/2006 23:58
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Andre  Intruso
 

Muito bom!! Aproveitem e conheçam essa banda de rock roll de Recife.

www.rollapedra.com/intrusos

Andre Intruso · Jaboatão dos Guararapes, PE 16/5/2007 14:49
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Fabrício Nobre
 

bacana ler isso aqui e ver elogios rasgados a monstro, e até mim pessoalmente. dá um gás para gente continuar na ralação.

Fabrício Nobre · Goiânia, GO 24/3/2008 20:47
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Gabriel Ruiz
 

ótima reportagem. graças a ela agora sei dos selos "sombras" da Monstro. As abas já estão aqui abertas!

PS. Gostaria de publicar este artigo no site da Braço Direito Produções, produtora que organiza outro festival independente: o Demo Sul. Podemos?

valeu! abs.

Gabriel Ruiz · São Paulo, SP 12/5/2009 11:15
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Edson Wander
 

Ok Gabriel, republicação autorizada. Mas coloque que ele foi originalmente publicado aqui no Overmundo, ok?
Abs,
EW

Edson Wander · Goiânia, GO 12/5/2009 14:37
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