Força e Volume

Löis Lancaster,
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Löis Lancaster · Rio de Janeiro, RJ
25/3/2006 · 74 · 9
 

Acabei de pedir meu passaporte na Polícia Federal. Tive que vasculhar muita coisa em casa para achar todos os documentos que eles exigem para "nos ajudar" com o trâmite necessário. Como seria bom se já houvesse uma "imagem virtual" da minha pessoa física nos registros do governo, para eles não exigirem que eu seja o guardião dos documentos que me identificam! O governo não confia nos seus próprios registros, querendo que eu os guarde para ele! Para que pagamos impostos, então? Bom, isso é outra história.

Pedi hoje. O passaporte, me foi dito, chega dia 19 de abril. Dia do índio.

Todo dia era dia de índio, diz a música que Pepeu castigava na guitarra. Mas será que castigava mesmo? Ãndio tocava atabaque, flauta, chocalho. Instrumentos em que fazia diferença a força que se aplicava para extrair-lhes som. A guitarra não. Talvez essa seja a grande revolução do rock - a perda da vinculação entre a força física aplicada ao instrumento e o volume do som que dele sai, perda essa ocorrida no momento em que Leo Fender eletrificou o violão pela primeira vez.

Fica aqui a reflexão - quanto da magia de Hendrix deriva do fato de ele tirar expressão do instrumento sem relação visível ou necessária com o esforço de tocá-lo? Será que essa magia é o que se procura nas festas de indie rock brasileiras, com as "air guitars"? Como o Brasil se adaptou a essa descoberta? Armandinho, Dodô e Osmar, onde ficam nessa história? O que mudou na postura do artista de rua, quando um simples instrumento de corda ficou audível a milhares de pessoas? E qual o novo papel da expressão percussiva de um Olodum, por exemplo, para um público acostumado a esse desvínculo força-volume?

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Löis Lancaster
 

Depois é que me lembrei que o início do texto é que fica visível para a trair a atenção das pessoas, e nesse caso o início é apenas a situação que serviu de estopim à reflexão... mas não me arrependo. Adoro aquela estrutura de chegada ao assunto principal típica de certas comédias seriadas americanas, onde algo que não tem nada a ver dá origem ao "plot". :)

Löis Lancaster · Rio de Janeiro, RJ 23/3/2006 15:26
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Hermano Vianna
 

ih, zumbi com visto americano! só tinha visto isso em Hollywood! Bem-vindo ao Overmundo, grande Lois!

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 26/3/2006 21:50
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Hermano Vianna
 

sobre a eletrificação: fui a duas edições do Adventures in Modern Music, festival que a revista The Wire e o bar The Empty Bottle realizam anualmente em Chicago. Performances memoráveis de Black Dice, Lightining Bolt, Borbetomagus entre muitas outras bandas que tocam a volumes insuportáveis. Tapadores de ouvidos eram vendidos pelos mesmos caras da cerveja. Todo mundo usava, inclusive os músicos. Estranho: todo mundo ali para ouvir som com proteção anti-som? Mas não era só som que todo mundo ali procurava... Era também a sensação tátil de estar imerso em ar tremendo (do verbo tremer e de algo tremendo no sentido de bacana, furioso...) É certamente uma outra arte que nasce, não mais apenas auditiva...

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 26/3/2006 22:00
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Raul Mourão
 

Sensacional Lancaster. Maravilhoso Hermano.
Essa nova outra arte que nasce, não mais apenas auditiva, eu conheco e anda muito bem.
Chave no parafuso.
Saco na gaveta.
Estou no OVERMUNDO.

Raul Mourão · Rio de Janeiro, RJ 27/3/2006 02:18
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Raul Mourão
 

Hermano,
esqueci de perguntar:
quando é o festival garrafa vazia em Chicago??

Raul Mourão · Rio de Janeiro, RJ 27/3/2006 02:24
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Löis Lancaster
 

Hey Hermano! Valeus pelas boas-vindas. Adorei o Overmundo, é o que mais se aproxima de uma "imprensa participativa", um jornalismo peer-to-peer. Só podia mesmo ter dedo seu. Sempre que puder estarei dando uns pitacos :)

Legal esse "Adventures in Modern Music". Era o elo que faltava para fechar o ciclo: a eletricidade no volume retornando à força sentida pelo corpo, e não apenas ouvida. Mais um dado para uma reflexão que promete :)

Valeu também ao Raul! Estamos aí, pessoal.

Löis Lancaster · Rio de Janeiro, RJ 27/3/2006 11:04
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Löis Lancaster
 

Ah, só mais uma coisa: que visto americano o quê, Hermano! Muito pelo contrário... meu passaporte é pra minha primeira ida a Moscou! :D Vou ficar uma semana por lá, pretendo conhecer o underground pós-vermelho &059;)

Löis Lancaster · Rio de Janeiro, RJ 27/3/2006 11:06
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Hermano Vianna
 

tudo bem: zumbi com visto russo! isso só tinha visto nos 3 Cantos para Lenin, do Dziga Vertov... Epa! Era visto soviético naquela época, não era?

Raul Mourão na área! quando ele vai disponibilizar no Overmundo suas novas artes musicais? Incrivel notar também que o Chelpa ainda não colocou nada por aqui...

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 28/3/2006 00:47
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Raul Mourão
 

Calma meu Hermano,
Estou chegando.
Daqui a pouco chegam as coisas.
Abraco enorme.
Raul
PS: ja mandei o recado p o Chelpa.

Raul Mourão · Rio de Janeiro, RJ 28/3/2006 13:21
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