Todo ano, no final do mês de julho, acontece o Fortal, uma micareta, que assim com as demais festas do gênero, reproduz o carnaval baiano fora de época. E, como era de se esperar, todo ano é a mesma coisa: nenhuma novidade. Não se questiona aqui a importância econômica do evento. O Fortal gera milhões de reais para o Ceará, tanto que a rede hoteleira comemora os quase 90% da taxa de ocupação. No entanto, do ponto de vista sócio-cultural, o Fortal se mostra cada vez mais excludente e culturalmente vazio.
O ingresso mais barato, para o folião ficar na "pipoca", área reservada para os menos abastados, custou R$ 10 em 2008. Nos anos anteriores, com subsÃdios do poder público, o ingresso custava R$3 ou dois quilos de alimentos não-perecÃveis. Já um abadá pode chegar a R$ 800 para os quatro dias de folia. O abadá é a roupa que garante a participação dentro do bloco, protegido com um cordão de isolamento humano. Cordão esse formado por um exército de homens da periferia que se submetem a passar a madruga segurando uma corda pesada em troca de R$50 por noite.
As atrações dos blocos se resumem aos maiores representantes da cultura mercadológica baiana como Chiclete com Banana, Ivete Sangalo, Cláudia Leitte (com dois "tês"), Ãsia de Ãguia, Jammil (com dois "emes") e uma Noite. A única exceção é a onipresente banda de forró cearense Aviões do Forró, que segue a mesma fórmula dos baianos: letras pegajosas, repetitivas e com trechos depreciativos.
Surgem diversas questões. Qual o futuro do Fortal? A tendência é a mistura do forró eletrônico com o axé music proposto pela banda Aviões do Forró? Quem vai escrever as letras dos artistas baianos? O povo ainda vai aguentar tamanha falta de criatividade e originalidade? Podemo sonhar com um evento que misture música eletrônica, rock, axé e os autênticos ritmos nordestinos criando algo novo. Será que o Fortal deveria continuar sendo o principal produto cultural de exportação do Ceará?
Uma coisa é certa: o Fortal representa o mais do mesmo. O mesmo do ano passado e do ano retrasado. E assim vai. Estive lá na noite de sábado, 23 de julho, e fiquei impressionado com a qualidade da estrutura e organização da Cidade Fortal, área fechada onde se realiza o evento. No entanto, é muito dinheiro jogado fora para se fazer um evento culturalmente pobre.
O Fortal faz parte da imagem turÃstica que se vende do Ceará, que inclui humorismo e hospitalidade caricaturais. Fico assustado quando chego no aeroporto de Fortaleza e vejo posters de humoristas em expressões grotescas e em pagar uma passagem aérea que é mais cara do que a tarifa para a Argentina ou o Chile. Acho que chegou a hora do CE e outros estados do NE repensarem a imagem externa que estão construindo, chega de se projetar apenas como balneários.
Evandro Bonfim · Rio de Janeiro, RJ 5/8/2008 17:36
O Turismo Rural ou Turismo Cultural seria uma ótima alternativa para a indústria turÃstica cearense.
Gus Vieira · Fortaleza, CE 6/8/2008 08:26Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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